De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Rebote na crise Yanomami gera crise interna no governo; Entenda

10/01/2024

Fonte: Valor Econômico - https://valor.globo.com/politica/noticia/2024/01/10/



Rebote na crise Yanomami gera crise interna no governo; Entenda
Em reunião ministerial, Lula disse que não é possível "perder a guerra" para o garimpo ilegal e prometeu utilizar todos os recursos para expulsar invasores

Por Murillo Camarotto, Valor - Brasília 10/01/2024 18h20

O rebote da crise humanitária na terra indígena Yanomami tem como pano de fundo uma crise interna no governo. Desde a intervenção realizada nos primeiros dias de 2023, quando imagens de crianças desnutridas ganharam o mundo, o trabalho de resgate de doentes e expulsão de garimpeiros foi perdendo fôlego ao longo do ano, dando origem a trocas de acusações entre os ministérios sobre as atribuições de cada
um.
Em reunião ministerial realizada ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que não é possível "perder a guerra" para o garimpo ilegal e prometeu utilizar toda a máquina pública para expulsar os invasores. Acusado por colegas de não ter centralizado a coordenação dos trabalhos, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, anunciou a criação de uma "casa do governo" na região.

A avaliação de alguns ministros, entretanto, é de que a missão continuará sendo muito complicada, inclusive sob o ponto de vista político. Há uma clareza de que praticamente todas as principais lideranças políticas da região têm ligações com o garimpo e que será necessária uma negociação mais ampla em torno do alcance da atividade, com grande peso na economia local.

Outro entrave é a demanda por recursos, tanto financeiros quanto humanos. O atendimento ao território exigiu o uso intensivo de aeronaves durante todo o ano passado, o que nem sempre foi suficiente. Segundo o Valor apurou, aviões tiveram que ser retirados de operação para manutenção, o que comprometeu sensivelmente o envio de alimentos, remédios, profissionais e equipamentos para a região ao longo do ano.

As interrupções no atendimento foram prontamente denunciadas por lideranças indígenas e as queixas respingaram principalmente no Ministério da Defesa e na Casa Civil. Para tentar contornar a crise, o governo anunciou investimento de R$ 1,2 bilhão em políticas públicas. Uma das prioridades é fazer com que órgãos federais intensifiquem as ações de proteção ao povo indígena Yanomami e de combate ao garimpo ilegal.

A fiscalização e a repressão, entretanto, também enfrentam contratempos. O Ibama, por exemplo, não está conseguindo enviar para o território número de servidores que estava planejado originalmente. Os fiscais têm alegado preocupações com a segurança ao rejeitarem a ida para a terra Yanomami. Responsável pela segurança, a Polícia Federal também tem alertado para a complexidade do trabalho. Seu diretor-geral, Andrei Lopes, disse nesta quarta-feira à agência de notícias "Reuters" que o contingente da corporação não garante a expulsão dos garimpeiros ilegais. "Só a Polícia Federal não é suficiente... Não se consegue asfixiar (a criminalidade), por si só, com o trabalho da Polícia Federal", disse o delegado.

População
Localizado entre Roraima e o Amazonas, o território Yanomami abrange oito municípios e conta com aproximadamente 30 mil indígenas. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), os povos Yanomami começaram a ocupar o território entre as cabeceiras dos rios Orinoco e Parimpa, próximo da margem direita do Rio Branco, há um milênio.

Crise humanitária
De acordo com o Ministério Público Federal em Roraima, há registros de subnutrição infantil no território desde 2009. Ainda assim, segundo o próprio MPF, o quadro começou a se agravar em 2017, chegando ao ápice em 2022, último ano do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre 2021 e 2022, cerca de 300 crianças Yanomami com sinais de desnutrição precisavam ser transferidas para atendimento médico em Boa Vista.
"A propagação da malária vinha crescendo gradualmente desde a década passada, mas era considerada controlada, até dar um salto, há cinco anos, acompanhando a evolução da devastação. O volume de casos dobrou entre 2018 e 2021, passando de cerca 10 mil para mais de 20 mil por ano, patamar inédito", informa o ISA.

No início de 2023, com a troca de governo, foi instituído o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE- 6 Yanomami), coordenado pelo Ministério da Saúde, para ações emergenciais de enfrentamento da crise. No ano passado, segundo o governo, mais de 13 mil atendimentos foram realizados aos indígenas encontrados em grave situação de abandono.
Também houve o controle do espaço aéreo do território, para combater voos clandestinos e, assim, estrangular a principal via de suprimento do garimpo. A Polícia Federal deflagrou 13 operações ao longo de 2023, resultando em 114 mandados de busca e apreensão, 175 prisões em flagrante e R$ 589 milhões em bens apreendidos.
Em entrevista ao portal "g1", o procurador da República em Roraima Alisson Marugal disse ver algum avanço na assistência aos indígenas no último ano, mas que o quadro geral é de "inércia". Ele ressaltou, ainda, que a falta de atitude pode colocar o governo Lula sob investigação por genocídio, determinada pelo próprio governo para apurar as condutas da gestão Bolsonaro.

https://valor.globo.com/politica/noticia/2024/01/10/entenda-crise-yanomami.ghtml
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.