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Artistas amazonenses com deficiência visual vão expor obras em frente ao Louvre

10/08/2025

Autor: Robson Adriano

Fonte: A Critica - https://www.acritica.com



Três artistas do Amazonas com deficiência visual terão obras de artes expostas na Praça do Carrossel, em frente ao Museu do Louvre, em Paris. Suzete Mourão, 53 anos, artista com deficiência de baixa visão; Karla Oliveira, 56 anos e Leonardo Pimentel, ambos artistas totalmente cegos, integram o projeto "Arte com Toque" idealizado pela professora de artes, Seanny Oliveira, 58 anos, indígena do povo Munduruku.

As obras que serão expostas nos dias 14 e 15 de outubro na França levarão as belezas da fauna e flora amazônica, assim como retratos dos povos originários.

Há 25 anos, um roubo ocorrido no comércio onde Suzete trabalhava resultou na perda parcial da visão. Durante o assalto, os resíduos de um projétil utilizado na ação atingiram os olhos e agora ela é monocular. No 'Arte com Toque' descobriu novos horizontes, oportunidades e também o dom artístico.

'Arte com Toque' une arte, inclusão e cultura indígena em mostra inédita na França

Além da exposição, Suzete vai desfilar pela marca MI Moda Indígena, no London Fashion Week, na capital britânica, no evento Future of Fashion da London Represents, organizado por Samanta Bullock da Bullock Inclusion CIC.

"Eu vou representar o 'Arte com Toque' até no desfile de moda inclusiva. Farei parte do fashion week, vou desfilar com um vestido desenvolvido e pintado por nós. Para mim é tudo novo, maravilhoso, e espero dessa viagem o melhor. Eu já estou me sentindo uma artista", disse Mourão.

Obras retratam fauna, flora e desafios ambientais da Amazônia

Obras retratadas

Aves que compõem o bioma amazônico estão retratadas nas obras de Suzete e serão expostas na França. "São dois tucanos. É um casal. Um romantismo. Eu me voltei muito para as aves, então, tem o tucano e as araras. E algumas aves que estão ameaçadas de extinção. Mas, também estou levando outro quadro que representa a seca e as queimadas no nosso estado com o Uirapuru, outro pássaro ameaçado", detalhou. "Eu não me vejo fazendo outra coisa. Esse convite (para expor) veio e abraçamos a oportunidade", complementou.

Para a artista Karla Oliveira a deficiência visual abriu novos horizontes. "Já enxerguei antes e hoje estou em outra situação e tenho que viver minha realidade. Eu tenho a memória visual e agora estou sentindo. Não vejo mais com os olhos, mas com o tato. Essa é uma oportunidade ímpar. A deficiência visual abriu novas portas para mim, hoje está sendo diferente. Essa oportunidade de vida tem aberto portas: palestra, faço pinturas, tenho projetos, sou chamada para ministrar oficinas. São novos horizontes na minha vida", disse.

Lembrança

Arte inclusiva amazonense conquista espaço e reconhecimento

A vida ribeirinha serviu de inspiração para Karla Oliveira confeccionar as telas que levará para exposição no Carrossel do Louvre. "Eu tenho uma lembrança muito forte do ribeirinho. De ir e vir de barco das árvores com cachos de flores coloridas em tons de amarelos e lilás. Projetei na minha mente. A memória visual veio e pensei em fazer algo na técnica mista. O primeiro quadro que fiz ano passado foi do ribeirinho com a dança dos botos. Esse que vai para Paris tem o ribeirinho com uma tarrafa, garça e peixe que simboliza a fartura, no amanhecer", detalhou.

Técnica Adaptada

O Arte com toque existe há mais de dez anos. É um projeto consolidado com o objetivo de incluir cegos e deficientes visuais no universo da arte visual, contemplado pelo Política Nacional Aldir Blanc, por meio do Conselho Municipal de Cultura (Concultura).

Leonardo Pimente utiliza a técnica que criar as formas com um furo e por meio do tato pincelar as cores

Seanny adaptou um método próprio para ensinar, que se assemelha ao reglete, um dos primeiros instrumentos criados para a escrita braille. Consiste em criar as formas com um furo e por meio do tato pincelar as cores conforme a criatividade.

Além das pinturas, Seanny também trabalha com biojóias e moda indígena. Nas obras de própria autoria, ela traz evidência à beleza da mulher indígena. ""Eu retrato a beleza da mulher indígena, as formas e lutas. A técnica que estou levando (a Paris) é a mista, com muito acessório nas pinturas e espatulado também. Geralmente, levo as nossas origens nas minhas obras", disse Oliveira. "Gerar uma obra é como gerar um filho, é único".

A importância de levar a mulher indígena nas obras se dá pela importância atual das lutas dos povos originários. "Hoje no cenário no Brasil estamos vendo o empoderamento da mulher indígena tanto na parte política, como empreendedora, professoras, e eu me enquadro como educadora levando esse retorno para a comunidade. Vejo as mulheres indígenas tomando esses espaços com dignidade, principalmente, com estudo. Por isso gosto de retratar a mulher indígena", finalizou a artista visual.

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