De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

AM: 4 comunidades indígenas sofrem reintegração de posse violenta em 3 dias pelo velho Estado

20/10/2025

Fonte: A Nova Democracia - https://anovademocracia.com.br



Nos dias 14, 15 e 16 deste mês, 4 ocupações sofreram reintegração de posse violenta por parte do velho Estado do Amazonas, sob ordem de seu gerente de turno Wilson Lima (União Brasil). As comunidades indígenas localizadas no Tarumã, Mauazinho, Distrito Novo Horizonte e BR-174, somavam pelo menos 5.200 famílias atacadas pela Polícia Militar. Dessas, 1 liderança do povo Mura foi baleada e está abrigada.

O correspondente Local da AND entrevistou Júlio Ferraz, liderança do Movimento de Luta dos Trabalhadores Independentes (MLTI) e o cacique Renato Marcos, da ocupação no Mauazinho. Segundo Júlio, o Estado enviou para as ocupações quase 20 aparatos da Companhia de Operações Especiais da Polícia Militar (COE), incluindo 2 caminhões da Cavalaria, 8 viaturas da Tropa de Choque, 7 viaturas da ROCAM (Rondas Ostensivas Cândido Mariano), além de cães "para atacar as pessoas".

Na terça-feira (14), as comunidades do Tarumã e Mauazinho, que abrigavam 1.000 e 1.200 famílias respectivamente, sofreram reintegração de posse violenta ao mesmo tempo, iniciando às 6h da manhã.

Segundo o cacique Renato, alguns moradores da comunidade se envolveram com grupos paramilitares do governo de extrema direita de Wilson Lima para entregar o povo. A desculpa do velho Estado para o despejo violento é que seriam construídas casas para o programa Minha Casa Minha Vida, mas não houve tentativa do governo de inscrever no programa os próprios moradores que já habitavam o local há anos.

No vídeo, é possível observar tratores destruindo as casas e estruturas dos moradores, que perderam também eletrodomésticos e móveis.

A ocupação do Mauazinho, iniciada há 2 anos, não esperava a traição de advogados que, segundo o cacique Renato, estão recebendo R$20 mil para colaborar com os ataques e entregar as lideranças. "A gente sabe que essas pessoas estão dentro do movimento para se beneficiar e se dar bem.", afirma o cacique.

Além de Renato, outra liderança atacada foi a cacique Hidra Mura, que levou um tiro na perna e está abrigada na casa de aliados.

Eles denunciam que, devido negligência por parte da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e qualquer outra instituição de assistência social, as famílias tiveram que improvisar abrigos por conta própria.

"Sobre a Funai, indígenas foram abandonados à sua própria sorte. Por que não foram dar suporte e apoio para as comunidades? Eles [Funai] trabalham pros grandes grileiros, não para a população indígena pobre. As crianças nunca vão esquecer o que fizeram, elas foram despejadas como bandidas, um abalo emocional para a vida toda e não vi ninguém da psicologia ou da saúde... uma omissão dos direitos humanos", esclarece Júlio.

As operações seguiram agindo com a mesma brutalidade realizando o despejo em outras ocupações. Já no início da manhã da quarta-feira (15), a comunidade localizada no Distrito Novo Horizonte também foi alvo de ataques que se sucederam até o dia 16 no assentamento da BR-174. Ao todo, ambas eram habitadas por cerca de 3.400 famílias.

A violência do velho Estado não intimida as lideranças. "O movimento tem que se organizar porque o movimento só ganha as coisas na rua, sem medo", diz Renato.

Silêncio do Estado legitima histórico de violência contra lideranças
Um ofício pedindo solução às casas não entregues pelo governo e ameaças de morte às lideranças Julio e Ione Ferraz foi entregue pelo MLTI diretamente a Luiz Inácio na inauguração do órgão imperialista Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI Amazônia). A resposta veio pelo secretário Paulo Cangussu André, dizendo que medidas foram enviadas aos órgãos responsáveis no dia 08 de outubro. Entretanto, nada foi feito antes, nem depois dos ataques recentes.

"Eu não acredito que o Estado possa oferecer algum suporte. O cacique [Renato] está se escondendo. Ele é morador do Mauazinho e está com medo porque lá tem o COE. Quando eles mandam o COE, é para matar as lideranças. Os matadores estão ali [no COE].", afirmou Júlio.

"Quando eles pegam lideranças, não encaminham para a delegacia, eles eliminam e somem [com o corpo]. Foi o que fizeram com o Pastor Iraldo Sobrinho e o motorista de ônibus Max Christian no despejo da ocupação Bom Pastor, em 2015.", complementa.

No caso citado, ambos foram capturados pelo COE durante o despejo. Max nunca foi encontrado e uma camisa ensanguentada do Pastor Iraldo, liderança indígena da comunidade, foi amarrada em uma árvore como recado para sua esposa.

LCP convoca as massas para autodefesa
Em 2024, a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), movimento combativo que defende diversos acampamentos por todo o Brasil, divulgou uma nota sobre os 29 anos da Resistência Armada de Corumbiara convocando camponeses, indígenas e remanescentes quilombolas para a autodefesa armada de suas terras.

Na nota, a LCP afirma: "Não há caminho fácil para a conquista da terra, assim tem sido há séculos no Brasil. Mas com uma direção conscientemente forjada, politização, organização e combatividade das massas e aplicando a linha da Revolução Agrária se pode enfrentar e vencer o latifúndio e seus serviçais e conquistar a terra.".

"Nossa luta é justa, nossa causa sagrada! Nós conclamamos e exortamos os camponeses a armarem as organizações de autodefesa da luta pela terra na mesma proporção e calibre! Conclamamos as lideranças camponesas que não dobraram os joelhos, as lideranças de posseiros, os povos indígenas, as organizações quilombolas, as populações atingidas por barragens, por mineração e por cultivos de eucalipto, as massas proletárias e demais trabalhadores da cidade, que cada vez mais lutam em defesa de seus direitos pisoteados, a cerrar fileiras com nosso bravo campesinato, com o caminho da Revolução Agrária.", conclui a nota com uma citação da Comissão Nacional das LCPs.

https://anovademocracia.com.br/am-4-comunidades-indigenas-sofrem-reintegracao-de-posse-violenta-em-3-dias-pelo-velho-estado/
 

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