De Povos Indígenas no Brasil
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Noticias
Povos indígenas na Conferência de Sobradinho
10/03/2008
Autor: Markus Breuss, Cimi NE
Fonte: CIMI
"A demarcação das terras tradicionais tem que ter valor primordial, antes de qualquer PAC ou projeto desenvolvimentista"
"O rio é a moradia da nossa divindade"
Mais que 200 pessoas de 13 estados, além do Distrito Federal, da Argentina e da Europa, participaram da Conferência dos Povos do São Francisco e do Semi-árido, de 25 a 27 de fevereiro de 2008, em Sobradinho, Bahia. O evento contou com a presença de lideranças de vários povos indígenas do Nordeste, como os Truká, Pipipã, Tupá e Timbuí-Botó; representantes da Igreja, como Dom Luiz Cappio e Dom Tomaz Balduíno; inteletuais e jornalistas da imprensa nacional e internacional.
Os participantes foram abrigados em espaços comunitários e nas casas dos moradores de Sobradinho. A Conferência recebeu grande apoio da Paróquia e da população local.
Os representantes dos povos indígenas presentes reafirmaram que seguem contrários ao projeto de transposição e a toda e qualquer obra que se oponha à vida. Projetos como os que o governo brasileiro está promovendo atualmente, como rodovias e hidroelétricas que afetam territórios tradicionais e usinas nucleares no baixo São Francisco.
A luta contra a transposição é fortalecida pela luta dos povos indígenas e acontece por meio das retomadas como, por exemplo, dos Xukurú-Karirí, de Palmeiras dos Índios, Alagoas; dos Truká, de Cabrobó, Pernambuco, e dos Tumbalalá, na Bahia. "A demarcação das terras tradicionais é fundamentada na Constituição brasileira e deve ter valor primordial, antes do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] ou de qualquer outro projeto desenvolvimentista", ressaltaram os indígenas. Eles ainda frisaram que, no Abril Indígena, a luta contra a transposição está na pauta. "O direito à vida acima de tudo! Não desistimos, nunca vamos deixar de gritar contra a injustiça!".
O jejum de protesto de Dom Cappio, que durou 24 dias no final de 2007, teve uma grande repercussão nacional e internacional, mas, na avaliação dos indígenas, ficou apenas no apoio. "Cadê a ação concreta? A mobilização nacional e internacional?", indagaram.
Disseram estar sentindo falta do projeto governamental de revitalização do rio São Francisco, que está somente no papel. "Como pessoas que não conhecem o rio podem fazer propostas e determinar o futuro sem ir para as comunidades, sem ouvir os quilombolas, os pescadores, os indígenas e ignorando a sabedoria deles? Tem que ser feito com o povo, com a participação do povo. Não basta só reflorestar a margem do São Francisco. Tem que dar um fim ao desmatamento na bacia toda. Tem que enfrentar e barrar os grandes projetos do agronegócio e das carvoarias".
Os índios relataram ainda um exemplo do que este modelo de desenvolvimento das últimas décadas significa para a vida dos povos: "A CHESF, nos períodos secos, está segurando a água nas barragens, não obedecendo à vazão mínima, inviabilizando a agricultura de vazantes. No baixo São Francisco não tem mais água, só areia. As imagens do homem que atravessou o rio de Sergipe para Alagoas de moto ficaram famosas nacionalmente. É um absurdo e muito triste! Mas quando abre as comportas (na época chuvosa), acaba com tudo. Leva a roca, leva os animais. Deixa só a destruição".
Tem muitos povos indígenas que vivem tradicionalmente nas ilhas do São Francisco. Agora, com o assoreamento e a diminuição da vazão, os braços do rio que separam as ilhas das margens estão desaparecendo. Como será a vida dos povos das ilhas sem as ilhas?
Já começou a retirada de moradores ao longo das obras nos eixos. Deslocaram pessoas do meio rural pras cidades. Isso já aconteceu nas áreas tradicionais dos Truká e Pipipã. Além disso, querem jogar os indígenas uns contra os outros. As lideranças sofrem perseguições e acabam sendo criminalizadas.
"O rio São Francisco não é apenas um rio, é um conjunto de vários rios, cheio de vida, um corpo com muitas veias. É muito mais que um objeto, não pode ser tratado apenas como recurso hídrico. Tem que pensar o rio com um todo, todos os aspectos de vida: a cultura, culinária, os seres humanos e os animais, os espíritos, os contos (Mãe da água, Nego da água, etc.)".
"Pra nós, indígenas, o rio é a moradia dos encantos e encantados de luz. Cada pedra, cada cachoeira tem sua história, sua ligação com o povo. O significado da igreja (casa de Deus) para os brancos é o mesmo que para nós, índios, significa o rio. O rio é a moradia da nossa divindade e nos ajuda a nos fortalecer. Convivemos com o rio em toda história e já o perdemos em parte para a construção de grandes barragens. Novas obras de barragens no sub-médio São Francisco são previstas, as de Pedra Branca e do Riacho Seco, que afetarão também terras indígenas".
Concluindo, as lideranças ressaltaram: "Fazer a transposição é fortalecer a desigualdade. Hoje o vale do rio São Francisco é uma das regiões mais miseráveis do Brasil. A propaganda do governo é enganosa, cheia de mentiras. Tem que melhorar a situação do abastecimento de água no Ceará, em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte sim, mas deste jeito a água não chega à população. O problema não é que não tenha água no Nordeste, o problema é que o acesso à água está sendo negado para as populações".
"O rio é a moradia da nossa divindade"
Mais que 200 pessoas de 13 estados, além do Distrito Federal, da Argentina e da Europa, participaram da Conferência dos Povos do São Francisco e do Semi-árido, de 25 a 27 de fevereiro de 2008, em Sobradinho, Bahia. O evento contou com a presença de lideranças de vários povos indígenas do Nordeste, como os Truká, Pipipã, Tupá e Timbuí-Botó; representantes da Igreja, como Dom Luiz Cappio e Dom Tomaz Balduíno; inteletuais e jornalistas da imprensa nacional e internacional.
Os participantes foram abrigados em espaços comunitários e nas casas dos moradores de Sobradinho. A Conferência recebeu grande apoio da Paróquia e da população local.
Os representantes dos povos indígenas presentes reafirmaram que seguem contrários ao projeto de transposição e a toda e qualquer obra que se oponha à vida. Projetos como os que o governo brasileiro está promovendo atualmente, como rodovias e hidroelétricas que afetam territórios tradicionais e usinas nucleares no baixo São Francisco.
A luta contra a transposição é fortalecida pela luta dos povos indígenas e acontece por meio das retomadas como, por exemplo, dos Xukurú-Karirí, de Palmeiras dos Índios, Alagoas; dos Truká, de Cabrobó, Pernambuco, e dos Tumbalalá, na Bahia. "A demarcação das terras tradicionais é fundamentada na Constituição brasileira e deve ter valor primordial, antes do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] ou de qualquer outro projeto desenvolvimentista", ressaltaram os indígenas. Eles ainda frisaram que, no Abril Indígena, a luta contra a transposição está na pauta. "O direito à vida acima de tudo! Não desistimos, nunca vamos deixar de gritar contra a injustiça!".
O jejum de protesto de Dom Cappio, que durou 24 dias no final de 2007, teve uma grande repercussão nacional e internacional, mas, na avaliação dos indígenas, ficou apenas no apoio. "Cadê a ação concreta? A mobilização nacional e internacional?", indagaram.
Disseram estar sentindo falta do projeto governamental de revitalização do rio São Francisco, que está somente no papel. "Como pessoas que não conhecem o rio podem fazer propostas e determinar o futuro sem ir para as comunidades, sem ouvir os quilombolas, os pescadores, os indígenas e ignorando a sabedoria deles? Tem que ser feito com o povo, com a participação do povo. Não basta só reflorestar a margem do São Francisco. Tem que dar um fim ao desmatamento na bacia toda. Tem que enfrentar e barrar os grandes projetos do agronegócio e das carvoarias".
Os índios relataram ainda um exemplo do que este modelo de desenvolvimento das últimas décadas significa para a vida dos povos: "A CHESF, nos períodos secos, está segurando a água nas barragens, não obedecendo à vazão mínima, inviabilizando a agricultura de vazantes. No baixo São Francisco não tem mais água, só areia. As imagens do homem que atravessou o rio de Sergipe para Alagoas de moto ficaram famosas nacionalmente. É um absurdo e muito triste! Mas quando abre as comportas (na época chuvosa), acaba com tudo. Leva a roca, leva os animais. Deixa só a destruição".
Tem muitos povos indígenas que vivem tradicionalmente nas ilhas do São Francisco. Agora, com o assoreamento e a diminuição da vazão, os braços do rio que separam as ilhas das margens estão desaparecendo. Como será a vida dos povos das ilhas sem as ilhas?
Já começou a retirada de moradores ao longo das obras nos eixos. Deslocaram pessoas do meio rural pras cidades. Isso já aconteceu nas áreas tradicionais dos Truká e Pipipã. Além disso, querem jogar os indígenas uns contra os outros. As lideranças sofrem perseguições e acabam sendo criminalizadas.
"O rio São Francisco não é apenas um rio, é um conjunto de vários rios, cheio de vida, um corpo com muitas veias. É muito mais que um objeto, não pode ser tratado apenas como recurso hídrico. Tem que pensar o rio com um todo, todos os aspectos de vida: a cultura, culinária, os seres humanos e os animais, os espíritos, os contos (Mãe da água, Nego da água, etc.)".
"Pra nós, indígenas, o rio é a moradia dos encantos e encantados de luz. Cada pedra, cada cachoeira tem sua história, sua ligação com o povo. O significado da igreja (casa de Deus) para os brancos é o mesmo que para nós, índios, significa o rio. O rio é a moradia da nossa divindade e nos ajuda a nos fortalecer. Convivemos com o rio em toda história e já o perdemos em parte para a construção de grandes barragens. Novas obras de barragens no sub-médio São Francisco são previstas, as de Pedra Branca e do Riacho Seco, que afetarão também terras indígenas".
Concluindo, as lideranças ressaltaram: "Fazer a transposição é fortalecer a desigualdade. Hoje o vale do rio São Francisco é uma das regiões mais miseráveis do Brasil. A propaganda do governo é enganosa, cheia de mentiras. Tem que melhorar a situação do abastecimento de água no Ceará, em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte sim, mas deste jeito a água não chega à população. O problema não é que não tenha água no Nordeste, o problema é que o acesso à água está sendo negado para as populações".
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