De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Tribo enfrenta 'fraqueza' e distância
06/03/2005
Fonte: FSP, Brasil, p.A18
Tribo enfrenta "fraqueza" e distância
Índios guarani andam até 20 km a pé para conseguir uma ambulância
Amauri Arrais
Não é "desnutrição" a resposta que se ouve ao perguntar a índios guarani a principal dificuldade enfrentada na aldeia Rio Branco, um pequeno povoado entranhado no Parque Nacional da Serra do Mar próximo a Itanhaém (98 km de São Paulo).
Localizada no distrito Litoral Sul, que teve o maior crescimento da mortalidade infantil indígena segundo a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), a aldeia é responsável por uma das quatro mortes por desnutrição registradas em 2004. Mas, para quem vive na comunidade, o motivo que levou à morte uma criança em meados do ano passado foi o que se convencionou chamar de "fraqueza".
"Foi de repente. A criança vivia com fraqueza, diarréia", conta o cacique Daniel Benite, 34, agente da Funasa, que diz ter visto a criança morrer no colo da mãe. "É muito difícil, mas estou agüentando porque não quero abandonar a comunidade", afirma o cacique, que passou a acumular as duas funções há apenas dois meses.
Para ele, assim como para outros membros da tribo, o pior problema é o isolamento.
Para chegar à aldeia -na verdade, um conjunto de barracos de madeira onde vivem 17 famílias- é preciso vencer 32 km de estradas tortuosas, a maior parte de barro. Em casos de urgência, segundo os guarani, chega-se a percorrer a pé cerca de 20 km para conseguir uma ambulância ou dar um telefonema.
O atendimento à saúde é prestado semanalmente por uma equipe com enfermeiro e dentista da Funasa. Há um mês, no entanto, a aldeia não recebe a visita de um médico. Segundo Daniel, o mesmo profissional é responsável pelo atendimento em outras cinco aldeias na região.
A comunidade não é beneficiada pelo programa Fome Zero Indígena, do governo federal. A única alimentação doada é a merenda escolar que a Prefeitura de Itanhaém entrega semanalmente à escola indígena, a maior edificação e a única com energia elétrica da aldeia.
A ração garante o lanche diário das 18 crianças que aprendem português com um professor da própria aldeia na escola. "Mas todos comem", afirma o vice-cacique, João Mariano.
A subsistência vem das culturas de milho, mandioca, banana e da extração de palmito, que, com o artesanato, é vendido nas feiras de Itanhaém e cidades próximas. Os turistas, principais compradores, chegam a pagar até R$ 30 por uma réplica de arco-e-flecha ou zarabatana. Em dias bons, a venda chega a R$ 80, diz o guarani Alexandre Benite, 25, vendedor. Dividida, a renda é usada para complementar a alimentação da aldeia.
A atividade, porém, pode ficar inviável devido ao preço do transporte entre a cidade e a aldeia, que não sai por menos de R$ 140. A justificativa para o alto valor cobrado para transportar idosos, mulheres e crianças na carroceria de uma camionete é dada pelo motorista. "Só eu faço esse caminho. E é por caridade."
FSP, 06/03/2005, p. A18.
Índios guarani andam até 20 km a pé para conseguir uma ambulância
Amauri Arrais
Não é "desnutrição" a resposta que se ouve ao perguntar a índios guarani a principal dificuldade enfrentada na aldeia Rio Branco, um pequeno povoado entranhado no Parque Nacional da Serra do Mar próximo a Itanhaém (98 km de São Paulo).
Localizada no distrito Litoral Sul, que teve o maior crescimento da mortalidade infantil indígena segundo a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), a aldeia é responsável por uma das quatro mortes por desnutrição registradas em 2004. Mas, para quem vive na comunidade, o motivo que levou à morte uma criança em meados do ano passado foi o que se convencionou chamar de "fraqueza".
"Foi de repente. A criança vivia com fraqueza, diarréia", conta o cacique Daniel Benite, 34, agente da Funasa, que diz ter visto a criança morrer no colo da mãe. "É muito difícil, mas estou agüentando porque não quero abandonar a comunidade", afirma o cacique, que passou a acumular as duas funções há apenas dois meses.
Para ele, assim como para outros membros da tribo, o pior problema é o isolamento.
Para chegar à aldeia -na verdade, um conjunto de barracos de madeira onde vivem 17 famílias- é preciso vencer 32 km de estradas tortuosas, a maior parte de barro. Em casos de urgência, segundo os guarani, chega-se a percorrer a pé cerca de 20 km para conseguir uma ambulância ou dar um telefonema.
O atendimento à saúde é prestado semanalmente por uma equipe com enfermeiro e dentista da Funasa. Há um mês, no entanto, a aldeia não recebe a visita de um médico. Segundo Daniel, o mesmo profissional é responsável pelo atendimento em outras cinco aldeias na região.
A comunidade não é beneficiada pelo programa Fome Zero Indígena, do governo federal. A única alimentação doada é a merenda escolar que a Prefeitura de Itanhaém entrega semanalmente à escola indígena, a maior edificação e a única com energia elétrica da aldeia.
A ração garante o lanche diário das 18 crianças que aprendem português com um professor da própria aldeia na escola. "Mas todos comem", afirma o vice-cacique, João Mariano.
A subsistência vem das culturas de milho, mandioca, banana e da extração de palmito, que, com o artesanato, é vendido nas feiras de Itanhaém e cidades próximas. Os turistas, principais compradores, chegam a pagar até R$ 30 por uma réplica de arco-e-flecha ou zarabatana. Em dias bons, a venda chega a R$ 80, diz o guarani Alexandre Benite, 25, vendedor. Dividida, a renda é usada para complementar a alimentação da aldeia.
A atividade, porém, pode ficar inviável devido ao preço do transporte entre a cidade e a aldeia, que não sai por menos de R$ 140. A justificativa para o alto valor cobrado para transportar idosos, mulheres e crianças na carroceria de uma camionete é dada pelo motorista. "Só eu faço esse caminho. E é por caridade."
FSP, 06/03/2005, p. A18.
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