De Povos Indígenas no Brasil
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Preconceitos, estereótipos e interesses políticos afrontam indígenas
24/10/2025
Autor: SURUÍ, Txai
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Preconceitos, estereótipos e interesses políticos afrontam indígenas
Imaginário do 'herói seguro' impede ameaça ao projeto de nação branca e escravocrata
Em São Paulo, terra indígena realiza neste fim de semana o Festival Jaraguá É Guarani
24/10/2025
Txai Suruí
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé
Longe de uma representação fiel da realidade, o imaginário sobre o indígena na arte sempre foi uma construção carregada de preconceitos, estereótipos e interesses políticos e baseada em uma visão eurocêntrica do mundo.
É a idealização do bom selvagem, exótico, do símbolo nacional romantizado, como no movimento indianista, que transformou o indígena em um cavaleiro medieval europeu de pele morena. Ele era nobre, corajoso, puro e, frequentemente, em via de extinção -o que o tornava um herói "seguro", que não ameaçava o projeto de nação branca e escravocrata.
Com a arte moderna, os povos indígenas passam de fonte de inspiração estética a sujeitos políticos, autores de suas próprias histórias. Hoje, a arte é um campo de batalha onde o velho imaginário está sendo ativamente desmontado, não pelo outro, mas por vozes indígenas, que estão reescrevendo suas próprias histórias e, nesse processo, transformando a própria paisagem da arte. A criação do imaginário deu lugar à sua desconstrução crítica e à construção autoral e singular de cada artista.
Pela primeira vez em grande escala, artistas indígenas assumem o controle de sua própria narrativa e imagem, usando a arte contemporânea como ferramenta de luta política, afirmação identitária e ressignificação cultural. É sem sombra de dúvida um caminho político. Uma forma de trazer o que já é conhecido na vida dos povos indígenas -o conflito, a violência e as lutas por direitos- e, sobretudo, exaltar nossas tecnologias, belezas e saberes, que por vezes acabam ficando de lado devido à urgência da luta.
Neste caminho das artes, da resistência e da reconstrução, acontece neste fim de semana, no Parque do Jaraguá, o Festival Jaraguá É Guarani, para celebrar e marcar um momento histórico: a demarcação da Terra Indigena Jaraguá.
Antes de vir a ser conhecido como "Pico do Jaraguá", o local já era para os mbya guaranis um lugar sagrado e mágico, onde os deuses se manifestavam e de onde os espíritos mais puros partiam em busca da Terra sem Males.
A chegada dos bandeirantes, que séculos depois batizariam estradas e ergueriam torres, expulsou os guaranis de seu próprio território para dar lugar à maior metrópole do Brasil. No entanto, mesmo proibidos de circular, esse povo nunca abandonou o seu sagrado lugar.
Em 2017, em meio à luta pela demarcação do território Jaraguá e ao preconceito, a moradora Sônia Ara Mirim trouxe à tona um sonho: criar um festival com protagonismo guarani. A ideia era simples, mas poderosa: convidar a população não indígena para vir e, finalmente, nos conhecer de perto.
"Sem nenhum recurso, meu plano foi usar a arte como ponte. Recorri a amigos cantores, convidando-os a doar sua voz e seu talento para a causa. A resposta foi incrível. Conseguimos reunir um line-up de peso, com KL Jay (Racionais MC's), Jah Dartanhan, RZO e Sombra (SNJ), atraindo o público com a força do rap. O festival ganhou vida não só com a música, mas também com capoeira, exposição fotográfica e feira de artesanato. O sucesso foi tanto que o parque estendeu seu horário de fechamento até 22h."
Neste fim de semana, mais uma vez, o povo guarani convida a todos para esse grande evento.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2025/10/preconceitos-estereotipos-e-interesses-politicos-afrontam-indigenas.shtml
Imaginário do 'herói seguro' impede ameaça ao projeto de nação branca e escravocrata
Em São Paulo, terra indígena realiza neste fim de semana o Festival Jaraguá É Guarani
24/10/2025
Txai Suruí
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé
Longe de uma representação fiel da realidade, o imaginário sobre o indígena na arte sempre foi uma construção carregada de preconceitos, estereótipos e interesses políticos e baseada em uma visão eurocêntrica do mundo.
É a idealização do bom selvagem, exótico, do símbolo nacional romantizado, como no movimento indianista, que transformou o indígena em um cavaleiro medieval europeu de pele morena. Ele era nobre, corajoso, puro e, frequentemente, em via de extinção -o que o tornava um herói "seguro", que não ameaçava o projeto de nação branca e escravocrata.
Com a arte moderna, os povos indígenas passam de fonte de inspiração estética a sujeitos políticos, autores de suas próprias histórias. Hoje, a arte é um campo de batalha onde o velho imaginário está sendo ativamente desmontado, não pelo outro, mas por vozes indígenas, que estão reescrevendo suas próprias histórias e, nesse processo, transformando a própria paisagem da arte. A criação do imaginário deu lugar à sua desconstrução crítica e à construção autoral e singular de cada artista.
Pela primeira vez em grande escala, artistas indígenas assumem o controle de sua própria narrativa e imagem, usando a arte contemporânea como ferramenta de luta política, afirmação identitária e ressignificação cultural. É sem sombra de dúvida um caminho político. Uma forma de trazer o que já é conhecido na vida dos povos indígenas -o conflito, a violência e as lutas por direitos- e, sobretudo, exaltar nossas tecnologias, belezas e saberes, que por vezes acabam ficando de lado devido à urgência da luta.
Neste caminho das artes, da resistência e da reconstrução, acontece neste fim de semana, no Parque do Jaraguá, o Festival Jaraguá É Guarani, para celebrar e marcar um momento histórico: a demarcação da Terra Indigena Jaraguá.
Antes de vir a ser conhecido como "Pico do Jaraguá", o local já era para os mbya guaranis um lugar sagrado e mágico, onde os deuses se manifestavam e de onde os espíritos mais puros partiam em busca da Terra sem Males.
A chegada dos bandeirantes, que séculos depois batizariam estradas e ergueriam torres, expulsou os guaranis de seu próprio território para dar lugar à maior metrópole do Brasil. No entanto, mesmo proibidos de circular, esse povo nunca abandonou o seu sagrado lugar.
Em 2017, em meio à luta pela demarcação do território Jaraguá e ao preconceito, a moradora Sônia Ara Mirim trouxe à tona um sonho: criar um festival com protagonismo guarani. A ideia era simples, mas poderosa: convidar a população não indígena para vir e, finalmente, nos conhecer de perto.
"Sem nenhum recurso, meu plano foi usar a arte como ponte. Recorri a amigos cantores, convidando-os a doar sua voz e seu talento para a causa. A resposta foi incrível. Conseguimos reunir um line-up de peso, com KL Jay (Racionais MC's), Jah Dartanhan, RZO e Sombra (SNJ), atraindo o público com a força do rap. O festival ganhou vida não só com a música, mas também com capoeira, exposição fotográfica e feira de artesanato. O sucesso foi tanto que o parque estendeu seu horário de fechamento até 22h."
Neste fim de semana, mais uma vez, o povo guarani convida a todos para esse grande evento.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2025/10/preconceitos-estereotipos-e-interesses-politicos-afrontam-indigenas.shtml
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