De Povos Indígenas no Brasil
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Manejadores e manejadoras de pirarucu levam demandas históricas à Brasília
19/09/2025
Autor: Talita Oliveira
Fonte: Opan - https://amazonianativa.org.br
O Coletivo do Pirarucu dialogou com autoridades na capital federal sobre a política de Pagamento por Serviços Ambientais e fiscalização nos territórios de manejo
Há quase 10 anos, antes mesmo de se consolidar oficialmente como Coletivo, os manejadores e manejadoras de pirarucu do Amazonas levam aos fóruns e reuniões, incansavelmente, a necessidade de maior fiscalização nos territórios e a reivindicação de que sejam reconhecidos pelos serviços ambientais que prestam ao país. Esses serviços, enraizados em seus modos de vida tradicionais e no rigoroso cumprimento das regras do manejo sustentável do pirarucu, geram benefícios sistêmicos e duradouros para toda a sociedade.
Em mais uma ação de incidência, viabilizada com o apoio de diversos parceiros, integrantes do Coletivo do Pirarucu participaram da segunda edição da Semana da Sociobiodiversidade, realizada no início de setembro, em Brasília (DF). Além da programação do evento, os manejadores e manejadoras articularam uma série de diálogos com diversas instâncias do poder público, levando as demandas históricas do movimento: fiscalização territorial e a política de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
"O Coletivo do Pirarucu tem sido uma instância muito importante para quem vive e conserva a floresta. Ele tem conseguido nos proporcionar espaços para diálogos com instituições de governo e outras organizações não governamentais. Conversar diretamente com o presidente do Ibama e com a ministra Marina Silva em relação à proteção das áreas de manejo foi algo muito importante e histórico", destacou Edvaldo Tavares, presidente da Associação Agroextrativista de Auati-Paraná (AAPA).
Política de Pagamento por Serviços Ambientais
A oficina "Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) da Sociobioeconomia com foco no manejo do pirarucu no Amazonas", realizada em uma parceria entre a Secretaria Nacional e Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (SBC-MMA) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no âmbito do projeto Floresta + Amazônia, aconteceu na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Brasília e apresentou para os manejadores a proposta piloto de PSA da Sociobioeconomia voltada para o manejo do pirarucu.
A iniciativa dialoga diretamente com uma demanda antiga do movimento, que há anos reivindica reconhecimento pelos serviços ambientais que prestam ao país por meio do manejo do pirarucu. A Secretária Nacional de Bioeconomia do MMA, Carina Pimenta, reforçou a importância da iniciativa e da parceria com os manejadores.
"O Pagamento por Serviços Ambientais é uma demanda histórica de vocês e esse projeto que estamos construindo será emblemático para a regulamentação da política de PSA. Queremos regulamentar construindo ações concretas que associam a política a quem produz protegendo. O Coletivo do Pirarucu é um grande exemplo de como isso pode acontecer e espero que possamos implementar um arranjo viável que sirva de referência para outros coletivos no futuro", afirmou.
Encontro com a ministra Marina Silva
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, esteve presente na abertura da oficina de PSA e dialogou com os integrantes do Coletivo. Em sua fala, a ministra expressou as expectativas com a proposta piloto de pagamentos por serviços ambientais apresentada pela pasta comandada por ela.
"A abordagem que está sendo feita aqui é um sonho que a gente sempre teve. Não é só fazer as ações de comando e controle, é a gente combater, seja a pesca predatória, seja a destruição da floresta, com políticas públicas que sejam capazes de fazer o combate à ação criminosa de maneira estrutural. Essa é a verdadeira mudança e a transformação que será duradoura", concluiu a ministra.
A presença de Marina, por sua origem extrativista, trajetória de luta ambiental e reconhecimento internacional, emocionou os presentes. Pedro Canízio, vice-presidente da Federação dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá (Femapam), não conteve as lágrimas ao presentear a ministra com um boné do Coletivo do Pirarucu. Marina agradeceu a gentileza. "Esse momento foi muito forte. É a força de tudo que está aqui. Vocês são pessoas cujo estilo de vida já é a preservação em si mesmo", disse a ministra.
Veja aqui o vídeo do encontro.
Fiscalização nos territórios de manejo
Pauta sempre presente nas discussões, a fiscalização nos territórios de manejo foi abordada de forma ampla durante reunião realizada na sede do Ibama, com a presença de representantes do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Núcleo de Fiscalização da Atividade Pesqueira do Ibama, coordenação de fiscalização do ICMBio, Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime no Brasil e Polícia Federal. Com relatos, dados, estudos e um compilado de notícias, foram apresentadas às autoridades as estratégias de proteção territorial empreendidas pelas comunidades manejadoras e informações sobre o aumento das ameaças nos territórios.
O debate se estendeu por toda uma tarde, em que a maior parte do tempo foi ocupada com as vozes dos representantes das comunidades presentes, além de servidores de órgãos como o Ibama e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) com atuação nos municípios mais próximos aos territórios, que trouxeram relatos e reflexões sobre as dificuldades enfrentadas. "Espaços de escuta como esse, onde nós ouvimos as demandas de vocês mais do que falamos de ações do governo, são muito importantes. A gente precisa ouvir, mobilizar nossas instituições e acionar nossos pares para a gente pensar em soluções conjuntas", refletiu Lara Montenegro, coordenadora da Estratégia Povos Indígenas na Política sobre Drogas da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad/MJSP).
Diogo Giroto, coordenador do programa Amazonas da Operação Amazônia Nativa (OPAN), avalia que, apesar das respostas do órgãos em relação à proteção dos territórios de manejo atualmente não serem satisfatórias, o diálogo em si foi positivo."Tivemos a oportunidade de levar a realidade e a preocupação que estamos tendo nos territórios, principalmente nas regiões fronteiriças, onde temos visto uma grande escalada de problemas como o tráfico de drogas e o garimpo ilegal. Foi um diálogo inicial que conseguimos fazer, mas que não termina em si mesmo. Serão necessárias mais incidência e ações", concluiu.
Ainda sobre a fiscalização, representantes do Coletivo também se reuniram com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, levando as denúncias e reivindicações das comunidades manejadoras. "Ele ouviu atentamente os manejadores e se sensibilizou, entendeu que o Ibama precisa se engajar mais e apoiar mais na questão da fiscalização dos territórios onde acontece o manejo. A gente ficou contente porque ele realmente se comprometeu em colocar mais recursos e agentes de fiscalização para que as ações sejam mais intensivas", avaliou Diomir de Souza Santos, secretário da Associação dos Comunitários que Trabalham com Desenvolvimento Sustentável no Município de Jutaí (ACJ).
O presidente do órgão se comprometeu em aprimorar as estratégias de inteligência em articulação com a Superintendência do Ibama no Amazonas. O objetivo, segundo ele, é aproximar o órgão das comunidades, tornando mais ágil e efetivo o acolhimento das denúncias. A medida busca criar um canal direto com a ponta, capaz de qualificar as ações de fiscalização e melhorar a resposta às demandas apresentadas.
Parcerias
A participação de integrantes do Coletivo do Pirarucu na Semana da Sociobiodiversidade 2025 foi viabilizada por apoiadores como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ibama, Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), Fundo Vale, Operação Amazônia Nativa (OPAN) e Aliança Águas Amazônicas com o apoio da Fundação Gordon e Betty Moore e WCS.
https://amazonianativa.org.br/2025/09/19/manejadores-e-manejadoras-de-pirarucu-levam-demandas-historicas-a-brasilia/
Há quase 10 anos, antes mesmo de se consolidar oficialmente como Coletivo, os manejadores e manejadoras de pirarucu do Amazonas levam aos fóruns e reuniões, incansavelmente, a necessidade de maior fiscalização nos territórios e a reivindicação de que sejam reconhecidos pelos serviços ambientais que prestam ao país. Esses serviços, enraizados em seus modos de vida tradicionais e no rigoroso cumprimento das regras do manejo sustentável do pirarucu, geram benefícios sistêmicos e duradouros para toda a sociedade.
Em mais uma ação de incidência, viabilizada com o apoio de diversos parceiros, integrantes do Coletivo do Pirarucu participaram da segunda edição da Semana da Sociobiodiversidade, realizada no início de setembro, em Brasília (DF). Além da programação do evento, os manejadores e manejadoras articularam uma série de diálogos com diversas instâncias do poder público, levando as demandas históricas do movimento: fiscalização territorial e a política de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
"O Coletivo do Pirarucu tem sido uma instância muito importante para quem vive e conserva a floresta. Ele tem conseguido nos proporcionar espaços para diálogos com instituições de governo e outras organizações não governamentais. Conversar diretamente com o presidente do Ibama e com a ministra Marina Silva em relação à proteção das áreas de manejo foi algo muito importante e histórico", destacou Edvaldo Tavares, presidente da Associação Agroextrativista de Auati-Paraná (AAPA).
Política de Pagamento por Serviços Ambientais
A oficina "Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) da Sociobioeconomia com foco no manejo do pirarucu no Amazonas", realizada em uma parceria entre a Secretaria Nacional e Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (SBC-MMA) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no âmbito do projeto Floresta + Amazônia, aconteceu na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Brasília e apresentou para os manejadores a proposta piloto de PSA da Sociobioeconomia voltada para o manejo do pirarucu.
A iniciativa dialoga diretamente com uma demanda antiga do movimento, que há anos reivindica reconhecimento pelos serviços ambientais que prestam ao país por meio do manejo do pirarucu. A Secretária Nacional de Bioeconomia do MMA, Carina Pimenta, reforçou a importância da iniciativa e da parceria com os manejadores.
"O Pagamento por Serviços Ambientais é uma demanda histórica de vocês e esse projeto que estamos construindo será emblemático para a regulamentação da política de PSA. Queremos regulamentar construindo ações concretas que associam a política a quem produz protegendo. O Coletivo do Pirarucu é um grande exemplo de como isso pode acontecer e espero que possamos implementar um arranjo viável que sirva de referência para outros coletivos no futuro", afirmou.
Encontro com a ministra Marina Silva
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, esteve presente na abertura da oficina de PSA e dialogou com os integrantes do Coletivo. Em sua fala, a ministra expressou as expectativas com a proposta piloto de pagamentos por serviços ambientais apresentada pela pasta comandada por ela.
"A abordagem que está sendo feita aqui é um sonho que a gente sempre teve. Não é só fazer as ações de comando e controle, é a gente combater, seja a pesca predatória, seja a destruição da floresta, com políticas públicas que sejam capazes de fazer o combate à ação criminosa de maneira estrutural. Essa é a verdadeira mudança e a transformação que será duradoura", concluiu a ministra.
A presença de Marina, por sua origem extrativista, trajetória de luta ambiental e reconhecimento internacional, emocionou os presentes. Pedro Canízio, vice-presidente da Federação dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá (Femapam), não conteve as lágrimas ao presentear a ministra com um boné do Coletivo do Pirarucu. Marina agradeceu a gentileza. "Esse momento foi muito forte. É a força de tudo que está aqui. Vocês são pessoas cujo estilo de vida já é a preservação em si mesmo", disse a ministra.
Veja aqui o vídeo do encontro.
Fiscalização nos territórios de manejo
Pauta sempre presente nas discussões, a fiscalização nos territórios de manejo foi abordada de forma ampla durante reunião realizada na sede do Ibama, com a presença de representantes do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Núcleo de Fiscalização da Atividade Pesqueira do Ibama, coordenação de fiscalização do ICMBio, Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime no Brasil e Polícia Federal. Com relatos, dados, estudos e um compilado de notícias, foram apresentadas às autoridades as estratégias de proteção territorial empreendidas pelas comunidades manejadoras e informações sobre o aumento das ameaças nos territórios.
O debate se estendeu por toda uma tarde, em que a maior parte do tempo foi ocupada com as vozes dos representantes das comunidades presentes, além de servidores de órgãos como o Ibama e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) com atuação nos municípios mais próximos aos territórios, que trouxeram relatos e reflexões sobre as dificuldades enfrentadas. "Espaços de escuta como esse, onde nós ouvimos as demandas de vocês mais do que falamos de ações do governo, são muito importantes. A gente precisa ouvir, mobilizar nossas instituições e acionar nossos pares para a gente pensar em soluções conjuntas", refletiu Lara Montenegro, coordenadora da Estratégia Povos Indígenas na Política sobre Drogas da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad/MJSP).
Diogo Giroto, coordenador do programa Amazonas da Operação Amazônia Nativa (OPAN), avalia que, apesar das respostas do órgãos em relação à proteção dos territórios de manejo atualmente não serem satisfatórias, o diálogo em si foi positivo."Tivemos a oportunidade de levar a realidade e a preocupação que estamos tendo nos territórios, principalmente nas regiões fronteiriças, onde temos visto uma grande escalada de problemas como o tráfico de drogas e o garimpo ilegal. Foi um diálogo inicial que conseguimos fazer, mas que não termina em si mesmo. Serão necessárias mais incidência e ações", concluiu.
Ainda sobre a fiscalização, representantes do Coletivo também se reuniram com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, levando as denúncias e reivindicações das comunidades manejadoras. "Ele ouviu atentamente os manejadores e se sensibilizou, entendeu que o Ibama precisa se engajar mais e apoiar mais na questão da fiscalização dos territórios onde acontece o manejo. A gente ficou contente porque ele realmente se comprometeu em colocar mais recursos e agentes de fiscalização para que as ações sejam mais intensivas", avaliou Diomir de Souza Santos, secretário da Associação dos Comunitários que Trabalham com Desenvolvimento Sustentável no Município de Jutaí (ACJ).
O presidente do órgão se comprometeu em aprimorar as estratégias de inteligência em articulação com a Superintendência do Ibama no Amazonas. O objetivo, segundo ele, é aproximar o órgão das comunidades, tornando mais ágil e efetivo o acolhimento das denúncias. A medida busca criar um canal direto com a ponta, capaz de qualificar as ações de fiscalização e melhorar a resposta às demandas apresentadas.
Parcerias
A participação de integrantes do Coletivo do Pirarucu na Semana da Sociobiodiversidade 2025 foi viabilizada por apoiadores como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ibama, Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), Fundo Vale, Operação Amazônia Nativa (OPAN) e Aliança Águas Amazônicas com o apoio da Fundação Gordon e Betty Moore e WCS.
https://amazonianativa.org.br/2025/09/19/manejadores-e-manejadoras-de-pirarucu-levam-demandas-historicas-a-brasilia/
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