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Notícias

Filme expõe história indígena de solidão e violência: 'A ditadura não acabou'

12/08/2025

Fonte: OESP - https://www.estadao.com.br/



Filme expõe história indígena de solidão e violência: 'A ditadura não acabou'
'Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá' retrata a busca de Sueli Maxakali por seu pai após quatro décadas de separação forçada pela ditadura militar

22/07/2025

Matheus Mans

O documentário Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá, em cartaz nos cinemas, é um filme de reencontros, de pertencimento - mas, também, de solidão.

Dirigido por Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna, o filme acompanha a jornada de Sueli em busca de seu pai, Luiz Kaiowá, de quem foi separada ainda bebê durante o regime militar.

No início dos anos 1960, Luiz foi forçadamente deslocado de seu território em Mato Grosso do Sul para Minas, onde viveu 15 anos entre os Maxakali, teve duas filhas e depois foi novamente removido, desta vez definitivamente.

Cinema coletivo
Sueli Maxakali conta que o processo do filme foi muito coletivo, que é forma como ela vê a vida.

povos. "As minhas irmãs, a Micheli e a Dani - eu digo que elas são minhas irmãs porque eu sou Guarani também -, filmaram a terra do meu pai, pois a terra é longe", diz Sueli, filha de mãe Maxakali e de pai Kaiowá.

Para os realizadores, essa colaboração entre povos diferentes era fundamental. "Para nós, não faria sentido fazer um filme que envolvesse esses dois povos sem envolver também cineastas Kaiowá", afirma Luisa Lanna. "Muito do que o filme é, do formato e da montagem, tem a ver com essa escolha de apresentar os dois territórios a partir de um repertório construído por essas duas trajetórias de cinema - o cinema Maxakali e o cinema Guarani".

A partir dessa busca e até mesmo o distanciamento geográfico entre familiares, o filme evidencia uma história de violência provocada pela ditadura militar. "É muito difícil ver toda a violência que fizeram contra nós, povos indígenas, e para mim a ditadura não acabou, porque a gente vê que a justiça para nós ainda é cega", declara Sueli Maxakali.

O cineasta Roberto Romero contextualiza essa violência sofrida pelo povo de Sueli Maxakali. "O filme revela como a repressão afetou diretamente os povos indígenas, especialmente os Maxakali", diz. "A terra deles foi militarizada. A Funai, chefiada por um capitão da polícia, transformou o território numa colônia agrícola. Houve trabalho forçado, devastação ambiental, criação de gado com desvio para fazendas particulares."

Linguagem
A linguagem do filme foi construída ao longo de um ano e meio de gravações, abandonando a ideia inicial de um road movie. "Depois da primeira etapa de filmagens na aldeia-escola-floresta, pensamos em outra proposta de linguagem, baseada no plano que ao final se tornou a abertura do filme", comenta Luisa Lanna.

O resultado é uma obra que mistura rituais, cantos, cartas em vídeo e filmagens de longa duração. "Essa proposta lançava mão de planos fixos que brincam com o dentro e fora de campo - isso misturado às videocartas que Sueli fazia ao pai", detalha a cineasta.

Um aspecto fundamental do filme, e que nasce dessa mudança de estilo, é sua abordagem às diferentes línguas indígenas. "Era essencial deixar evidente no próprio filme que estamos falando de dois povos completamente distintos: os Kaiowá e os Maxakali", explica Roberto Romero ao Estadão. "E essa diversidade linguística expressa justamente a enorme diversidade de povos que habitam o território brasileiro. Hoje, existem mais de 180 línguas indígenas vivas no Brasil. E quantos filmes falados nessas línguas chegam até nós?", questiona.

Mais do que um documentário
Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá representa mais que um documentário sobre reencontro familiar. "É um gesto de memória e de reparação", afirma Roberto. "É mostrar como a política de Estado destruiu vidas e culturas, mas também como os indígenas resistiram e resistem".

E, assim, o filme se estabelece como um chamado à escuta, mostrando que existem outras formas de viver, lembrar e filmar. "E nos lembra que o Brasil precisa conhecer - e reconhecer - a pluralidade de seus povos, suas línguas, suas histórias", finaliza Romero.

https://www.estadao.com.br/cultura/cinema/filme-expoe-historia-indigena-de-solidao-e-violencia-a-ditadura-nao-acabou/
 

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