De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.
Notícias
Chocolate amazônico da De Mendes recebe aporte e vai chegar ao varejo
16/05/2022
Fonte: Capital Reset - https://www.capitalreset.com/
Chocolate amazônico da De Mendes recebe aporte e vai chegar ao varejo
Aceleradora CBKK investe R$ 1,5 milhão para escalar negócio que tem impacto direto na vida de 3,5 mil pessoas que vivem na floresta
Por Débora Sögur-Hous
16 de maio de 2022
César de Mendes sempre acreditou que o gosto amargo do avanço do garimpo e da pecuária extensiva na Amazônia pudesse ser rebatido com uma espécie endêmica da região e seu produto mais conhecido: o cacau amazônico e o chocolate.
Foi essa convicção que o levou a fundar a Chocolate De Mendes, em 2014. A empresa produz chocolates finos, sempre com cacau nativo, encontrado na natureza ou plantado em sistemas agroflorestais, que preservam a floresta.
A ideia original de De Mendes estava certa: o chocolate recebeu prêmios no exterior, e o sucesso se traduziu em impacto direto na vida de 3,5 mil pessoas, que passaram a ter uma atividade econômica aliada à preservação ambiental e ajudam na conservação de 300 mil hectares de floresta.
Mas faltavam recursos para dar o passo seguinte.
Depois de algumas tentativas frustradas para conseguir sócios investidores, no final do ano passado De Mendes finalmente encontrou um parceiro com quem "o santo bateu".
A companhia recebeu um investimento de R$ 1,5 milhão da aceleradora de negócios de impacto CBKK, que tem como um dos investidores Marcello Brito, que até o fim do ano presidiu a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e é engenheiro de alimentos de formação.
O plano é que a CBKK venha a ter 50% do capital da empresa, mas não há um prazo definido para isso. A aceleradora também não revela que porcentagem da De Mendes detém hoje.
O objetivo do aporte é ampliar o alcance da empresa tanto do lado de seus fornecedores -incluindo povos indígenas e comunidades ribeirinhas raramente atingidos pelo desenvolvimento econômico - quanto na abertura de novos mercados.
Com mais fontes de cacau, a De Mendes espera passar de pouco mais de 1,5 tonelada produzida mensalmente (segundo as projeções deste ano) para 5 toneladas.
As vendas, que até o ano passado eram realizadas no Mercado Livre, agora também são feitas no próprio site, que foi reformulado e ganhou uma nova identidade visual. E a companhia também está estreitando contatos com varejistas e exportadores. Há um mês foi fechada a primeira exportação das barras para os Estados Unidos.
Uma meta ambiciosa da empresa é a de impactar até 50 mil pessoas, contribuindo para a conservação de 1 milhão de hectares de floresta até 2025. "Mas este é apenas um norte. Antes disso precisamos fortalecer e aperfeiçoar a estrutura que já temos", afirma Andrea Apponi, COO da CBK e que hoje está 100% dedicada ao projeto da De Mendes.
Chocolatier mateiro
Para De Mendes, que se define como um "chocolatier mateiro", a chegada do sócio-investidor vai permitir que ele se concentre em uma das partes do trabalho que mais gosta: criar novas receitas e entrar mata adentro em busca de novas fontes de cacau.
"Minha rotina é ir nas vilas, nas aldeias, ficar andando pela floresta. Vou com o pessoal em mata fechada, com botas altas, um facão, um cesto e com olhos e ouvidos atentos", afirma ele.
Além de trabalhar somente com plantas nativas, a De Mendes produz chocolates "single origin". São barras que contêm somente um tipo de cacau e expressam as características das terras e da variedade daquela matéria-prima.
A mais exclusiva é a Yanomami-Ye'kwana (69% cacau), feita de uma variedade de uma variedade de cacau ainda não-identificada e que é encontrada em uma aldeia Yanomami em Roraima.
O chocolate "tem sabor prolongado, notas de amêndoas e de banana. Uma experiência muito marcante", afirma o chocolatier De Mendes. Não à toa é a barra mais cara: 50 g estão a R$ 50.
Encontrar mais variedades - ou novos terroirs - é uma das chaves para crescer. Essa ideia se mistura com outra, que envolve uma questão de reconhecimento, segundo De Mendes. O cacau é originário da Amazônia, mas países como Bélgica e Suíça ficam com a fama.
"O cacau é um tesouro nativo da Amazônia, mas por que não reconhecemos o chocolate como brasileiro? Porque a indústria usa a fruta brasileira para fazer chocolate europeu. Os ingredientes, o modo de fazer e o produto final, tudo é europeu", afirma o chocolatier.
Rastreabilidade
A De Mendes não é a única empresa que procura estabelecer um negócio sustentável baseado no cacau amazônico. Para ficar em dois exemplos, a chocolatier Luisa Abram tem um modelo mais artesanal, enquanto a Danke, de Ernesto Neugebauer, já nasceu em busca de escala, com base em vendas no varejo.
Apponi acredita que a remuneração oferecida aos fornecedores pode ser um dos diferenciais da empresa - e não só no valor pago por quilo de cacau.
Em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), a companhia está desenvolvendo um programa de treinamento em regiões com indígenas.
"Nossos colaboradores são populações extremamente vulneráveis e ameaçadas. Queremos capacitar essas pessoas, principalmente os mais jovens, propondo o cacau como uma alternativa frente ao garimpo ilegal", afirma Apponi.
Outra iniciativa é ter uma rastreabilidade completa de cada barra de chocolate. Usando blockchains, a tecnologia por trás das criptomoedas, a De Mendes quer que o comprador de cada barra tenha a informação completa do que tem nas mãos.
"A ideia é que ele possa checar a localização, quem colheu [o fruto] e até veja a foto do cacau que foi usado na barra que ele está comendo."
Apponi também menciona um certificado de neutralização de carbono. A cada chocolate vendido estaria associada uma compensação das emissões de gases de efeito estufa de um dia do consumidor. O projeto está sendo desenvolvido com a ZCO2, do grupo AmazonasCoin.
Na gôndola
A demanda por esses chocolates bean to bar (da amêndoa à barra) vem aumentando a despeito da crise, informa a Associação Bean to Bar Brasil (ACCB).
Segundo um mapeamento da entidade, em conjunto com o Sebrae Nacional, já existem no país ao menos 147 fabricantes deste tipo de chocolate, concentrados principalmente no Pará e na Bahia, e que iniciaram a sua produção entre 2019 e 2020.
Todo esse esforço da De Mendes de nada terá adiantado se os apaixonados por chocolate não conhecerem - ou não encontrarem - os produtos da empresa. Distribuição e comunicação são dois focos importantes da CBKK neste ano.
A companhia vai buscar certificações que estão em alta demanda, como o de produtos veganos, orgânicos ou sem glúten. Segundo Apponi, esses três selos distinguirão a De Mendes de uma série de chocolaterias que já pululam na região Norte e na Bahia, principal polo produtor de cacau do país.
Além das vendas diretas pela internet, até o fim do primeiro semestre as barras criadas pelo chocolatier mateiro estarão disponíveis na seção Caras do Brasil dos mercados do Grupo Pão de Açúcar. Outra frente é aumentar os mercados externos além dos atuais Japão e Estados Unidos.
Com tantas frentes, uma das preocupações de Apponi e do fundador é manter o negócio fiel à sua origem.
Em sua sede, às margens da Baía da Ilha de Marajó, a Chocolates De Mendes recebe cestos de cacau que chegam de todos os cantos da Amazônia, por todo tipo de meio de transporte: barco, avião, carro e até a pé.
Esse contato direto com a população que vive na Amazônia é a razão de ser da empresa e é inegociável, afirma De Mendes. "É claro que queremos crescer, mas esse crescimento não pode ser às custas de deturpar a nossa identidade."
"No médio prazo, queremos trabalhar com mais fornecedores e, portanto, acumular mais floresta conservada", diz Apponi. "Por isso esse negócio é tão fascinante. Para crescer, os chocolates comuns derrubam florestas; nós só podemos escalar o negócio preservando a floresta em pé."
https://www.capitalreset.com/chocolate-amazonico-da-demendes-recebe-aporte-e-vai-chegar-ao-varejo/
Aceleradora CBKK investe R$ 1,5 milhão para escalar negócio que tem impacto direto na vida de 3,5 mil pessoas que vivem na floresta
Por Débora Sögur-Hous
16 de maio de 2022
César de Mendes sempre acreditou que o gosto amargo do avanço do garimpo e da pecuária extensiva na Amazônia pudesse ser rebatido com uma espécie endêmica da região e seu produto mais conhecido: o cacau amazônico e o chocolate.
Foi essa convicção que o levou a fundar a Chocolate De Mendes, em 2014. A empresa produz chocolates finos, sempre com cacau nativo, encontrado na natureza ou plantado em sistemas agroflorestais, que preservam a floresta.
A ideia original de De Mendes estava certa: o chocolate recebeu prêmios no exterior, e o sucesso se traduziu em impacto direto na vida de 3,5 mil pessoas, que passaram a ter uma atividade econômica aliada à preservação ambiental e ajudam na conservação de 300 mil hectares de floresta.
Mas faltavam recursos para dar o passo seguinte.
Depois de algumas tentativas frustradas para conseguir sócios investidores, no final do ano passado De Mendes finalmente encontrou um parceiro com quem "o santo bateu".
A companhia recebeu um investimento de R$ 1,5 milhão da aceleradora de negócios de impacto CBKK, que tem como um dos investidores Marcello Brito, que até o fim do ano presidiu a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e é engenheiro de alimentos de formação.
O plano é que a CBKK venha a ter 50% do capital da empresa, mas não há um prazo definido para isso. A aceleradora também não revela que porcentagem da De Mendes detém hoje.
O objetivo do aporte é ampliar o alcance da empresa tanto do lado de seus fornecedores -incluindo povos indígenas e comunidades ribeirinhas raramente atingidos pelo desenvolvimento econômico - quanto na abertura de novos mercados.
Com mais fontes de cacau, a De Mendes espera passar de pouco mais de 1,5 tonelada produzida mensalmente (segundo as projeções deste ano) para 5 toneladas.
As vendas, que até o ano passado eram realizadas no Mercado Livre, agora também são feitas no próprio site, que foi reformulado e ganhou uma nova identidade visual. E a companhia também está estreitando contatos com varejistas e exportadores. Há um mês foi fechada a primeira exportação das barras para os Estados Unidos.
Uma meta ambiciosa da empresa é a de impactar até 50 mil pessoas, contribuindo para a conservação de 1 milhão de hectares de floresta até 2025. "Mas este é apenas um norte. Antes disso precisamos fortalecer e aperfeiçoar a estrutura que já temos", afirma Andrea Apponi, COO da CBK e que hoje está 100% dedicada ao projeto da De Mendes.
Chocolatier mateiro
Para De Mendes, que se define como um "chocolatier mateiro", a chegada do sócio-investidor vai permitir que ele se concentre em uma das partes do trabalho que mais gosta: criar novas receitas e entrar mata adentro em busca de novas fontes de cacau.
"Minha rotina é ir nas vilas, nas aldeias, ficar andando pela floresta. Vou com o pessoal em mata fechada, com botas altas, um facão, um cesto e com olhos e ouvidos atentos", afirma ele.
Além de trabalhar somente com plantas nativas, a De Mendes produz chocolates "single origin". São barras que contêm somente um tipo de cacau e expressam as características das terras e da variedade daquela matéria-prima.
A mais exclusiva é a Yanomami-Ye'kwana (69% cacau), feita de uma variedade de uma variedade de cacau ainda não-identificada e que é encontrada em uma aldeia Yanomami em Roraima.
O chocolate "tem sabor prolongado, notas de amêndoas e de banana. Uma experiência muito marcante", afirma o chocolatier De Mendes. Não à toa é a barra mais cara: 50 g estão a R$ 50.
Encontrar mais variedades - ou novos terroirs - é uma das chaves para crescer. Essa ideia se mistura com outra, que envolve uma questão de reconhecimento, segundo De Mendes. O cacau é originário da Amazônia, mas países como Bélgica e Suíça ficam com a fama.
"O cacau é um tesouro nativo da Amazônia, mas por que não reconhecemos o chocolate como brasileiro? Porque a indústria usa a fruta brasileira para fazer chocolate europeu. Os ingredientes, o modo de fazer e o produto final, tudo é europeu", afirma o chocolatier.
Rastreabilidade
A De Mendes não é a única empresa que procura estabelecer um negócio sustentável baseado no cacau amazônico. Para ficar em dois exemplos, a chocolatier Luisa Abram tem um modelo mais artesanal, enquanto a Danke, de Ernesto Neugebauer, já nasceu em busca de escala, com base em vendas no varejo.
Apponi acredita que a remuneração oferecida aos fornecedores pode ser um dos diferenciais da empresa - e não só no valor pago por quilo de cacau.
Em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), a companhia está desenvolvendo um programa de treinamento em regiões com indígenas.
"Nossos colaboradores são populações extremamente vulneráveis e ameaçadas. Queremos capacitar essas pessoas, principalmente os mais jovens, propondo o cacau como uma alternativa frente ao garimpo ilegal", afirma Apponi.
Outra iniciativa é ter uma rastreabilidade completa de cada barra de chocolate. Usando blockchains, a tecnologia por trás das criptomoedas, a De Mendes quer que o comprador de cada barra tenha a informação completa do que tem nas mãos.
"A ideia é que ele possa checar a localização, quem colheu [o fruto] e até veja a foto do cacau que foi usado na barra que ele está comendo."
Apponi também menciona um certificado de neutralização de carbono. A cada chocolate vendido estaria associada uma compensação das emissões de gases de efeito estufa de um dia do consumidor. O projeto está sendo desenvolvido com a ZCO2, do grupo AmazonasCoin.
Na gôndola
A demanda por esses chocolates bean to bar (da amêndoa à barra) vem aumentando a despeito da crise, informa a Associação Bean to Bar Brasil (ACCB).
Segundo um mapeamento da entidade, em conjunto com o Sebrae Nacional, já existem no país ao menos 147 fabricantes deste tipo de chocolate, concentrados principalmente no Pará e na Bahia, e que iniciaram a sua produção entre 2019 e 2020.
Todo esse esforço da De Mendes de nada terá adiantado se os apaixonados por chocolate não conhecerem - ou não encontrarem - os produtos da empresa. Distribuição e comunicação são dois focos importantes da CBKK neste ano.
A companhia vai buscar certificações que estão em alta demanda, como o de produtos veganos, orgânicos ou sem glúten. Segundo Apponi, esses três selos distinguirão a De Mendes de uma série de chocolaterias que já pululam na região Norte e na Bahia, principal polo produtor de cacau do país.
Além das vendas diretas pela internet, até o fim do primeiro semestre as barras criadas pelo chocolatier mateiro estarão disponíveis na seção Caras do Brasil dos mercados do Grupo Pão de Açúcar. Outra frente é aumentar os mercados externos além dos atuais Japão e Estados Unidos.
Com tantas frentes, uma das preocupações de Apponi e do fundador é manter o negócio fiel à sua origem.
Em sua sede, às margens da Baía da Ilha de Marajó, a Chocolates De Mendes recebe cestos de cacau que chegam de todos os cantos da Amazônia, por todo tipo de meio de transporte: barco, avião, carro e até a pé.
Esse contato direto com a população que vive na Amazônia é a razão de ser da empresa e é inegociável, afirma De Mendes. "É claro que queremos crescer, mas esse crescimento não pode ser às custas de deturpar a nossa identidade."
"No médio prazo, queremos trabalhar com mais fornecedores e, portanto, acumular mais floresta conservada", diz Apponi. "Por isso esse negócio é tão fascinante. Para crescer, os chocolates comuns derrubam florestas; nós só podemos escalar o negócio preservando a floresta em pé."
https://www.capitalreset.com/chocolate-amazonico-da-demendes-recebe-aporte-e-vai-chegar-ao-varejo/
As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.