De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Colheita nativa
11/04/2015
Fonte: FSP, Mercado 2, p. 3
Colheita nativa
Índios viajam mais de mil quilômetros para trabalhar na colheita de maçãs no Rio Grande do Sul; sem mão de obra suficiente, produtores recorrem ao cacique
PAULA SPERB ENVIADA ESPECIAL A VACARIA (RS)
O índio guarani Délcio Martin deixou sua tribo em Coronel Sapucaia, no sul do Mato Grosso do Sul, e percorreu 1.130 quilômetros de ônibus para, assim como outros 3.000 indígenas, trabalhar na colheita de maçã da cidade gaúcha de Vacaria.
Após um representante dos produtores negociar diretamente com o seu cacique, ele trocou a rotina da aldeia, onde trabalhava na lavoura de cana, para acordar às 7h, vestir uniforme e recolher cerca de 1.500 quilos de maçã ao dia.
Sem mão de obra suficiente para a colheita, concentrada entre fevereiro e abril, produtores decidiram recorrer aos índios caiová, guarani e terena para o trabalho.
Com 61 mil habitantes, Vacaria (a 171 km de Porto Alegre), segunda maior produtora do país, precisa de pelo menos 15 mil pessoas para realizar a colheita.
Em 2014, o município produziu 274 toneladas de maçã gala e fuji, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM).
"Ouvimos falar que os índios trabalham na colheita de cana-de-açúcar, então fomos prospectar", diz Celso Zancan, diretor de operações da empresa Rasip.
"Até a década de 1980, o pessoal de Vacaria dava conta. Na década seguinte, expandiu para trabalhadores de todo o Estado. De 2000 a 2010, abriu para todo o país."
De acordo com o presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi), José Maria Reckziegel, pelo menos outras três empresas locais contratam mão de obra indígena --este ano, há entre 2.500 e 3.000 índios.
Com cinco anos de experiência nos pomares de maçã, os indígenas já são considerados trabalhadores qualificados. A Rasip estima que cerca de metade deles veio em anos anteriores e convidou os novatos.
Na fazenda da Rasip, os 900 índios contratados representam cerca de 35% da mão de obra. Eles ganham salário de R$ 884, mais transporte, refeições e alojamento, mas podem faturar até R$ 2.000, com bônus por produtividade e horas extras.
Para contratá-los, a coordenadora de RH da empresa, Karine Amarante, visitou pessoalmente diversas aldeias. "Eles saíam de lá já como funcionários, com a carteira assinada", afirma.
A baixa rotatividade, ressalta, é uma das vantagens. "Eles cumprem o que o cacique combina conosco."
Sem a aprovação do cacique, por sinal, nenhum índio aceita o trabalho. Alguns viajam antes para conhecer a empresa, que paga uma taxa comunitária para a aldeia de R$ 20 por trabalhador.
"Aqui é bom, tem emprego. Só estranhei o frio", afirma o guarani Délcio, que veio com um grupo de 40 pessoas. Seus filhos e a mulher ficaram na aldeia Taquaperi.
TV E PLAYSTATION
Na fazenda visitada pela Folha, o trabalho começa às 7h30, depois do café da manhã, e termina às 17h30, com pausa de uma hora e quinze minutos para almoço.
As três refeições do dia são oferecidas em um imenso refeitório pintado de azul e equipado com TVs de LCD.
Parte dos trabalhadores ainda faz horas extras durante a semana ou no sábado.
No único dia de folga, os índios jogam PlayStation e lavam roupa ou olham o trem passar. Poucos vão à cidade.
"Eu gostei das condições. Aqui tem segurança. Ninguém entra com álcool", conta o caiová Ivanir Porto, 31, que veio de Dourados (a 200 km de Campo Grande). "Vim por curiosidade. Trabalhava com cana, é mais arriscado."
Para falar com os cinco filhos e a mulher, o terena Daniel Polidorio, 41, usa seu telefone pré-pago. Ele diz que sente falta da família, mas está satisfeito. "Consegui juntar um dinheiro", afirma.
Até o momento, a única denúncia de irregularidade recebida pelo Ministério Público do Trabalho sobre o uso de mão de obra indígena foi em uma fazenda de Bom Jesus, vizinha a Vacaria.
O Conselho Indigenista Missionário (CMI) afirma que os índios foram enganados sobre o salário, que as refeições são descontadas e que o alojamento é precário.
FSP, 11/04/2015, Mercado 2, p. 3
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/215557-colheita-nativa.shtml
Índios viajam mais de mil quilômetros para trabalhar na colheita de maçãs no Rio Grande do Sul; sem mão de obra suficiente, produtores recorrem ao cacique
PAULA SPERB ENVIADA ESPECIAL A VACARIA (RS)
O índio guarani Délcio Martin deixou sua tribo em Coronel Sapucaia, no sul do Mato Grosso do Sul, e percorreu 1.130 quilômetros de ônibus para, assim como outros 3.000 indígenas, trabalhar na colheita de maçã da cidade gaúcha de Vacaria.
Após um representante dos produtores negociar diretamente com o seu cacique, ele trocou a rotina da aldeia, onde trabalhava na lavoura de cana, para acordar às 7h, vestir uniforme e recolher cerca de 1.500 quilos de maçã ao dia.
Sem mão de obra suficiente para a colheita, concentrada entre fevereiro e abril, produtores decidiram recorrer aos índios caiová, guarani e terena para o trabalho.
Com 61 mil habitantes, Vacaria (a 171 km de Porto Alegre), segunda maior produtora do país, precisa de pelo menos 15 mil pessoas para realizar a colheita.
Em 2014, o município produziu 274 toneladas de maçã gala e fuji, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM).
"Ouvimos falar que os índios trabalham na colheita de cana-de-açúcar, então fomos prospectar", diz Celso Zancan, diretor de operações da empresa Rasip.
"Até a década de 1980, o pessoal de Vacaria dava conta. Na década seguinte, expandiu para trabalhadores de todo o Estado. De 2000 a 2010, abriu para todo o país."
De acordo com o presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi), José Maria Reckziegel, pelo menos outras três empresas locais contratam mão de obra indígena --este ano, há entre 2.500 e 3.000 índios.
Com cinco anos de experiência nos pomares de maçã, os indígenas já são considerados trabalhadores qualificados. A Rasip estima que cerca de metade deles veio em anos anteriores e convidou os novatos.
Na fazenda da Rasip, os 900 índios contratados representam cerca de 35% da mão de obra. Eles ganham salário de R$ 884, mais transporte, refeições e alojamento, mas podem faturar até R$ 2.000, com bônus por produtividade e horas extras.
Para contratá-los, a coordenadora de RH da empresa, Karine Amarante, visitou pessoalmente diversas aldeias. "Eles saíam de lá já como funcionários, com a carteira assinada", afirma.
A baixa rotatividade, ressalta, é uma das vantagens. "Eles cumprem o que o cacique combina conosco."
Sem a aprovação do cacique, por sinal, nenhum índio aceita o trabalho. Alguns viajam antes para conhecer a empresa, que paga uma taxa comunitária para a aldeia de R$ 20 por trabalhador.
"Aqui é bom, tem emprego. Só estranhei o frio", afirma o guarani Délcio, que veio com um grupo de 40 pessoas. Seus filhos e a mulher ficaram na aldeia Taquaperi.
TV E PLAYSTATION
Na fazenda visitada pela Folha, o trabalho começa às 7h30, depois do café da manhã, e termina às 17h30, com pausa de uma hora e quinze minutos para almoço.
As três refeições do dia são oferecidas em um imenso refeitório pintado de azul e equipado com TVs de LCD.
Parte dos trabalhadores ainda faz horas extras durante a semana ou no sábado.
No único dia de folga, os índios jogam PlayStation e lavam roupa ou olham o trem passar. Poucos vão à cidade.
"Eu gostei das condições. Aqui tem segurança. Ninguém entra com álcool", conta o caiová Ivanir Porto, 31, que veio de Dourados (a 200 km de Campo Grande). "Vim por curiosidade. Trabalhava com cana, é mais arriscado."
Para falar com os cinco filhos e a mulher, o terena Daniel Polidorio, 41, usa seu telefone pré-pago. Ele diz que sente falta da família, mas está satisfeito. "Consegui juntar um dinheiro", afirma.
Até o momento, a única denúncia de irregularidade recebida pelo Ministério Público do Trabalho sobre o uso de mão de obra indígena foi em uma fazenda de Bom Jesus, vizinha a Vacaria.
O Conselho Indigenista Missionário (CMI) afirma que os índios foram enganados sobre o salário, que as refeições são descontadas e que o alojamento é precário.
FSP, 11/04/2015, Mercado 2, p. 3
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/215557-colheita-nativa.shtml
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