De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Kadiwéu, brava gente brasileira
16/07/2015
Autor: MURAT, Lúcia
Fonte: O Globo, Segundo Caderno, p. 5
Kadiwéu, brava gente brasileira
Lúcia Murat
Em 2000, Lúcia Murat lançou "Brava gente brasileira" (2000), sobre a colonização portuguesa, com a contribuição dos índios kadiwéu. Mais de dez anos depois, a diretora retornou ao Mato Grosso do Sul para filmar "A nação que não esperou por Deus", que estreia hoje, e que documenta as transformações sofridas pela tribo.
Quando aconteceu o reencontro com os kadiwéu? O que mais a impressionou sobre a situação da tribo?
Nunca perdi contato com eles, porque em algum momento pensava em voltar lá. Em 2010 precisei ir a Campo Grande, capital do estado, e resolvi passar lá na comunidade deles. Fiquei chocada com as mudanças levadas pela chegada da luz elétrica, da televisão, pelo crescimento da atuação das religiões evangélicas na região e pelas disputas de terra com os pecuaristas.
Como era a reserva à época de "Brava gente brasileira"?
Quando saí de lá, há 15 anos, me senti como ( o antropólogo) Lévi-Strauss, que estudou os kadiwéu, que dizia que estava visitando uma sociedade em extinção. Naquela época, só os jovens falavam português; hoje são bilíngues. Houve alguns avanços na educação: as escolas vão até o ensino secundário; alguns indígenas se tornaram professores. Antes, só havia uma igreja evangélica na reserva, pequena, de madeira, que fazia o que a Funai não conseguia, que era dar assistência médica aos índios. Hoje são cinco, de diferentes orientações, algumas fundamentalistas - 99% dos índios da região são evangélicos.
Por que resolveu usar os kadiwéu, e não atores, em "Brava gente brasileira"?
O filme tinha como base um relatório militar sobre a invasão do Forte Coimbra pelos índios guaicurus, no século XVIII, em reação ao ataque dos portugueses à tribo. Mas o relatório representava o ponto de vista dos militares sobre a colonização dos indígenas. Queria trabalhar aquele fato de modo diferente, com os índios como protagonistas e, para isso, queria os kadiwéu, que são descendentes dos guaicurus, fazendo papel deles mesmos.
A reaproximação com os kadiwéu foi tranquila?
Sim, por causa da relação que construímos com "Brava gente", que recuperava a imagem deles como uma gente guerreira, naquele choque com o homem branco. O interessante é a complexidade da situação deles, a gente tende a idealizar o indígena, mas não consegue ver o processo de mudança nesse conflito deles com outra sociedade.
O Globo, 16/07/2015, Segundo Caderno, p. 5
Lúcia Murat
Em 2000, Lúcia Murat lançou "Brava gente brasileira" (2000), sobre a colonização portuguesa, com a contribuição dos índios kadiwéu. Mais de dez anos depois, a diretora retornou ao Mato Grosso do Sul para filmar "A nação que não esperou por Deus", que estreia hoje, e que documenta as transformações sofridas pela tribo.
Quando aconteceu o reencontro com os kadiwéu? O que mais a impressionou sobre a situação da tribo?
Nunca perdi contato com eles, porque em algum momento pensava em voltar lá. Em 2010 precisei ir a Campo Grande, capital do estado, e resolvi passar lá na comunidade deles. Fiquei chocada com as mudanças levadas pela chegada da luz elétrica, da televisão, pelo crescimento da atuação das religiões evangélicas na região e pelas disputas de terra com os pecuaristas.
Como era a reserva à época de "Brava gente brasileira"?
Quando saí de lá, há 15 anos, me senti como ( o antropólogo) Lévi-Strauss, que estudou os kadiwéu, que dizia que estava visitando uma sociedade em extinção. Naquela época, só os jovens falavam português; hoje são bilíngues. Houve alguns avanços na educação: as escolas vão até o ensino secundário; alguns indígenas se tornaram professores. Antes, só havia uma igreja evangélica na reserva, pequena, de madeira, que fazia o que a Funai não conseguia, que era dar assistência médica aos índios. Hoje são cinco, de diferentes orientações, algumas fundamentalistas - 99% dos índios da região são evangélicos.
Por que resolveu usar os kadiwéu, e não atores, em "Brava gente brasileira"?
O filme tinha como base um relatório militar sobre a invasão do Forte Coimbra pelos índios guaicurus, no século XVIII, em reação ao ataque dos portugueses à tribo. Mas o relatório representava o ponto de vista dos militares sobre a colonização dos indígenas. Queria trabalhar aquele fato de modo diferente, com os índios como protagonistas e, para isso, queria os kadiwéu, que são descendentes dos guaicurus, fazendo papel deles mesmos.
A reaproximação com os kadiwéu foi tranquila?
Sim, por causa da relação que construímos com "Brava gente", que recuperava a imagem deles como uma gente guerreira, naquele choque com o homem branco. O interessante é a complexidade da situação deles, a gente tende a idealizar o indígena, mas não consegue ver o processo de mudança nesse conflito deles com outra sociedade.
O Globo, 16/07/2015, Segundo Caderno, p. 5
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