De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Ufac forma 1ª turma de professores indígenas
20/01/2014
Fonte: Ufac - http://www.ufac.br
A universidade Federal do Acre (Ufac) formou na última sexta-feira, 17, a primeira turma de professores indígenas do Estado, que é constituída por 49 índios de nove etnias. Eles receberam das mãos do reitor da Ufac, Minoru Kinpara, o diploma de conclusão do curso de licenciatura em Formação Docente para Indígenas, durante solenidade ocorrida no Teatro do Moa, em de Cruzeiro do Sul.
O Acre é o Estado pioneiro na educação escolar indígena no Brasil. Desde 1983, a Comissão Pró-Índio vem formando professores para docência nas aldeias acrianas. Nany Amaral Yawanawá leciona desde 1980. Conta ele que a educação começou quando os índios começaram a aprender as quatro operações matemáticas, com o intuito de evitar engano no comércio. "Sentíamos a necessidade de fazer nossas compras sem sermos engados", explicou.
A intenção de alfabetizar era motivada pela melhoria dos cuidados com a família, tornando a escola indígena importante e essencial para diminuir o êxodo das aldeias. "Agora, temos até o ensino médio na aldeia", disse Amaral, explicando ser essa uma forma de evitar que os indígenas abandonem suas aldeias para estudar na cidade. A experiência de sair da aldeia e entender o funcionamento do mundo ocidental foi o que marcou a vida de Yawanawá. "Para nós, é tudo totalmente diferente da nossa realidade: alimentação, convívio, distanciamento da família", lembrou.
O curso teve início em 2008, com 62 alunos que tinham formação em magistério indígena, adquirida através da Comissão Pró-Índio, pioneira nesse tipo de ensino. Após o ano 2000, a Secretaria de Educação do Estado assumiu a formação dos índios com o Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF).
Para a coordenadora da Organização dos Professores Indígenas do Acre (Opiac), Francisca Arara, depois que os alunos adquiriam a formação fundamental e média, era necessário dar continuidade a essa formação com uma faculdade, licenciando-os para atuar dentro das aldeias. Dessa forma, pensou-se no curso em licenciatura para indígenas. Em 2007, abriu-se o vestibular e a mobilização nas aldeias para realização das inscrições.
Houve, então, um diálogo entre a universidade e a organização de professores em busca de meios para que o conhecimento científico e tradicional pudessem andar juntos, valorizando a cultura do índio e a aquisição do conhecimento ocidental. "Nós queremos entender os dois mundos", enfatizou Francisca.
Um fator positivo na formação dos indígenas é a capacidade dos povos em registrar seus conhecimentos e saberes, declarou Lucas Artur Manchineri, que leciona desde os 22 anos. "A faculdade abriu portas para novos caminhos", disse. Já Isaac Piyãko Asheninka falou da cartilha de alfabetização para o seu povo, a qual mantém forte a transmissão dos conhecimentos primários. "Os conhecimentos vêm fortalecer nossa cultura", declarou o indígena.
"Vivemos um momento histórico para a universidade e para o Acre", disse o reitor Minoru Kinpara. A Ufac assumiu, em parceria com o Ministério da Educação, a manutenção do curso. "Será que ensinamos mais do que aprendemos?", questionou Kinpara, diante dos formandos, que estavam emocionados com a conquista. "Não demoraremos mais 40 anos para formar a segunda turma", comemorou. A Ufac estuda a possibilidade de ingresso de mais 70 candidatos que aguardam o início de uma nova turma.
A coordenadora do curso, Valquíria Garrote, explicou o funcionamento dessa graduação. De forma modular, o encontro presencial acontecia duas vezes por ano. Os alunos iam à cidade, chegando a passar 90 dias em Cruzeiro do Sul. Quando a etapa de acompanhamento iniciava, o professor ia até a aldeia, interagindo com os conhecimentos de cada povo. "Houve uma necessidade de transitar entre esses dois mundos para compreender a lógica do conhecimento tradicional", lembrou Valquíria, comentando que os indígenas têm sua forma de entender o mundo por conta de seus saberes e que, para eles, a sociedade urbana seria "um outro mundo". "Eles se proporão a estar em um mundo muito diferente", afirmou.
As dificuldades também limitaram a formação de alguns alunos. Francisco Luiz Yanawawá, que mora no Matrichã, no rio Gregório, optou por lagar o curso que começou junto com sua esposa, por ter dificuldades, como a distância, e ter que deixar os filhos e a aldeia. Assim, ele resolveu cuidar da casa, enquanto sua esposa concluía o curso.
Além do reitor da Ufac, estiveram presentes a vice-reitora Guida Aquino; o secretário de Desenvolvimento Florestal, Edvaldo Magalhães; e o paraninfo da turma, Alessandro Candido.
http://www.ufac.br/portal/news/ufac-forma-1a-turma-de-professores-indigenas
O Acre é o Estado pioneiro na educação escolar indígena no Brasil. Desde 1983, a Comissão Pró-Índio vem formando professores para docência nas aldeias acrianas. Nany Amaral Yawanawá leciona desde 1980. Conta ele que a educação começou quando os índios começaram a aprender as quatro operações matemáticas, com o intuito de evitar engano no comércio. "Sentíamos a necessidade de fazer nossas compras sem sermos engados", explicou.
A intenção de alfabetizar era motivada pela melhoria dos cuidados com a família, tornando a escola indígena importante e essencial para diminuir o êxodo das aldeias. "Agora, temos até o ensino médio na aldeia", disse Amaral, explicando ser essa uma forma de evitar que os indígenas abandonem suas aldeias para estudar na cidade. A experiência de sair da aldeia e entender o funcionamento do mundo ocidental foi o que marcou a vida de Yawanawá. "Para nós, é tudo totalmente diferente da nossa realidade: alimentação, convívio, distanciamento da família", lembrou.
O curso teve início em 2008, com 62 alunos que tinham formação em magistério indígena, adquirida através da Comissão Pró-Índio, pioneira nesse tipo de ensino. Após o ano 2000, a Secretaria de Educação do Estado assumiu a formação dos índios com o Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF).
Para a coordenadora da Organização dos Professores Indígenas do Acre (Opiac), Francisca Arara, depois que os alunos adquiriam a formação fundamental e média, era necessário dar continuidade a essa formação com uma faculdade, licenciando-os para atuar dentro das aldeias. Dessa forma, pensou-se no curso em licenciatura para indígenas. Em 2007, abriu-se o vestibular e a mobilização nas aldeias para realização das inscrições.
Houve, então, um diálogo entre a universidade e a organização de professores em busca de meios para que o conhecimento científico e tradicional pudessem andar juntos, valorizando a cultura do índio e a aquisição do conhecimento ocidental. "Nós queremos entender os dois mundos", enfatizou Francisca.
Um fator positivo na formação dos indígenas é a capacidade dos povos em registrar seus conhecimentos e saberes, declarou Lucas Artur Manchineri, que leciona desde os 22 anos. "A faculdade abriu portas para novos caminhos", disse. Já Isaac Piyãko Asheninka falou da cartilha de alfabetização para o seu povo, a qual mantém forte a transmissão dos conhecimentos primários. "Os conhecimentos vêm fortalecer nossa cultura", declarou o indígena.
"Vivemos um momento histórico para a universidade e para o Acre", disse o reitor Minoru Kinpara. A Ufac assumiu, em parceria com o Ministério da Educação, a manutenção do curso. "Será que ensinamos mais do que aprendemos?", questionou Kinpara, diante dos formandos, que estavam emocionados com a conquista. "Não demoraremos mais 40 anos para formar a segunda turma", comemorou. A Ufac estuda a possibilidade de ingresso de mais 70 candidatos que aguardam o início de uma nova turma.
A coordenadora do curso, Valquíria Garrote, explicou o funcionamento dessa graduação. De forma modular, o encontro presencial acontecia duas vezes por ano. Os alunos iam à cidade, chegando a passar 90 dias em Cruzeiro do Sul. Quando a etapa de acompanhamento iniciava, o professor ia até a aldeia, interagindo com os conhecimentos de cada povo. "Houve uma necessidade de transitar entre esses dois mundos para compreender a lógica do conhecimento tradicional", lembrou Valquíria, comentando que os indígenas têm sua forma de entender o mundo por conta de seus saberes e que, para eles, a sociedade urbana seria "um outro mundo". "Eles se proporão a estar em um mundo muito diferente", afirmou.
As dificuldades também limitaram a formação de alguns alunos. Francisco Luiz Yanawawá, que mora no Matrichã, no rio Gregório, optou por lagar o curso que começou junto com sua esposa, por ter dificuldades, como a distância, e ter que deixar os filhos e a aldeia. Assim, ele resolveu cuidar da casa, enquanto sua esposa concluía o curso.
Além do reitor da Ufac, estiveram presentes a vice-reitora Guida Aquino; o secretário de Desenvolvimento Florestal, Edvaldo Magalhães; e o paraninfo da turma, Alessandro Candido.
http://www.ufac.br/portal/news/ufac-forma-1a-turma-de-professores-indigenas
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