De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Reconstrução de uma cultura
26/11/2004
Fonte: CB, p. 4
Reconstrução de uma cultura
Divulgação
Com proposta mais livre e sutil do que propriamente didática,Joel Pizzini faz de 500 almas almas missão quase heróica
Tiado Faria
Da equipe do Correio
Para quem espera de um filme político a barulheira de um discurso gritado ao megafone, 500 almas pode parecer registro tímido, quase um sussurro. O documentário de Joel Pizzini, estréia do diretor no formato de longa-metragem, usa o silêncio e a lentidão das imagens como recursos para revelar a tragédia de uma cultura enterrada aos poucos, jogada para o canto da memória brasileira, violentada sem muitos ruídos-e, finalmente, renascida em fiapos de resistência.
A saga dos sobreviventes da tribo guató, dada como extinta nos anos 60 e recuperada aos poucos a partir dos anos 70, seria uma perfeita metáfora para o processo de aculturação de comunidades indígenas no país. Mas, ainda que manifesto contra o descaso do Estado diante das minorias, o método de Pizzini é mais audacioso. 0 diretor transforma o filme não apenas em arma de denúncia, mas também em mosaico de resgate cultural, com função social sólida e bem-intencionada - a tentativa de reconstruir os traços da etnia guató, espalhada no Pantanal, para ao menos dar provas de que ela está viva e não pode ser desprezada.
Nessa missão quase heróica, Pizzini rejeita o discurso didático em prol de uma construção mais livre e sutil. É uma opção arriscada, e defendida sem muito ânimo por travar uma comunicação fácil com o público. 0 cineasta não parece interessado em contar histórias, mas em expor, como que em um registro clínico, as características da cultura guató: a musicalidade do modo de falar, as ações mínimas do dia-a-dia, o traçado da terra onde vivem, o jeito como "as palavras são transmitidas pela cor e pelo som'. A redundância da narrativa, por vezes excessiva, dá ao filme um formato circular de poesia, de música. Um mantra quebrado apenas pelas intervenções do narrador-personagem de Paulo José, trechos espalhafatosos que destoam da suavidade do restante do documentário.
0 rigor da direção, aliado à beleza das imagens naturais, é corajoso - mas também é o suficiente para afastar uma parcela do público que, por mais interesse que tenha no drama indígena, pode esbarrar no ritmo do filme, por vezes monocórdico, e perder o fio da meada do que está na tela. Daí a encruzilhada que Pizzini enfrenta: ao mesmo tempo em que faz cinema pessoal, que instiga e se esforça para escapar de convenções e lugares-comuns, corre o risco de restringir a poucos um diálogo dos mais necessários. É o preço alto da ousadia.
Os curtas-metragens exibidos no primeiro dia da mostra de 35mm tiveram mais facilidade para chegar ao público. Vinil verde (* ), de Kleber Mendonça Filho, é criativa apropriação de fábula russa daquelas feitas para tirar o sono de criancinhas. 0 que parece humor negro ganha cor de melancolia graças ao talento de Kleber para brincar com gêneros cinematográficos - por mais que o desfecho pareça truncado. lá a animação Desventuras de um dia ou A vida não é um comercial de margarina (**), de Adriana Meirelles, é só embalagem: o banho de cores não esconde uma trama trivial sobre o estresse da vida em grandes cidades.
"O diretor de 500 almas conseguiu mostrar muito bem a história daquele povo. Na minha opinião, o curta Vinil Verde é lindo, uma fábula absurda, com tom cômico. Gostei também da linguagem, que usou fotografias. Achei o curta Desventuras de um dia um pouco infantil".
Povo Fala
Ana CarolinaViana, 23 anos, estudante de Letras
"Deu pra ver que a equipe do longa realizou um estudo aprofundado do tema. Além do mais, a fotografia é maravilhosa. Também achei muito interessante a mistura de linguagens, usando aquelas inserções teatrais com Paulo José e Mateus Nachtergaele." luri Crema, 25 anos, gerente de tecnologia da informação
'500 almas é um bom documentário. Porém, fez críticas utilizando referências que ficaram soltas e fora de contexto. Vinil verde é um curta muito bacana e o final dá todo o sentido para a trama. Em relação ao outro curta, eu esperava mais dele."
Karen Basso, 23 anos, turismóloga
"A fotografia do longa 500 almas é muito bonita, mas se eles tivessem explicado melhor a vida daquelas pessoas eu teria compreendido mais o filme. O curta Vinil verde é ótimo! 0 final me surpreendeu. Achei Desventuras de um dia divertido e interessante."
Marina Rases, 23 anos estudante de Psicologia
CB, 26/11/2004, p. 4
Divulgação
Com proposta mais livre e sutil do que propriamente didática,Joel Pizzini faz de 500 almas almas missão quase heróica
Tiado Faria
Da equipe do Correio
Para quem espera de um filme político a barulheira de um discurso gritado ao megafone, 500 almas pode parecer registro tímido, quase um sussurro. O documentário de Joel Pizzini, estréia do diretor no formato de longa-metragem, usa o silêncio e a lentidão das imagens como recursos para revelar a tragédia de uma cultura enterrada aos poucos, jogada para o canto da memória brasileira, violentada sem muitos ruídos-e, finalmente, renascida em fiapos de resistência.
A saga dos sobreviventes da tribo guató, dada como extinta nos anos 60 e recuperada aos poucos a partir dos anos 70, seria uma perfeita metáfora para o processo de aculturação de comunidades indígenas no país. Mas, ainda que manifesto contra o descaso do Estado diante das minorias, o método de Pizzini é mais audacioso. 0 diretor transforma o filme não apenas em arma de denúncia, mas também em mosaico de resgate cultural, com função social sólida e bem-intencionada - a tentativa de reconstruir os traços da etnia guató, espalhada no Pantanal, para ao menos dar provas de que ela está viva e não pode ser desprezada.
Nessa missão quase heróica, Pizzini rejeita o discurso didático em prol de uma construção mais livre e sutil. É uma opção arriscada, e defendida sem muito ânimo por travar uma comunicação fácil com o público. 0 cineasta não parece interessado em contar histórias, mas em expor, como que em um registro clínico, as características da cultura guató: a musicalidade do modo de falar, as ações mínimas do dia-a-dia, o traçado da terra onde vivem, o jeito como "as palavras são transmitidas pela cor e pelo som'. A redundância da narrativa, por vezes excessiva, dá ao filme um formato circular de poesia, de música. Um mantra quebrado apenas pelas intervenções do narrador-personagem de Paulo José, trechos espalhafatosos que destoam da suavidade do restante do documentário.
0 rigor da direção, aliado à beleza das imagens naturais, é corajoso - mas também é o suficiente para afastar uma parcela do público que, por mais interesse que tenha no drama indígena, pode esbarrar no ritmo do filme, por vezes monocórdico, e perder o fio da meada do que está na tela. Daí a encruzilhada que Pizzini enfrenta: ao mesmo tempo em que faz cinema pessoal, que instiga e se esforça para escapar de convenções e lugares-comuns, corre o risco de restringir a poucos um diálogo dos mais necessários. É o preço alto da ousadia.
Os curtas-metragens exibidos no primeiro dia da mostra de 35mm tiveram mais facilidade para chegar ao público. Vinil verde (* ), de Kleber Mendonça Filho, é criativa apropriação de fábula russa daquelas feitas para tirar o sono de criancinhas. 0 que parece humor negro ganha cor de melancolia graças ao talento de Kleber para brincar com gêneros cinematográficos - por mais que o desfecho pareça truncado. lá a animação Desventuras de um dia ou A vida não é um comercial de margarina (**), de Adriana Meirelles, é só embalagem: o banho de cores não esconde uma trama trivial sobre o estresse da vida em grandes cidades.
"O diretor de 500 almas conseguiu mostrar muito bem a história daquele povo. Na minha opinião, o curta Vinil Verde é lindo, uma fábula absurda, com tom cômico. Gostei também da linguagem, que usou fotografias. Achei o curta Desventuras de um dia um pouco infantil".
Povo Fala
Ana CarolinaViana, 23 anos, estudante de Letras
"Deu pra ver que a equipe do longa realizou um estudo aprofundado do tema. Além do mais, a fotografia é maravilhosa. Também achei muito interessante a mistura de linguagens, usando aquelas inserções teatrais com Paulo José e Mateus Nachtergaele." luri Crema, 25 anos, gerente de tecnologia da informação
'500 almas é um bom documentário. Porém, fez críticas utilizando referências que ficaram soltas e fora de contexto. Vinil verde é um curta muito bacana e o final dá todo o sentido para a trama. Em relação ao outro curta, eu esperava mais dele."
Karen Basso, 23 anos, turismóloga
"A fotografia do longa 500 almas é muito bonita, mas se eles tivessem explicado melhor a vida daquelas pessoas eu teria compreendido mais o filme. O curta Vinil verde é ótimo! 0 final me surpreendeu. Achei Desventuras de um dia divertido e interessante."
Marina Rases, 23 anos estudante de Psicologia
CB, 26/11/2004, p. 4
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