De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.
Notícias
Sineia do Vale: indígenas salvam Amazônia e clima global
09/06/2025
Autor: Felipe Medeiros
Fonte: Amazonia Real - https://amazoniareal.com.br
Boa Vista (RR) - Sineia do Vale, também conhecida como Sineia Wapichana, é uma das vozes indígenas mais proeminentes na luta contra a crise climática. Há mais de 30 anos, ela une saberes tradicionais e a ciência para proteger a Amazônia, e seu sucesso no combate a problemas como seca e queimadas chama a atenção de líderes mundiais. Em 2021, ganhou destaque ao afirmar que "os povos indígenas são doutores em meio ambiente", sendo a única brasileira, além do então presidente Jair Bolsonaro, a participar da Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada por Joe Biden.
Com simplicidade e gentileza, Sineia recebeu a Amazônia Real em sua sala no Conselho Indígena de Roraima (CIR), em Boa Vista. Saboreava banana pacovan (banana-da-terra) com café amargo em um ambiente leve, mas carregado de admiração e respeito pelos que estavam à sua volta. Nas estantes, livros sobre mudanças climáticas reforçam a densidade do seu maior desafio: ela será a enviada especial dos povos indígenas para a COP30. Ela vai defender os povos indígenas, como sempre fez. No CIR, há um deck superior que abriga a sala de monitoramento das comunidades indígenas, onde um telão permanece ligado 24 horas por dia para registrar qualquer alteração nos territórios.
A cientista indígena destacou a importância de sua formação política no CIR. "A melhor faculdade, a melhor escola foi o Conselho Indígena de Roraima. Você aprende a lutar pelos seus direitos, aprende dinâmicas diferentes de levar as informações", afirmou. Sua atuação na pauta ambiental começou em 1998, com a primeira grande seca no Estado, onde liderou o projeto "Secas e Queimadas" e percebeu a capacidade indígena de gerir o território. Ela faz questão de destacar a vivência com lideranças como seu tio, Clovis Ambrosio, ex-coordenador da organização.
Em 2009, Sineia, gestora ambiental por formação e mestranda em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), estruturou o Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do CIR, formalizando agentes ambientais indígenas e construindo os primeiros Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) e de enfrentamento às mudanças climáticas. Sua experiência ganhou dimensão nacional e internacional, levando-a a coordenar o Comitê Indígena de Mudança Climática (CIMC) e a participar das COPs da ONU desde 2011, levando a perspectiva indígena às negociações. Em 2023, foi confirmada como representante da América Latina e Caribe no Caucus Indígena.
Com a COP30 na Amazônia, os olhos do mundo se voltam para o Brasil e, principalmente, para os povos indígenas. Nesta entrevista exclusiva, Sineia do Vale fala sobre as expectativas, os desafios e as estratégias para garantir que o evento mundial em Belém, em novembro, seja um marco para a justiça climática.
Amazônia Real - A COP30 será na Amazônia, mas o país-anfitrião ainda permite políticas que impactam povos e territórios. Que tipo de exemplo o Brasil deveria dar?
Sineia - Já aconteceram 29 COPs em países diferentes, e as últimas duas foram em países petroleiros. É a segunda COP que acontece na América Latina [em 2014, ocorreu em Lima, no Peru]. Sendo no Brasil e na Amazônia, os povos indígenas dos países vizinhos vão vir em massa. Eu digo que, apesar de a gente ter muito retrocesso no direito dos povos indígenas no Brasil, temos uma oportunidade de ter uma COP que possa trazer essa questão para linkar com a mudança climática. Se a terra continuar aquecendo, isso impacta diretamente nos territórios indígenas. Vamos ter seca e isso impacta na questão das cheias, que matam principalmente as roças.
Amazônia Real - Como organizações como o CIR podem contribuir na COP30?
Sineia - Nós, junto da Coiab [Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira] e da Apib [Articulação dos Povos Indígenas do Brasil], estamos levando a NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada] indígena. Para que não seja só um anexo da NDC do Brasil, mas incorporada, porque nela a gente tem a questão da demarcação dos territórios como enfrentamento às mudanças climáticas. E a gente leva, como experiência do CIR, os planos de adaptação indígena, porque eles são construídos pela comunidade. Já levamos como referência para a Amazônia, para que a Coiab possa pensar um grande plano amazônico e apresente ao Ministério do Meio Ambiente. Para que a política de adaptação volte para as terras indígenas com as demandas do território, da vivência, do conhecimento dos impactos das mudanças climáticas nas nossas comunidades.
Amazônia Real - Sua nomeação como enviada especial é um marco. Na prática, sente que esse papel vem com poder real ou é apenas simbólico, institucional?
Sineia - Essa é uma dinâmica e uma metodologia novas do Brasil ter enviados especiais, assim como os círculos que foram criados, de povos e ex-presidentes da COP. Estar nessa posição é levar a demanda que o movimento indígena e as organizações gostariam que o presidente da COP ouvisse. A gente leva e traz a demanda para ele saber como a COP está sendo organizada para a participação dos povos indígenas todos os anos, desde a parte logística, dos temas, espaços de decisão até das negociações. Estão chamando a 'COP de implementação'. Temos que implementar políticas públicas que realmente cheguem aos povos indígenas.
Amazônia Real - Sua atuação como ponte entre povos indígenas e a presidência da COP pode gerar avanços, mas também impasses. Como equilibra a voz do movimento com a diplomacia exigida pelo seu cargo?
Sineia - A diplomacia que tenho que ter é com os povos indígenas, de levar a esse espaço toda a demanda dos povos indígenas e fazer com que realmente ela aconteça. A gente sabe que não é 100%, mas eu estou ali enquanto enviada especial para os povos indígenas.
Amazônia Real - Já sabe o que vai levar como rascunho para essas reuniões?
Sineia - A primeira reunião dos enviados ocorreu na sexta-feira (23 de maio), no Palácio do Planalto. E uma das questões foi qual o indicador que a gente poderia levar para melhorar a participação dos povos indígenas dentro da COP. Essa participação, plena e efetiva, levando como relevância a questão da biodiversidade dos territórios indígenas, é um dos pontos que levei como indicador. Precisamos fazer reuniões com as pessoas que estão ali como negociadores em cada tema, para ser ouvido pelos povos indígenas. O que diz respeito aos povos indígenas, a gente precisa alimentar qual é a nossa dinâmica de entendimento e como eles podem levar as nossas demandas dentro dessas mesas de negociação. Saí dali já com uma resposta: eles já marcaram uma reunião com a pessoa que está chefiando todos os negociadores para fazer uma reunião. Então começou uma dinâmica, é claro que, dentro desse espaço, vai ter em algum momento alguma demanda que a gente converge e que diverge.
Amazônia Real - A carta da Coiab cobra um roteiro claro para transição energética justa, com base na decisão da COP28 de "transitar para longe dos fósseis". Como garantir que essa transição não vire uma troca de dono dos territórios ou um novo colonialismo verde?
Sineia - Os indígenas sempre estiveram muito atentos a lutar pela garantia do direito. Quando a gente fala em transição justa, a gente tem que saber qual é a dinâmica que está sendo pensada para trazer junto do movimento uma estratégia. Para nós, combustíveis fósseis estão eliminados. Juntos temos que ter uma estratégia para a COP de garantia dos territórios indígenas sem ter maiores prejuízos com o impacto, tanto para a energia quanto para outras questões.
Amazônia Real - Na Amazônia, temos projetos acusados de ignorar as comunidades indígenas e ribeirinhas. Como enfrentar esse tipo de empreendimento que se diz "limpo", mas devasta vidas?
Sineia - Todo projeto que é levado às comunidades indígenas tinha que respeitar a consulta prévia da Convenção 169 [reconhece o direito de decisão dos povos indígenas sobre terras, culturas e modos de vida]. Por quê? Porque muitas vezes a consulta só vem depois que o empreendimento já está instalado. Precisa ter uma consulta de verdade e precisa respeitar a decisão dos povos indígenas. Se a gente está dizendo que não quer esse empreendimento e que isso impacta as terras indígenas, tem que obedecer a Convenção 169. Se ela for livre e informada e ninguém der atenção para o que, realmente, os povos indígenas estão dizendo que não querem nos territórios, então a gente está falhando com a própria Convenção.
Amazônia Real - O financiamento climático ainda é tratado por países ricos como se fosse "caridade". Como mudar essa narrativa e cobrar a dívida histórica com os povos indígenas e o Sul global?
Sineia - Acompanho muito essa questão dos financiamentos. São bilhões. O que a gente vê é que, na prática, de 1% a 2% chegam aos povos indígenas. A nova dinâmica que queremos ouvir dos financiadores do Fundo Clima e Fundo Verde é que esses recursos pudessem ser acessados pelas organizações indígenas, pelos fundos indígenas, porque assim o recurso chegaria à comunidade e a gente sabe como implementar. Vou dar o exemplo do CIR. Hoje temos todos os planos de gestão territorial e ambiental construídos, planos de vida. E desde 2010 a gente trabalha para implementar os planos. E implementar esses planos, na prática, quer dizer que tem recursos de projetos e a gente sabe como as comunidades têm autonomia de nos dizer onde quer que esses recursos sejam colocados. Seja na água, medicina tradicional, brigadas, limpeza dos limites. Não é de cima para baixo. Desde 2023 a gente tem implementado os planos de gestão com essa dinâmica nas comunidades. Mas não precisa sair criando várias organizações. Tem que fortalecer as que já existem, para que elas possam estar bem para receber esses recursos e conseguir repassar para as comunidades.
Amazônia Real - A Coiab defende que os recursos climáticos sejam enviados diretamente para os fundos indígenas. Você acredita que os mecanismos internacionais vão respeitar essa autonomia? Ou ainda tratam os povos indígenas como tutelados?
Sineia - A gente está levando isso. Levei no ano passado, na Conferência de Bonn, esse exemplo para vários representantes de países. Temos planos de vida, de gestão territorial ambiental, de enfrentamento, protocolo de consulta e regimento das comunidades. Tudo isso são mecanismos criados pelos povos indígenas para enfrentar as mudanças climáticas. Temos o Fundo, que é o mais novo mecanismo para aportar recursos para implementar ações nas comunidades.
Amazônia Real - O TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre) foi proposto para remunerar quem protege a floresta. Na sua visão, esse fundo pode ser uma ferramenta real de justiça climática ou corre o risco de ser mais uma política de marketing climático?
Sineia - Eu quero acreditar que ele não seja mais uma política de marketing. A gente vem ouvindo, discutindo, tendo reuniões com o Fundo das Florestas Tropicais para Sempre. O que eu quero entender é um pouco da metodologia, qual serão os critérios dos 20% que serão destinados às comunidades indígenas, tradicionais, e como será a dinâmica e os critérios para que esses recursos cheguem. A princípio seria por programas de governo, mas a gente não está seguro que esses programas vão conseguir implementar nas comunidades. A mensagem que eu deixo é que realmente esse recurso seja repassado aos fundos indígenas, as organizações indígenas, por meio de critérios. Sei que a melhor dinâmica é essa.
Amazônia Real - Muitas empresas vêm para a COP com uma fachada verde, mas continuam sendo grandes poluidoras. Você acredita que a COP 30 corre o risco de ser a COP do greenwashing? Como evitar isso?
Sineia - Eu tenho uma concepção sobre as COPs. Eu vejo que essa convenção tem um único objetivo que é a redução da emissão de gases, e que não podemos passar de 1,5o C. Se passar de 1,5o C vai matar todos, não só nós, indígenas, mas todo mundo. E quem está lá na floresta tem um contato direto com a floresta. Se o rio seca, a gente pode ser parte da solução como povos indígenas, mas não conseguimos fazer o rio encher novamente. Então, quando a gente está nesse espaço e a gente sabe que é um espaço para discussão. Se os países não cumprirem os seus acordos para as reduções das emissões, a gente não consegue fazer esse trabalho sozinho. Se não houver conscientização para cumprir o Acordo de Paris, metas e isso virar política pública dentro dos seus países, fica muito difícil controlar que essas emissões não continuem sendo feitas. E muitos países já até saíram do Acordo de Paris. O resultado são as altas temperaturas que têm impactado o mundo todo. O Brasil tem como exemplo o Rio Grande do Sul, o mais catastrófico, mas na Amazônia está há três anos tendo cheias e secas recorrentes. Isso ainda não está sendo muito falado, contabilizado, mas tem comunidades indígenas, que não se refez nem da última e da penúltima seca. Precisa ter resposta rápida para as comunidades. Vejo que cada chefe de país tem que pensar no cumprimento das suas metas dentro dos seus países para redução das emissões.
Amazônia Real - Há empresas que financiam empreendimentos em terras indígenas e mesmo assim aparecem como "amigos da Amazônia". Como o movimento indígena deve reagir à presença desses agentes econômicos nas COPs?
Sineia - O movimento indígena tem uma estratégia clara de participação e, com certeza, deve ter uma estratégia para levar para essa questão, que não só um, mas vários que se dizem 'amigo da Amazônia', que estão ali 'para ajudar a redução'. Tem empreendimento que está, realmente, degradando a natureza, mas está ali dentro da COP. A gente tem estratégia clara para levar isso através de documentos, de manifestos. Sabemos que dentro do espaço da ONU tem que pedir antes para fazer qualquer tipo de manifestação, porque senão a gente é penalizado, mas tem os movimentos paralelos que não vão estar dentro do espaço oficial. Para nós, os dois espaços são legítimos, porque estamos levando toda a demanda dos povos indígenas para dentro do espaço oficial e trazendo esses resultados também para os povos indígenas que estão no espaço paralelo.
Amazônia Real - O financiamento público e privado para a Amazônia vem crescendo. Isso virou moeda de troca para apagar direitos ou legitimar falsas soluções?
Sineia - As falsas soluções existem e a gente já tem ciência disso. Por isso que todo o mecanismo criado para as reduções que vem para as comunidades, a gente está fazendo o esforço, e a Coiab tem formado bastante na Amazônia, para que as pessoas tenham ciência do que é Reed Jurisdicional [Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal], Coalizão Life [aliança de organizações de referência que atuam juntas para fortalecer a conservação da biodiversidade mundial], Reeds voluntários, chamados de carbono voluntário. Todos esses mecanismos vão chegar às comunidades. Estamos preparando as nossas comunidades para que saibam sobre as salvaguardas, como podem olhar dentro dos contratos para ver seus direitos garantidos ou não. Sabemos que cresceu carbono voluntário, na Amazônia, fizeram a Aliança de Bacu (Azerbaijão). Os povos indígenas têm que ficar de olho sobre qual é o melhor método, a melhor implementação e a garantia dos nossos direitos. Na verdade, os povos indígenas têm uma relação diferente com a terra e a floresta. Não é uma relação de mercado. Eles têm uma relação de terra-mãe, de vivência. A gente tem essa concepção de que esse nome 'mercado' não é muito bom, alguém vai sair perdendo nisso.
Amazônia Real - A Coiab propõe que as metas climáticas nacionais (NDCs) incluam a demarcação e proteção dos territórios indígenas. Na sua avaliação, o Brasil vai se comprometer com isso de verdade?
Sineia - Não posso responder pelo Brasil, mas como uma pessoa que vem trabalhando nesse tema há muitos anos, acho que seria um acerto incluir na NDC 'territórios que protegem', que são o enfrentamento para queimada, invasão, desmatamento. E isso não é só benefício para os povos indígenas, é globalmente falando.
Amazônia Real - A nova fase do mercado de carbono preocupa lideranças indígenas, especialmente pela ausência de consulta e pela ameaça às comunidades. O mercado de carbono hoje protege ou ameaça os povos indígenas?
Sineia - Tem uma lei [Lei no 15.042 de 11 de dezembro de 2024, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE)] aprovada e a gente já teve conversando sobre muitos dos critérios que estão colocados, e os povos indígenas precisam entender qual é o tipo de mercado de carbono, metodologia, licenciamento. E o poder público tem o dever de informar como é a dinâmica do mercado de carbono, o que diz respeito às terras indígenas, seja o REED Jurisdicional, seja carbono voluntário.
Amazônia Real - A Coiab propõe um "Balanço Ético Global sobre o Clima" para cobrar a responsabilidade histórica dos países ricos. Pela sua experiência, os países ricos estão dispostos a reconhecer essa dívida ou seguem fugindo dela com promessas vazias?
Sineia - Precisa avaliar o que cada país está se comprometendo justamente nestas conferências e fazer um balanço se está sendo cumprido. Fazer essa análise logo depois da COP do Brasil, porque não para por aí, segue para a COP da Austrália. Tem metas para serem cumpridas e sabemos também que tem países que não cumprem suas metas, e que estão longe de cumprir. Quando a gente tem um cenário que até 2030 tem um ou outro país que quer colocar o cenário de cumprir as metas até 2050, 2060, tem aí um clima que não está esperando o cumprimento dessas metas, está aumentando, e já chegou a mais de 1,5oC em vários pontos deste ano no País. Nós vivemos uma urgência climática, uma crise climática, a gente vive uma injustiça climática. Isso impacta diretamente os povos indígenas, porque lá [nas comunidades] não tem um botão para ligar um ar condicionado na hora que vem essa onda de calor que mata peixe, que mata gente, que mata árvore, que mata medicina tradicional e isso muitas vezes não é contabilizado.
Amazônia Real - Você vê que a COP30 seja o ponto de partida para uma articulação internacional mais forte entre os povos indígenas da Bacia Amazônica e de outras regiões?
Sineia - Vejo que é um momento que devemos aproveitar porque vamos levar o maior número de povos indígenas para dentro da COP30 e estratégias claras para ocupar esses espaços. O que a gente tem pedido na presidência da COP é que realmente os povos indígenas estejam dentro dos espaços de decisão para essa agenda sobre essa questão climática em todos os temas.
Amazônia Real - Caso a COP30 não cumpra as expectativas e ignore as demandas indígenas, como o movimento social deve responder? Acredita que haverá disposição para tensionar publicamente o governo brasileiro e a presidência da COP?
Sineia - A gente não vai contar o segredo. Deixa acontecer. E até o fim da COP a gente vai ter essa estratégia clara e vai poder contar para a Amazônia Real.
Amazônia Real - Mas acredita que haverá disposição para o governo brasileiro e a presidência da COP poderem chegar em algum consenso que ajude nessa emergência climática e, principalmente, os mais afetados, que também são os agentes de controle, que são os povos indígenas?
Sineia - Vai muito da questão da boa vontade. O cenário está colocado, vai ser a chamada 'COP dos Povos Indígenas'. Se a gente traz uma demanda, e se tem um poder público que pode acatar, pode ter um resultado positivo. Tem vários indicadores que podem acatar as nossas demandas e que contribuirão muito para a questão do impacto das vivências climáticas. Os povos indígenas trazem a sua sabedoria junto com a ciência para dizer que, nós, estamos juntos, e poderemos ter uma solução.
Amazônia Real - Você está esperançosa?
Sineia - Estou. Não posso ser desesperançosa neste momento. A gente espera que, além dos povos indígenas, toda a sociedade esteja, porque quando a gente fala de mudanças climáticas não só nós [povos indígenas] temos que fazer esse trabalho. Somos nós! Todos nós enquanto governo, sociedade civil, povos indígenas. Precisamos juntar as forças e dinâmicas para realmente conseguir reduzir as emissões junto com os países.
https://amazoniareal.com.br/sineia-do-vale/
Com simplicidade e gentileza, Sineia recebeu a Amazônia Real em sua sala no Conselho Indígena de Roraima (CIR), em Boa Vista. Saboreava banana pacovan (banana-da-terra) com café amargo em um ambiente leve, mas carregado de admiração e respeito pelos que estavam à sua volta. Nas estantes, livros sobre mudanças climáticas reforçam a densidade do seu maior desafio: ela será a enviada especial dos povos indígenas para a COP30. Ela vai defender os povos indígenas, como sempre fez. No CIR, há um deck superior que abriga a sala de monitoramento das comunidades indígenas, onde um telão permanece ligado 24 horas por dia para registrar qualquer alteração nos territórios.
A cientista indígena destacou a importância de sua formação política no CIR. "A melhor faculdade, a melhor escola foi o Conselho Indígena de Roraima. Você aprende a lutar pelos seus direitos, aprende dinâmicas diferentes de levar as informações", afirmou. Sua atuação na pauta ambiental começou em 1998, com a primeira grande seca no Estado, onde liderou o projeto "Secas e Queimadas" e percebeu a capacidade indígena de gerir o território. Ela faz questão de destacar a vivência com lideranças como seu tio, Clovis Ambrosio, ex-coordenador da organização.
Em 2009, Sineia, gestora ambiental por formação e mestranda em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), estruturou o Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do CIR, formalizando agentes ambientais indígenas e construindo os primeiros Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) e de enfrentamento às mudanças climáticas. Sua experiência ganhou dimensão nacional e internacional, levando-a a coordenar o Comitê Indígena de Mudança Climática (CIMC) e a participar das COPs da ONU desde 2011, levando a perspectiva indígena às negociações. Em 2023, foi confirmada como representante da América Latina e Caribe no Caucus Indígena.
Com a COP30 na Amazônia, os olhos do mundo se voltam para o Brasil e, principalmente, para os povos indígenas. Nesta entrevista exclusiva, Sineia do Vale fala sobre as expectativas, os desafios e as estratégias para garantir que o evento mundial em Belém, em novembro, seja um marco para a justiça climática.
Amazônia Real - A COP30 será na Amazônia, mas o país-anfitrião ainda permite políticas que impactam povos e territórios. Que tipo de exemplo o Brasil deveria dar?
Sineia - Já aconteceram 29 COPs em países diferentes, e as últimas duas foram em países petroleiros. É a segunda COP que acontece na América Latina [em 2014, ocorreu em Lima, no Peru]. Sendo no Brasil e na Amazônia, os povos indígenas dos países vizinhos vão vir em massa. Eu digo que, apesar de a gente ter muito retrocesso no direito dos povos indígenas no Brasil, temos uma oportunidade de ter uma COP que possa trazer essa questão para linkar com a mudança climática. Se a terra continuar aquecendo, isso impacta diretamente nos territórios indígenas. Vamos ter seca e isso impacta na questão das cheias, que matam principalmente as roças.
Amazônia Real - Como organizações como o CIR podem contribuir na COP30?
Sineia - Nós, junto da Coiab [Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira] e da Apib [Articulação dos Povos Indígenas do Brasil], estamos levando a NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada] indígena. Para que não seja só um anexo da NDC do Brasil, mas incorporada, porque nela a gente tem a questão da demarcação dos territórios como enfrentamento às mudanças climáticas. E a gente leva, como experiência do CIR, os planos de adaptação indígena, porque eles são construídos pela comunidade. Já levamos como referência para a Amazônia, para que a Coiab possa pensar um grande plano amazônico e apresente ao Ministério do Meio Ambiente. Para que a política de adaptação volte para as terras indígenas com as demandas do território, da vivência, do conhecimento dos impactos das mudanças climáticas nas nossas comunidades.
Amazônia Real - Sua nomeação como enviada especial é um marco. Na prática, sente que esse papel vem com poder real ou é apenas simbólico, institucional?
Sineia - Essa é uma dinâmica e uma metodologia novas do Brasil ter enviados especiais, assim como os círculos que foram criados, de povos e ex-presidentes da COP. Estar nessa posição é levar a demanda que o movimento indígena e as organizações gostariam que o presidente da COP ouvisse. A gente leva e traz a demanda para ele saber como a COP está sendo organizada para a participação dos povos indígenas todos os anos, desde a parte logística, dos temas, espaços de decisão até das negociações. Estão chamando a 'COP de implementação'. Temos que implementar políticas públicas que realmente cheguem aos povos indígenas.
Amazônia Real - Sua atuação como ponte entre povos indígenas e a presidência da COP pode gerar avanços, mas também impasses. Como equilibra a voz do movimento com a diplomacia exigida pelo seu cargo?
Sineia - A diplomacia que tenho que ter é com os povos indígenas, de levar a esse espaço toda a demanda dos povos indígenas e fazer com que realmente ela aconteça. A gente sabe que não é 100%, mas eu estou ali enquanto enviada especial para os povos indígenas.
Amazônia Real - Já sabe o que vai levar como rascunho para essas reuniões?
Sineia - A primeira reunião dos enviados ocorreu na sexta-feira (23 de maio), no Palácio do Planalto. E uma das questões foi qual o indicador que a gente poderia levar para melhorar a participação dos povos indígenas dentro da COP. Essa participação, plena e efetiva, levando como relevância a questão da biodiversidade dos territórios indígenas, é um dos pontos que levei como indicador. Precisamos fazer reuniões com as pessoas que estão ali como negociadores em cada tema, para ser ouvido pelos povos indígenas. O que diz respeito aos povos indígenas, a gente precisa alimentar qual é a nossa dinâmica de entendimento e como eles podem levar as nossas demandas dentro dessas mesas de negociação. Saí dali já com uma resposta: eles já marcaram uma reunião com a pessoa que está chefiando todos os negociadores para fazer uma reunião. Então começou uma dinâmica, é claro que, dentro desse espaço, vai ter em algum momento alguma demanda que a gente converge e que diverge.
Amazônia Real - A carta da Coiab cobra um roteiro claro para transição energética justa, com base na decisão da COP28 de "transitar para longe dos fósseis". Como garantir que essa transição não vire uma troca de dono dos territórios ou um novo colonialismo verde?
Sineia - Os indígenas sempre estiveram muito atentos a lutar pela garantia do direito. Quando a gente fala em transição justa, a gente tem que saber qual é a dinâmica que está sendo pensada para trazer junto do movimento uma estratégia. Para nós, combustíveis fósseis estão eliminados. Juntos temos que ter uma estratégia para a COP de garantia dos territórios indígenas sem ter maiores prejuízos com o impacto, tanto para a energia quanto para outras questões.
Amazônia Real - Na Amazônia, temos projetos acusados de ignorar as comunidades indígenas e ribeirinhas. Como enfrentar esse tipo de empreendimento que se diz "limpo", mas devasta vidas?
Sineia - Todo projeto que é levado às comunidades indígenas tinha que respeitar a consulta prévia da Convenção 169 [reconhece o direito de decisão dos povos indígenas sobre terras, culturas e modos de vida]. Por quê? Porque muitas vezes a consulta só vem depois que o empreendimento já está instalado. Precisa ter uma consulta de verdade e precisa respeitar a decisão dos povos indígenas. Se a gente está dizendo que não quer esse empreendimento e que isso impacta as terras indígenas, tem que obedecer a Convenção 169. Se ela for livre e informada e ninguém der atenção para o que, realmente, os povos indígenas estão dizendo que não querem nos territórios, então a gente está falhando com a própria Convenção.
Amazônia Real - O financiamento climático ainda é tratado por países ricos como se fosse "caridade". Como mudar essa narrativa e cobrar a dívida histórica com os povos indígenas e o Sul global?
Sineia - Acompanho muito essa questão dos financiamentos. São bilhões. O que a gente vê é que, na prática, de 1% a 2% chegam aos povos indígenas. A nova dinâmica que queremos ouvir dos financiadores do Fundo Clima e Fundo Verde é que esses recursos pudessem ser acessados pelas organizações indígenas, pelos fundos indígenas, porque assim o recurso chegaria à comunidade e a gente sabe como implementar. Vou dar o exemplo do CIR. Hoje temos todos os planos de gestão territorial e ambiental construídos, planos de vida. E desde 2010 a gente trabalha para implementar os planos. E implementar esses planos, na prática, quer dizer que tem recursos de projetos e a gente sabe como as comunidades têm autonomia de nos dizer onde quer que esses recursos sejam colocados. Seja na água, medicina tradicional, brigadas, limpeza dos limites. Não é de cima para baixo. Desde 2023 a gente tem implementado os planos de gestão com essa dinâmica nas comunidades. Mas não precisa sair criando várias organizações. Tem que fortalecer as que já existem, para que elas possam estar bem para receber esses recursos e conseguir repassar para as comunidades.
Amazônia Real - A Coiab defende que os recursos climáticos sejam enviados diretamente para os fundos indígenas. Você acredita que os mecanismos internacionais vão respeitar essa autonomia? Ou ainda tratam os povos indígenas como tutelados?
Sineia - A gente está levando isso. Levei no ano passado, na Conferência de Bonn, esse exemplo para vários representantes de países. Temos planos de vida, de gestão territorial ambiental, de enfrentamento, protocolo de consulta e regimento das comunidades. Tudo isso são mecanismos criados pelos povos indígenas para enfrentar as mudanças climáticas. Temos o Fundo, que é o mais novo mecanismo para aportar recursos para implementar ações nas comunidades.
Amazônia Real - O TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre) foi proposto para remunerar quem protege a floresta. Na sua visão, esse fundo pode ser uma ferramenta real de justiça climática ou corre o risco de ser mais uma política de marketing climático?
Sineia - Eu quero acreditar que ele não seja mais uma política de marketing. A gente vem ouvindo, discutindo, tendo reuniões com o Fundo das Florestas Tropicais para Sempre. O que eu quero entender é um pouco da metodologia, qual serão os critérios dos 20% que serão destinados às comunidades indígenas, tradicionais, e como será a dinâmica e os critérios para que esses recursos cheguem. A princípio seria por programas de governo, mas a gente não está seguro que esses programas vão conseguir implementar nas comunidades. A mensagem que eu deixo é que realmente esse recurso seja repassado aos fundos indígenas, as organizações indígenas, por meio de critérios. Sei que a melhor dinâmica é essa.
Amazônia Real - Muitas empresas vêm para a COP com uma fachada verde, mas continuam sendo grandes poluidoras. Você acredita que a COP 30 corre o risco de ser a COP do greenwashing? Como evitar isso?
Sineia - Eu tenho uma concepção sobre as COPs. Eu vejo que essa convenção tem um único objetivo que é a redução da emissão de gases, e que não podemos passar de 1,5o C. Se passar de 1,5o C vai matar todos, não só nós, indígenas, mas todo mundo. E quem está lá na floresta tem um contato direto com a floresta. Se o rio seca, a gente pode ser parte da solução como povos indígenas, mas não conseguimos fazer o rio encher novamente. Então, quando a gente está nesse espaço e a gente sabe que é um espaço para discussão. Se os países não cumprirem os seus acordos para as reduções das emissões, a gente não consegue fazer esse trabalho sozinho. Se não houver conscientização para cumprir o Acordo de Paris, metas e isso virar política pública dentro dos seus países, fica muito difícil controlar que essas emissões não continuem sendo feitas. E muitos países já até saíram do Acordo de Paris. O resultado são as altas temperaturas que têm impactado o mundo todo. O Brasil tem como exemplo o Rio Grande do Sul, o mais catastrófico, mas na Amazônia está há três anos tendo cheias e secas recorrentes. Isso ainda não está sendo muito falado, contabilizado, mas tem comunidades indígenas, que não se refez nem da última e da penúltima seca. Precisa ter resposta rápida para as comunidades. Vejo que cada chefe de país tem que pensar no cumprimento das suas metas dentro dos seus países para redução das emissões.
Amazônia Real - Há empresas que financiam empreendimentos em terras indígenas e mesmo assim aparecem como "amigos da Amazônia". Como o movimento indígena deve reagir à presença desses agentes econômicos nas COPs?
Sineia - O movimento indígena tem uma estratégia clara de participação e, com certeza, deve ter uma estratégia para levar para essa questão, que não só um, mas vários que se dizem 'amigo da Amazônia', que estão ali 'para ajudar a redução'. Tem empreendimento que está, realmente, degradando a natureza, mas está ali dentro da COP. A gente tem estratégia clara para levar isso através de documentos, de manifestos. Sabemos que dentro do espaço da ONU tem que pedir antes para fazer qualquer tipo de manifestação, porque senão a gente é penalizado, mas tem os movimentos paralelos que não vão estar dentro do espaço oficial. Para nós, os dois espaços são legítimos, porque estamos levando toda a demanda dos povos indígenas para dentro do espaço oficial e trazendo esses resultados também para os povos indígenas que estão no espaço paralelo.
Amazônia Real - O financiamento público e privado para a Amazônia vem crescendo. Isso virou moeda de troca para apagar direitos ou legitimar falsas soluções?
Sineia - As falsas soluções existem e a gente já tem ciência disso. Por isso que todo o mecanismo criado para as reduções que vem para as comunidades, a gente está fazendo o esforço, e a Coiab tem formado bastante na Amazônia, para que as pessoas tenham ciência do que é Reed Jurisdicional [Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal], Coalizão Life [aliança de organizações de referência que atuam juntas para fortalecer a conservação da biodiversidade mundial], Reeds voluntários, chamados de carbono voluntário. Todos esses mecanismos vão chegar às comunidades. Estamos preparando as nossas comunidades para que saibam sobre as salvaguardas, como podem olhar dentro dos contratos para ver seus direitos garantidos ou não. Sabemos que cresceu carbono voluntário, na Amazônia, fizeram a Aliança de Bacu (Azerbaijão). Os povos indígenas têm que ficar de olho sobre qual é o melhor método, a melhor implementação e a garantia dos nossos direitos. Na verdade, os povos indígenas têm uma relação diferente com a terra e a floresta. Não é uma relação de mercado. Eles têm uma relação de terra-mãe, de vivência. A gente tem essa concepção de que esse nome 'mercado' não é muito bom, alguém vai sair perdendo nisso.
Amazônia Real - A Coiab propõe que as metas climáticas nacionais (NDCs) incluam a demarcação e proteção dos territórios indígenas. Na sua avaliação, o Brasil vai se comprometer com isso de verdade?
Sineia - Não posso responder pelo Brasil, mas como uma pessoa que vem trabalhando nesse tema há muitos anos, acho que seria um acerto incluir na NDC 'territórios que protegem', que são o enfrentamento para queimada, invasão, desmatamento. E isso não é só benefício para os povos indígenas, é globalmente falando.
Amazônia Real - A nova fase do mercado de carbono preocupa lideranças indígenas, especialmente pela ausência de consulta e pela ameaça às comunidades. O mercado de carbono hoje protege ou ameaça os povos indígenas?
Sineia - Tem uma lei [Lei no 15.042 de 11 de dezembro de 2024, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE)] aprovada e a gente já teve conversando sobre muitos dos critérios que estão colocados, e os povos indígenas precisam entender qual é o tipo de mercado de carbono, metodologia, licenciamento. E o poder público tem o dever de informar como é a dinâmica do mercado de carbono, o que diz respeito às terras indígenas, seja o REED Jurisdicional, seja carbono voluntário.
Amazônia Real - A Coiab propõe um "Balanço Ético Global sobre o Clima" para cobrar a responsabilidade histórica dos países ricos. Pela sua experiência, os países ricos estão dispostos a reconhecer essa dívida ou seguem fugindo dela com promessas vazias?
Sineia - Precisa avaliar o que cada país está se comprometendo justamente nestas conferências e fazer um balanço se está sendo cumprido. Fazer essa análise logo depois da COP do Brasil, porque não para por aí, segue para a COP da Austrália. Tem metas para serem cumpridas e sabemos também que tem países que não cumprem suas metas, e que estão longe de cumprir. Quando a gente tem um cenário que até 2030 tem um ou outro país que quer colocar o cenário de cumprir as metas até 2050, 2060, tem aí um clima que não está esperando o cumprimento dessas metas, está aumentando, e já chegou a mais de 1,5oC em vários pontos deste ano no País. Nós vivemos uma urgência climática, uma crise climática, a gente vive uma injustiça climática. Isso impacta diretamente os povos indígenas, porque lá [nas comunidades] não tem um botão para ligar um ar condicionado na hora que vem essa onda de calor que mata peixe, que mata gente, que mata árvore, que mata medicina tradicional e isso muitas vezes não é contabilizado.
Amazônia Real - Você vê que a COP30 seja o ponto de partida para uma articulação internacional mais forte entre os povos indígenas da Bacia Amazônica e de outras regiões?
Sineia - Vejo que é um momento que devemos aproveitar porque vamos levar o maior número de povos indígenas para dentro da COP30 e estratégias claras para ocupar esses espaços. O que a gente tem pedido na presidência da COP é que realmente os povos indígenas estejam dentro dos espaços de decisão para essa agenda sobre essa questão climática em todos os temas.
Amazônia Real - Caso a COP30 não cumpra as expectativas e ignore as demandas indígenas, como o movimento social deve responder? Acredita que haverá disposição para tensionar publicamente o governo brasileiro e a presidência da COP?
Sineia - A gente não vai contar o segredo. Deixa acontecer. E até o fim da COP a gente vai ter essa estratégia clara e vai poder contar para a Amazônia Real.
Amazônia Real - Mas acredita que haverá disposição para o governo brasileiro e a presidência da COP poderem chegar em algum consenso que ajude nessa emergência climática e, principalmente, os mais afetados, que também são os agentes de controle, que são os povos indígenas?
Sineia - Vai muito da questão da boa vontade. O cenário está colocado, vai ser a chamada 'COP dos Povos Indígenas'. Se a gente traz uma demanda, e se tem um poder público que pode acatar, pode ter um resultado positivo. Tem vários indicadores que podem acatar as nossas demandas e que contribuirão muito para a questão do impacto das vivências climáticas. Os povos indígenas trazem a sua sabedoria junto com a ciência para dizer que, nós, estamos juntos, e poderemos ter uma solução.
Amazônia Real - Você está esperançosa?
Sineia - Estou. Não posso ser desesperançosa neste momento. A gente espera que, além dos povos indígenas, toda a sociedade esteja, porque quando a gente fala de mudanças climáticas não só nós [povos indígenas] temos que fazer esse trabalho. Somos nós! Todos nós enquanto governo, sociedade civil, povos indígenas. Precisamos juntar as forças e dinâmicas para realmente conseguir reduzir as emissões junto com os países.
https://amazoniareal.com.br/sineia-do-vale/
As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.