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Indígena enfrenta dura jornada para realizar sonho de ser professor

10/06/2017

Fonte: Diário Digital diariodigital.com.br



Às 7 horas da manhã, o acadêmico Jusemir de Azevedo Botelho, 26 anos, já está em pé e firme, na Escola Estadual Indígena Guilhermina da Silva, no município de Anastácio, onde dá aulas de Educação Física. A Instituição tem uma Lei diferenciada, uma normativa que ampara a escola indígena, quando não tem professor específico formado na área, a prioridade é de quem está cursando a partir do 4o semestre. A labuta se estende para o período vespertino, com aulas até às 15 horas. Rotina normal para um futuro professor se não fosse um pequeno detalhe: sair para a faculdade às 16h15 e voltar quase 01 hora da manhã.

O jovem que é da etnia terena, sai da Aldeia Urbana Aldeinha para estudar na Capital todos os dias. Ele, que estuda na Universidade Católica Dom Bosco, conta que não é fácil trabalhar praticamente o dia inteiro e ter menos de uma hora para se organizar e ir para o ponto onde os ônibus param para o embarque dos alunos. Para ele foram dois pesos, pagar a mensalidade e as despesas por ter que estudar há 130 km de casa.

Além de Jusemir, vários alunos de Aquidauana e Anastácio enfrentam 260 km ida e volta na BR-262 todos os dias para conseguir o tão sonhado diploma. Rotina pesada, pois são aproximadamente duas horas de viagem até chegar na Capital, além do tempo de distribuir os jovens em suas respectivas Universidades. Outra dificuldade é pagar a graduação, quando cursada em Faculdades Privadas, sem o auxílio de bolsas e ainda os gastos com o transporte.

"Na vida, todos temos um sonho, o meu sempre foi estudar Educação Física. Na minha vivência escolar, aprendi a admirar a profissão, observando meus professores. Em 2010 quando eu terminei o Ensino Médio, queria já estudar, mas em Anastácio e Aquidauana, as faculdades que se concentram na região não ofereciam o curso. Acabei entrando para o Exército e fiquei três anos servindo, quando dei baixa, resolvi mesmo com as dificuldades, ir atrás do meu objetivo", revelou ao Diário Digital.

O Indígena relatou que a ideia inicial era se mudar para Campo Grande, mas a situação financeira o impediu. Ele não teria condições de se manter na Capital. Fato que o deixou desapontado. "Queria muito realizar meu sonho e fazer o que eu realmente me identificava, além de dar uma vida melhor para minha família."

Como o desejo de ser alguém na vida bradava em voz alta, Jusemir começou a fazer pesquisas em instituições de ensino superior. A Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) chamou a atenção do jovem por oferecer a Bolsa Integral Indígena, que na visão dele, uma preocupação nobre por parte da Instituição. Outro diferencial é que a Faculdade conta com Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas (NEPPI), setor que dá todo o suporte para os acadêmicos de todas as etnias, evitando assim a evasão.

"Eu não tinha condições de pagar a mensalidade, era a minha chance, minha oportunidade, isso encheu meu coração de felicidade, poder ser alguém na vida, mudar a realidade do meu povo, fazer a diferença na minha aldeia. É um programa concorrido e muito criterioso, mas isso não me desapontou, o NEPPI ajuda em tudo, a organizar a documentação para o Programa, e até com os materiais das aulas, ajuda a manter o acadêmico indígena na Faculdade", disse animado.

A Universidade Católica Dom Bosco tem um olhar voltado para essa comunidade e pensando na dificuldade que os índios tem para se graduar, tanto no âmbito financeiro quanto no social, implanta ações de políticas e projetos na área da educação superior para acadêmicos de etnia comprovadamente indígena. A bolsa Indígena é uma modalidade de bolsa gratuita concedida aos acadêmicos regularmente matriculados. O objetivo é favorecer o acesso, permanência e conclusão do ensino superior aos acadêmicos com vistas na emancipação das famílias indígenas do Estado do Mato Grosso do Sul.

Mesmo com todo o suporte oferecido pela Universidade, o futuro professor se deparou com outra dificuldade: o deslocamento todos os dias para frequentar as aulas. Como ele não tinha condições de morar em Campo Grande, optou em utilizar o transporte que levava os alunos para a Capital todos os dias. "No primeiro ano da minha faculdade, era somente uma empresa que fazia o trajeto. Os ônibus não eram tão novos, davam problemas com frequência, às vezes quebrava na rodovia e eu chegava quase 03 horas da manhã em casa, para 07 horas estar de pé para trabalhar. Isso pesou muito, a ponto de eu querer desistir, mas minha família me deu força, isso fez a diferença", relatou. Atualmente seis ônibus de duas empresas transportam os acadêmicos para a Capital.

Jusemir agora está muito perto de concluir o tão sonhado curso de Educação Física, e com o diferencial de ter a licenciatura e o bacharelado, já que seu curso possibilita estudar três anos licenciatura e o último bacharel. Além da realização profissional, o jovem quer mudar a realidade de seu povo e mostrar que o índio pode ter profissão, pode ter diploma. Ele pretende por fim à mentalidade segundo a qual o indígena não quer crescer e evoluir. Fazer a diferença sim, mas nunca perder a tradição, a identidade.




http://www.diariodigital.com.br/geral/indigena-enfrenta-dura-jornada-para-realizar-sonho-de-ser-professor/159134/
 

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