De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Factóides e piratas do rio

26/06/2007

Autor: Jessé Souza

Fonte: FOLHA DE BOA VISTA



O bom Aurélio registra como significado de factóide "um fato, verdadeiro ou não, divulgado com sensacionalismo, no propósito deliberado de gerar impacto diante da opinião pública e influenciá-la". É justamente isto o que está acontecendo no caso dos índios Waimiri-Atroari. O Governo do Estado, por meio de uma pseudo-denúncia feita por um pequeno grupo, criou um factóide de que os Wamiri-Atroaria teriam avançado o marco de sua reserva 16 Km para dentro dos limites do Estado de Roraima, na região do Baixo Rio Branco.

Uma comissão criada com o objetivo de "investigar" a denúncia foi à região e, mesmo sabendo da inconsistência do clamor, manteve a versão de um suposto avanço do marco. Quem mora e conhece a história dos Wamiri sabe que aquele marco existe há muitos anos e foi posto ali para controlar a entrada de embarcações amazonenses que pescam
clandestinamente e colhem castanha-do-Brasil deliberadamente.

Os ribeirinhos que moram na região, do lado roraimense, conhecem e respeitam esse limite e recentemente participaram de um acordo de pesca que está sendo discutido entre eles, os índios, as empresas de turismo e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis). Mas os "piratas do rio", os quais são do Amazonas, não costumam a respeitar qualquer limites e criam falsas denúncias para confundir o poder público sempre ausente daquelas
regiões remotas, aonde os governos nunca chegam. E quando chegam, criam factóides.

Então, com base em intrigas geradas por "piratas do rio", o governo local criou uma comissão, que custou dinheiro público torrado em logística e diárias, a qual não vai dar em absolutamente nada e será esquecida como todos os demais factóides. Primeiro porque ali é um rio que limita a divisão dos estados do Amazonas e Roraima, portanto, de jurisdição do Governo Federal ou, mais precisamente, da Marinha. Depois, tratase de uma denúncia infundada, sem contar que o marco fica dentro do Estado do Amazonas, portanto, não tendo nada a ver com Roraima. O factóide ganhou corpo.

Agora, alguns deputados, sem mais algo importante a fazer, usam o assunto para se promover, pregar o terrorismo e realizar uma campanha ostensiva não só contra os Waimiri-Atroari, mas contra a causa indígena, inflando mais ainda na
população local um posicionamento antiindígena. Até a Polícia Militar, que foi dar segurança à comissão, criou um clima de suspense, relatando suspeita de tocaia por parte dos índios, dando um tom de ameaça que não existia. Os índios que foram receber o grupo de autoridades estavam lá acampados justamente para fiscalizar a área e não permitir que pescadores ilegais atuem na região, o que é proibido pelas leis brasileiras. Um detalhe importante - e que a
comissão não conta - é o fato de que no grupo estavam autoridades do Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e outras.

Conversando com os ribeirinhos, descobriram que esse "conflito" foi criado com a única intenção de fomentar a tensão na área, para que a pesca, a capa e a coleta predatória continuem. Para confundir mais ainda a opinião pública, os políticos misturam a situação dos Wamiri com a atuação de uma associação no Baixo Rio Branco, chamada de "Associação Amazônia", que nada tem a ver com os índios. Até no institucional divulgado pela Assembléia Legislativa não aparecem
qualquer ribeirinho confirmando a tal denúncia. Isto precisa parar em Roraima. Não se pode permitir que factóides e terrorismo sejam patrocinados com o dinheiro suado pago pelo contribuinte. Basta!
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.