De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

A nobre reserva do cacique Kashalpynya

14/03/2008

Fonte: OESP, Nacional, p. A11



A nobre reserva do cacique Kashalpynya
Tribos e empreiteiros disputam área

Expedito Filho

Do alto da casa montada em uma árvore que fica na entrada do Parque Burle Marx, em Brasília, o cacique Kashalpynya avisa: "Só saio daqui morto. Não vamos abrir mão de nosso pedaço de terra." Kashalpynya (homem do mato), da tribo Korubo, está reivindicando o direito de ficar em um terreno no Setor Habitacional Noroeste, bairro que ainda será construído em Brasília.

Ao lado de dois hipermercados, a 10 quilômetros do Palácio do Planalto, 35 índios de 8 tribos disputam com empreiteiros a posse de um dos metros quadrados mais caros do País. Ali um apartamento de 100 metros quadrados custará R$ 600 mil. Anunciado como novo espaço verde da capital, o bairro espera abrigar 40 mil pessoas, mas, por estar em área de preservação ambiental, ainda depende de licenciamento do Ibama.

Os índios prometem recorrer à Organização das Nações Unidas (ONU) para manter a área verde do parque preservada - desde, claro, que não saiam de lá. "No dia 19 de abril, Dia do Índio, colocaremos mil índios para lutar pela manutenção do parque como reserva das tribos que vivem aqui", prometeu o cacique. A área é verde, mas nunca foi indígena.

Kashalpynya está no local desde 2000, mas garante que a maioria já vive no parque há mais de 20 anos. Em meio à vegetação do cerrado, os índios plantam milho e vivem do artesanato, que vendem no centro de Brasília. O cacique argumenta que há no local um cemitério indígena, que seria violado com a construção do novo bairro. Além disso, adverte que o parque está sobre um extenso lençol de água. "Passa um rio subterrâneo e eles vão acabar com isso."

A caça anda rara e para sobreviver o cacique revela, com um sorriso irônico, que tem capturado bichos urbanos, como cães e gatos, para assar e comer. "Caçamos gatos selvagens, gatos domésticos e cachorros. Até pit bull gordinho, que apareceu por aqui perdido, nós já comemos. É muito gostoso. Quando o dono aparece e pergunta se índio viu cachorro que fugiu, índio diz que não", brinca.

OESP, 14/03/2008, Nacional, p. A11
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.