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Censo: estados da Amazônia têm as ruas menos arborizadas do país, e capitais do agro são destaque positivo

17/04/2025

Fonte: O Globo - https://oglobo.globo.com/



Censo: estados da Amazônia têm as ruas menos arborizadas do país, e capitais do agro são destaque positivo; veja sua cidade
Segundo a pesquisa 'Características urbanísticas do entorno dos domicílios', do IBGE, 114,9 milhões de brasileiros moram em ruas com pelo menos uma árvore

17/04/2025

Lucas Altino

Mesmo dentro da área da maior floresta tropical úmida do mundo, cidades e estados da Amazônia possuem algumas das piores taxas de arborização urbana do Brasil, mostram novos dados do Censo 2022, do IBGE. Do outro lado, regiões com forte influência do agronegócio, como o interior de São Paulo, o Mato Grosso do Sul e o norte do Paraná, aparecem como destaques positivos. Segundo especialistas, os números mostram que planejamento urbanístico, aspectos culturais e poder de investimento das prefeituras são mais relevantes que a localização geográfica.

Divulgada nesta quinta-feira, a pesquisa "Características urbanísticas do entorno dos domicílios", com números do Censo 2022, reuniu estatísticas diversas como pavimentação de vias, iluminação pública, presença de rampas de cadeirantes, ciclovias e arborização urbana. O levantamento só considerou áreas urbanas, portanto abrangeu as residências de 174,1 milhões de brasileiros, 85% da população total, em 5.698 municípios.

Segundo o Censo, 114,9 milhões de brasileiros, 66% da amostra, vivem em vias arborizadas. A metodologia considerou como arborizada a rua que tivesse pelo menos uma árvore de no mínimo 1,70m. A pesquisa ainda categorizou as quantidades uma a duas árvores; três a quatro; e mais de cinco.

Considerando a categoria de pelo menos cinco árvores, o resultado nacional cai drasticamente: apenas 32% da população vivem nessas vias. As piores taxas foram no Acre e Amazonas, onde apenas 10,7% e 13,7% dos moradores das áreas urbanas, respectivamente, estão em ruas com esse nível de arborização. Depois vieram Sergipe (14%), Roraima (14,5%), Alagoas (16,5%) e Pará (16,9%). Dos dez piores resultados nesse critério, cinco são estados da Amazônia Legal.

Na outra ponta do ranking, o Mato Grosso do Sul, cuja economia é liderada pelo agronegócio, tem o melhor resultado: 58,9% dos seus moradores de áreas urbanas residem em vias com mais de cinco árvores. Outros estados com boas taxas são Paraná (49% e 3o maior), Mato Grosso (40,3% e 5o melhor), Goiás (40,2% e 6o melhor) e São Paulo (38,4% e 7o melhor). As únicas Unidades da Federação que superam o mínimo de 50% nesse critério são o Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal (56,44%).

Na classificação dos municípios, o melhor resultado é de São Pedro das Missões (RS), com 99,64% de seus moradores em vias com mais de cinco árvores. Considerando as cidades com pelo menos 100 mil habitantes, o melhor foi Maringá (PR), com 98,6%. Municípios do Centro-Oeste, o interior dos estados de São Paulo e Paraná e o sul de Minas também tiveram destaque, como, por exemplo, Campo Grande (91,4%), Goiânia (89,6%), Campinas (84,5%), Londrina (97,1%) e Uberlândia (91,6%), além do Distrito Federal (84,2%).

Até cidades conhecidas como "capitais do agronegócio", por causa da produção de commodities como soja, milho e cana, tiveram resultados expressivos. Foram os casos de Lucas do Rio Verde (94,48%), Sinop (94%) e Rondonópolis (93,8%), todas no Mato Grosso.

Ao considerar qualquer quantidade de árvore na via - pelo menos uma -, cinco estados da Amazônia continuam figurando entre os dez piores resultados. Mas Sergipe e Alagoas têm as piores taxas e são os estados onde há mais moradores vivendo em vias sem árvore, com 68,2% e 58,2% de suas populações urbanas, respectivamente, nessas condições.

Sede da COP 30, Belém é 'insalubre' de se caminhar nas ruas
Mais da metade dos moradores de Belém (PA), a sede da COP 30, moram em ruas que não têm uma árvore sequer (59% da população). João Pedro Galvão, de 29 anos, estudante da Universidade Federal do Pará, diz que a baixa arborização afeta principalmente o conforto térmico, a mobilidade na cidade, e os alagamentos.

- Belém é uma cidade relativamente pequena, mas caminhar na rua é praticamente insalubre, porque é muito úmida, não tem cobertura vegetal, então o sol te maltrata e você chega muito suado nos lugares - observa Galvão, relembrou um estudo divulgado ano passado, da CarbonPlan, que estima que Belém pode se tornar a segunda cidade mais quente do mundo até 2050. - Além disso, aqui chove muito e o solo fica impermeável, ou seja, alaga sempre, e prolifera mais doenças.

Para o estudante, a falta de árvores é resultado de uma expansão urbana desordenada e que hoje é difícil vislumbrar espaços para plantios na cidade, de tão adensada. Ele ainda destaca que várias das ilhas de Belém, que formam a paior parte do terrirório da cidade, estão sendo ocupadas por restaurantes e equipamentos turísticos, gerando mais desmatamento.

- O modelo de ocupação da cidade foi baseado em asfalto e verticalização, que não tem nada a ver com a floresta. O tal do desenvolvimento que chegou na Amazônia nos últimos 60 anos levou a um modelo insustentável de cidade. As cidades amazônicas são assim por esforços nacionais que deram errado - afirma Galvão.

Especialistas criticam modelo de ocupação das cidades
Mayumi Hirye, coordenadora da equipe Urbano do Mapbiomas, diz que o modelo histórico de ocupação das cidades é o que resulta na baixa arborização urbana no país.

- Fundamentalmente, nosso modelo de ocupação das cidades é de terra arrasada, inclusive na Amazônia. Derrubam a floresta, criam pasto e no entorno criam a cidade. Estar num ambiente florestal não quer dizer que as árvores vão se manter quando vem o processo de urbanização. Pelo contrário, vem as vias, os lotes, terraplanagem - explica a especialista, que complementa que árvores podem ser replantadas posteriormente nas ruas, pelo viés estético e pela valorização imobiliária.

Para a especialista em arborização e planejamento urbano, o poderio financeiro de municípios é uma das hipóteses a explicar as variações regionais nessas taxas. Nos outros indicadores da pesquisa de características urbanísticas, como pavimentação de vias e iluminação pública, os piores resultados também aconteceram no Norte e no Nordeste, onde há menos recursos.

Ela destaca, por exemplo, que enquanto Sinop e Lucas do Rio Verde, que têm economias pujantes, apresentaram altas taxas de arborização urbana, a cidade de Colniza, no mesmo Mato Grosso, teve um resultado muito inferior: 59,35% dos seus moradores viviam em ruas arborizadas.

- Colniza, no norte do estado, tem menos dinheiro. É uma cidade que tem muito desmatamento, mas não é rica.

Além do aspecto do investimento público, Mayumi também cita outros filtros como a idade da cidade (algumas mais antigas, como Londrina e Maringá tem arborização consolidade), e a alta presença de áreas informas.

- Em cidades com muitas áreas informais, como Manaus e Belém, a arborização na rua é mais precária. Arborização viária tem muito a ver com se ter espaço na calçada para o plantio . Então acho que tem relação entre formalidade, grau de planejamento e organização da cidade e a arborização.

Processo histórico de ocupação da Amazônia trouxe heranças culturais, diz engenheiro
Já Salvador Sá, engenheiro florestal, minimiza o fator de recursos das prefeituras para essas variações. Ele explica que projetos de arborização urbana não costumam ser caros, portanto, a vontade e o planejamento político são mais relevantes, e destaca que as cidades mais ricas do país, Rio e São Paulo, não têm resultados satisfatórios. Segundo o Censo, mais de um terço da população das duas cidades moram em vias sem árvore alguma.

Para Salvador, as diferenças nos processos históricos ocupação da Amazônia e do Centro-Oeste, inclusive com heranças culturais, são hipóteses para as variações.

- Eu citaria o clima e a afirmação humana frente à floresta. As cidades da Amazônia foram povoadas, na década de 70, por pessoas que vieram de regiões com menos arborização urbana, como no Nordeste. E para se firmarem dentro da floresta, abriram buracos no meio da Amazônia. Não é o caso do Cerrado, que tem vegetação diferente, e foi ocupado por pessoas mais do Sul, que viviam em um clima mais frio. Aí chegaram em um local mais quente, e isso pode ter motivado a investirem mais na arborização.

O engenheiro florestal também criticou a metodologia do IBGE, que considera uma via como arborizada com a presença de apenas uma árvore.

- Uma árvore de 1,70 metro nem deveria ser considerada para cálculo de arborização de uma cidade. Eu consideraria a via arborizada se tivesse pelo menos um terço de área ocupada por árvores - afirma Sá.

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