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Notícias

Negócios agrícolas comunitários seguem sem crédito e dependem quase só do governo

20/08/2025

Fonte: OESP - https://www.estadao.com.br/



Negócios agrícolas comunitários seguem sem crédito e dependem quase só do governo
Para desenvolver a Amazônia e, ao mesmo tempo, garantir alimentação saudável, relatório recomenda medidas como facilitar acesso a linhas de crédito e recuperar pastagens degradadas

20/09/2025

Luciana Dyniewicz

Negócios agrícolas comunitários no País praticamente desconhecem qualquer tipo de financiamento. Dentre 1.040 negócios de cooperativas e associações comunitárias mapeadas no Brasil pela ONG Conexsus - sendo 80% deles na Amazônia -, mais de 90% nunca tiveram acesso a qualquer tipo de crédito.

Dados da ONG indicam ainda que 99,9% desses negócios nunca se beneficiaram do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), programa do governo federal que disponibiliza linhas de crédito adequadas às necessidades dos agricultores familiares. Também apontam que, entre as cooperativas e associações mapeadas - comercializadoras de produtos como castanha, açaí, mel e tucupi, entre outros -, 70% têm o governo como único comprador.

"Por um lado, é positivo que o governo seja o comprador, porque a produção fica no território e alimenta as crianças. Mas é arriscado ter só um meio de comercialização", diz Fernando Moretti, líder de crédito socioambiental da Conexsus. "O governo passado (de Jair Bolsonaro) diminuiu drasticamente os recursos de programas de compra, e os negócios ficaram em situação difícil."

Crédito específico para a agricultura familiar sustentável é uma das recomendações de um relatório lançado nesta quarta-feira, 20, pela rede Uma Concertação pela Amazônia e pela organização Instituto Clima e Sociedade (iCS) para promover o desenvolvimento da Amazônia, além da produção e da distribuição de alimentos de forma sustentável à população da região.

O relatório parte do diagnóstico de que pecuária e monoculturas se expandiram de forma desorganizada nos últimos 40 anos na Amazônia, fazendo com que o modelo agroalimentar da região seja hoje o principal vetor de desmatamento e de emissões de gases de efeito estufa no País, além de ser incapaz de garantir segurança alimentar para a população local.

"A ideia é pensar em atividades que não só derrubam a floresta, mas colocam a população em uma trajetória de riqueza e emprego. Pensar na geração de comida juntamente à manutenção e à regeneração da floresta. E é possível produzir alimentos diversificados de forma aliada ao agronegócio", diz Lívia Pagotto, secretária executiva da rede Uma Concertação pela Amazônia.

Em relação ao crédito rural, por exemplo, a constatação é a de que não há linhas criadas para a bioeconomia, de acordo com Thais Ferraz, diretora do iCS. Moretti, da Conexsus, acrescenta que hoje as linhas não chegam aos produtores da Amazônia. Segundo ele, no ano passado, o Rio Grande do Sul recebeu R$ 33,2 bilhões do Pronaf, enquanto o Amazonas, R$ 160 milhões.

A diferença ocorre, em parte, porque faltam regras e medidas específicas para a realidade da região. Projetistas técnicos de crédito, por exemplo, precisam viajar horas para alcançar os produtores. Há casos em que o banco mais próximo está a dois dias de barco de quem precisa do crédito.

"Um projetista recebe R$ 500 para fazer uma análise no Rio Grande do Sul, mas consegue fazer mais de uma em um dia. No Norte, ele recebe o mesmo valor por análise, mas precisa viajar para fazê-la", diz Moretti.

A Conexsus - que faz parte da rede da Concertação pela Amazônia - também mapeou que, de 4 mil famílias de produtores agrícolas, 40% não têm Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), documento essencial para ter acesso a crédito. Além disso, os bancos têm exigido que o CAF seja validado - requisito que não consta nas recomendações do Manual de Crédito Rural. Hoje, menos de 20% dos CAFs são validados.

Moretti destaca que, com crédito, produtores de açaí conseguem adotar técnicas de manejo recomendadas pela Embrapa. Essas técnicas podem quintuplicar a produtividade.

"A sociobioeconomia na Amazônia tem uma potencial gigantesco, mas precisa ser encarada como política de Estado, como foi com o Proálcool (programa dos anos 1970 que incentivou o álcool como combustível para carros)."

Entre as recomendações do relatório de Uma Concertação pela Amazônia e do Instituto Clima e Sociedade, também está a recuperação de pastagens degradadas para melhorar a produtividade da pecuária. Degradado, o pasto tem baixo nível de nutrientes e, portanto, de produtividade. Em pouco tempo, acaba sendo abandonado, e o produtor desmata novas áreas para colocar seu gado. Atualmente, 60% das áreas destinadas à pecuária na Amazônia apresentam algum grau de degradação.

Análise nutricional do solo, adubação do pasto e rotação do gado em piquetes são medidas que recuperam o pasto e permitem que os animais engordem mais rápido, aumentando a produtividade e reduzindo as emissões de gases poluentes. Essas ações, porém, custam caro, e o acesso a linhas de financiamento também ajudariam que produtores as adotassem.

"O pequeno e o médio produtor precisam de crédito para ter recurso para fazer a cerca dos piquetes. Cerca é caro", exemplifica Rosana Maneschy, uma das autoras do relatório e professora da UFPA com experiência nas áreas de agronomia e meio ambiente.

Maneschy acrescenta que também é preciso aumentar a assistência técnica aos pequenos e médios produtores para que eles consigam implementar as medidas de recuperação de pastagem.

https://www.estadao.com.br/economia/credito-agricola-90-das-cooperativas-sem-acesso-a-financiamento/
 

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