From Indigenous Peoples in Brazil
News
EUA veem uso de táticas de sem-terra por índios
06/02/2011
Fonte: FSP, Poder, p. A19
EUA veem uso de táticas de sem-terra por índios
Documentos americanos apontam lentidão para demarcar territórios
Embaixada no Brasil culpa falta de recursos e corrupção na Funai pela participação indígena em conflitos por terras
ELIDA OLIVEIRA
DE SÃO PAULO
Documentos da diplomacia americana obtidos pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch) revelam críticas à maneira como o Brasil lida com a questão indígena e traçam paralelos entre organizações de índios e os sem-terra que atuam no país. Os despachos foram enviados aos Estados Unidos de 2004 a 2009 pela embaixada no Brasil.
Para os americanos, há lentidão na demarcação de terras e vínculo de índios cinta-largas com tráfico de diamantes em RO. Eles também mencionam aumento da mortalidade infantil e de suicídio de índios de MS.
Nos documentos, os diplomatas falam que os indígenas aumentaram a atuação na disputa por terras.
"Apesar de os índios parecerem menos radicais, por exemplo, do que o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], eles não aparentam estar menos dedicados a seus objetivos."
Em outro despacho, falam em invasões de propriedades rurais por índios e dizem que eles emprestam táticas de movimentos sem terra.
Os relatórios mencionam a escassa estrutura do governo na área. Corrupção, falta de pessoal e de recursos na Funai (Fundação Nacional do Índio) são listados como entraves às demarcações.
A fundação, dizem os americanos, possui história turbulenta e teve algumas atribuições "expropriadas" e entregues a outros órgãos.
Os conflitos entre ruralistas e indígenas em MS ganharam destaque.
Em reunião feita com o cônsul-geral dos EUA no Brasil em 2009, o governador André Puccinelli (PMDB) "zombava" da ideia de tirar terras produtivas de fazendeiros para "devolvê-las" aos índios, diz o despacho.
Na mesma reunião, o hoje aposentado desembargador Elpídio Chaves Martins, do Tribunal de Justiça de MS, dizia ser "infundada" a reivindicação dos índios.
O relatório americano cita que MS teve avanços no setor do agronegócio e que isso custou aos índios "a terra de seus ancestrais", a maioria de tribos guarani e terena.
O despacho também faz referência à grilagem de terras na região e afirma que poucos no agronegócio local têm terras regularizadas.
A polêmica demarcação da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em RR, aparece nos relatórios sob o título "No meio do nada".
Para os diplomatas, a demarcação não resolve a necessidade dos índios de desenvolver capacidade de produção sustentável. Falam que o país erra ao deixá-los em territórios sem acesso a infraestrutura básica.
Um dos textos relata o posicionamento do Exército sobre o tema e afirma que os militares "não estão acostumados" com líderes civis fortes no Brasil.
A demarcação da Raposa/Serra do Sol foi definida pelo Supremo Tribunal Federal em 2008, que decidiu pela saída dos não índios da área.
A Folha e outras seis publicações no mundo têm acesso aos telegramas antes da sua divulgação.
Colaboraram FELIPE BÄCHTOLD, de São Paulo, e FERNANDO RODRIGUES, de Brasília
OUTRO LADO
Funai põe culpa em governos por "sucateamento"
DE SÃO PAULO
Em nota, a Funai (Fundação Nacional do Índio) atribuiu a falta de recursos e a lentidão em propor soluções às principais questões indígenas à negligência de "sucessivos governos" que a "sucatearam".
De acordo com a Funai, o número de funcionários ainda é pequeno em relação à demanda para a regularização de terras indígenas.
"O principal entrave", alega a fundação, é a "judicialização dos processos" -quando fazendeiros entram com recursos para evitar a demarcação.
A Funai também disse desconhecer a "ligação dos índios cinta-larga com tráfico de diamantes".
A fundação afirmou, no entanto, que "alguns indígenas" se envolveram "em determinada época" com extração ilegal de pedras, "estimulados por aliciadores".
Sobre a terra Raposa/Serra do Sol, a Funai disse que o debate foi encerrado com a decisão do STF.
O governador de MS, André Puccinelli (PMDB), disse, por meio de nota, que "nunca foi contra" a demarcação de terras indígenas e que, "se alguma autoridade americana disser isso, é mentira".
De acordo com Guilherme Filho, subsecretário de Comunicação, Puccinelli é a favor da "solução negociada" de conflitos indígenas. Para ele, "não cabe ao governo opinar sobre demarcação" por ser questão jurídica.
Ele exemplifica seu posicionamento sobre o tema dizendo que o governador apoiou as negociações entre índios e produtores rurais da região de Miranda (a 218 km de Campo Grande).
Segundo o governo, um programa estadual de segurança alimentar incentiva a produção agrícola em terras indígenas "com máquinas, tratores, implementos agrícolas, sementes e assistência técnica", o que abrangeria 14 mil famílias em todas as 68 aldeias do Estado.
O desembargador aposentado Elpídio Chaves disse que "não se lembra" das declarações apontadas nos relatórios. (EO)
FSP, 06/02/2011, Poder, p. A19
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0602201119.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0602201120.htm
Documentos americanos apontam lentidão para demarcar territórios
Embaixada no Brasil culpa falta de recursos e corrupção na Funai pela participação indígena em conflitos por terras
ELIDA OLIVEIRA
DE SÃO PAULO
Documentos da diplomacia americana obtidos pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch) revelam críticas à maneira como o Brasil lida com a questão indígena e traçam paralelos entre organizações de índios e os sem-terra que atuam no país. Os despachos foram enviados aos Estados Unidos de 2004 a 2009 pela embaixada no Brasil.
Para os americanos, há lentidão na demarcação de terras e vínculo de índios cinta-largas com tráfico de diamantes em RO. Eles também mencionam aumento da mortalidade infantil e de suicídio de índios de MS.
Nos documentos, os diplomatas falam que os indígenas aumentaram a atuação na disputa por terras.
"Apesar de os índios parecerem menos radicais, por exemplo, do que o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], eles não aparentam estar menos dedicados a seus objetivos."
Em outro despacho, falam em invasões de propriedades rurais por índios e dizem que eles emprestam táticas de movimentos sem terra.
Os relatórios mencionam a escassa estrutura do governo na área. Corrupção, falta de pessoal e de recursos na Funai (Fundação Nacional do Índio) são listados como entraves às demarcações.
A fundação, dizem os americanos, possui história turbulenta e teve algumas atribuições "expropriadas" e entregues a outros órgãos.
Os conflitos entre ruralistas e indígenas em MS ganharam destaque.
Em reunião feita com o cônsul-geral dos EUA no Brasil em 2009, o governador André Puccinelli (PMDB) "zombava" da ideia de tirar terras produtivas de fazendeiros para "devolvê-las" aos índios, diz o despacho.
Na mesma reunião, o hoje aposentado desembargador Elpídio Chaves Martins, do Tribunal de Justiça de MS, dizia ser "infundada" a reivindicação dos índios.
O relatório americano cita que MS teve avanços no setor do agronegócio e que isso custou aos índios "a terra de seus ancestrais", a maioria de tribos guarani e terena.
O despacho também faz referência à grilagem de terras na região e afirma que poucos no agronegócio local têm terras regularizadas.
A polêmica demarcação da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em RR, aparece nos relatórios sob o título "No meio do nada".
Para os diplomatas, a demarcação não resolve a necessidade dos índios de desenvolver capacidade de produção sustentável. Falam que o país erra ao deixá-los em territórios sem acesso a infraestrutura básica.
Um dos textos relata o posicionamento do Exército sobre o tema e afirma que os militares "não estão acostumados" com líderes civis fortes no Brasil.
A demarcação da Raposa/Serra do Sol foi definida pelo Supremo Tribunal Federal em 2008, que decidiu pela saída dos não índios da área.
A Folha e outras seis publicações no mundo têm acesso aos telegramas antes da sua divulgação.
Colaboraram FELIPE BÄCHTOLD, de São Paulo, e FERNANDO RODRIGUES, de Brasília
OUTRO LADO
Funai põe culpa em governos por "sucateamento"
DE SÃO PAULO
Em nota, a Funai (Fundação Nacional do Índio) atribuiu a falta de recursos e a lentidão em propor soluções às principais questões indígenas à negligência de "sucessivos governos" que a "sucatearam".
De acordo com a Funai, o número de funcionários ainda é pequeno em relação à demanda para a regularização de terras indígenas.
"O principal entrave", alega a fundação, é a "judicialização dos processos" -quando fazendeiros entram com recursos para evitar a demarcação.
A Funai também disse desconhecer a "ligação dos índios cinta-larga com tráfico de diamantes".
A fundação afirmou, no entanto, que "alguns indígenas" se envolveram "em determinada época" com extração ilegal de pedras, "estimulados por aliciadores".
Sobre a terra Raposa/Serra do Sol, a Funai disse que o debate foi encerrado com a decisão do STF.
O governador de MS, André Puccinelli (PMDB), disse, por meio de nota, que "nunca foi contra" a demarcação de terras indígenas e que, "se alguma autoridade americana disser isso, é mentira".
De acordo com Guilherme Filho, subsecretário de Comunicação, Puccinelli é a favor da "solução negociada" de conflitos indígenas. Para ele, "não cabe ao governo opinar sobre demarcação" por ser questão jurídica.
Ele exemplifica seu posicionamento sobre o tema dizendo que o governador apoiou as negociações entre índios e produtores rurais da região de Miranda (a 218 km de Campo Grande).
Segundo o governo, um programa estadual de segurança alimentar incentiva a produção agrícola em terras indígenas "com máquinas, tratores, implementos agrícolas, sementes e assistência técnica", o que abrangeria 14 mil famílias em todas as 68 aldeias do Estado.
O desembargador aposentado Elpídio Chaves disse que "não se lembra" das declarações apontadas nos relatórios. (EO)
FSP, 06/02/2011, Poder, p. A19
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0602201119.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0602201120.htm
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source