De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Povos da Terra Indígena Vale do Javari denunciam coordenador do DSEI por má gestão da saúde indígena

18/03/2015

Autor: Carolina Fasolo e Unijava

Fonte: Conselho Indigenista Missionário - http://www.cimi.org.br



Documentos anexos


Um documento divulgado nesta quarta-feira (18) pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), representada pelos povos Mayuruna, Matis, Marubo, Kanamari e Kulina, denuncia o atual coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), Heródoto Jean de Sales, pela situação calamitosa da saúde na Terra Indígena Vale do Javari que, situada no oeste do Amazonas, concentra o maior número de povos isolados do mundo, de acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai). O documento foi protocolado no Ministério Público Federal de Tabatinga.

As ações básicas de saúde em todas as aldeias indígenas são realizadas de forma paliativa e ineficiente, faltam medicamentos e materiais médico-hospitalares básicos em todas as aldeias dos Pólos Bases da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e, de acordo com o documento, mesmo com grande número de profissionais existentes no quadro do Dsei/Javari, não conseguem programar e executar o calendário de planejamento de forma ágil e concreta. Os relatos apontam a má gestão do Distrito como causa da perda de 409 doses de Interferon, medicamento antiviral que venceu nas prateleiras do Distrito enquanto pacientes portadores de hepatites virais necessitavam do tratamento.

O Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) revela ainda a suspeita de fraude dos dados de atendimentos realizados. Os números do Relatório Anual de Gestão (RAG) 2014 do Dsei relativos ao atendimento à saúde indígena no Vale do Javari são insuflados se comparados aos das planilhas de atendimento. Em relação à vacinação, por exemplo, consta na planilha de esquema vacinal que 86 das 120 crianças com até um ano de idade foram vacinadas, ou seja, 71,2%. Já o percentual apresentado no Relatório é de 77%.

O dado mais inconsistente, segundo o documento, é do programa de Controle de Tuberculose. Nenhum óbito relacionado à doença foi registrado, conforme apresentou ao Condisi o técnico responsável do Dsei, enfermeiro Gerdson Matos Silva. O Programa de Vigilância de Óbitos (do mesmo Dsei), no entanto, registra três mortes de indígenas vitimas de tuberculose pulmonar.

"Esta inconsistência de dados nos faz acreditar que o Dsei/Javari pode estar forjando os dados reais de ações e serviços de saúde executados pela instituição, necessitando de uma intervenção por parte dos órgãos de controle externo dos setores competentes", considera o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), Jorge Marubo. Jorge ressalta que a situação foi denunciada muitas vezes às autoridades competentes, mas nenhuma providência foi tomada.

Enquanto isso, o número de mortes de crianças indígenas na região é alarmante. Em 2014 foram onze óbitos - entre recém-nascidos e crianças de até um ano, decorrentes da desassistência à mãe e ao bebê, seja por pré-natal mal feito ou não realizado ou mesmo por falta de auxílio no parto.

O atual gestor do Dsei, Heródoto de Sales, vem sendo questionado pelos indígenas e pelo Condisi sobre o uso da máquina pública para fins políticos. "Ele é declarado candidato à prefeitura para as eleições de 2016. Esse questionamento foi apresentado pelos Conselheiros Distritais, que pediram ao gestor que saísse do cargo de chefia do Dsei para dedicar-se à campanha", explicita o documento.

De acordo com a Univaja, Herótodo vinculou funcionários do Dsei à campanha de reeleição do deputado estadual Sinésio Campos (PT/AM) em 2014. Na época, o coordenador da campanha era Jocicley Gomes, auxiliar logístico do Dsei. "Durante a visita do seu candidato ao município de Atalaia do Norte, o coordenador convocou os funcionários do DSE para recepcioná-lo".

Além disso, Herótodo é o responsável pela contratação dos assessores indígenas, feita sem o aval das comunidades ou a observação das competências técnicas dos candidatos. Uma comissão chegou a ser criada para evitar favorecimentos e cooptação, mas os assessores continuam sendo selecionados sem nenhum perfil técnico ou experiência profissional.

As tentativas de diálogo são fracassadas e quando os indígenas cogitaram ocupar a sede do DSEI/Javari em protesto, Herótodo declarou que chamaria a Polícia Federal para retirá-los com balas e que "índio não manda aqui".

A Univaja reiterou seu posicionamento de insatisfação e preocupação, "uma vez que os povos indígenas do Vale do Javari vivem numa área endêmica, onde já ocorreram centenas de mortes pela malária, hepatite e tuberculose, nesses tempos em que o programa de saúde vigorou em nossa região".

A Sesai foi acusada de "apadrinhamento político", por ser conivente com a conduta do atual coordenador do Dsei, que se promove "em benefício da saúde indígena para fazer sua campanha eleitoreira". Por fim, foi reforçado mais uma vez o pedido para que os órgãos competentes apurem as denúncias e tomem medidas concretas.

Leia aqui o documento na íntegra [anexo]

http://cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=8026
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.