De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.
Notícias
Indígenas Guarani e Kaiowá bloqueiam estrada para impedir pulverização de agrotóxico na TI Guyraroká
16/10/2025
Fonte: Cimi - https://cimi.org.br
Indígenas Kaiowá e Guarani bloquearam, na manhã desta quinta-feira (16), uma estrada vicinal que atravessa a Fazenda Ipuitã, em Caarapó (MS). O local é adjacente à retomada indígena estabelecida na área, que se sobrepõe à Terra Indígena Guyraroká.
A medida foi adotada após denúncias dos Kaiowá e Guarani, nos últimos dias, darem conta de que arrendatários da fazenda prosseguiram com os preparativos para um novo plantio. Agora pela manhã, conforme os indígenas, ao menos sete máquinas se preparam para ir a campo escoltadas pela polícia estadual - uma espécie de segurança privada de propriedades sobrepostas às terras indígenas.
O plantio escancara aos Guarani e Kaiowá a inexistência ou fracasso de um acordo, prometido pelas autoridades públicas, sobretudo por representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), para conter a pulverização de agrotóxicos nas proximidades da comunidade, principal motivação da retomada.
"Estamos aqui no bloqueio. Cansamos de esperar. Estamos comunicando as autoridades há dias e agora com os maquinários chegando decidimos não esperar mais. Vamos enfrentar as máquinas, a polícia. A vida do nosso povo está em jogo, não vamos mais tomar chuva de veneno sem fazer nada e esperando por MPF, governo, Funai", diz Kaiowá e Guarani da retomada que não identificamos por motivos de segurança.
Antídoto para o veneno: autodemarcação
Desde o último 21 de setembro, os Kaiowá e Guarani enfrentam despejo sem ordem judicial, executado pela polícia estadual, ataques de jagunços e lidam com uma base militar estabelecida na sede da fazenda, com a subida diária de drones que sobrevoam a retomada e a aldeia da TI Guyraroká, ocupante de uma área de 50 hectares contíguos à fazenda.
O MPI enviou representantes ao local após os primeiros episódios de violência contra a retomada, que contou com jagunços enterrando mantimentos, panelas e até cães vivos. Os representantes do governo, inicialmente, ficaram de intermediar um acordo para impedir a pulverização do agrotóxico.
Este acordo deveria ser concretizado em até 48 horas, conforme prazo estipulado pelos indígenas. Do contrário, eles voltariam a áreas da retomada de onde foram despejados ilegalmente pela polícia ainda no dia 21 de setembro. O MPI propôs então que os Kaiowá e Guarani saíssem da retomada para a criação de uma área de amortecimento ao agrotóxico.
"Sabemos que essa área de amortecimento não funciona. Já foi tentada. Toda essa negociação fracassada só mostra pra gente o que a gente já sabia: sem demarcação não tem como evitar o veneno nas nossas casas, escola. Como o Estado não garante o nosso direito, estamos aqui para autodemarcação", diz Kaiowá e Guarani
Agrotóxicos: ataques químicos
Tramitam ações judiciais impetradas pelo Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) solicitando apuração e providências sobre os responsáveis por pulverizações aéreas (aviões) e terrestres (tratores) de agrotóxicos sobre as aldeias. Casas e até a escola indígena são alvos constantes do que autoridades de direitos humanos entendem como "ataques químicos".
Operações policiais confirmam a situação. Em uma delas, realizada no dia 1o de julho deste ano pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Força Nacional, com apoio das Polícias Judiciária e Técnico-Científica, resultou na apreensão de 202 kg de agrotóxicos contrabandeados do Paraguai.
Os produtos estavam escondidos em depósitos clandestinos no interior de uma fazenda localizada em área declarada como Terra Indígena Guyraroká. Por sua vez, os Guarani e Kaiowá acumulam registros de vídeo mostrando a pulverização sobre a aldeia.
Há registros de despejos de agrotóxicos sobre a aldeia da TI Guyraroká desde ao menos 2018. As denúncias chegaram a todas instâncias nacionais e internacionais sem a adoção de medidas para conter o despejo
"Chamam a gente aqui de (capim-)amargoso, resistente ao veneno, que só se arranca com a enxada. Começou ontem o despejo (terça-feira, 29), às 15 horas, e continuou hoje (quarta-feira, 30), às 10 horas. O cheiro é insuportável, um horror. Infelizmente isso se normalizou só que diferente do amargoso, somos seres humanos", disse Erileide Guarani Kaiowá em 30 de outubro de 2024.
Em 2022, nas Nações Unidas, em Genebra, na Suíça, Erileide denunciou o que a Aty Guasu, a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá, considera como ataque químico. A indígena participou da Revisão Periódica Universal (RPU), um mecanismo único e central do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU). Seu objetivo é melhorar a situação dos direitos humanos em cada um dos 193 países membros da ONU.
Em maio de 2019, quatro crianças e dois adolescentes precisaram de atendimento médico após intoxicação provocada pelo contato com calcário e agrotóxicos utilizados em área da Fazenda Remanso, localizada a 50 metros da escola indígena. As crianças tinham um e dois anos; os adolescentes, 17 e 18 anos. Na ocasião, a comunidade também gravou imagens.
Cães enterrados vivos
Os Kaiowá e Guarani denunciam atrocidades cometidas contra a retomada. Entre os ataques, jagunços enterraram dois cães vivos. Além disso, durante os ataques policiais, os indígenas recolheram cápsulas de bombas de gás vencidas utilizadas pela polícia - artefatos que, em certas circunstâncias, podem causar queimaduras graves na pele, nos olhos e nas mucosas.
De acordo com relatos apurados por uma Comissão de Direitos Humanos que esteve no local no último dia 25 de setembro, a violência contra os indígenas é exercida de forma coordenada entre jagunços, policiais militares da Tropa de Choque, civis do Setor de Investigações Gerais (SIG) e o Departamento de Operações de Fronteira (DOF).
As ações se alternam: ora atacam a área de Guyraroká, ora a de Porto Cambira (Passo Piraju), na TI Dourados-Amambaipeguá III, também em Caarapó
"Estão tentando fazer despejos ilegais, sem mandado judicial. São polícias estaduais e a questão indígena é de instância federal. Será que o Brasil realmente as leis realmente não valem nada?", declarou indígena Guarani e Kaiowá.
Comunicado à CIDH
A comunidade de Guyraroká e organizações aliadas enviaram apelo urgente à secretária Executiva da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) ainda na semana da retomada. Os indígenas pedem que a Comissão acelere os processos judiciais que envolvam a demarcação da TI Guyraroká: única medida capaz de solucionar definitivamente o conflito e garantir a sobrevivência física e cultural da comunidade.
"Em continuidade à nossa comunicação de 21 de agosto de 2025, os peticionários vêm, com urgência, informar a esta Ilustre Comissão sobre a grave escalada de violência, repressão e criminalização contra a comunidade Guarani e Kaiowá da Terra Indígena Guyraroká, de Caarapó, Mato Grosso do Sul", diz trecho do documento.
O apelo é uma atualização sobre a situação de violência e violações de direitos na Terra Indígena Guyraroká presentes na Medida Cautelar (MC 458-19), concedida pela CIDH em 29 de setembro de 2019. A medida tem como objeto a TI Guyraroká e visa garantir os direitos à vida e à integridade pessoal dos indígenas.
"A situação de insegurança alimentar, já grave, tende a se agravar com a perda das plantações e a impossibilidade de cultivar em um ambiente envenenado"
Conforme a atualização, "nos últimos dias, a comunidade foi forçada a tomar uma atitude drástica para proteger sua própria sobrevivência, resultando em uma nova onda de repressão estatal e na disseminação de informações falsas com o objetivo de deslegitimar sua luta". O documento discorre sobre os fatos desdobrados desde domingo ressaltando os objetivos da retomada.
"Os eventos recentes demonstram, de forma inequívoca, a total falha do Estado brasileiro em cumprir suas obrigações de proteger a vida, a integridade e o território da comunidade de Guyraroká. A ausência da Funai durante o ataque, a ação violenta da polícia e a falta de fiscalização sobre o uso de agrotóxicos evidenciam que o Estado não apenas é omisso, mas atua ativamente para perpetuar as violações de direitos", aponta outro trecho.
A atualização informa que a comunidade segue confinada a uma área diminuta de seu território, cercada pelo agronegócio e sofrendo com a contaminação de suas terras e águas. "A situação de insegurança alimentar, já grave, tende a se agravar com a perda das plantações e a impossibilidade de cultivar em um ambiente envenenado", conclui.
https://cimi.org.br/2025/10/indigenas-guarani-e-kaiowa-bloqueiam-estrada-para-impedir-pulverizacao-de-agrotoxico-na-ti-guyraroka/
A medida foi adotada após denúncias dos Kaiowá e Guarani, nos últimos dias, darem conta de que arrendatários da fazenda prosseguiram com os preparativos para um novo plantio. Agora pela manhã, conforme os indígenas, ao menos sete máquinas se preparam para ir a campo escoltadas pela polícia estadual - uma espécie de segurança privada de propriedades sobrepostas às terras indígenas.
O plantio escancara aos Guarani e Kaiowá a inexistência ou fracasso de um acordo, prometido pelas autoridades públicas, sobretudo por representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), para conter a pulverização de agrotóxicos nas proximidades da comunidade, principal motivação da retomada.
"Estamos aqui no bloqueio. Cansamos de esperar. Estamos comunicando as autoridades há dias e agora com os maquinários chegando decidimos não esperar mais. Vamos enfrentar as máquinas, a polícia. A vida do nosso povo está em jogo, não vamos mais tomar chuva de veneno sem fazer nada e esperando por MPF, governo, Funai", diz Kaiowá e Guarani da retomada que não identificamos por motivos de segurança.
Antídoto para o veneno: autodemarcação
Desde o último 21 de setembro, os Kaiowá e Guarani enfrentam despejo sem ordem judicial, executado pela polícia estadual, ataques de jagunços e lidam com uma base militar estabelecida na sede da fazenda, com a subida diária de drones que sobrevoam a retomada e a aldeia da TI Guyraroká, ocupante de uma área de 50 hectares contíguos à fazenda.
O MPI enviou representantes ao local após os primeiros episódios de violência contra a retomada, que contou com jagunços enterrando mantimentos, panelas e até cães vivos. Os representantes do governo, inicialmente, ficaram de intermediar um acordo para impedir a pulverização do agrotóxico.
Este acordo deveria ser concretizado em até 48 horas, conforme prazo estipulado pelos indígenas. Do contrário, eles voltariam a áreas da retomada de onde foram despejados ilegalmente pela polícia ainda no dia 21 de setembro. O MPI propôs então que os Kaiowá e Guarani saíssem da retomada para a criação de uma área de amortecimento ao agrotóxico.
"Sabemos que essa área de amortecimento não funciona. Já foi tentada. Toda essa negociação fracassada só mostra pra gente o que a gente já sabia: sem demarcação não tem como evitar o veneno nas nossas casas, escola. Como o Estado não garante o nosso direito, estamos aqui para autodemarcação", diz Kaiowá e Guarani
Agrotóxicos: ataques químicos
Tramitam ações judiciais impetradas pelo Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) solicitando apuração e providências sobre os responsáveis por pulverizações aéreas (aviões) e terrestres (tratores) de agrotóxicos sobre as aldeias. Casas e até a escola indígena são alvos constantes do que autoridades de direitos humanos entendem como "ataques químicos".
Operações policiais confirmam a situação. Em uma delas, realizada no dia 1o de julho deste ano pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Força Nacional, com apoio das Polícias Judiciária e Técnico-Científica, resultou na apreensão de 202 kg de agrotóxicos contrabandeados do Paraguai.
Os produtos estavam escondidos em depósitos clandestinos no interior de uma fazenda localizada em área declarada como Terra Indígena Guyraroká. Por sua vez, os Guarani e Kaiowá acumulam registros de vídeo mostrando a pulverização sobre a aldeia.
Há registros de despejos de agrotóxicos sobre a aldeia da TI Guyraroká desde ao menos 2018. As denúncias chegaram a todas instâncias nacionais e internacionais sem a adoção de medidas para conter o despejo
"Chamam a gente aqui de (capim-)amargoso, resistente ao veneno, que só se arranca com a enxada. Começou ontem o despejo (terça-feira, 29), às 15 horas, e continuou hoje (quarta-feira, 30), às 10 horas. O cheiro é insuportável, um horror. Infelizmente isso se normalizou só que diferente do amargoso, somos seres humanos", disse Erileide Guarani Kaiowá em 30 de outubro de 2024.
Em 2022, nas Nações Unidas, em Genebra, na Suíça, Erileide denunciou o que a Aty Guasu, a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá, considera como ataque químico. A indígena participou da Revisão Periódica Universal (RPU), um mecanismo único e central do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU). Seu objetivo é melhorar a situação dos direitos humanos em cada um dos 193 países membros da ONU.
Em maio de 2019, quatro crianças e dois adolescentes precisaram de atendimento médico após intoxicação provocada pelo contato com calcário e agrotóxicos utilizados em área da Fazenda Remanso, localizada a 50 metros da escola indígena. As crianças tinham um e dois anos; os adolescentes, 17 e 18 anos. Na ocasião, a comunidade também gravou imagens.
Cães enterrados vivos
Os Kaiowá e Guarani denunciam atrocidades cometidas contra a retomada. Entre os ataques, jagunços enterraram dois cães vivos. Além disso, durante os ataques policiais, os indígenas recolheram cápsulas de bombas de gás vencidas utilizadas pela polícia - artefatos que, em certas circunstâncias, podem causar queimaduras graves na pele, nos olhos e nas mucosas.
De acordo com relatos apurados por uma Comissão de Direitos Humanos que esteve no local no último dia 25 de setembro, a violência contra os indígenas é exercida de forma coordenada entre jagunços, policiais militares da Tropa de Choque, civis do Setor de Investigações Gerais (SIG) e o Departamento de Operações de Fronteira (DOF).
As ações se alternam: ora atacam a área de Guyraroká, ora a de Porto Cambira (Passo Piraju), na TI Dourados-Amambaipeguá III, também em Caarapó
"Estão tentando fazer despejos ilegais, sem mandado judicial. São polícias estaduais e a questão indígena é de instância federal. Será que o Brasil realmente as leis realmente não valem nada?", declarou indígena Guarani e Kaiowá.
Comunicado à CIDH
A comunidade de Guyraroká e organizações aliadas enviaram apelo urgente à secretária Executiva da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) ainda na semana da retomada. Os indígenas pedem que a Comissão acelere os processos judiciais que envolvam a demarcação da TI Guyraroká: única medida capaz de solucionar definitivamente o conflito e garantir a sobrevivência física e cultural da comunidade.
"Em continuidade à nossa comunicação de 21 de agosto de 2025, os peticionários vêm, com urgência, informar a esta Ilustre Comissão sobre a grave escalada de violência, repressão e criminalização contra a comunidade Guarani e Kaiowá da Terra Indígena Guyraroká, de Caarapó, Mato Grosso do Sul", diz trecho do documento.
O apelo é uma atualização sobre a situação de violência e violações de direitos na Terra Indígena Guyraroká presentes na Medida Cautelar (MC 458-19), concedida pela CIDH em 29 de setembro de 2019. A medida tem como objeto a TI Guyraroká e visa garantir os direitos à vida e à integridade pessoal dos indígenas.
"A situação de insegurança alimentar, já grave, tende a se agravar com a perda das plantações e a impossibilidade de cultivar em um ambiente envenenado"
Conforme a atualização, "nos últimos dias, a comunidade foi forçada a tomar uma atitude drástica para proteger sua própria sobrevivência, resultando em uma nova onda de repressão estatal e na disseminação de informações falsas com o objetivo de deslegitimar sua luta". O documento discorre sobre os fatos desdobrados desde domingo ressaltando os objetivos da retomada.
"Os eventos recentes demonstram, de forma inequívoca, a total falha do Estado brasileiro em cumprir suas obrigações de proteger a vida, a integridade e o território da comunidade de Guyraroká. A ausência da Funai durante o ataque, a ação violenta da polícia e a falta de fiscalização sobre o uso de agrotóxicos evidenciam que o Estado não apenas é omisso, mas atua ativamente para perpetuar as violações de direitos", aponta outro trecho.
A atualização informa que a comunidade segue confinada a uma área diminuta de seu território, cercada pelo agronegócio e sofrendo com a contaminação de suas terras e águas. "A situação de insegurança alimentar, já grave, tende a se agravar com a perda das plantações e a impossibilidade de cultivar em um ambiente envenenado", conclui.
https://cimi.org.br/2025/10/indigenas-guarani-e-kaiowa-bloqueiam-estrada-para-impedir-pulverizacao-de-agrotoxico-na-ti-guyraroka/
As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.