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Maestro vai a Amazonia ensinar musica aos indios

19/04/2004

Fonte: OESP, Geral, p.A8



Maestro vai à Amazônia ensinar música aos índios
MOACIR ASSUNÇÃO
Em meio à selva amazônica, cerca de 50 índios das tribos atroari e canamari aprendem, há seis meses, teclado, flauta doce e teoria musical com o acento sertanejo do rei do baião, Luiz Gonzaga. Ao mesmo tempo, suas composições tradicionais estão sendo traduzidas para partituras, para preservá-las e facilitar sua difusão. O professor é o maestro Itamar Pereira dos Santos, de 30 anos, diretor do Conservatório Municipal de Manaus, que viaja três horas de barco pelo Rio Negro, uma vez por semana, em seu dia de folga, para se dedicar ao trabalho.
Para ir à aula, alguns índios chegam a andar cinco horas na mata, saindo das aldeias de madrugada e levando os instrumentos de madeira, bambu e osso para as aulas de teoria e prática musical das 9 às 16 horas em dias diferentes.
Dois dos atroaris, segundo Santos, estão se destacando e aprendem duas vezes mais rápido que os demais. "A receptividade de todos é ótima. Eles demonstram um grande prazer de ouvir clássicos da MPB como Gonzagão e universais como Chopin e Mozart nas aulas", conta o maestro.
Flauta - A idéia de dar aulas aos índios surgiu quando, ao chegar em Manaus para trabalhar - o maestro é paraibano de Campina Grande -, alguns professores lhe falaram da rica cultura musical indígena. Um dia, foi à aldeia atroari e ficou encantado com o que ouviu.
Gravou as músicas e convidou um professor de flauta transversal com quem ensaiou o dueto de piano e flauta para fazer a partitura de uma canção que conta a história da criação do mundo na visão dos atroaris. Os índios jamais haviam tido acesso à música clássica.
Dias depois, Santos voltou à aldeia e apresentou ao cacique e à tribo um concerto de piano com as músicas tradicionais, explicando que, com as partituras, o trabalho seria registrado e repassado para os mais jovens com maior fidelidade. O próprio chefe escolheu 15 membros da tribo para terem as primeiras aulas de teoria. "Escolhi Gonzagão porque o ritmo e as danças sertanejas são bem trabalhadas em músicas como Asa Branca ou ABC do Sertão, por exemplo."
Santos, que tenta conseguir patrocínios para ampliar o trabalho a outras tribos nas imediações de Manaus, gasta por mês cerca de R$ 1.700,00 com passagens, flautas e teclados para ministrar as aulas. De origem humilde, o maestro, que é filho de um marceneiro e uma professora da rede pública, até hoje não tem piano, seu instrumento-base, na casa em que vive com a família, na periferia de Campina Grande.
Para aprender a tocar o instrumento, pegou em um piano as medidas oficiais das teclas e pediu para o pai fazer uma "réplica" em madeira. Dessa forma, estudando em conservatórios públicos e lendo partituras, conseguiu aprender a tocar o instrumento. "Sou uma pessoa que sempre lutou para conseguir seus objetivos. Tenho como lema que hoje fiz o fácil, amanhã farei o difícil e depois de amanhã o impossível."

OESP, 19/04/2004, p. A8
 

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