De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Índios buscam sua identidade

20/06/1989

Fonte: Correio da Paraíba (João Pessoa - PB)



Documentos anexos


Ultimamente, talvez para resguardar alguma coisa que ainda exista da sua aparente pureza racial, os potiguara se negam a contrair matrimô­nio fora da reserva. Quem advoga muito está causa é Eufrásio, líder de São Miguel, um mestiço cuja auten­ticidade indfqsna foi posta à prova em Brasflia, por funcionários da Funai.
Ele provou sua condição de índio exibindo o retrato de sua avó, com marcantes traços fisionômicos potiguara. No encontro Potiguara, só o
cacique João Batista Faustino lem­brou de tudo isso. Eliane Potiguara,
uma carioca que promoveu o En­contro, emprestou ao evento o as­
pecto de um simpósio.
- A força da mulher indígena é justa e leal. A mãe de família sabe a
dor e o sofrimento do parto. Os ín­dios do Brasil necessitam de suas
terras. Se no Brasil há um dirigente incapaz, que ele saia e nos deixe
governar,, colocou Quitéria Binga, líder dos Pankararu de Pernambuco,
presente no encontro. Ao exibir-se uma dança ritual de sua aldeia, Bin-
ga demonstrou que nem tudo está perdido na cultura Pankararu: os
dançarinos evocam "guerreiros e caboclos nesta cantoria, mas misci-
genam o enredo com pontos de macumba e candoblé. Aqui, os
Pankararu deixam transparecer o que hoje é o seu povo: um intercru-
zamento racial, com fortes características do índio, branco e negro.
O Toré, a dança ritual dos poti­guara, é um pouco diferente: 15 dan­çarinos fazem um círculo em tomo de três músicos, que tocam maracás, pífanos e
tambores. Ao som do maracá, eles se ajoelham e fazem prece. Depois, todos se levantam e iniciam a dança. O sinal é o toque de um pífano, entre grave e fanhoso.
Batista, o cacique, puxa um refrão: "quem tocou a lança fina/foi a flor da
maravilha". E todos respondem o estribilho, girando o copo à direita e
à esquerda, com ligeira e intermediá­ria flexão.
Há quem admita que o Toré, um resquício das tendas e culturas poti­guara, Afiglnalmente contava o con­tato dos primeiros fndios com euro­peus. Seriam os contatospioneiros dos potiguara com marinheiros da armada de Vespúcio, que teria aportado a sua armada em frente ao Monte do Tambá, em 1501.
- Nossos índios estâo longe de se organizarem. O Encontro da última sexta-feira refletiu isso muito bem'. observou o professor de Bio­logia Jair César de Miranda Coelho, da Universidade Autônoma da Pa­raíba. Para ele "os índios nâo têm ainda reconhecidos seus direitos na nova Constituição e o que se viu, na aldeia São Francisco, não passou de outra invasão da Legião Es­trangeira do Sul, que veio organizar o Encontro".
Segundo Jair, os visitantes habi­tuais dos potiguara se admiraram de
uma Eliane Potiguara, da ABI do Rio, e de um Tiuré, ambos há anos ausentes da reserva, comportaram-se como turistas, diante do Toré. O
importante, rebate Jair, é que a se­mente foi plantada: "os índios de
Baía da Traição são os verdadeiros donos da terra, pois alí já se encon­travam desde os tempos de Cabral".
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.