De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Bonecas Karajá: Novo Patrimônio Cultural Brasileiro

25/01/2012

Fonte: Iphan - http://portal.iphan.gov.br/



Além de uma referência cultural nas aldeias indígenas, as Bonecas Karajá representam, muitas vezes, a única fonte de renda das famílias.


O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou, nesta quarta-feira, dia 25 de janeiro, o Ofício e os Modos de Fazer as Bonecas Karajá como Patrimônio Cultural do Brasil. A proposta foi apresentada ao Iphan pelas lideranças indígenas das aldeias Buridina e Bdè-Burè, localizadas em Aruanã, Goiás - GO, e das aldeias Santa Isabel do Morro, Watau e Werebia, localizadas na Ilha do Bananal, Tocantins - TO, com anuência de membros das aldeias Buridina, Bdè-Burè e Santa Isabel do Morro. Para o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, Luiz Fernando de Almeida, comemorou o registro ressaltando o trabalho do Iphan de ampliar o número de bens protegidos em todo o país e de alterar a interpretação do que é patrimônio cultural. Para ele, o registro do Ofício e dos Modos de Fazer as Bonecas Karajá "representa uma dimensão de reconhecimento como patrimônio a cultura de comunidades indígenas, como o povo Karajá, ainda pouco conhecida, mas que é fundamental dentro do processo de formação do nós somos, do povo brasileiro". A coordenadora da Secretaria de Cultura Indígena, da Secretaria de Cultura do Estado de Tocantins, Narubia Karajá, acompanhou a reunião em Brasília e, muito emocionada, declarou aos conselheiros que "esta é um momento histórico para nós porque os senhores estão dizendo que nós (o povo Karajá) somos importantes para o Brasil".

O projeto Bonecas Karajá: Arte, Memória e Identidade Indígena no Araguaia, iniciado em 2009, vem sendo supervisionado pelo Departamento de Patrimônio Imaterial - DPI/Iphan e coordenado pela Superintendência do Iphan em Goiás, que privilegiou o estudo dos aspectos imateriais das bonecas Karajá. As pesquisas para identificar e documentar o ofício, os modos de fazer e as formas de expressão que envolvem a produção das Bonecas Karajá foram realizadas com a comunidade nas aleias karajás Buridina Mahãdu e Bdé-Buré, em Aruanã - GO, e da aldeia de Santa Isabel do Morro, ou Hawalò Mahãdu, na Ilha do Bananal - TO. Durante o trabalho de quase dois anos, foram identificadas as matérias-primas, técnicas e etapas de confecção, além dos mitos e histórias narradas pelos Karajá que expressam a rica relação entre seu povo e o rio, a fauna e a flora, as relações sociais e familiares e a organização social. Toda essa complexidade cultural pode ser identificada nas cenas esculpidas em barro e ornadas com precisos traços em preto e vermelho das bonecas.

De acordo com o Departamento de Patrimônio Imaterial - DPI/Iphan, o Ofício e os Modos de Fazer as Bonecas Karajá são uma referência cultural significativa para o povo Karajá e representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias. A confecção das figuras de cerâmicas - chamadas na língua nativa de ritxòkò (na fala feminina) e ritxòò (na fala masculina) - envolve técnicas tradicionais transmitidas de geração a geração. A atividade exclusiva das mulheres é desenvolvida com o uso de três matérias-primas básicas: a argila ou o barro - suù; a cinza, que funciona como antiplástico; e a água, que umedece a mistura do barro com a cinza.

Em regra geral, o modo de fazer ritxòkò segue cinco etapas: extração e preparação do barro, modelagem das figuras, queima e pintura, tudo isso envolvendo um repertório de saberes que se inicia na seleção e coleta do barro até a pintura e decoração das cerâmicas, que estão associadas à pintura corporal dos Karajá e a peças de vestuário e adorno tradicionais. Ao indicar gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam a representação figurativa das bonecas, que identificam o Karajá homem ou mulher, jovem ou velho, solteiro ou casado, com todos os atributos que a cultura cria para distinguir convencionalmente essas categorias.


As bonecas Karajá e a expressão de uma identidade

Mais do que objetos meramente lúdicos, as ritxòkò são consideradas representações culturais que comportam significados sociais profundos, reproduzindo o ordenamento sociocultural e familiar dos Karajá. Com motivos mitológicos, de rituais, da vida cotidiana e da fauna, as bonecas karajá são importantes instrumentos de socialização das crianças que se vêem nesses objetos e aprendem a ser Karajá. Enquanto brincam com as bonecas ou observam a sua feitura, as meninas recebem importantes ensinamentos e aprendem também as técnicas e saberes associados à sua confecção e usos. Por representarem cenas do cotidiano e dos ciclos rituais, elas portam e articulam sistemas de significação da cultura Karajá e, dessa forma, são também lócus de produção e comunicação dos seus valores.

O processo criativo de produção das ritxòkò ocorre por meio de um jogo de elaboração e variação de formas e conteúdos determinado por uma série de fatores, como a experiência, a habilidade técnica e a preferência estética da ceramista pela combinação dos motivos temáticos e dos diversos padrões de grafismo aplicados. Também expressa a função do objeto, o acesso às matérias-primas e a disponibilidade de recursos financeiros para compra de materiais. Desta forma, as bonecas Karajá condensam e expressam importantes aspectos da identidade do grupo, além de simbolizar diversos planos de sua sociocosmologia.

Atualmente, as bonecas Karajá integram o acervo de vários museus no país, são procuradas como objetos de decoração e comercializadas junto a turistas e lojas de artesanato locais, regionais e nacionais. Entretanto, devem ser compreendidas além da sua expressão material, visto que, desde a sua confecção, desempenham um papel importante na reprodução cultural do povo Karajá. Desta forma, o DPI/Iphan pede a inscrição do Ofício e dos Modos de Fazer as Bonecas Karajá no Livro dos Saberes e, ainda, a inscrição das Ritxòkò - Bonecas Karajá no Livro das Formas de Expressão, como patrimônio cultural brasileiro. O objetivo é estimular a sua produção entre as mulheres Karajá, possibilitando o crescimento das condições de autonomia das ceramistas frente às demandas externas e, ainda, fortalecer os mecanismos de reafirmação da identidade Karajá


O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural

Também está na pauta da reunião do Conselho Consultivo em Brasília a proposta de tombamento dos Centros Históricos de Manaus, no Amazonas, de Antonina, no Paraná, e das cidades piauienses de Oeiras e Piracuruca. O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro de bens do patrimônio cultural brasileiro, presidido pelo presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros de instituições como Ministério do Turismo, Instituto dos Arquitetos do Brasil, Sociedade de Arqueologia Brasileira, Ministério da Educação, Sociedade Brasileira de Antropologia e Instituto Brasileiro de Museus - Ibram e da sociedade civil.


Serviço:

Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Data: 25 e 26 de janeiro de 2012, de 10h30 às 18h
Local: Sede do Iphan - Sala do Comitê Gestor
SEPS Quadra 713/913 - Bloco D - Asa Sul
Brasília - DF.

Mais informações
Assessoria de Comunicação Iphan
comunicacao@iphan.gov.br
Adélia Soares - adelia.soares@iphan.gov.br
Mécia Menescal - mecia.menescal@iphan.gov.br
(61) 2024-5476 / 2024-5477
www.iphan.gov.br / www.twitter.com/IphanGovBr



http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=16413&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.