De Povos Indígenas no Brasil
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News
As mudanças climáticas, as regiões polares e o Brasil
15/05/2025
Autor: SIMÕES, Jefferson Cardia
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
As mudanças climáticas, as regiões polares e o Brasil
Frentes frias têm mais dificuldade em avançar, muitas vezes bloqueadas pelo aquecimento anômalo no nosso território central, provocando desastres
15/05/2025
Jefferson Cardia Simões
Glaciologista do Centro Polar e Climático da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), é coordenador da Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica 2024-25
As regiões polares sofrem algumas das modificações ambientais mais rápidas do planeta, o Ártico aquece três vezes mais do que a média global e a parte congelada do oceano é cada vez menor. Os oceanos Ártico e Austral (ou Antártico) estão cada vez mais quentes, menos salinos e mais ácidos.
As rápidas modificações nas duas regiões polares já afetam o ecossistema planetário, forçando migração de cinturões climáticos em direção ao polos. O "permafrost" (solo congelado que contém mais carbono do que todas as florestas do mundo) derrete e emite metano, intensificando mais ainda o efeito estufa. O derretimento parcial do manto de gelo groenlandês é uma das principais causas do aumento do nível do mar no momento -nas próximas duas décadas, a contribuição antártica será a maior. Todos os tipos de poluentes, inclusive microplásticos, já são detectados na neve polar.
Abrem-se novas rotas de transporte naval, o tão sonhado caminho mais curto entre Europa e Oriente via norte da Sibéria. Abrem-se novas fronteiras para a exploração de recursos naturais: estima-se que 60% do óleo e gás russos ainda não explorados lá se encontram. Atores não polares marcam sua presença, principalmente China e Índia.
Ondas de frio e calor cada vez mais intensas ocorrem simultaneamente em diferentes longitudes do hemisfério norte decorrentes da rápida redução da área coberta por gelo. Essas modificações ambientais já afetam as relações internacionais e os cenários geopolíticos. Ocorre a remilitarização do Ártico (dormente desde o fim da União Soviética). Com esse novo cenário, começa a se entender a postura agressiva do atual governo dos EUA frente à Groenlândia. O que vemos é uma rápida mudança no cenário geopolítico polar disparado pelas mudanças do clima.
A frequência e força das frentes frias que chegam ao Brasil (muitas vezes avançando até o sul da amazônia) estão relacionadas à área coberta por gelo do oceano Austral, que começa a diminuir. Ao mesmo tempo, essas frentes têm mais dificuldade de avançar sobre o território nacional, muitas vezes bloqueadas pelo aquecimento anômalo no Brasil central.
Esse bloqueio explica parte de desastres observados como o das enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul. A confluência da corrente do Brasil e das Malvinas está cada vez mais ao sul, o Atlântico Sul aquece rapidamente e o número de tempestades extremas aumenta. Finalmente, ainda está indefinido se parte do manto de gelo antártico é instável ao aumento da temperatura do oceano. Nesse caso, o aumento do nível do mar até o ano de 2100 poderia ser maior do que 110 cm, o que, por enquanto, é o pior cenário devido ao aquecimento da atmosfera e dos oceanos.
A Antártica passou incólume à Guerra Fria e até recentemente estava "longe" das rápidas modificações no cenário internacional. Isso graças ao seu tratado, em vigor desde 1961, que congelou reivindicações territoriais, reservou o continente à ciência e implantou um rígido protocolo de preservação ambiental.
Recentemente, até mesmo essa região sofreu impacto das rápidas mudanças, que incluem o avanço de frotas pesqueiras muitas vezes predatórias na área do tratado e choque com as definições da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Tudo isso agravado pela guerra da Ucrânia, que, pela primeira vez, resultou na redução da colaboração internacional na região.
O Brasil não está longe da Antártica e é fortemente afetado por processos que ocorreram naquela região. A constatação que mais surpreende os brasileiros é que as regiões polares são tão importantes quanto os trópicos no sistema climático, que decorre da transferência de energia entre as duas regiões. Os processos que lá ocorrem nos afetam -e vice-versa.
Se quisermos um planeta seguro, estável e sustentável do ponto de vista ambiental é essencial preservamos as regiões polares. Ao Brasil cabe participação integral nos fóruns que discutem o futuro desses espaços. Na Antártica, isso é garantido pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar). No Ártico, o momento de agir é agora.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/05/as-mudancas-climaticas-as-regioes-polares-e-o-brasil.shtml
Frentes frias têm mais dificuldade em avançar, muitas vezes bloqueadas pelo aquecimento anômalo no nosso território central, provocando desastres
15/05/2025
Jefferson Cardia Simões
Glaciologista do Centro Polar e Climático da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), é coordenador da Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica 2024-25
As regiões polares sofrem algumas das modificações ambientais mais rápidas do planeta, o Ártico aquece três vezes mais do que a média global e a parte congelada do oceano é cada vez menor. Os oceanos Ártico e Austral (ou Antártico) estão cada vez mais quentes, menos salinos e mais ácidos.
As rápidas modificações nas duas regiões polares já afetam o ecossistema planetário, forçando migração de cinturões climáticos em direção ao polos. O "permafrost" (solo congelado que contém mais carbono do que todas as florestas do mundo) derrete e emite metano, intensificando mais ainda o efeito estufa. O derretimento parcial do manto de gelo groenlandês é uma das principais causas do aumento do nível do mar no momento -nas próximas duas décadas, a contribuição antártica será a maior. Todos os tipos de poluentes, inclusive microplásticos, já são detectados na neve polar.
Abrem-se novas rotas de transporte naval, o tão sonhado caminho mais curto entre Europa e Oriente via norte da Sibéria. Abrem-se novas fronteiras para a exploração de recursos naturais: estima-se que 60% do óleo e gás russos ainda não explorados lá se encontram. Atores não polares marcam sua presença, principalmente China e Índia.
Ondas de frio e calor cada vez mais intensas ocorrem simultaneamente em diferentes longitudes do hemisfério norte decorrentes da rápida redução da área coberta por gelo. Essas modificações ambientais já afetam as relações internacionais e os cenários geopolíticos. Ocorre a remilitarização do Ártico (dormente desde o fim da União Soviética). Com esse novo cenário, começa a se entender a postura agressiva do atual governo dos EUA frente à Groenlândia. O que vemos é uma rápida mudança no cenário geopolítico polar disparado pelas mudanças do clima.
A frequência e força das frentes frias que chegam ao Brasil (muitas vezes avançando até o sul da amazônia) estão relacionadas à área coberta por gelo do oceano Austral, que começa a diminuir. Ao mesmo tempo, essas frentes têm mais dificuldade de avançar sobre o território nacional, muitas vezes bloqueadas pelo aquecimento anômalo no Brasil central.
Esse bloqueio explica parte de desastres observados como o das enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul. A confluência da corrente do Brasil e das Malvinas está cada vez mais ao sul, o Atlântico Sul aquece rapidamente e o número de tempestades extremas aumenta. Finalmente, ainda está indefinido se parte do manto de gelo antártico é instável ao aumento da temperatura do oceano. Nesse caso, o aumento do nível do mar até o ano de 2100 poderia ser maior do que 110 cm, o que, por enquanto, é o pior cenário devido ao aquecimento da atmosfera e dos oceanos.
A Antártica passou incólume à Guerra Fria e até recentemente estava "longe" das rápidas modificações no cenário internacional. Isso graças ao seu tratado, em vigor desde 1961, que congelou reivindicações territoriais, reservou o continente à ciência e implantou um rígido protocolo de preservação ambiental.
Recentemente, até mesmo essa região sofreu impacto das rápidas mudanças, que incluem o avanço de frotas pesqueiras muitas vezes predatórias na área do tratado e choque com as definições da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Tudo isso agravado pela guerra da Ucrânia, que, pela primeira vez, resultou na redução da colaboração internacional na região.
O Brasil não está longe da Antártica e é fortemente afetado por processos que ocorreram naquela região. A constatação que mais surpreende os brasileiros é que as regiões polares são tão importantes quanto os trópicos no sistema climático, que decorre da transferência de energia entre as duas regiões. Os processos que lá ocorrem nos afetam -e vice-versa.
Se quisermos um planeta seguro, estável e sustentável do ponto de vista ambiental é essencial preservamos as regiões polares. Ao Brasil cabe participação integral nos fóruns que discutem o futuro desses espaços. Na Antártica, isso é garantido pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar). No Ártico, o momento de agir é agora.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/05/as-mudancas-climaticas-as-regioes-polares-e-o-brasil.shtml
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