De Povos Indígenas no Brasil
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Novo mapeamento com IA identifica focos de desmatamento na Amazônia
10/09/2025
Autor: Raul Queiroz Feitosa
Fonte: Revista Veja - https://veja.abril.com.br/
Novo mapeamento com IA identifica focos de desmatamento na Amazônia
Nos últimos 40 anos, o Brasil perdeu 111,7 milhões de hectares de áreas naturais, uma área maior do que a Bolívia. Só na Amazônia, o bioma mais afetado, foram 52,1 milhões de hectares destruídos. Nos últimos 12 meses, foram desmatados 4.495 km² na Amazônia, 4% a mais do que no mesmo período do ano anterior. Combater esse problema exige fiscalização e também informação de qualidade, que seja rápida, precisa e acionável.
Foi com essa premissa que desenvolvemos, no Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio, um modelo de Inteligência Artificial (IA) capaz de prever, com até 15 dias de antecedência, as áreas com maior risco de desmatamento na Amazônia Legal. O projeto foi feito em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Essa ferramenta, batizada de Deforestation Prediction System, já está em operação na plataforma de dados geográficos TerraBrasilis, mantida pelo INPE, e disponível para uso do Ibama e dos municípios da região. Ela foi concebida para apoiar decisões estratégicas de fiscalização e prevenção, aumentando a eficiência das operações e reduzindo desperdícios de recursos.
Por que um novo modelo era necessário
A previsão de desmatamento é fundamental, pois os técnicos não podem visitar todos os lugares da Amazônia. É necessário priorizar. As ações de fiscalização são caras, envolvem deslocamentos por longas distâncias e áreas de difícil acesso. A ferramenta que até então era usada pelo Ibama precisava ser atualizada, pois se baseava em um método proposto há cerca de 20 anos. Por isso, o Ministério do Meio Ambiente buscou apoio para desenvolver uma solução que incorporasse os avanços mais recentes em Inteligência Artificial.
Nosso grupo PUC-Rio tem mais de 20 anos de experiência em análise de imagens em sensoriamento remoto. Minha atuação como representante da América Latina nas duas principais sociedades científicas internacionais da área - a Sociedade de Geociências e Sensoriamento Remoto, do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (GRSS-IEE) e a Sociedade Internacional de Fotogrametria e Sensoriamento Remoto (ISPRS) - possibilitou a construção de parcerias e colaborações em projetos tanto no Brasil quanto no exterior, incluindo o próprio INPE.
Foi nesse contexto que, por sugestão do coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas (PAMZ+) do INPE, Dr. Cláudio Almeida, nossa equipe foi convidada para integrar o desenvolvimento do projeto, com foco na coordenação metodológica das soluções de IA. O trabalho recebeu investimento de R$ 2,5 milhões da Climate and Land Use Alliance (CLUA), uma coalizão internacional de fundações dedicada à proteção das florestas tropicais. Iniciamos em janeiro de 2024 e concluímos recentemente, já com a etapa de implementação em andamento.
Como funciona a previsão
A base do modelo está em identificar fatores ou condições mais relacionadas ao desmatamento iminente, de modo que possam antecipar a sua ocorrência. Para isso, usamos a vasta base de dados históricos da Amazônia Legal, disponibilizada pelo INPE. O Instituto realiza o monitoramento sistemático dos biomas brasileiros por sensoriamento remoto, gerando um grande volume de dados em plataformas como PRODES e DETER.
Selecionamos variáveis espaciais e ambientais, como rede hidrográfica, proximidade de rodovias, limites de áreas protegidas e terras indígenas, padrões climáticos e, sobretudo, registros históricos de desmatamento. Esse último fator é essencial, já que nvos eventos tendem a se repetir próximos aos locais já afetados no passado.
Então, testamos quatro abordagens distintas de IA. A que apresentou melhor equilíbrio entre precisão e custo computacional foi adotada, conseguindo apontar, com alto grau de acerto, onde há maior probabilidade de novos desmatamentos em até 15 dias.
Da teoria à prática
A última etapa foi a operacionalização. O INPE integrou o método à Sala de Situação da plataforma TerraBrasilis. O Ibama, como principal órgão de fiscalização, participou ativamente para garantir que a ferramenta atendesse às necessidades operacionais de planejamento e execução. Além disso, os modelos também foram disponibilizados aos municípios amazônicos, permitindo que orientem suas próprias ações dentro de seus territórios.
Para facilitar a adoção, realizamos dois workshops sobre o uso prático do modelo. O primeiro, em Brasília, no final de junho de 2025, reuniu equipes do Ibama; o segundo, em Manaus, no final de julho, foi voltado a representantes dos 67 municípios da Amazônia, em parceria com o Programa União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais (UcM).
Assim, o sistema acaba de ser colocado em uso pelo Ibama e já foi disponibilizado às administrações locais que estiverem interessadas. Ele também tem uma sinergia com o metaprojeto Amazonizar, iniciativa da PUC-Rio que reúne todas as pesquisas e projetos da universidade voltados para os desafios climáticos e a sustentabilidade.
Expectativas e próximos passos
Ainda é cedo para medir o impacto real da nova ferramenta sobre os índices de desmatamento em médio e longo prazos. Os próximos 12 meses serão decisivos para avaliar como ela reflete nos índices de desmatamento. Mas sabemos que é difícil estimar ganhos numéricos diretos, já que o desmatamento nos biomas brasileiros é um fenômeno complexo, influenciado por diversos fatores que extrapolam as operações do Ibama.
Mesmo assim, nossos experimentos indicaram que o novo modelo reduz os erros de previsão em cerca de 75% a 80% em comparação com o modelo anterior. Por isso, acreditamos que, ao fornecer informações mais precisas e oportunas aos órgãos competentes, a ferramenta permitirá maior eficiência das ações de combate e prevenção, contribuindo para reduzir os índices de desmatamento.
Agora, com apoio do Ministério do Meio Ambiente, estamos elaborando uma nova proposta para estender o uso de IA à previsão de outros eventos prejudiciais à floresta, como incêndios e processos de degradação, além de expandir o modelo para outros biomas, como o Cerrado. Nossa aposta é que a união entre universidades e órgãos de governo possa gerar soluções mais concretas de proteção ambiental.
*Raul Queiroz Feitosa, Professor do Departamento de Engenharia Elétrica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
https://veja.abril.com.br/agenda-verde/novo-mapeamento-com-ia-identifica-focos-de-desmatamento-na-amazonia/
Nos últimos 40 anos, o Brasil perdeu 111,7 milhões de hectares de áreas naturais, uma área maior do que a Bolívia. Só na Amazônia, o bioma mais afetado, foram 52,1 milhões de hectares destruídos. Nos últimos 12 meses, foram desmatados 4.495 km² na Amazônia, 4% a mais do que no mesmo período do ano anterior. Combater esse problema exige fiscalização e também informação de qualidade, que seja rápida, precisa e acionável.
Foi com essa premissa que desenvolvemos, no Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio, um modelo de Inteligência Artificial (IA) capaz de prever, com até 15 dias de antecedência, as áreas com maior risco de desmatamento na Amazônia Legal. O projeto foi feito em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Essa ferramenta, batizada de Deforestation Prediction System, já está em operação na plataforma de dados geográficos TerraBrasilis, mantida pelo INPE, e disponível para uso do Ibama e dos municípios da região. Ela foi concebida para apoiar decisões estratégicas de fiscalização e prevenção, aumentando a eficiência das operações e reduzindo desperdícios de recursos.
Por que um novo modelo era necessário
A previsão de desmatamento é fundamental, pois os técnicos não podem visitar todos os lugares da Amazônia. É necessário priorizar. As ações de fiscalização são caras, envolvem deslocamentos por longas distâncias e áreas de difícil acesso. A ferramenta que até então era usada pelo Ibama precisava ser atualizada, pois se baseava em um método proposto há cerca de 20 anos. Por isso, o Ministério do Meio Ambiente buscou apoio para desenvolver uma solução que incorporasse os avanços mais recentes em Inteligência Artificial.
Nosso grupo PUC-Rio tem mais de 20 anos de experiência em análise de imagens em sensoriamento remoto. Minha atuação como representante da América Latina nas duas principais sociedades científicas internacionais da área - a Sociedade de Geociências e Sensoriamento Remoto, do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (GRSS-IEE) e a Sociedade Internacional de Fotogrametria e Sensoriamento Remoto (ISPRS) - possibilitou a construção de parcerias e colaborações em projetos tanto no Brasil quanto no exterior, incluindo o próprio INPE.
Foi nesse contexto que, por sugestão do coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas (PAMZ+) do INPE, Dr. Cláudio Almeida, nossa equipe foi convidada para integrar o desenvolvimento do projeto, com foco na coordenação metodológica das soluções de IA. O trabalho recebeu investimento de R$ 2,5 milhões da Climate and Land Use Alliance (CLUA), uma coalizão internacional de fundações dedicada à proteção das florestas tropicais. Iniciamos em janeiro de 2024 e concluímos recentemente, já com a etapa de implementação em andamento.
Como funciona a previsão
A base do modelo está em identificar fatores ou condições mais relacionadas ao desmatamento iminente, de modo que possam antecipar a sua ocorrência. Para isso, usamos a vasta base de dados históricos da Amazônia Legal, disponibilizada pelo INPE. O Instituto realiza o monitoramento sistemático dos biomas brasileiros por sensoriamento remoto, gerando um grande volume de dados em plataformas como PRODES e DETER.
Selecionamos variáveis espaciais e ambientais, como rede hidrográfica, proximidade de rodovias, limites de áreas protegidas e terras indígenas, padrões climáticos e, sobretudo, registros históricos de desmatamento. Esse último fator é essencial, já que nvos eventos tendem a se repetir próximos aos locais já afetados no passado.
Então, testamos quatro abordagens distintas de IA. A que apresentou melhor equilíbrio entre precisão e custo computacional foi adotada, conseguindo apontar, com alto grau de acerto, onde há maior probabilidade de novos desmatamentos em até 15 dias.
Da teoria à prática
A última etapa foi a operacionalização. O INPE integrou o método à Sala de Situação da plataforma TerraBrasilis. O Ibama, como principal órgão de fiscalização, participou ativamente para garantir que a ferramenta atendesse às necessidades operacionais de planejamento e execução. Além disso, os modelos também foram disponibilizados aos municípios amazônicos, permitindo que orientem suas próprias ações dentro de seus territórios.
Para facilitar a adoção, realizamos dois workshops sobre o uso prático do modelo. O primeiro, em Brasília, no final de junho de 2025, reuniu equipes do Ibama; o segundo, em Manaus, no final de julho, foi voltado a representantes dos 67 municípios da Amazônia, em parceria com o Programa União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais (UcM).
Assim, o sistema acaba de ser colocado em uso pelo Ibama e já foi disponibilizado às administrações locais que estiverem interessadas. Ele também tem uma sinergia com o metaprojeto Amazonizar, iniciativa da PUC-Rio que reúne todas as pesquisas e projetos da universidade voltados para os desafios climáticos e a sustentabilidade.
Expectativas e próximos passos
Ainda é cedo para medir o impacto real da nova ferramenta sobre os índices de desmatamento em médio e longo prazos. Os próximos 12 meses serão decisivos para avaliar como ela reflete nos índices de desmatamento. Mas sabemos que é difícil estimar ganhos numéricos diretos, já que o desmatamento nos biomas brasileiros é um fenômeno complexo, influenciado por diversos fatores que extrapolam as operações do Ibama.
Mesmo assim, nossos experimentos indicaram que o novo modelo reduz os erros de previsão em cerca de 75% a 80% em comparação com o modelo anterior. Por isso, acreditamos que, ao fornecer informações mais precisas e oportunas aos órgãos competentes, a ferramenta permitirá maior eficiência das ações de combate e prevenção, contribuindo para reduzir os índices de desmatamento.
Agora, com apoio do Ministério do Meio Ambiente, estamos elaborando uma nova proposta para estender o uso de IA à previsão de outros eventos prejudiciais à floresta, como incêndios e processos de degradação, além de expandir o modelo para outros biomas, como o Cerrado. Nossa aposta é que a união entre universidades e órgãos de governo possa gerar soluções mais concretas de proteção ambiental.
*Raul Queiroz Feitosa, Professor do Departamento de Engenharia Elétrica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
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