From Indigenous Peoples in Brazil
News
O Pastor e as ovelhas à beira da Estrada
28/09/2009
Autor: Egon Dionísio Heck
Fonte: Adital - http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=41476
Dom Redovino decidiu visitar a comunidade Kaiowá Guarani de Laranjeira Nhanderu, que há duas semanas foi expulsa para a beira da estrada. Um gesto sem dúvida louvável e até inédito para esse tipo de circunstância. Afinal de contas o bispo visitar e dar apoio à luta dos índios pelos seus direitos, especialmente à terra, deve ser no mínimo um gesto indesejado pelas elites, muitas vezes católicas e contrárias aos direitos dos povos indígenas.
Até o Papa sabe disso
Com simplicidade e carinho o bispo foi recebido pela comunidade. Depois das informações preliminares sobre o ocorrido e suas causas e conseqüências, o bispo foi sendo conduzido entre os barracos de lona preta. Numa das casas parou para ver um vídeo sobre o lamentável acontecimento e conversar com a comunidade. Sentado num banquinho de madeira, foi rodeado por crianças, jovens e adultos. Após uma introdução sobre a luta da comunidade, para entender o contexto atual, foi a vez de D. Redovino externar sua solidariedade ao grupo, lamentando que não pode estar fazendo mais pelo grupo. Ressaltou, porém, que tem o pessoal do Cimi que os está ajudando e que procura fazer o que está ao seu alcance. Disse que as autoridades que tem condições de resolver o problema deveriam estar fazendo mais por eles. Disso que está procurando divulgar a realidade deles, sendo neste fim de semana publicado uma matéria sua, em vários meios de comunicação da região, com o título "quando a justiça não é igual para todos". Continuou dizendo que já falou sobre a realidade deles em vários lugares. "No dia em que vocês foram expulsos, dia 11 de setembro, eu estava em Roma. Lá tanto eu como D. Vitório falamos sobre a realidade dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul".
A visibilidade incômoda
Os fazendeiros da Famasul externaram hoje pela imprensa local que se sentem incomodados pela situação dos índios aí na beira da estrada. "Segundo o presidente da Famasul, Ademar da Silva Junior, os índios estão correndo risco de ser atropelados e até mesmo de contrair alguma doença no local. Por isso, uma sugestão de Ademar é que o acampamento seja transferido para a região do Panambi" (Campo Grande News, 25/09/09). Querem que eles saiam daí. Um dos líderes indígenas, Zezinho, não deixou por menos "Não vamos sair. Vamos ficar na beira da estrada e esperar os estudos antropológicos. Aqui [na rodovia] ninguém pode botar a mão em nós (sic)... Não vamos ocupar nenhuma fazenda. Queremos a nossa terra, mas só vamos entrar após a demarcação, acompanhados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal"(Cacique Zezinho,25/09/09)
Cabe perguntar: se os índios estavam quietos e tranqüilos longe da estrada abrigados por deliciosas sombras de árvores, rodeados de água limpa e rio para pescar, porque cargas d'água os jogaram fora daí? Deixem de ser cínicos com as perversas e falsas preocupações humanitárias. Demonstram tamanha generosidade, chegando ao ponto da entidade empresarial se prontificar a construir a infra-estrutura, desde que longe daí. Hipocrisias à parte, porque não oferecem ajuda para que os grupos de trabalho identifiquem logo as terras indígenas?
Venham espiar
Farid, líder da comunidade, não perdeu tempo e foi dizendo "estou pesquisando! Já sei muito sobre esse cara, o Mario Cesário. Ele é espanhol naturalizado brasileiro. O pai dele foi prefeito de Dourados. Ele é advogado. Um irmão dele é vice-prefeito de Rio Brilhante... O outro dono, o Raul português, esse mora em Rio Brilhante..." Depois de uma breve conversa foi caminhar entre os barracos. Ficou um tanto impressionado. Talvez essa realidade fosse amolecendo o coração. Aí foi a vez do Farid fazer a fala dura sobre a realidade que estão vivendo. , "Faz muito tempo que estamos explicando. Já fizemos isso milhares de vezes... O importante é vocês ver, expiar a nossa situação... expiar como é nossa vida aqui na beira da estrada. Querem deixar nos morrer de fome. Estamos explicando nosso sofrimento". Depois de explicar de maneira didática a dura realidade, falou que continuariam lutando de todas as formas pelos seus direitos. "Se não tiver providências vamos fechar a estrada por umas horas até decidirem".
O sofrimento molda e sensibiliza. Deixar-se embeber da realidade dura da gente simples e desprezada, leva à conversão, desperta a sensibilidade, gera compromisso. A comunidade de Laranjeira Nhanderu certamente saiu fortalecida na luta por seus direitos e convicta de ter mais aliados importantes.
Cimi MS
Campo Grande, 25 de setembro de 2009
* Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul
Até o Papa sabe disso
Com simplicidade e carinho o bispo foi recebido pela comunidade. Depois das informações preliminares sobre o ocorrido e suas causas e conseqüências, o bispo foi sendo conduzido entre os barracos de lona preta. Numa das casas parou para ver um vídeo sobre o lamentável acontecimento e conversar com a comunidade. Sentado num banquinho de madeira, foi rodeado por crianças, jovens e adultos. Após uma introdução sobre a luta da comunidade, para entender o contexto atual, foi a vez de D. Redovino externar sua solidariedade ao grupo, lamentando que não pode estar fazendo mais pelo grupo. Ressaltou, porém, que tem o pessoal do Cimi que os está ajudando e que procura fazer o que está ao seu alcance. Disse que as autoridades que tem condições de resolver o problema deveriam estar fazendo mais por eles. Disso que está procurando divulgar a realidade deles, sendo neste fim de semana publicado uma matéria sua, em vários meios de comunicação da região, com o título "quando a justiça não é igual para todos". Continuou dizendo que já falou sobre a realidade deles em vários lugares. "No dia em que vocês foram expulsos, dia 11 de setembro, eu estava em Roma. Lá tanto eu como D. Vitório falamos sobre a realidade dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul".
A visibilidade incômoda
Os fazendeiros da Famasul externaram hoje pela imprensa local que se sentem incomodados pela situação dos índios aí na beira da estrada. "Segundo o presidente da Famasul, Ademar da Silva Junior, os índios estão correndo risco de ser atropelados e até mesmo de contrair alguma doença no local. Por isso, uma sugestão de Ademar é que o acampamento seja transferido para a região do Panambi" (Campo Grande News, 25/09/09). Querem que eles saiam daí. Um dos líderes indígenas, Zezinho, não deixou por menos "Não vamos sair. Vamos ficar na beira da estrada e esperar os estudos antropológicos. Aqui [na rodovia] ninguém pode botar a mão em nós (sic)... Não vamos ocupar nenhuma fazenda. Queremos a nossa terra, mas só vamos entrar após a demarcação, acompanhados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal"(Cacique Zezinho,25/09/09)
Cabe perguntar: se os índios estavam quietos e tranqüilos longe da estrada abrigados por deliciosas sombras de árvores, rodeados de água limpa e rio para pescar, porque cargas d'água os jogaram fora daí? Deixem de ser cínicos com as perversas e falsas preocupações humanitárias. Demonstram tamanha generosidade, chegando ao ponto da entidade empresarial se prontificar a construir a infra-estrutura, desde que longe daí. Hipocrisias à parte, porque não oferecem ajuda para que os grupos de trabalho identifiquem logo as terras indígenas?
Venham espiar
Farid, líder da comunidade, não perdeu tempo e foi dizendo "estou pesquisando! Já sei muito sobre esse cara, o Mario Cesário. Ele é espanhol naturalizado brasileiro. O pai dele foi prefeito de Dourados. Ele é advogado. Um irmão dele é vice-prefeito de Rio Brilhante... O outro dono, o Raul português, esse mora em Rio Brilhante..." Depois de uma breve conversa foi caminhar entre os barracos. Ficou um tanto impressionado. Talvez essa realidade fosse amolecendo o coração. Aí foi a vez do Farid fazer a fala dura sobre a realidade que estão vivendo. , "Faz muito tempo que estamos explicando. Já fizemos isso milhares de vezes... O importante é vocês ver, expiar a nossa situação... expiar como é nossa vida aqui na beira da estrada. Querem deixar nos morrer de fome. Estamos explicando nosso sofrimento". Depois de explicar de maneira didática a dura realidade, falou que continuariam lutando de todas as formas pelos seus direitos. "Se não tiver providências vamos fechar a estrada por umas horas até decidirem".
O sofrimento molda e sensibiliza. Deixar-se embeber da realidade dura da gente simples e desprezada, leva à conversão, desperta a sensibilidade, gera compromisso. A comunidade de Laranjeira Nhanderu certamente saiu fortalecida na luta por seus direitos e convicta de ter mais aliados importantes.
Cimi MS
Campo Grande, 25 de setembro de 2009
* Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source