De Povos Indígenas no Brasil
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Pesquisa da USP encontra em RR primeiro sítio arqueológico do Brasil com sinais de granito lascado
10/09/2025
Autor: Caíque Rodrigues
Fonte: G1 - https://g1.globo.com/
Pesquisa da USP encontra em RR primeiro sítio arqueológico do Brasil com sinais de granito lascado
Estudo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo indica que povos indígenas pré-coloniais da Amazônia usavam o granito na produção de artefatos para o dia a dia no sítio Arara Vermelha, em São Luiz.
Um sítio arqueológico localizado no município de São Luiz, no Sul de Roraima, foi identificado como o primeiro do Brasil com evidências de granito lascado manuseado por povos indígenas pré-coloniais. Conhecido como Arara Vermelha, o local tem sinais de que a rocha era usada na produção de artefatos. A descoberta inédita faz parte de um estudo da Universidade de São Paulo (USP).
Doutora pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), a arqueóloga Marta Sara Cavallini estuda a região desde 2018 e foi quem chegou à conclusão sobre o uso do granito como algo rudimentar feito para ser utilizado como ferramenta.
A pesquisa focou na documentação das abundantes gravuras rupestres presentes em dezenas de blocos de granito distribuídos numa área de quase 30 hectares, no sítio arqueológico.
Marta Sara Cavallini chegou ao Brasil em 2008 e estuda arqueologia na Amazônia desde então. Ela destaca que em outros sítios arqueológicos pelo Brasil há indícios de que os povos manuseavam outros tipos de minérios. O Arara Vermelha foi apontado como primeiro com lascas de granito, algo inédito no país.
🪨 Granito é uma pedra natural que se forma dentro da terra ao longo de milhões de anos. Ele nasce quando rochas derretidas esfriam devagar, formando cristais reluzentes. Hoje em dia, o granito é uma rocha usada para revestimentos, pisos, bancadas, fachadas e até monumentos. Mas, no período estudado pela pesquisadora, tinha a função de ferramenta.
"Encontramos no Arara Vermelha uma verdadeira indústria de lascamento de granito. Isso não é comum em outros sítios arqueológicos do Brasil, onde normalmente se encontram vestígios em outros tipos de rocha. Essa é uma característica única que torna o local especial", explica a pesquisadora.
🔎 O Arara Vermelha - também conhecido como Sítio Pedra do Sol - fica localizado na vicinal 22, em uma região de agricultura no município de São Luiz, distante 62 km da sede da cidade, dentro de uma propriedade rural. A região ocupa uma área de 27,3 hectares, equivalente a 37 campos de futebol.
Os estudos da pesquisadora indicam que o sítio foi ocupado há pelo menos 1.500 anos. Há sinais que podem datar de mais de 9 mil anos, mas essa hipótese ainda precisa ser estudada e confirmada por futuras pesquisas.
"As ocupações mais claras são a partir de 1.500 anos, mas não podemos descartar a possibilidade de que o sítio tenha sido usado por grupos humanos muito antes disso. O que sabemos é que ele foi intensamente frequentado ao longo do tempo e que diferentes povos deixaram suas marcas ali", afirma.
🗻 Gravuras rupestres por todo lugar
O Arara Vermelha é formado por um morro de granito de cerca de 38 metros de altura. Trata-se de um abrigo rochoso que ocorreu de forma natural e foi usado pela população que ali vivia. Também há uma área plana ao redor, onde estão espalhados blocos de pedra com gravuras.
O sítio com gravuras rupestres Arara Vermelha é formado por um morro de granito de cerca de 38 metros de altura e por uma área plana no entorno. No alto do morro há uma área coberta por rochas com 132 m², mas a paisagem rupestre vai muito além dele: a área plana reúne cerca de 17 hectares de rochas gravadas.
Segundo a arqueóloga, a maioria dos sítios de arte rupestre reconhecidos na Amazônia encontram-se às margens dos rios e são poucos os sítios até hoje cadastrados em áreas de terra firme, como é o caso do Arara Vermelha.
"Estamos diante de um amplo território inteiramente gravado, com matacões [rochas] de até quatro metros de comprimento, apresentando uma significativa variabilidade quanto às formas escolhidas, desde figuras isoladas até superfícies totalmente cobertas", descreve Cavallini.
Entre os registros, há representações de seres humanos, figuras geométricas, círculos que lembram o sol, animais como calangos - espécie de lagarto presente na Amazônia e formas abstratas. Uma análise preliminar da arte rupestre e os dados levantados durante as escavações arqueológicas sugerem a possibilidade que diferentes povos ao longo do tempo tenham ocupado o local e produzido as gravuras.
"Esse sítio mostra que Roraima tem um patrimônio arqueológico riquíssimo, ainda pouco conhecido. O Arara Vermelha é um exemplo de como diferentes povos ocuparam e transformaram o território ao longo de milênios".
Segundo ela, o abrigo revela também estruturas de granito organizadas manualmente, que podem ter servido de base para fogueiras, pisos ou armazenamento.
A descoberta do Arara Vermelha
O primeiro registro de pesquisa no sítio ocorreu em 1995. À época, o professor do ensino médio da escola estadual João Rodrigues, de São Luiz, Waldir Cassiano desenvolveu um trabalho de pesquisa "embrionário" com os alunos.
Essa pesquisa resultou em um relatório que ganhou um prêmio na feira de ciências da região Sul de Roraima, sendo classificado como um trabalho preliminar de arqueologia.
Anos depois, a pesquisadora Marta Cavallini dedicou-se a estudar a região de maneira científica para o doutorado no Museu de Arqueologia e Etnologia na USP. Ela atua na arqueologia pré-colonial amazônica desde 2009 e considera a descoberta como um avanço significativo para Roraima, destacando que o estado carece de pesquisas acadêmicas aprofundadas em arqueologia.
A área que compreende o sítio foi adquirido pela agricultora Minelvina Silva de Mesquita, de 44 anos e o marido dela em 2003. Ela e a família compraram o terreno em 2003, sem imaginar que, em meio às rochas e ao mato, havia registros arqueológicos milenares.
"Quando a gente comprou não era do nosso conhecimento. Descobrimos no finalzinho de 2004. A gente tenta preservar, mas o fogo vindo de outros lotes atinge a área e fica difícil manter.
"Fazemos o que dá, mas não temos estrutura para cuidar do sítio do jeito que ele merece sozinhos", disse a proprietária do Arara Vermelha.
Segundo ela, o contato com a pesquisadora Marta ajudou a dar dimensão ao valor da área. No entanto, a falta de apoio institucional pesa no dia a dia. Mesmo diante das dificuldades, Minelvina afirma sentir orgulho por guardar em sua propriedade um pedaço da história dos povos originários da Amazônia.
"É uma riqueza que está ali, no nosso território. A gente só queria ter mais condições de preservar para que outras pessoas também conheçam e valorizem", completa.
Preservação ameaçada
Apesar da importância histórica, o Arara Vermelha enfrenta ameaças constantes. A região é usada para criação de gado e a prática da queima de áreas de mata para formação de pasto danificou blocos de granito com gravuras rupestres e comprometeu parte do entorno do sítio.
O proprietário do terreno tem buscado apoio junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para preservar a região sem perder a principal fonte de sustento.
O Iphan informou que o Arara Vermelha recebeu recentemente sinalizações indicativas da legislação de proteção e com informações gerais sobre o local. O instituto disse ainda que realiza visitas periódicas para verificar as condições de conservação e ações de georreferenciamento e sinalização dos sítios arqueológicos em todo o estado.
Segundo o instituto, como o sítio está em área privada, cabe ao proprietário realizar medidas preventivas caso tenha interesse em explorar economicamente a região.
"O dono do terreno sempre nos procurou para tentar conciliar a atividade econômica e a preservação do patrimônio. Mas até hoje não há uma política pública que dê esse suporte. Sem isso, os sítios arqueológicos de Roraima continuam em risco", disse a pesquisadora.
De acordo com o Iphan, Roraima possui um "enorme potencial arqueológico, com sítios cadastrados em 14 dos 15 municípios, totalizando mais de 300 locais de diferentes tipos (rupestres, líticos, cerâmicos, funerários, etc.)".
O Arara Vermelha é o que tem a datação mais antiga até o momento. O instituto acrescentou que já existem publicações sobre sítios identificados nas décadas de 1970 e 1980 e estudos feitos no âmbito do licenciamento ambiental. Do ponto de vista acadêmico, quatro pesquisas foram submetidas ao Iphan, sendo duas no Arara Vermelha, uma na Terra Indígena Trombetas-Mapuera e uma na Terra Indígena São Marcos
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2025/09/10/pesquisa-da-usp-encontra-em-rr-primeiro-sitio-arqueologico-do-brasil-com-sinais-de-granito-lascado.ghtml
Estudo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo indica que povos indígenas pré-coloniais da Amazônia usavam o granito na produção de artefatos para o dia a dia no sítio Arara Vermelha, em São Luiz.
Um sítio arqueológico localizado no município de São Luiz, no Sul de Roraima, foi identificado como o primeiro do Brasil com evidências de granito lascado manuseado por povos indígenas pré-coloniais. Conhecido como Arara Vermelha, o local tem sinais de que a rocha era usada na produção de artefatos. A descoberta inédita faz parte de um estudo da Universidade de São Paulo (USP).
Doutora pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), a arqueóloga Marta Sara Cavallini estuda a região desde 2018 e foi quem chegou à conclusão sobre o uso do granito como algo rudimentar feito para ser utilizado como ferramenta.
A pesquisa focou na documentação das abundantes gravuras rupestres presentes em dezenas de blocos de granito distribuídos numa área de quase 30 hectares, no sítio arqueológico.
Marta Sara Cavallini chegou ao Brasil em 2008 e estuda arqueologia na Amazônia desde então. Ela destaca que em outros sítios arqueológicos pelo Brasil há indícios de que os povos manuseavam outros tipos de minérios. O Arara Vermelha foi apontado como primeiro com lascas de granito, algo inédito no país.
🪨 Granito é uma pedra natural que se forma dentro da terra ao longo de milhões de anos. Ele nasce quando rochas derretidas esfriam devagar, formando cristais reluzentes. Hoje em dia, o granito é uma rocha usada para revestimentos, pisos, bancadas, fachadas e até monumentos. Mas, no período estudado pela pesquisadora, tinha a função de ferramenta.
"Encontramos no Arara Vermelha uma verdadeira indústria de lascamento de granito. Isso não é comum em outros sítios arqueológicos do Brasil, onde normalmente se encontram vestígios em outros tipos de rocha. Essa é uma característica única que torna o local especial", explica a pesquisadora.
🔎 O Arara Vermelha - também conhecido como Sítio Pedra do Sol - fica localizado na vicinal 22, em uma região de agricultura no município de São Luiz, distante 62 km da sede da cidade, dentro de uma propriedade rural. A região ocupa uma área de 27,3 hectares, equivalente a 37 campos de futebol.
Os estudos da pesquisadora indicam que o sítio foi ocupado há pelo menos 1.500 anos. Há sinais que podem datar de mais de 9 mil anos, mas essa hipótese ainda precisa ser estudada e confirmada por futuras pesquisas.
"As ocupações mais claras são a partir de 1.500 anos, mas não podemos descartar a possibilidade de que o sítio tenha sido usado por grupos humanos muito antes disso. O que sabemos é que ele foi intensamente frequentado ao longo do tempo e que diferentes povos deixaram suas marcas ali", afirma.
🗻 Gravuras rupestres por todo lugar
O Arara Vermelha é formado por um morro de granito de cerca de 38 metros de altura. Trata-se de um abrigo rochoso que ocorreu de forma natural e foi usado pela população que ali vivia. Também há uma área plana ao redor, onde estão espalhados blocos de pedra com gravuras.
O sítio com gravuras rupestres Arara Vermelha é formado por um morro de granito de cerca de 38 metros de altura e por uma área plana no entorno. No alto do morro há uma área coberta por rochas com 132 m², mas a paisagem rupestre vai muito além dele: a área plana reúne cerca de 17 hectares de rochas gravadas.
Segundo a arqueóloga, a maioria dos sítios de arte rupestre reconhecidos na Amazônia encontram-se às margens dos rios e são poucos os sítios até hoje cadastrados em áreas de terra firme, como é o caso do Arara Vermelha.
"Estamos diante de um amplo território inteiramente gravado, com matacões [rochas] de até quatro metros de comprimento, apresentando uma significativa variabilidade quanto às formas escolhidas, desde figuras isoladas até superfícies totalmente cobertas", descreve Cavallini.
Entre os registros, há representações de seres humanos, figuras geométricas, círculos que lembram o sol, animais como calangos - espécie de lagarto presente na Amazônia e formas abstratas. Uma análise preliminar da arte rupestre e os dados levantados durante as escavações arqueológicas sugerem a possibilidade que diferentes povos ao longo do tempo tenham ocupado o local e produzido as gravuras.
"Esse sítio mostra que Roraima tem um patrimônio arqueológico riquíssimo, ainda pouco conhecido. O Arara Vermelha é um exemplo de como diferentes povos ocuparam e transformaram o território ao longo de milênios".
Segundo ela, o abrigo revela também estruturas de granito organizadas manualmente, que podem ter servido de base para fogueiras, pisos ou armazenamento.
A descoberta do Arara Vermelha
O primeiro registro de pesquisa no sítio ocorreu em 1995. À época, o professor do ensino médio da escola estadual João Rodrigues, de São Luiz, Waldir Cassiano desenvolveu um trabalho de pesquisa "embrionário" com os alunos.
Essa pesquisa resultou em um relatório que ganhou um prêmio na feira de ciências da região Sul de Roraima, sendo classificado como um trabalho preliminar de arqueologia.
Anos depois, a pesquisadora Marta Cavallini dedicou-se a estudar a região de maneira científica para o doutorado no Museu de Arqueologia e Etnologia na USP. Ela atua na arqueologia pré-colonial amazônica desde 2009 e considera a descoberta como um avanço significativo para Roraima, destacando que o estado carece de pesquisas acadêmicas aprofundadas em arqueologia.
A área que compreende o sítio foi adquirido pela agricultora Minelvina Silva de Mesquita, de 44 anos e o marido dela em 2003. Ela e a família compraram o terreno em 2003, sem imaginar que, em meio às rochas e ao mato, havia registros arqueológicos milenares.
"Quando a gente comprou não era do nosso conhecimento. Descobrimos no finalzinho de 2004. A gente tenta preservar, mas o fogo vindo de outros lotes atinge a área e fica difícil manter.
"Fazemos o que dá, mas não temos estrutura para cuidar do sítio do jeito que ele merece sozinhos", disse a proprietária do Arara Vermelha.
Segundo ela, o contato com a pesquisadora Marta ajudou a dar dimensão ao valor da área. No entanto, a falta de apoio institucional pesa no dia a dia. Mesmo diante das dificuldades, Minelvina afirma sentir orgulho por guardar em sua propriedade um pedaço da história dos povos originários da Amazônia.
"É uma riqueza que está ali, no nosso território. A gente só queria ter mais condições de preservar para que outras pessoas também conheçam e valorizem", completa.
Preservação ameaçada
Apesar da importância histórica, o Arara Vermelha enfrenta ameaças constantes. A região é usada para criação de gado e a prática da queima de áreas de mata para formação de pasto danificou blocos de granito com gravuras rupestres e comprometeu parte do entorno do sítio.
O proprietário do terreno tem buscado apoio junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para preservar a região sem perder a principal fonte de sustento.
O Iphan informou que o Arara Vermelha recebeu recentemente sinalizações indicativas da legislação de proteção e com informações gerais sobre o local. O instituto disse ainda que realiza visitas periódicas para verificar as condições de conservação e ações de georreferenciamento e sinalização dos sítios arqueológicos em todo o estado.
Segundo o instituto, como o sítio está em área privada, cabe ao proprietário realizar medidas preventivas caso tenha interesse em explorar economicamente a região.
"O dono do terreno sempre nos procurou para tentar conciliar a atividade econômica e a preservação do patrimônio. Mas até hoje não há uma política pública que dê esse suporte. Sem isso, os sítios arqueológicos de Roraima continuam em risco", disse a pesquisadora.
De acordo com o Iphan, Roraima possui um "enorme potencial arqueológico, com sítios cadastrados em 14 dos 15 municípios, totalizando mais de 300 locais de diferentes tipos (rupestres, líticos, cerâmicos, funerários, etc.)".
O Arara Vermelha é o que tem a datação mais antiga até o momento. O instituto acrescentou que já existem publicações sobre sítios identificados nas décadas de 1970 e 1980 e estudos feitos no âmbito do licenciamento ambiental. Do ponto de vista acadêmico, quatro pesquisas foram submetidas ao Iphan, sendo duas no Arara Vermelha, uma na Terra Indígena Trombetas-Mapuera e uma na Terra Indígena São Marcos
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2025/09/10/pesquisa-da-usp-encontra-em-rr-primeiro-sitio-arqueologico-do-brasil-com-sinais-de-granito-lascado.ghtml
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