De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Comunidades sob risco de impactos da hidrovia Araguaia-Tocantins (PA) reivindicam direito a serem ouvidas

11/04/2025

Fonte: MPF - https://www.mpf.mp.br



"Existe comunidade tradicional no território do Pedral do Lourenção: nós estamos aqui. O Pedral do Lourenção somos nós. Nós somos o rio e, se mexer com o rio, se destruir o Pedral, eles vão estar destruindo as nossas vidas". Com essas palavras, a liderança comunitária Eva Moraes resumiu um dos principais pedidos do Ministério Público Federal (MPF) e das comunidades tradicionais que podem ser impactadas pela obra da hidrovia Araguaia-Tocantins, no Pará: que o Poder Judiciário reconheça que essas comunidades tradicionais existem e que, portanto, têm direito à Consulta Prévia, Livre e Informada (CPLI), conforme prevê a Convenção no 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A reivindicação do direito de que comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas não sejam invisibilizadas foi repetida por diversas outras lideranças comunitárias que participaram do seminário "Pedral do Lourenção na Terra da COP 30", realizado nos últimos dias 4 e 5 de abril, nas comunidades ribeirinhas extrativistas das vilas Tauiry, em Itupiranga, e Praialta, em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. Promovido por uma rede de organizações, o evento contou com a presença do MPF, que foi representado pelo procurador da República Rafael Martins da Silva e pelo procurador regional da República Felício Pontes Jr. e suas equipes.

O procurador da República Rafael Martins da Silva destaca que o MPF considera muito preocupante, nessa obra, os impactos à atividade pesqueira, "porque o próprio empreendedor da hidrovia, o Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes], reconhece que essa atividade será impactada e que há necessidade de novos estudos para compreender os impactos que serão levados a essas pessoas. Nesse sentido, se há uma compreensão de que os estudos ainda não estão completos, que há necessidade de complementar esses estudos, o MPF considera impossível a liberação de qualquer licença e a autorização para a realização de qualquer atividade relativa a essa obra", frisa.

Inviabilidade jurídica - "Mostramos para as comunidades que, do ponto de vista jurídico, não há possibilidade de ser emitida a licença para a obra. E pudemos também mostrar que a decisão judicial, naquilo que não nos foi favorável, cometia alguns erros, e que nós pedimos, por meio de recurso judicial, que esses erros sejam corrigidos", explica o procurador regional da República Felício Pontes Jr. A decisão e o recurso fazem parte de processo judicial iniciado por uma ação ajuizada pelo MPF, em agosto do ano passado, com pedidos urgentes para a anulação da licença.

Em fevereiro deste ano, a Justiça atendeu a alguns pedidos e impôs obrigações a órgãos públicos para corrigir e evitar ilegalidades no licenciamento, mas nem todos os pedidos do MPF foram acolhidos. Em seguida, o MPF apresentou recursos para reforçar, entre outras demandas, a necessidade de que o Poder Judiciário leve em consideração todas as comunidades tradicionais.

"Esse seminário realizado, que foi organizado pelas próprias pessoas que residem ali, servirá como prova, indicativo, de que essas comunidades existem e que elas precisam ser ouvidas para que qualquer obra seja realizada", enfatiza o procurador da República Rafael Martins da Silva. "Ficamos muito impressionados com a força das comunidades, a resistência das comunidades em relação a esse projeto, porque todos foram unânimes no sentido de que o projeto trará muito mais impactos negativos do que positivos para as comunidades ao longo do rio Tocantins", complementa o procurador regional da República Felício Pontes Jr.

Balanço do evento - Para a coordenadora de uma das organizações promotoras do evento, o Instituto Zé Cláudio e Maria, Claudelice Santos, o seminário atingiu o objetivo proposto para o evento, que foi o de colocar no centro do debate a hidrovia Araguaia-Tocantins, a partir da perspectiva dos povos e das comunidades que serão atingidas por esse empreendimento. "Ainda há muito o que ser respondido, há muitos estudos ainda a se fazer e não se pode, simples e irresponsavelmente, dizer que essa licença vai ser expedida sem colocar todos os pesos e todas as medidas, principalmente àqueles e àquelas que essencialmente vivem do rio", pontua.

O coordenador da Associação da Comunidade Ribeirinha Extrativista da Vila Tauiry (Acrevita), Ronaldo Barros Macena, registra que o seminário foi muito importante não só para as comunidades que sediaram o evento, mas também para as demais comunidades de todo o território "desse nosso maravilhoso Rio Tocantins". "A gente está feliz em ter participado, em ter contribuído para que esse seminário acontecesse junto com o pessoal do Ministério Público Federal. As pessoas que não puderam vir mandaram vídeos de apoio ao nosso seminário. Todos aqueles que participaram ficaram felizes. Então, desde já a gente agradece muito ao Ministério Público Federal, todos os segmentos da sociedade que participaram, todos aqueles que ajudaram direta e indiretamente para que esse seminário, essa nossa luta acontecesse", agradece.

https://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/noticias-pa/comunidades-sob-risco-de-impactos-da-hidrovia-araguaia-tocantins-pa-reivindicam-direito-a-serem-ouvidas
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.