De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Índio quer ação do governo
01/11/2012
Autor: BENITES, Tonico
Fonte: CB, Brasil, p. 10
Índio quer ação do governo
Entrevista: Tonico Benites
Tonico Benites, ou Ava Verá Arandú, fala dos conflitos que assolam há décadas o cone sul de Mato Grosso do Sul, onde vivem 46 mil indivíduos das etnias guarani e caiová, não só como um deles. O olhar de cientista e pesquisador também faz parte da análise do indígena, que é mestre e doutorando em antropologia social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para Benites, a decisão do governo de povoar a região, ainda na década de 1950, aliada à mentalidade de que índio é uma categoria menor de humano levou à situação atual. Em entrevista ao Correio, o antropólogo evita tachar os fazendeiros como grandes vilões da história, mas condena a morosidade do Estado em atender as demandas indígenas previstas na Constituição de 1988, como o direito ao território tradicional.
Que análise o senhor faz do conflito atual na comunidade Pyleito Kue?
Conflitos como esses vêm desde a década de 1970, quando os fazendeiros compraram as terras do governo, desmataram e os indígenas, alguns até trabalharam na derrubada das árvores, começaram a ser expulsos das terras. Os fazendeiros diziam que o índio não poderia ficar na área das fazendas, que iria espantar o gado. Mandavam os indígenas para as oito reservas que haviam sido marcadas anos antes.
E por que os índios não se fixaram nessas áreas reservadas?
Por vários motivos. Havia lideranças indígenas e de brancos nessas aldeias. Então, muitas famílias simplesmente não conseguiam viver dentro de uma nova regra. E aí trocavam de uma reserva para outra. Com a exploração do solo, principalmente pela criação do gado, as fazendas começaram a tomar espaço das reservas. Sassoró, por exemplo, que tinha 3,6 mil hectares, hoje tem 1,7 mil hectares. O resultado é muito índio vivendo em áreas pequenas. Bororó, em Dourados, tinha 500 pessoas em 1940, em 1980 já eram 1,5 mil. Foram vários problemas que levaram o índio a reivindicar a terra tradicional dele. Só que o fazendeiro também não quer sair, porque ele comprou a terra.
O fazendeiro tem sua parcela de razão então?
Muitos fazendeiros compraram sem nem saber que havia índios ali. Outros sabiam. Mas, como naquela época, e ainda hoje, o índio não é visto como humano, eles pensavam: "ah, tem índio, mas índio a gente manda embora, mata, resolve". Com a Constituição de 1988, nossos direitos começaram a ser respeitados. E por isso existe essa briga na Justiça. O governo precisa apressar as demarcações, precisa ser mais ágil para solucionar esses conflitos, que trazem muito sofrimento e violência.
Correio Braziliense, 01/11/2012, Brasil, p. 10
Entrevista: Tonico Benites
Tonico Benites, ou Ava Verá Arandú, fala dos conflitos que assolam há décadas o cone sul de Mato Grosso do Sul, onde vivem 46 mil indivíduos das etnias guarani e caiová, não só como um deles. O olhar de cientista e pesquisador também faz parte da análise do indígena, que é mestre e doutorando em antropologia social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para Benites, a decisão do governo de povoar a região, ainda na década de 1950, aliada à mentalidade de que índio é uma categoria menor de humano levou à situação atual. Em entrevista ao Correio, o antropólogo evita tachar os fazendeiros como grandes vilões da história, mas condena a morosidade do Estado em atender as demandas indígenas previstas na Constituição de 1988, como o direito ao território tradicional.
Que análise o senhor faz do conflito atual na comunidade Pyleito Kue?
Conflitos como esses vêm desde a década de 1970, quando os fazendeiros compraram as terras do governo, desmataram e os indígenas, alguns até trabalharam na derrubada das árvores, começaram a ser expulsos das terras. Os fazendeiros diziam que o índio não poderia ficar na área das fazendas, que iria espantar o gado. Mandavam os indígenas para as oito reservas que haviam sido marcadas anos antes.
E por que os índios não se fixaram nessas áreas reservadas?
Por vários motivos. Havia lideranças indígenas e de brancos nessas aldeias. Então, muitas famílias simplesmente não conseguiam viver dentro de uma nova regra. E aí trocavam de uma reserva para outra. Com a exploração do solo, principalmente pela criação do gado, as fazendas começaram a tomar espaço das reservas. Sassoró, por exemplo, que tinha 3,6 mil hectares, hoje tem 1,7 mil hectares. O resultado é muito índio vivendo em áreas pequenas. Bororó, em Dourados, tinha 500 pessoas em 1940, em 1980 já eram 1,5 mil. Foram vários problemas que levaram o índio a reivindicar a terra tradicional dele. Só que o fazendeiro também não quer sair, porque ele comprou a terra.
O fazendeiro tem sua parcela de razão então?
Muitos fazendeiros compraram sem nem saber que havia índios ali. Outros sabiam. Mas, como naquela época, e ainda hoje, o índio não é visto como humano, eles pensavam: "ah, tem índio, mas índio a gente manda embora, mata, resolve". Com a Constituição de 1988, nossos direitos começaram a ser respeitados. E por isso existe essa briga na Justiça. O governo precisa apressar as demarcações, precisa ser mais ágil para solucionar esses conflitos, que trazem muito sofrimento e violência.
Correio Braziliense, 01/11/2012, Brasil, p. 10
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