De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
16o Encontrão da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão marca retorno à TI Taquaritiua após 10 anos
11/09/2025
Autor: Por Andressa Algave, da Ascom do Cimi Regional Maranhão
Fonte: Cimi - https://cimi.org.br
Entre os dias 20 e 25 de agosto, povos indígenas, comunidades quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, ribeirinhas, marisqueiras, pescadores/as artesanais, camponeses e aliados na luta pelo Bem Viver reuniram-se na Terra Indígena (TI) Taquaritiua, casa do povo Akroá Gamella, para a realização do 16o Encontrão da Teia de Povos e Comunidades do Maranhão. Esta edição foi conduzida pelo tema "Retomar territórios para tecer o Bem Conviver" e marcou o retorno, após 10 anos, do primeiro Encontrão realizado no território, em 2015.
A programação durou cinco dias e contou com a participação de cerca de 2 mil representantes de comunidades de todo o Maranhão e do Brasil, que trocaram experiências sobre a conjuntura da luta por territórios livres. Estiveram presentes lideranças de 14 povos indígenas: Apanjêkra Canela, Awa Guajá, Gavião, Guajajara, Guarani, Ka'apor, Krikati, Krenjê, Krepym, Memõrtumré Canela, Tremembé, Tupinambá, além do povo Akroá Gamella, e representantes dos povos Pataxó, da Bahia, e Aymara, da Bolívia.
Além dos povos originários e comunidades tradicionais, o Encontrão contou com a presença de organizações pastorais, civis e grupos de estudo, que debateram a conjuntura política atual e compartilharam dados sobre os projetos de morte, os desafios na luta pelo Bem Conviver e as ameaças do desmatamento, da mineração e do agronegócio.
"Debateu-se sobre a conjuntura política, compartilhou-se dados sobre os projetos de morte, os desafios na luta pelo Bem Conviver e as ameaças do desmatamento, da mineração e do agronegócio"
Ao longo dos dias de mobilização, a agenda reuniu crianças, jovens e adultos em momentos de entretenimento, debate e integração, com atividades artísticas, esportivas e a partilha de sementes entre as comunidades. Práticas que fortalecem a comunhão com a espiritualidade, a natureza e as múltiplas formas de tecer e construir, coletivamente, um mundo justo e possível.
São articuladores da Teia povos indígenas de todo o Maranhão, além do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), o Conselho Pastoral da Terra (CPT), o Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom), o Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco-Babaçu (MIQCB), o Movimento de Pescadores e Pescadoras (MPP), o Movimento das Comunidades Populares (MCP) e o Núcleo de Estudos em Reforma Agrária (NERA).
Mais organizações civis e movimentos populares participaram do Encontrão: Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Fundação Rosa Luxemburgo, Fóruns e Redes de Cidadania, Escola de Ativismo e Articulação Nacional das Pescadoras (ANP).
"Crianças, jovens e adultos em momentos de entretenimento, debate e integração, com atividades artísticas, esportivas e a partilha de sementes entre as comunidades"
Mobilização retorna à Terra Indígena Taquaritiua após 10 anos
O Encontrão foi marcado por uma intensa programação na aldeia Cajueiro Piraí, na TI Taquaritiua, iniciada no dia 20 com a chegada das caravanas de comunidades participantes. Os quatro dias seguintes foram divididos entre plenárias, música e dança à noite, e celebrações da alegria de tecer o Bem Conviver.
No primeiro dia de atividades, foi erguido o mastro de São Bilibeu, tradição que homenageia um dos encantados ancestrais do território, além de uma corrida de flecha entre jovens de diferentes comunidades e momentos de arte e diversão para as crianças. Nos dias seguintes, os participantes se reuniram para vivenciar o território e visitaram 9 das 22 aldeias de Taquaritiua, conhecendo a espiritualidade, os desafios, a resistência e a cultura do povo Akroá Gamella.
Nos dois dias seguintes, as atividades ocorreram na Casa Redonda da aldeia Cajueiro Piraí, com momentos de fala e escuta sobre temas urgentes na luta pelo Bem Conviver. Entre os assuntos discutidos estavam os impactos dos chamados "projetos de morte", como o Matopiba, vinculado ao agronegócio e à sua lógica exploratória, e o projeto Grão Pará-Maranhão, que prevê a construção de um porto na Ilha do Cajual, em Alcântara (MA), e de uma ferrovia de mais de 500 km, ameaçando territórios indígenas, quilombolas e comunidades camponesas.
"As plenárias serviram como um espaço vital para o compartilhamento de relatos de luta, resistência e esperança"
As plenárias serviram como um espaço vital para o compartilhamento de relatos de luta, resistência e esperança. O povo Akroá Gamella compartilhou sua história, reafirmando sua resiliência após a proibição da língua materna no século XVIII, a tentativa de massacre sofrido em abril de 2017, quando foram alvo de cerca de 200 jagunços armados, e o ataque em novembro de 2021, orquestrado por policiais militares e jagunços.
Desde a primeira edição do Encontrão no território Taquaritiua, em 2015, o povo passou por violações e ataques, mas também alcançou importantes avanços. Em 10 anos, conseguiu retomar o acesso ao sagrado Rio Piraí, que estava em área cercada há décadas, a conquista da portaria para a formação do Grupo de Trabalho de identificação e demarcação da TI e, recentemente, em junho, a decisão da Justiça Federal que determinou à União a constituição de uma equipe de saúde para o povo, fruto de denúncias e articulações.
Kum'tum Akroá Gamella, parte do Conselho de Lideranças do território e articulador da Teia dos Povos, explica que o caminho foi trilhado com a força da luta ancestral. "De 2015 pra cá a gente foi construindo essas conquistas com muita luta, com sangue também. Em 2017 aconteceu um massacre, em 2021 outro massacre, e a gente vai sobrevivendo a todos esses massacres porque a gente tem uma força que é ancestral, que nos movimenta e nos faz continuar caminhando apesar de toda a violência que persiste. O que a gente carrega é o que possibilita a gente ficar de pé, nossa ancestralidade, nossa vontade de viver, a solidariedade com aliados, são esteios que nos sustentam."
"De 2015 pra cá a gente foi construindo essas conquistas com muita luta, com sangue também"
Carta da mobilização celebrou as retomadas
Rosimeire Diniz, missionária do Cimi e articuladora da Teia dos Povos, afirma que celebrar o Encontrão de volta ao território Akroá Gamella é celebrar a potência das retomadas. "Estar aqui 10 anos depois, na área que foi retomada em 2015 com um Encontrão desse tamanho, bastante produtivo, com muitas trocas, muitas energias, diz que o próprio povo Akroá Gamella avançou nesses 10 anos. A Teia ajudou esse povo a fazer esse avanço, essa retomada, e agora todos nós estamos aqui junto com eles, celebrando essa conquista territorial. A retomada, retomar territórios para tecer o Bem Conviver, funciona e é resultado."
Na carta final do 16o Encontrão, disponível para leitura pública, a retomada é destacada como força para cortar cercas físicas e simbólicas que excluem, recolonizam e ameaçam modos de vida, mas também como alegria de trilhar caminhos de solidariedade a partir da valorização dos diversos modos de ser e existir, assegurando que conhecimentos e ancestralidades sigam vivos com a juventude.
"O que a gente carrega é o que possibilita a gente ficar de pé, nossa ancestralidade, nossa vontade de viver, a solidariedade com aliados, são esteios que nos sustentam"
O coletivo da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão reafirmou a retomada como prática essencial de resistência e existência, entendida tanto como enfrentamento às violências do Estado, do agronegócio, da mineração, do mercado de carbono e dos grandes empreendimentos, quanto como fortalecimento dos laços entre povos e comunidades.
No último dia, foi realizada uma plenária para escuta das avaliações e resultados do 16o Encontrão, além da escolha do território que vai receber a próxima formação, em 2026. A faixa da formação foi passada para o Quilombo Tanque da Rodagem, em Matões (MA), em edição que marcará os 15 anos de articulação.
O Encontrão encerrou com dança e música, celebrando a alegria que emana de quem luta por um mundo mais justo, acessível, livre e digno.
https://cimi.org.br/2025/09/16-encontrao-teia-povos-comunidades-ma/
A programação durou cinco dias e contou com a participação de cerca de 2 mil representantes de comunidades de todo o Maranhão e do Brasil, que trocaram experiências sobre a conjuntura da luta por territórios livres. Estiveram presentes lideranças de 14 povos indígenas: Apanjêkra Canela, Awa Guajá, Gavião, Guajajara, Guarani, Ka'apor, Krikati, Krenjê, Krepym, Memõrtumré Canela, Tremembé, Tupinambá, além do povo Akroá Gamella, e representantes dos povos Pataxó, da Bahia, e Aymara, da Bolívia.
Além dos povos originários e comunidades tradicionais, o Encontrão contou com a presença de organizações pastorais, civis e grupos de estudo, que debateram a conjuntura política atual e compartilharam dados sobre os projetos de morte, os desafios na luta pelo Bem Conviver e as ameaças do desmatamento, da mineração e do agronegócio.
"Debateu-se sobre a conjuntura política, compartilhou-se dados sobre os projetos de morte, os desafios na luta pelo Bem Conviver e as ameaças do desmatamento, da mineração e do agronegócio"
Ao longo dos dias de mobilização, a agenda reuniu crianças, jovens e adultos em momentos de entretenimento, debate e integração, com atividades artísticas, esportivas e a partilha de sementes entre as comunidades. Práticas que fortalecem a comunhão com a espiritualidade, a natureza e as múltiplas formas de tecer e construir, coletivamente, um mundo justo e possível.
São articuladores da Teia povos indígenas de todo o Maranhão, além do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), o Conselho Pastoral da Terra (CPT), o Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom), o Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco-Babaçu (MIQCB), o Movimento de Pescadores e Pescadoras (MPP), o Movimento das Comunidades Populares (MCP) e o Núcleo de Estudos em Reforma Agrária (NERA).
Mais organizações civis e movimentos populares participaram do Encontrão: Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Fundação Rosa Luxemburgo, Fóruns e Redes de Cidadania, Escola de Ativismo e Articulação Nacional das Pescadoras (ANP).
"Crianças, jovens e adultos em momentos de entretenimento, debate e integração, com atividades artísticas, esportivas e a partilha de sementes entre as comunidades"
Mobilização retorna à Terra Indígena Taquaritiua após 10 anos
O Encontrão foi marcado por uma intensa programação na aldeia Cajueiro Piraí, na TI Taquaritiua, iniciada no dia 20 com a chegada das caravanas de comunidades participantes. Os quatro dias seguintes foram divididos entre plenárias, música e dança à noite, e celebrações da alegria de tecer o Bem Conviver.
No primeiro dia de atividades, foi erguido o mastro de São Bilibeu, tradição que homenageia um dos encantados ancestrais do território, além de uma corrida de flecha entre jovens de diferentes comunidades e momentos de arte e diversão para as crianças. Nos dias seguintes, os participantes se reuniram para vivenciar o território e visitaram 9 das 22 aldeias de Taquaritiua, conhecendo a espiritualidade, os desafios, a resistência e a cultura do povo Akroá Gamella.
Nos dois dias seguintes, as atividades ocorreram na Casa Redonda da aldeia Cajueiro Piraí, com momentos de fala e escuta sobre temas urgentes na luta pelo Bem Conviver. Entre os assuntos discutidos estavam os impactos dos chamados "projetos de morte", como o Matopiba, vinculado ao agronegócio e à sua lógica exploratória, e o projeto Grão Pará-Maranhão, que prevê a construção de um porto na Ilha do Cajual, em Alcântara (MA), e de uma ferrovia de mais de 500 km, ameaçando territórios indígenas, quilombolas e comunidades camponesas.
"As plenárias serviram como um espaço vital para o compartilhamento de relatos de luta, resistência e esperança"
As plenárias serviram como um espaço vital para o compartilhamento de relatos de luta, resistência e esperança. O povo Akroá Gamella compartilhou sua história, reafirmando sua resiliência após a proibição da língua materna no século XVIII, a tentativa de massacre sofrido em abril de 2017, quando foram alvo de cerca de 200 jagunços armados, e o ataque em novembro de 2021, orquestrado por policiais militares e jagunços.
Desde a primeira edição do Encontrão no território Taquaritiua, em 2015, o povo passou por violações e ataques, mas também alcançou importantes avanços. Em 10 anos, conseguiu retomar o acesso ao sagrado Rio Piraí, que estava em área cercada há décadas, a conquista da portaria para a formação do Grupo de Trabalho de identificação e demarcação da TI e, recentemente, em junho, a decisão da Justiça Federal que determinou à União a constituição de uma equipe de saúde para o povo, fruto de denúncias e articulações.
Kum'tum Akroá Gamella, parte do Conselho de Lideranças do território e articulador da Teia dos Povos, explica que o caminho foi trilhado com a força da luta ancestral. "De 2015 pra cá a gente foi construindo essas conquistas com muita luta, com sangue também. Em 2017 aconteceu um massacre, em 2021 outro massacre, e a gente vai sobrevivendo a todos esses massacres porque a gente tem uma força que é ancestral, que nos movimenta e nos faz continuar caminhando apesar de toda a violência que persiste. O que a gente carrega é o que possibilita a gente ficar de pé, nossa ancestralidade, nossa vontade de viver, a solidariedade com aliados, são esteios que nos sustentam."
"De 2015 pra cá a gente foi construindo essas conquistas com muita luta, com sangue também"
Carta da mobilização celebrou as retomadas
Rosimeire Diniz, missionária do Cimi e articuladora da Teia dos Povos, afirma que celebrar o Encontrão de volta ao território Akroá Gamella é celebrar a potência das retomadas. "Estar aqui 10 anos depois, na área que foi retomada em 2015 com um Encontrão desse tamanho, bastante produtivo, com muitas trocas, muitas energias, diz que o próprio povo Akroá Gamella avançou nesses 10 anos. A Teia ajudou esse povo a fazer esse avanço, essa retomada, e agora todos nós estamos aqui junto com eles, celebrando essa conquista territorial. A retomada, retomar territórios para tecer o Bem Conviver, funciona e é resultado."
Na carta final do 16o Encontrão, disponível para leitura pública, a retomada é destacada como força para cortar cercas físicas e simbólicas que excluem, recolonizam e ameaçam modos de vida, mas também como alegria de trilhar caminhos de solidariedade a partir da valorização dos diversos modos de ser e existir, assegurando que conhecimentos e ancestralidades sigam vivos com a juventude.
"O que a gente carrega é o que possibilita a gente ficar de pé, nossa ancestralidade, nossa vontade de viver, a solidariedade com aliados, são esteios que nos sustentam"
O coletivo da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão reafirmou a retomada como prática essencial de resistência e existência, entendida tanto como enfrentamento às violências do Estado, do agronegócio, da mineração, do mercado de carbono e dos grandes empreendimentos, quanto como fortalecimento dos laços entre povos e comunidades.
No último dia, foi realizada uma plenária para escuta das avaliações e resultados do 16o Encontrão, além da escolha do território que vai receber a próxima formação, em 2026. A faixa da formação foi passada para o Quilombo Tanque da Rodagem, em Matões (MA), em edição que marcará os 15 anos de articulação.
O Encontrão encerrou com dança e música, celebrando a alegria que emana de quem luta por um mundo mais justo, acessível, livre e digno.
https://cimi.org.br/2025/09/16-encontrao-teia-povos-comunidades-ma/
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