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Mais de 60% da população quilombola no Brasil vive em áreas rurais, ante 12,6% na média do país

09/05/2025

Fonte: Valor Econômico - https://valor.globo.com/



Mais de 60% da população quilombola no Brasil vive em áreas rurais, ante 12,6% na média do país
Dados são do Censo Demográfico 2022

Luciane Carneiro

09/05/2025

Mais de 60% da população quilombola no Brasil vive em áreas rurais, parcela muito acima da média de 12,6% da população brasileira como um todo, mostra o estudo "Censo 2022: Quilombolas: Principais características das pessoas e dos domicílios, por situação urbana ou rural do domicílio", divulgado nesta sexta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Censo Demográfico 2022 contabilizou 1.330.186 pessoas quilombolas no Brasil, que moram em 1.700 municípios diferentes. Desse contingente, 820.906 pessoas (ou 61,7% do total) vivem em domicílios rurais e 509.280 (38,3%) estão em lares situados em cidades.

A situação é invertida em relação à população brasileira como um todo. Na média nacional, 87,4% (ou 177,5 milhões de pessoas) vivem em áreas urbanas enquanto 12,6% (25,6 milhões) estão nas áreas rurais.

"As comunidades quilombolas têm sua origem, na maioria, nas áreas rurais, pelo histórico da ocupação pela escravidão e da resistência através dos séculos. Esperava-se uma parcela maior dos domicílios em situação rural, mas se desconhecia a dimensão dessa diferença em relação à população residente", afirma a coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, Marta Antunes.
O Censo 2022 foi o primeiro que contou quantos são, onde vivem e como vivem os quilombolas. Ao contrário das comunidades indígenas, que vêm sendo acompanhadas pelos Censos desde a primeira edição, em 1872, as comunidades quilombolas só agora aparecem na pesquisa, em sua 15ª edição.

Para o gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, Fernando Damasco, os dados inéditos trazem "nova lente" para a formulação de políticas púbicas para a comunidade quilombola, embora já fosse esperada uma participação expressiva da população rural:

"As políticas públicas devem ser pensadas diante desse contexto rural, em frentes como concessão de crédito agrícola e acesso a saneamento, por exemplo".
Ao mesmo tempo, Damasco defende que não é possível ignorar que quase 40% da população quilombola vive em contexto urbano e demógrafos devem se aprofundar na análise das razões disso.

"É preciso entender melhor essa dinâmica, seja pela migração em função das dificuldades do território ou pelas transformações espaciais que fazem com que os territórios rurais sejam engolidos pelas cidades".
Na análise por regiões, os dados mostram um perfil diferente da ocupação do território diferente da média nacional, de acordo com a situação do domicílio.

O Centro-Oeste é a que tem o maior percentual de população quilombola em situação urbana, de 68,04%, muito acima dos 38,2% da média do país. O Sudeste ainda tem maioria da população quilombola em áreas rurais, mas quase metade (47,7%) está em situação urbana. No Sul, a parcela é de 45,6% nas cidades.

Nas regiões Norte e Nordeste, por sua vez, têm proporção maior da população quilombola em áreas rurais que na média nacional: 65% e 63,4%, respectivamente.

A população quilombola - tanto em áreas urbanas quanto rurais - está concentrada principalmente no Nordeste: a região responde por 68,1% do total, ou 906,3 mil.

Marta Antunes explica que as informações sobre a localização em área rural ou urbana também ajudam a avaliar melhor indicadores da população urbana, como acesso a serviços públicos e taxas de alfabetização, por exemplo. O novo estudo sobre pessoas quilombolas do Censo 2022 traz novos recortes de indicadores a partir da perspectiva da situação do domicílio.

"Com essa publicação, é possível controlar melhor o que dos indicadores da população quilombola tem a ver com a questão da etnicidade e o que tem a ver com sua localização em regiões do país em que já são marcadas por desigualdade, por exemplo", diz ela.

No primeiro Censo Demográfico do Brasil, realizado durante o Império, a escravidão era legal no país e os escravos eram contabilizados. Na época, o país tinha quase dez milhões de habitantes, dos quais 15,2% eram escravos.

Originalmente, os quilombos foram regiões de grande concentração de escravos escondidos nas matas e montanhas do Brasil colonial. Eram foco da resistência e do combate à escravidão no Brasil. As comunidades quilombolas reúnem descendentes desses escravos.

https://valor.globo.com/brasil/artigo/mais-de-60percent-da-populacao-quilombola-no-brasil-vive-em-areas-rurais-ante-126percent-na-media-do-pais.ghtml
 

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