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Não existe Reserva Extrativista Ituxi sem luta
27/11/2025
Autor: Talita Oliveira
Fonte: Opan - https://amazonianativa.org.br
"Dormíamos em cima de lonas no estádio Mané Garrincha, nas várias idas a Brasília. Fomos pioneiros e lutamos muito pela reserva", relembra o líder extrativista Silvério Maciel. A mobilização que atravessou mais de uma década encontrou seu marco em 5 de junho de 2008, Dia Mundial do Meio Ambiente, quando foi assinado o ato legal de criação da Reserva Extrativista (Resex) Ituxi. Desde então, a luta segue viva - e exige dos extrativistas organização social permanente para garantir direitos, enfrentar novos desafios e fortalecer o bem viver no território.
Entre os dias 14 e 16 de novembro de 2025, a comunidade Vila Vitória, na Resex Ituxi, em Lábrea (AM), sediou o "Seminário Local da Reserva Extrativista Ituxi: avaliando a atualidade e projetando o futuro". O encontro teve como propósito aprimorar a gestão da Unidade de Conservação (UC) a partir do fortalecimento do diálogo entre extrativistas, órgão gestor da unidade e organizações parceiras.
Promovido pela Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (Apadrit) e pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fundo Vale, Instituto Desenvolver e Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), o seminário contou ainda com a participação do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM) como instituição convidada. Ao todo, reuniu cerca de 70 participantes, entre representantes de seis organizações parceiras e moradores de 17 comunidades da Resex Ituxi.
De volta onde tudo começou
"Aqui na Vila Vitória nasceu o sonho, nasceu a nossa associação. Por isso é tão importante fazer esse evento aqui. Aqui nós começamos o sonho e aqui seguimos resistindo", afirmou Laureni Barros, presidenta da Apadrit, na abertura do seminário. Em seu segundo mandato, conciliado com o trabalho como professora do ensino fundamental, Laureni reviveu lembranças do início de sua caminhada na organização comunitária, marcada pela dedicação e aprendizado coletivo.
"Durante as reuniões e mobilizações, eu integrava a equipe da cozinha e ajudava a preparar as refeições para o povo", conta. Foi Manoel Cunha, líder extrativista e atual gestor da Reserva Extrativista do Médio Juruá, que a incentivou a ocupar outros espaços. "Ele disse que eu devia sair da cozinha e contribuir também com as discussões políticas", recorda.
Para Eliel Santos, conselheiro fiscal da Apadrit, conhecer a história dos moradores, da criação da associação e da Resex é importante para que a luta continue a fazer sentido. "Para falar de reserva temos que falar de organização social e associação comunitária. Não existe reserva sem luta. Não existe Ituxi sem Apadrit", afirma.
Avaliar o presente e pensar no futuro
Durante o seminário, os participantes construíram um diagnóstico coletivo sobre os desafios, potencialidades e perspectivas para o futuro da Resex e das comunidades. Os debates abordaram desde ameaças como o desmatamento, hidrelétricas e a mineração, até caminhos para fortalecer a agricultura, as cadeias produtivas e o engajamento da juventude na luta extrativista.
"Precisamos estar sempre conversando, esse movimento deve estar sempre vivo para que as lideranças, ICMBio e parceiros possam pensar em projetos e construir oportunidades para a reserva com mais segurança e respaldo", avalia Diogo Giroto, coordenador do Programa Amazonas da OPAN.
Gestão compartilhada
A gestão de uma reserva extrativista nasce do coletivo. Nela, moradores, ICMBio e organizações parceiras dividem responsabilidades e tomam decisões lado a lado. "Diferente de outras unidades de conservação, no caso de uma Resex somos co-gestores. Os rumos são tomados junto com a comunidade", explica Samuel Nienow, coordenador territorial do ICMBio em Porto Velho.
Para Eliel Santos, mais que um gestor, "o ICMBio é o órgão de defesa do povo extrativista". Samuel reforça essa visão, lembrando a missão fundadora da instituição: "A defesa das populações extrativistas está no cerne da criação do órgão, impresso na missão da instituição. Defendemos as unidades de conservação com as pessoas", avalia o coordenador.
Juventude extrativista, o futuro da Resex
Engajar a juventude na defesa da floresta e do bem viver é um compromisso que move as lideranças extrativistas que hoje conduzem a organização comunitária. Sobre os ombros e corações dos jovens repousa a continuidade do sonho que deu origem à reserva. "Eu acredito muito na participação da juventude. Nós precisamos passar o bastão", afirma Laureni.
Para Antônio Elisson Oliveira, presidente do recém criado Grupo de Jovens da Reserva Extrativista Ituxi, um dos maiores desafios é manter a motivação da juventude. "As pessoas estão desmotivadas e sem motivação os jovens não vão para a frente", avalia.
O jovem, que acompanha reuniões comunitárias e agendas da Apadrit com a missão de fortalecer a formação de novas lideranças, se inspira no legado deixado pelo patrono do meio ambiente. "A luta é árdua e nunca vai acabar. Temos que defender, defender e defender. Assim como Chico Mendes deixou a história dele, nós também queremos deixar a nossa", conclui.
Sobre a Resex Ituxi
Criada em 5 de junho de 2008, a Reserva Extrativista Ituxi abrange cerca de 776 mil hectares no município de Lábrea, no sul do Amazonas. Em seu entorno, diversas unidades de conservação e terras indígenas formam um mosaico de áreas protegidas: a Resex Médio Purus, a Floresta Nacional do Iquiri, o Parque Nacional Mapinguari, a Terra Indígena Caititu, as Terras Indígenas Paumari e a Terra Indígena Jacareúba-Katawixi - esta última, território de povos isolados, com pouco mais de 18 mil hectares de sobreposição com a Resex Ituxi.
Além das populações extrativistas, a Resex Ituxi também é lar de comunidades indígenas dos povos Banawa, Apurinã, Paumari e Kaxarari.
Desde de março de 2025, a OPAN integra o Conselho Deliberativo da Resex Ituxi, junto a outros 30 membros que se reúnem regularmente para deliberar sobre questões estratégicas relacionadas à unidade.
https://amazonianativa.org.br/2025/11/27/nao-existe-reserva-extrativista-ituxi-sem-luta/
Entre os dias 14 e 16 de novembro de 2025, a comunidade Vila Vitória, na Resex Ituxi, em Lábrea (AM), sediou o "Seminário Local da Reserva Extrativista Ituxi: avaliando a atualidade e projetando o futuro". O encontro teve como propósito aprimorar a gestão da Unidade de Conservação (UC) a partir do fortalecimento do diálogo entre extrativistas, órgão gestor da unidade e organizações parceiras.
Promovido pela Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (Apadrit) e pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fundo Vale, Instituto Desenvolver e Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), o seminário contou ainda com a participação do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM) como instituição convidada. Ao todo, reuniu cerca de 70 participantes, entre representantes de seis organizações parceiras e moradores de 17 comunidades da Resex Ituxi.
De volta onde tudo começou
"Aqui na Vila Vitória nasceu o sonho, nasceu a nossa associação. Por isso é tão importante fazer esse evento aqui. Aqui nós começamos o sonho e aqui seguimos resistindo", afirmou Laureni Barros, presidenta da Apadrit, na abertura do seminário. Em seu segundo mandato, conciliado com o trabalho como professora do ensino fundamental, Laureni reviveu lembranças do início de sua caminhada na organização comunitária, marcada pela dedicação e aprendizado coletivo.
"Durante as reuniões e mobilizações, eu integrava a equipe da cozinha e ajudava a preparar as refeições para o povo", conta. Foi Manoel Cunha, líder extrativista e atual gestor da Reserva Extrativista do Médio Juruá, que a incentivou a ocupar outros espaços. "Ele disse que eu devia sair da cozinha e contribuir também com as discussões políticas", recorda.
Para Eliel Santos, conselheiro fiscal da Apadrit, conhecer a história dos moradores, da criação da associação e da Resex é importante para que a luta continue a fazer sentido. "Para falar de reserva temos que falar de organização social e associação comunitária. Não existe reserva sem luta. Não existe Ituxi sem Apadrit", afirma.
Avaliar o presente e pensar no futuro
Durante o seminário, os participantes construíram um diagnóstico coletivo sobre os desafios, potencialidades e perspectivas para o futuro da Resex e das comunidades. Os debates abordaram desde ameaças como o desmatamento, hidrelétricas e a mineração, até caminhos para fortalecer a agricultura, as cadeias produtivas e o engajamento da juventude na luta extrativista.
"Precisamos estar sempre conversando, esse movimento deve estar sempre vivo para que as lideranças, ICMBio e parceiros possam pensar em projetos e construir oportunidades para a reserva com mais segurança e respaldo", avalia Diogo Giroto, coordenador do Programa Amazonas da OPAN.
Gestão compartilhada
A gestão de uma reserva extrativista nasce do coletivo. Nela, moradores, ICMBio e organizações parceiras dividem responsabilidades e tomam decisões lado a lado. "Diferente de outras unidades de conservação, no caso de uma Resex somos co-gestores. Os rumos são tomados junto com a comunidade", explica Samuel Nienow, coordenador territorial do ICMBio em Porto Velho.
Para Eliel Santos, mais que um gestor, "o ICMBio é o órgão de defesa do povo extrativista". Samuel reforça essa visão, lembrando a missão fundadora da instituição: "A defesa das populações extrativistas está no cerne da criação do órgão, impresso na missão da instituição. Defendemos as unidades de conservação com as pessoas", avalia o coordenador.
Juventude extrativista, o futuro da Resex
Engajar a juventude na defesa da floresta e do bem viver é um compromisso que move as lideranças extrativistas que hoje conduzem a organização comunitária. Sobre os ombros e corações dos jovens repousa a continuidade do sonho que deu origem à reserva. "Eu acredito muito na participação da juventude. Nós precisamos passar o bastão", afirma Laureni.
Para Antônio Elisson Oliveira, presidente do recém criado Grupo de Jovens da Reserva Extrativista Ituxi, um dos maiores desafios é manter a motivação da juventude. "As pessoas estão desmotivadas e sem motivação os jovens não vão para a frente", avalia.
O jovem, que acompanha reuniões comunitárias e agendas da Apadrit com a missão de fortalecer a formação de novas lideranças, se inspira no legado deixado pelo patrono do meio ambiente. "A luta é árdua e nunca vai acabar. Temos que defender, defender e defender. Assim como Chico Mendes deixou a história dele, nós também queremos deixar a nossa", conclui.
Sobre a Resex Ituxi
Criada em 5 de junho de 2008, a Reserva Extrativista Ituxi abrange cerca de 776 mil hectares no município de Lábrea, no sul do Amazonas. Em seu entorno, diversas unidades de conservação e terras indígenas formam um mosaico de áreas protegidas: a Resex Médio Purus, a Floresta Nacional do Iquiri, o Parque Nacional Mapinguari, a Terra Indígena Caititu, as Terras Indígenas Paumari e a Terra Indígena Jacareúba-Katawixi - esta última, território de povos isolados, com pouco mais de 18 mil hectares de sobreposição com a Resex Ituxi.
Além das populações extrativistas, a Resex Ituxi também é lar de comunidades indígenas dos povos Banawa, Apurinã, Paumari e Kaxarari.
Desde de março de 2025, a OPAN integra o Conselho Deliberativo da Resex Ituxi, junto a outros 30 membros que se reúnem regularmente para deliberar sobre questões estratégicas relacionadas à unidade.
https://amazonianativa.org.br/2025/11/27/nao-existe-reserva-extrativista-ituxi-sem-luta/
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