De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

Gigante da antropologia, catarinense Egon Schaden ganha Centro Cultural

13/09/2025

Autor: Moacir Pereira

Fonte: ND Mais - https://ndmais.com.br



Seu nome de batismo era Egon Francisco Willibald Schaden, nascido em São Bonifácio há 112 anos, considerado um dos pais da antropologia brasileira, o primeiro pesquisador oriundo do meio rural a se dedicar às ciências sociais ligadas aos indígenas e o pioneiro entre os descendentes de imigrantes alemães a fazer estudos dos povos silvícolas de Santa Catarina e suas relações com os imigrantes.

Para os colegas de magistério no Brasil e no exterior e milhares de alunos nos mais diversos Estados e países, e em centenas de livros, artigos e crônicas ligadas à antropologia, ele era simplesmente Egon Schaden. O pesquisador e mestre de renome internacional teve preservado seu magnífico legado na inauguração do Centro Cultural Egon Schaden no município de nascimento, São Bonifácio.

Ali encontram-se também os estudos e pesquisas do famoso etnólogo na coleta de dados sobre organização social, religião, mitos e rituais dos povos indígenas como os Kaingang, Guarani e Xokleng, fruto de um esforço concentrado e extraordinário do Instituto Egon Schaden, criado em 1914 com objetivo justamente de resgatar a memória e a obra do antropólogo catarinense.

A inauguração de um prédio de dois andares só foi possível graças à cessão do terreno pela prefeitura, emendas parlamentares do senador Esperidião Amin, um entusiasta da causa, da deputada estadual Luciane Carminatti, da ex-deputada Ângela Amin, do Ministério da Cultura, da Fundação Catarinense de Cultura e do Sicoob.Egon Schaden morreu em 16 de setembro de 1991, na capital paulista, aos 78 anos, após um acidente de trânsito.

Acervo e rico legado preservado
No segundo andar do centro, armazenados em prateleiras de aço, encontram-se preservadas 60 toneladas de documentos, livros, fotos e todo o rico legado do cientista catarinense.

São encontradas obras raras, em várias línguas de clássicos, e dados sobre o antropólogo. Em seu boletim escolar, por exemplo, o fato de ter sido, disparado, o primeiro das turmas, em todas as séries que cursou no Colégio Catarinense, como interno, beneficiado por uma bolsa de estudos.

Além de precursor de Antropologia na Universidade de São Paulo, criou a disciplina de Antropologia da Comunicação na fundação da Escola de Comunicações e Artes da USP, a famosa ECA.

Depois de estudar e lecionar em São Paulo, aposentou-se e em 1967 passou a reger a cátedra de Etnologia da Universidade de Bonn, na Alemanha, atuando durante 20 anos (1952-1972) em instituições germânicas.

Seus seguidores no Brasil e pesquisadores europeus destacam também sua grande contribuição como professor visitante nas Universidades de Hamburgo (1961) e Frankfurt (1964-65), entre outras.

Durante vários anos, após a aposentadoria, continuou a fazer pesquisas, a publicar novos livros e a proferir palestras e ministrar cursos na Alemanha, França, Canadá, Suíça, Japão, Colômbia, Paraguai e Equador.

Biografia enriquecida pela convivência com notáveis
Schaden teve sua biografia enriquecida por outras iniciativas acadêmicas e institucionais. Há 70 anos, fundou a Revista de Antropologia, que dirigiu, revisou os textos, patrocinava a edição e pessoalmente se encarregava de enviar a publicação pelos Correios.

Em 1955, durante o 1o Congresso Brasileiro de Antropologia, no Rio de Janeiro, foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Antropologia. Ali, conviveu com o famoso antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, de quem foi aluno na USP; com o professor Darci Ribeiro, com o famoso antropólogo catarinense Silvio Coelho dos Santos, com a professora Ruth Cardoso, entre outros notáveis das ciências sociais.

Inauguração do Centro Cultural em São Bonifácio
A inauguração do Centro Cultural Egon Schaden foi a principal solenidade deste mês em São Bonifácio, distante cerca de 80 km da Capital, acessível pela BR-282 e pela SC-435.

Dirigida pela professora Tânia Welter, presidente do instituto, a cerimônia contou com a presença do prefeito Saulo Buss, da presidente da FCC (Fundação Catarinense de Cultura), Maria Terezinha Debatin, de professores das universidades de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, do presidente do Conselho Estadual de Cultura, professor Luiz Nilton Corrêa, também antropólogo e futuro presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e lideranças locais.

Os oradores foram unânimes em ressaltar o magnífico patrimônio científico que constitui o legado do professor Egon Schaden, constituído de 600 caixas que pesam toneladas. O material tem sido objeto de pesquisas de estudiosos brasileiros e, com frequência, de solicitações de professores e autoridades estrangeiras. Esta documentação estava em local inseguro e vulnerável. Agora, dispostos em estantes, será possível o acesso a pesquisas e novos estudos.

Criação do instituto teve história singular
A criação do instituto percorre uma história singular. Quando o governador Luiz Henrique da Silveira inaugurou a pavimentação asfáltica entre a BR-282 e São Bonifácio, o município passou a sofrer múltiplas transformações.

A professora da Udesc Tânia Welter, natural de Itapiranga, e seu marido, o também antropólogo Pedro Martins, estiveram na região três anos depois para uma pesquisa sobre as mudanças que ali ocorriam.

Inteirados do excepcional acervo científico, literário e histórico deixado pelo antropólogo, e inspirados na proposta do professor João Baptista Borges Pereira partiram para sua criação, com objetivo definido: guardar o espólio científico do professor Egon Schaden, bem como a missão de somar esforços para a pesquisa sobre a colonização alemã no Sul do Brasil e questões indígenas.

Nos últimos 11 anos, trataram de obter recursos com leis de incentivo à cultura nos três níveis e emendas parlamentares para construção do Centro Cultural, com espaço para preservar todo o riquíssimo material.

As subvenções para o instituto, de autoria do senador Esperidião Amin e da ex-deputada Ângela Amin foram aprovadas em 2001, e só liberadas pela FCC em 2024 e este ano, por motivos burocráticos.

Museu Francisco Schaden
Documentos históricos, móveis antigos, ferramentas agrícolas e livros do início do século passado integram o maravilhoso museu histórico, uma das joias de São Bonifácio. Foi criado pela comunidade católica do município em 1980 e doado à prefeitura em 2012, por falta de condições de sua manutenção. A Lei Municipal 1.344, de 2014, passou a denominar a instituição de Museu Histórico Francisco Schaden, homenagem ao primeiro professor da cidade, pai de Egon Schaden.

No ano passado, o ex-prefeito Laurino Peters enviou projeto à Câmara Municipal propondo a extinção do museu e sua transformação em "acervo", o que gerou protestos da comunidade de lideranças culturais e políticas do Estado. Na inauguração do Centro Cultural, o prefeito Saulo Buss anunciou que vai encaminhar este mês projeto de lei ao Legislativo restabelecendo o nome do museu.

Francisco Schaden era imigrante alemão, vindo de Leipzig. Agricultor, fazia parte da comunidade católica. Desembarcou em 1910 e se instalou inicialmente em Leopoldina (MG). Em seguida, seguiu para Anitápolis e depois Löffelscheidt (Águas Mornas), ali chegando em 1912. Convidado, acabou fixando residência em São Bonifácio. Pesquisador autodidata e antropólogo regional, fez pesquisas sobre as culturas indígenas, escreveu vários textos sobre a colonização e a vida dos imigrantes.

Dominava o alemão e o português e conhecia bem o francês e o latim. Tinha notórios conhecimentos de línguas indígenas e estudava as chamadas línguas planejadas como Esperanto, Ido e Volopük. Liderou os movimentos para transformação da colônia em distrito, para instalação de um cartório e se envolveu na construção da Igreja de São Bonifácio e o Seminário dos padres holandeses, depois transformado em hospital.

Obras publicadas

Pequena Grammatica Allemã (1937)
Mitos e Contos dos Ngúd-Krág (1947)
Aculturação e Assimilação dos Índios do Brasil (1967)
Aculturação e Messianismo Entre Índios Brasileiros (1972)
Aculturação Indígena (1965) A Erva do Diabo (1948)
A Etnologia no Brasil (1980)
A Mitologia Heroica de Tribos Indígenas do Brasil (1988)
A Origem dos Homens, o Dilúvio e Outras Histórias Kaingáng (1950)
A Origem e a Posse do Fogo na Mitologia Guarani (1955)
A Religião Guaraní e o Cristianismo: Contribuição ao Estudo de um Processo Histórico de Comunicação Intercultural (1982)
As Culturas Indígenas e a Civilização (1955)
Caracteres Específicos da Cultura Mbüá-Guarani: Subsídios e Sugestões Para um Estudo (1963)
Desenho e Arte Ornamental dos Índios Brasileiros (1958)
Desenhos de Índios Kayová-Guarani (1963)
Documentação Cinematográfica das Culturas Indígenas Brasileiras (1979)
Duas Palavras de Apresentação (1979)
Educação Indígena (1976)
Notas Sobre a Vida e a Obra de Curt Nimuendajú (1967)
Notas Sobre Etnocentrismo (1946)
O Estudo do Índio Brasileiro - Ontem e Hoje (1972)
Os Primitivos Habitantes do Território Paulista (1954)
Pioneiros Alemães da Exploração Etnológica do Alto Xingu (1990)
Problemas Fundamentais e Estado Atual das Pesquisas Sobre os Índios do Brasil (2013)
Recentes Contribuições à Antropologia Brasileira (1950)
Relações Intertribais e Estratificação Social entre Índios Sulamericanos (1948)

https://ndmais.com.br/cidadania/catarinense-egon-schaden-ganha-centro-cultural/
 

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