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Conheça promessa do tênis nacional que é descendente de quilombola e ganhou bolsa para jogar nos EUA
08/09/2025
Fonte: OESP - https://www.estadao.com.br/
Conheça promessa do tênis nacional que é descendente de quilombola e ganhou bolsa para jogar nos EUA
Após superar adversidades na infância, gaúcho Rafael Padilha, de 19 anos, deixa o País e vai disputar o circuito universitário americano
08/09/2025
Felipe Rosa Mendes
Conhecido por ter uma imagem elitizada, o tênis costuma apresentar diversas barreiras para atletas de famílias de baixa renda. São raros aqueles que superaram os obstáculos econômicos e sociais para chegar ao topo. Agora o Brasil tem um novo candidato a percorrer este caminho. Trata-se do gaúcho Rafael Padilha, de 19 anos. A promessa do tênis nacional conta com uma origem incomum na modalidade: é descendente de quilombola.
Rafa, como é chamado pelos amigos e incentivadores, acaba de desembarcar nos Estados Unidos. Ele conquistou uma bolsa integral para jogar tênis pela Hampton University, na Virginia. O brasileiro será, portanto, um atleta do circuito universitário americano, conhecida porta de entrada para o tênis profissional. De lá saíram tenistas como o americano Ben Shelton, atual número seis do mundo, e a brasileira Luisa Stefani, medalhista olímpica nos Jogos de Tóquio, em 2021. João Fonseca quase aceitou convite para jogar lá, mas desistiu de última hora.
De elevado nível técnico, o circuito universitário americano costuma ter filtros exigentes tanto em termos de performance escolar quanto de resultados esportivos. Rafa superou os dois grandes obstáculos. Mas nenhum deles parece se equiparar às adversidades vividas desde a infância entre equilibrar estudos, treinos e a função de ser quase um pai para os seis irmãos mais novos (de 2 a 18 anos) enquanto sua mãe, Fabiane Teresinha do Canto, se dividia entre diversos empregos para custear sozinha a casa da família.
Antes de desembarcar nos EUA, Rafa morava numa apertada casa, de paredes de pintura irregular e reboco incompleto. Dividia a cama pequena com um dos irmãos. "Às vezes, eu acordava com um pé no meu rosto", conta o jovem gaúcho, mostrando leveza com as restrições que enfrentava. O atleta vivia um grande contraste entre as vielas estreitas da comunidade pobre encravada numa das regiões mais nobres de Porto Alegre, o bairro Boa Vista.
Antigo quilombo marcou a origem do tenista gaúcho
A chamada Vila Caddie ou Kédi também tem ligação com o esporte, tão elitizado quanto o tênis, como sugere o nome. Isso porque a comunidade é vizinha do Country Club. No golfe, o "caddie" é um funcionário que carrega a bolsa e os tacos dos jogadores. E, para facilitar a vida de ambos, o clube criou moradias para os "caddies" logo ao lado. Na mesma região, havia o Quilombo Família Silva. Descendentes quilombolas acabaram formando famílias com funcionários do Country Club e vivem no local até hoje.
Rafa e seus irmãos são filhos justamente de um destes descendentes de quilombola, que trabalhava no clube de golfe - Juliano Dutra Padilha morreu aos 23 anos, quando o o jovem gaúcho ainda era criança. Quilombolas são os habitantes de quilombos, comunidades formadas por pessoas escravizadas e seus descendentes. O tenista reconhece a conexão com o pai, mas ainda sem maior profundidade sobre a camada social e cultural. "Ainda não sei muito sobre o assunto", afirma, em entrevista ao Estadão.
"O pai do Rafael era Silva, a avó dele também. São todos descendentes do Quilombo Silva. Então, ele é descendente de quilombola também", explica Rosane Dietze, coordenadora do projeto social que revelou o jovem gaúcho. Ela conta que Rafa estudou numa escola de Ensino Fundamental dentro da comunidade onde 90% das crianças são descendentes de quilombolas. Muitas frequentaram o mesmo projeto social.
Rafael foi revelado em projeto social de alcance nacional
A promessa do tênis nacional conheceu o esporte somente aos nove anos. Com seu jeito tímido, participava das aulas do "projeto massificação" da Rede Tênis, entidade de alcance nacional que já revelou a jovem Victoria Barros, convidada na chave principal do SP Open.
"No começo, eu achei que não ia dar certo. Achava que ele só perdia tempo lá batendo bola", admite a mãe do tenista.
Mas Rafa passou a se destacar e logo conquistou a primeira de muitas bolsas que iria obter em sua trajetória. E passou a treinar no Instituto Dietze Tênis, coordenado por Rosane e seu marido, Marcelo Dietze. A diretora, então, passou a acumular funções diferentes na vida do jovem gaúcho. "Virei mãe, psicóloga, nutricionista, amiga...", brinca a mentora de Rafa.
Aos poucos, o tênis passou a moldar a personalidade do garoto. "Eu era muito tímido, mal conseguia cumprimentar todo mundo. Ficava bravo quando perdia, era muito competitivo", conta o atleta, fã declarado de Rafael Nadal. "O tênis me trouxe muitos amigos, educação, sabedoria. Antes de viajar, eu vinha ajudando mais as pessoas no projeto, dando o exemplo porque fui ajudado. Quero devolver aquilo que ganhei."
Rafa se dedicava aos treinos treinos dentro e fora de quadra sem deixar de lado as responsabilidades em sua casa. Ele trocava a fralda dos irmãos mais novos, lavava louça, dava atenção aos menores e também os levava para o mesmo projeto social. É possível, inclusive, que a família siga se destacando com as raquetes no futuro. "Eu não sei o que acontece, mas todos têm uma genética incrível para o tênis. Eles aprendem fácil, dominam fácil a raquete, jogam fácil. É uma coisa que eu não sei explicar", diz Rosane.
Em quadra, a evolução no tênis abria portas para o jovem atleta. Em 2023, foi convidado pelo RTB para conhecer o famoso Masters 1000 de Miami, nos EUA, onde bateu bola com brasileiros, como Thiago Monteiro, e tietou o espanhol Carlos Alcaraz. Um ano depois, o principal patrocinador do evento lhe ofereceu a chance de dar o "saque inicial" do torneio.
Após as viagens, Rafa passou a cultivar a ideia de estudar e treinar no país. Para tanto, obteve mais uma bolsa, desta vez para aulas de inglês. No ano passado, contou com ajuda de amigos e da Rede Tênis para passar seis meses na Califórnia, um bom teste para decidir que queria mesmo tentar o circuito universitário americano, visando se tornar tenista profissional.
Como virou rotina, uma bolsa integral permitiu a grande oportunidade. "Ele abriu as portas para ele mesmo. Sempre foi muito determinado e dedicado. É uma questão de meritocracia", diz Rosane. "Não foi a gente que escolheu. Não caiu do céu, né? Foi ele que se escolheu." Para se manter em solo americano, ele conta com doações de amigos e conhecidos.
Rafa arrisca o forehand na direita e na esquerda
Em processo final de formação como tenista, Rafa costuma surpreender os adversários desde a infância. "Eu jogava de backhand com as duas mãos nos dois lados. Ninguém sabia se eu era destro ou canhoto. Na verdade, nem eu sabia", brinca. Hoje ele se reconhece como destro.
Mas isso não impede novas jogadas inusitadas. Pontualmente, ele troca a raquete de mãos em momentos da partida para acertar um forehand de esquerda, embora sua mão dominante seja a direita. O movimento inexiste no circuito profissional atualmente.
"Às vezes, eu troco de mão em algumas bolas. O pessoal fica impressionado. Mas faço isso só às vezes mesmo, em bolas mais difíceis de chegar. Consigo bater o forehand com apenas uma mão dos dois lados. Costuma funcionar", diz o tenista.
Segundo Rafa, o técnico, Marcelo Dietze, não costuma repreendê-lo pelas jogadas arriscadas. "Ele diz que, se a bola passar para o outro lado, está ótimo!", afirma, entre risadas.
https://www.estadao.com.br/esportes/tenis/conheca-promessa-do-tenis-nacional-que-e-descendente-de-quilombola-e-ganhou-bolsa-para-jogar-nos-eua/
Após superar adversidades na infância, gaúcho Rafael Padilha, de 19 anos, deixa o País e vai disputar o circuito universitário americano
08/09/2025
Felipe Rosa Mendes
Conhecido por ter uma imagem elitizada, o tênis costuma apresentar diversas barreiras para atletas de famílias de baixa renda. São raros aqueles que superaram os obstáculos econômicos e sociais para chegar ao topo. Agora o Brasil tem um novo candidato a percorrer este caminho. Trata-se do gaúcho Rafael Padilha, de 19 anos. A promessa do tênis nacional conta com uma origem incomum na modalidade: é descendente de quilombola.
Rafa, como é chamado pelos amigos e incentivadores, acaba de desembarcar nos Estados Unidos. Ele conquistou uma bolsa integral para jogar tênis pela Hampton University, na Virginia. O brasileiro será, portanto, um atleta do circuito universitário americano, conhecida porta de entrada para o tênis profissional. De lá saíram tenistas como o americano Ben Shelton, atual número seis do mundo, e a brasileira Luisa Stefani, medalhista olímpica nos Jogos de Tóquio, em 2021. João Fonseca quase aceitou convite para jogar lá, mas desistiu de última hora.
De elevado nível técnico, o circuito universitário americano costuma ter filtros exigentes tanto em termos de performance escolar quanto de resultados esportivos. Rafa superou os dois grandes obstáculos. Mas nenhum deles parece se equiparar às adversidades vividas desde a infância entre equilibrar estudos, treinos e a função de ser quase um pai para os seis irmãos mais novos (de 2 a 18 anos) enquanto sua mãe, Fabiane Teresinha do Canto, se dividia entre diversos empregos para custear sozinha a casa da família.
Antes de desembarcar nos EUA, Rafa morava numa apertada casa, de paredes de pintura irregular e reboco incompleto. Dividia a cama pequena com um dos irmãos. "Às vezes, eu acordava com um pé no meu rosto", conta o jovem gaúcho, mostrando leveza com as restrições que enfrentava. O atleta vivia um grande contraste entre as vielas estreitas da comunidade pobre encravada numa das regiões mais nobres de Porto Alegre, o bairro Boa Vista.
Antigo quilombo marcou a origem do tenista gaúcho
A chamada Vila Caddie ou Kédi também tem ligação com o esporte, tão elitizado quanto o tênis, como sugere o nome. Isso porque a comunidade é vizinha do Country Club. No golfe, o "caddie" é um funcionário que carrega a bolsa e os tacos dos jogadores. E, para facilitar a vida de ambos, o clube criou moradias para os "caddies" logo ao lado. Na mesma região, havia o Quilombo Família Silva. Descendentes quilombolas acabaram formando famílias com funcionários do Country Club e vivem no local até hoje.
Rafa e seus irmãos são filhos justamente de um destes descendentes de quilombola, que trabalhava no clube de golfe - Juliano Dutra Padilha morreu aos 23 anos, quando o o jovem gaúcho ainda era criança. Quilombolas são os habitantes de quilombos, comunidades formadas por pessoas escravizadas e seus descendentes. O tenista reconhece a conexão com o pai, mas ainda sem maior profundidade sobre a camada social e cultural. "Ainda não sei muito sobre o assunto", afirma, em entrevista ao Estadão.
"O pai do Rafael era Silva, a avó dele também. São todos descendentes do Quilombo Silva. Então, ele é descendente de quilombola também", explica Rosane Dietze, coordenadora do projeto social que revelou o jovem gaúcho. Ela conta que Rafa estudou numa escola de Ensino Fundamental dentro da comunidade onde 90% das crianças são descendentes de quilombolas. Muitas frequentaram o mesmo projeto social.
Rafael foi revelado em projeto social de alcance nacional
A promessa do tênis nacional conheceu o esporte somente aos nove anos. Com seu jeito tímido, participava das aulas do "projeto massificação" da Rede Tênis, entidade de alcance nacional que já revelou a jovem Victoria Barros, convidada na chave principal do SP Open.
"No começo, eu achei que não ia dar certo. Achava que ele só perdia tempo lá batendo bola", admite a mãe do tenista.
Mas Rafa passou a se destacar e logo conquistou a primeira de muitas bolsas que iria obter em sua trajetória. E passou a treinar no Instituto Dietze Tênis, coordenado por Rosane e seu marido, Marcelo Dietze. A diretora, então, passou a acumular funções diferentes na vida do jovem gaúcho. "Virei mãe, psicóloga, nutricionista, amiga...", brinca a mentora de Rafa.
Aos poucos, o tênis passou a moldar a personalidade do garoto. "Eu era muito tímido, mal conseguia cumprimentar todo mundo. Ficava bravo quando perdia, era muito competitivo", conta o atleta, fã declarado de Rafael Nadal. "O tênis me trouxe muitos amigos, educação, sabedoria. Antes de viajar, eu vinha ajudando mais as pessoas no projeto, dando o exemplo porque fui ajudado. Quero devolver aquilo que ganhei."
Rafa se dedicava aos treinos treinos dentro e fora de quadra sem deixar de lado as responsabilidades em sua casa. Ele trocava a fralda dos irmãos mais novos, lavava louça, dava atenção aos menores e também os levava para o mesmo projeto social. É possível, inclusive, que a família siga se destacando com as raquetes no futuro. "Eu não sei o que acontece, mas todos têm uma genética incrível para o tênis. Eles aprendem fácil, dominam fácil a raquete, jogam fácil. É uma coisa que eu não sei explicar", diz Rosane.
Em quadra, a evolução no tênis abria portas para o jovem atleta. Em 2023, foi convidado pelo RTB para conhecer o famoso Masters 1000 de Miami, nos EUA, onde bateu bola com brasileiros, como Thiago Monteiro, e tietou o espanhol Carlos Alcaraz. Um ano depois, o principal patrocinador do evento lhe ofereceu a chance de dar o "saque inicial" do torneio.
Após as viagens, Rafa passou a cultivar a ideia de estudar e treinar no país. Para tanto, obteve mais uma bolsa, desta vez para aulas de inglês. No ano passado, contou com ajuda de amigos e da Rede Tênis para passar seis meses na Califórnia, um bom teste para decidir que queria mesmo tentar o circuito universitário americano, visando se tornar tenista profissional.
Como virou rotina, uma bolsa integral permitiu a grande oportunidade. "Ele abriu as portas para ele mesmo. Sempre foi muito determinado e dedicado. É uma questão de meritocracia", diz Rosane. "Não foi a gente que escolheu. Não caiu do céu, né? Foi ele que se escolheu." Para se manter em solo americano, ele conta com doações de amigos e conhecidos.
Rafa arrisca o forehand na direita e na esquerda
Em processo final de formação como tenista, Rafa costuma surpreender os adversários desde a infância. "Eu jogava de backhand com as duas mãos nos dois lados. Ninguém sabia se eu era destro ou canhoto. Na verdade, nem eu sabia", brinca. Hoje ele se reconhece como destro.
Mas isso não impede novas jogadas inusitadas. Pontualmente, ele troca a raquete de mãos em momentos da partida para acertar um forehand de esquerda, embora sua mão dominante seja a direita. O movimento inexiste no circuito profissional atualmente.
"Às vezes, eu troco de mão em algumas bolas. O pessoal fica impressionado. Mas faço isso só às vezes mesmo, em bolas mais difíceis de chegar. Consigo bater o forehand com apenas uma mão dos dois lados. Costuma funcionar", diz o tenista.
Segundo Rafa, o técnico, Marcelo Dietze, não costuma repreendê-lo pelas jogadas arriscadas. "Ele diz que, se a bola passar para o outro lado, está ótimo!", afirma, entre risadas.
https://www.estadao.com.br/esportes/tenis/conheca-promessa-do-tenis-nacional-que-e-descendente-de-quilombola-e-ganhou-bolsa-para-jogar-nos-eua/
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