De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.
Notícias
Confinamento pode explicar fome nas aldeias
21/02/2005
Autor: Honório Jacometto
Fonte: Dourados Agora-Dourados-MS
Hedio Fazan Especilistas apontam a falta de terra como um dos
fatores que geram fome entre os indígenas
Índios são obrigados a viver em pequenos espaços de terra;
antropólogos defendem ampliação de áreas
Grupo da Funai que estuda a fome volta a Dourados em março
Há quase um mês o jornal deflagrou uma série de reportagens que
mostram a realidade de índios que estão morrendo de fome em Mato
Grosso do Sul. Durante este período várias autoridades foram
ouvidas pelo jornal e muito se falou sobre o problema que afeta não
só os índios da reserva de Dourados, mas de todo Estado. Hoje
estamos publicando uma reportagem especial para explicar um pouco de
todo este complexo problema. TERRAS
Em Mato Grosso do Sul a disputa por terras entre índios e
fazendeiros tem se acirrado nos últimos anos. Na semana passada um
grupo de ruralistas de Campo Grande e Dourados foi para Brasília
conversar com o procurador chefe da Procuradoria Geral da República
Cláudio Fonteles. Os pecuaristas liderados pelo fazendeiro Pio
Queiroz, que tem uma fazenda ocupada por guaranis-caiuás em Antonio
João, foram pedir solução para o impasse entre brancos e índios que
disputam propriedades rurais, principalmente no sul do Estado.
Segundo o Movimento Nacional de Produtores, atualmente 23 áreas
estão ocupadas por índios em Mato Grosso do Sul. Seis são em Dois
Irmãos do Buriti, 3 em Sidrolândia, 3 em Ponta Porã, 3 em Japorã, 2
em Caarapó, 2 em Juti, 1 em Naviraí, 1 em Dourados, 1 em Paranhos e
1 em Antonio João. Todos os donos têm mandado de reintegração de
possse, mas os indígenas não saíram das áreas. Segundo o presidente
da Comissão de Direitos dos Guaranis-Caiuás a intenção dos povos
indígenas é resistir à pressão feita pelos ruralistas e não ceder.
"A gente não está querendo fazer nenhuma baderna. Estes movimentos
de ocupação que nosso povo vem realizando é apenas na tentativa de
retomar a terra que era nossa. Fomos expulsos das nossas aldeias
pelos fazendeiros. Agora queremos as áreas de novo porque precisamos
sobreviver. Não se mata uma pessoa apenas com um tiro disparado por
um revólver. Tira de um povo sua terra, sua cultura, suas tradições
e aí vai acontecendo um genocídio", disse Anastácio Peralta, da
Comissão de Diretos dos Guarani-Caiúas. Mato Grosso do Sul tem quase
60 mil índios e em número de população indígena perde apenas para o
Estado do Amazonas. Os guaranis-caiuás são a maior comunidade
indígena em Mato Grosso do Sul. Antropólogos estimam que sejam pelo
menos 30 mil indivíduos desta etnia. Eles se concentram
expressivamente na região sul do Estado. Em novembro do ano passado,
quando o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos esteve em Dourados
os guaranis-caiuás entregaram um documento ao ministro. Nele os
índios cobram do Governo Federal agilidade nos processos de
identificação e demarcação dos territórios indígenas em Mato Grosso
do Sul. De acordo com o documento mais de 40 áreas precisam ser
identificadas, porque segundo os índios são áreas indígenas. Se
somadas as 40 áreas reivindicadas chegam a mais de 600 mil hectares.
Mas o antropólogo argentino Fábio Mura, formado pela Universidade La
Sapienza, em Roma, Itália e que atualmente mora em Dourados acredita
que a quantidade de terras precisa ser ainda maior. Mura estuda há
mais de 10 anos o movimento das famílias guaranis-caiuás. Ele, e um
grupo de antropólogos da mesma linha de pensamento, defendem que os
guaranis-caiuás deveriam ter um território no sul do Estado
equivalente a 1 milhão de hectáres (quase a metade da área plantada
com soja este ano em Mato Grosso do Sul). Segundo o antropólogo cada
grupo de 300 índios guaranis-caiuás deveria viver numa área de 10
mil hectares. "A gente sabe que este é um sonho quase irrealizável,
porque as terras aqui no sul do Estado são altamente produtivas e
por isso o Governo Fderal não teria intenção de desapropriar estas
áreas que são dos guaranis-caiuás. O governo não teria dinheiro para
bancar todas as indenizações", argumentou o antropólogo. Ainda
segundo Fábio Mura, hoje os 30 mil guaranis-caiuás de Mato Grosso do
Sul vivem em apenas 40 mil hectares, distribuídos em áreas
espalhadas pelo Estado. RETOMADAS
O caso mais complicado é em Antonio João, município na fronteira com
o Paraguai. Uma comunidade de 300 índios das tribos guarani e caiuá
está ocupando a fazenda Fronteira desde 1998. Os donos da área
conseguiram 5 mandados de reintegração de posse e por 3 vezes foram
montadas operações de retirada dos indígenas da área, mas todas
foram canceladas. A área em disputa entre fazendeiros e índios tem
9.300 hectares e já foi demarcada pela Funai como território
indígena, mas para que os índios ocupem a propriedade ainda é
preciso esperar que o presidente Lula homologue a área. Enquanto
isso, a Justiça Federal permitiu que os guaranis-caiuás ficassem em
30 hectares da fazenda, mas eles reclamavam da falta de espaço para
viver e plantar alimentos, por isso há 2 meses invadiram outros 400
hectares da fazenda. Os fazendeiros entraram com recurso no Tribunal
Regional Federal, em São Paulo e os desembargadores determinaram que
os índios voltem para os 30 hectares, onde têm autorização para
ficar. A comunidade se negou a obedecer a ordem judicial e por este
motivo o juiz federal em Ponta Porã, Odilon de Oliveira determinou
esta semana que a Polícia Federal monte um esquema para a retirada
dos índios. O delegado da Polícia Federal em Ponta Porã, Guilherme
Guimarães Farias avisou que não tem efetivo para cumprir o pedido do
juiz federal. "A gente não tem como executar a ordem de despejo
porque é uma missão muito delicada. Não temos homens suficientes nem
sequer para o trabalho corriqueiro da Polícia Federal, quanto mais
para esta situação de retirada dos índios de dentro da fazenda",
argumentou o delegado que espera uma posição da Superintendência da
Polícia Federal de Brasília, que prometeu enviar 200 homens para
cumprir a ordem de despejo. PANAMBIZINHO
Em novembro do ano passado o Governo Federal conseguiu por fim a um
dos conflitos mais antigos em Mato Grosso do Sul. Fazia dez anos que
índios guaranis-caiuás e 26 famílias de colonos disputavam 1.240
hectares, no distrito do Panambi, município de Dourados. Os lotes
tinham sido doados às famílias de produtores rurais há mais de 50
anos no governo do presidente Getúlio Vargas. Em 1994, depois de
inúmeros estudos antropológicos que apontaram que o território
pertencia ao grupo guarani-caiuá, o então ministro da Justiça, na
época Nelson Jobim, assinou uma portaria demarcando a área para a
comunidade indígena. Foram dez anos de disputa judicial, onde os
colonos tentavam na Justiça anular a decisão de Jobim. Sem sucesso
eles perderam as terras e foram obrigados a sair no final do ano
passado cedendo espaço para os índios. "Para a gente foi uma grande
vitória, porque desde o começo a gente sabia que essa terra
pertencia aos nossos antepassados. Nossos pais e avós foram expulsos
deste território e agora a Justiça está sendo feita novamente",
disse Valdomiro Aquino, quando recebeu o título de posse dos 1.240
hectares das mãos do ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. As 26
famílias de colonos que habitavam as terras que eram dos índios
foram indenizadas pelo Governo Federal que também comprou uma outra
fazenda, no valor de R$ 30 milhões, para onde foram remanejados os
produtores rurais.
fatores que geram fome entre os indígenas
Índios são obrigados a viver em pequenos espaços de terra;
antropólogos defendem ampliação de áreas
Grupo da Funai que estuda a fome volta a Dourados em março
Há quase um mês o jornal deflagrou uma série de reportagens que
mostram a realidade de índios que estão morrendo de fome em Mato
Grosso do Sul. Durante este período várias autoridades foram
ouvidas pelo jornal e muito se falou sobre o problema que afeta não
só os índios da reserva de Dourados, mas de todo Estado. Hoje
estamos publicando uma reportagem especial para explicar um pouco de
todo este complexo problema. TERRAS
Em Mato Grosso do Sul a disputa por terras entre índios e
fazendeiros tem se acirrado nos últimos anos. Na semana passada um
grupo de ruralistas de Campo Grande e Dourados foi para Brasília
conversar com o procurador chefe da Procuradoria Geral da República
Cláudio Fonteles. Os pecuaristas liderados pelo fazendeiro Pio
Queiroz, que tem uma fazenda ocupada por guaranis-caiuás em Antonio
João, foram pedir solução para o impasse entre brancos e índios que
disputam propriedades rurais, principalmente no sul do Estado.
Segundo o Movimento Nacional de Produtores, atualmente 23 áreas
estão ocupadas por índios em Mato Grosso do Sul. Seis são em Dois
Irmãos do Buriti, 3 em Sidrolândia, 3 em Ponta Porã, 3 em Japorã, 2
em Caarapó, 2 em Juti, 1 em Naviraí, 1 em Dourados, 1 em Paranhos e
1 em Antonio João. Todos os donos têm mandado de reintegração de
possse, mas os indígenas não saíram das áreas. Segundo o presidente
da Comissão de Direitos dos Guaranis-Caiuás a intenção dos povos
indígenas é resistir à pressão feita pelos ruralistas e não ceder.
"A gente não está querendo fazer nenhuma baderna. Estes movimentos
de ocupação que nosso povo vem realizando é apenas na tentativa de
retomar a terra que era nossa. Fomos expulsos das nossas aldeias
pelos fazendeiros. Agora queremos as áreas de novo porque precisamos
sobreviver. Não se mata uma pessoa apenas com um tiro disparado por
um revólver. Tira de um povo sua terra, sua cultura, suas tradições
e aí vai acontecendo um genocídio", disse Anastácio Peralta, da
Comissão de Diretos dos Guarani-Caiúas. Mato Grosso do Sul tem quase
60 mil índios e em número de população indígena perde apenas para o
Estado do Amazonas. Os guaranis-caiuás são a maior comunidade
indígena em Mato Grosso do Sul. Antropólogos estimam que sejam pelo
menos 30 mil indivíduos desta etnia. Eles se concentram
expressivamente na região sul do Estado. Em novembro do ano passado,
quando o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos esteve em Dourados
os guaranis-caiuás entregaram um documento ao ministro. Nele os
índios cobram do Governo Federal agilidade nos processos de
identificação e demarcação dos territórios indígenas em Mato Grosso
do Sul. De acordo com o documento mais de 40 áreas precisam ser
identificadas, porque segundo os índios são áreas indígenas. Se
somadas as 40 áreas reivindicadas chegam a mais de 600 mil hectares.
Mas o antropólogo argentino Fábio Mura, formado pela Universidade La
Sapienza, em Roma, Itália e que atualmente mora em Dourados acredita
que a quantidade de terras precisa ser ainda maior. Mura estuda há
mais de 10 anos o movimento das famílias guaranis-caiuás. Ele, e um
grupo de antropólogos da mesma linha de pensamento, defendem que os
guaranis-caiuás deveriam ter um território no sul do Estado
equivalente a 1 milhão de hectáres (quase a metade da área plantada
com soja este ano em Mato Grosso do Sul). Segundo o antropólogo cada
grupo de 300 índios guaranis-caiuás deveria viver numa área de 10
mil hectares. "A gente sabe que este é um sonho quase irrealizável,
porque as terras aqui no sul do Estado são altamente produtivas e
por isso o Governo Fderal não teria intenção de desapropriar estas
áreas que são dos guaranis-caiuás. O governo não teria dinheiro para
bancar todas as indenizações", argumentou o antropólogo. Ainda
segundo Fábio Mura, hoje os 30 mil guaranis-caiuás de Mato Grosso do
Sul vivem em apenas 40 mil hectares, distribuídos em áreas
espalhadas pelo Estado. RETOMADAS
O caso mais complicado é em Antonio João, município na fronteira com
o Paraguai. Uma comunidade de 300 índios das tribos guarani e caiuá
está ocupando a fazenda Fronteira desde 1998. Os donos da área
conseguiram 5 mandados de reintegração de posse e por 3 vezes foram
montadas operações de retirada dos indígenas da área, mas todas
foram canceladas. A área em disputa entre fazendeiros e índios tem
9.300 hectares e já foi demarcada pela Funai como território
indígena, mas para que os índios ocupem a propriedade ainda é
preciso esperar que o presidente Lula homologue a área. Enquanto
isso, a Justiça Federal permitiu que os guaranis-caiuás ficassem em
30 hectares da fazenda, mas eles reclamavam da falta de espaço para
viver e plantar alimentos, por isso há 2 meses invadiram outros 400
hectares da fazenda. Os fazendeiros entraram com recurso no Tribunal
Regional Federal, em São Paulo e os desembargadores determinaram que
os índios voltem para os 30 hectares, onde têm autorização para
ficar. A comunidade se negou a obedecer a ordem judicial e por este
motivo o juiz federal em Ponta Porã, Odilon de Oliveira determinou
esta semana que a Polícia Federal monte um esquema para a retirada
dos índios. O delegado da Polícia Federal em Ponta Porã, Guilherme
Guimarães Farias avisou que não tem efetivo para cumprir o pedido do
juiz federal. "A gente não tem como executar a ordem de despejo
porque é uma missão muito delicada. Não temos homens suficientes nem
sequer para o trabalho corriqueiro da Polícia Federal, quanto mais
para esta situação de retirada dos índios de dentro da fazenda",
argumentou o delegado que espera uma posição da Superintendência da
Polícia Federal de Brasília, que prometeu enviar 200 homens para
cumprir a ordem de despejo. PANAMBIZINHO
Em novembro do ano passado o Governo Federal conseguiu por fim a um
dos conflitos mais antigos em Mato Grosso do Sul. Fazia dez anos que
índios guaranis-caiuás e 26 famílias de colonos disputavam 1.240
hectares, no distrito do Panambi, município de Dourados. Os lotes
tinham sido doados às famílias de produtores rurais há mais de 50
anos no governo do presidente Getúlio Vargas. Em 1994, depois de
inúmeros estudos antropológicos que apontaram que o território
pertencia ao grupo guarani-caiuá, o então ministro da Justiça, na
época Nelson Jobim, assinou uma portaria demarcando a área para a
comunidade indígena. Foram dez anos de disputa judicial, onde os
colonos tentavam na Justiça anular a decisão de Jobim. Sem sucesso
eles perderam as terras e foram obrigados a sair no final do ano
passado cedendo espaço para os índios. "Para a gente foi uma grande
vitória, porque desde o começo a gente sabia que essa terra
pertencia aos nossos antepassados. Nossos pais e avós foram expulsos
deste território e agora a Justiça está sendo feita novamente",
disse Valdomiro Aquino, quando recebeu o título de posse dos 1.240
hectares das mãos do ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. As 26
famílias de colonos que habitavam as terras que eram dos índios
foram indenizadas pelo Governo Federal que também comprou uma outra
fazenda, no valor de R$ 30 milhões, para onde foram remanejados os
produtores rurais.
As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.