De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Reserva de Roraima domina debates

16/04/2008

Fonte: CB, Brasil, p. 11



Reserva de Roraima domina debates

Paloma Oliveto
Da equipe do Correio

Os chocalhos soaram alto no gramado da Esplanada dos Ministérios. Acampados desde a manhã de ontem em ocas improvisadas, índios de todas as regiões do país manifestaram por meio de danças típicas e muitos discursos o temor de que o Supremo Tribunal Federal (STF) reveja a homologação da Reserva Raposa Serra do Sol (RR) em área contínua. No primeiro dia do Abril Indígena, evento realizado pela terceira vez em Brasília, assuntos como educação e saúde mobilizaram os cerca de 700 participantes, mas a questão territorial foi o tema mais discutido.

Na semana passada, os ministros do Supremo decidiram, por unanimidade, cancelar a Operação Upakaton 3, da Polícia Federal, que tinha como objetivo retirar os não-índios da Raposa Serra do Sol. A desintrusão deveria ter ocorrido há três anos, mas os arrozeiros recusam-se a sair, alegando que as ações compensatórias anunciadas pela União, na época, não foram colocadas em prática. Agora, o presidente eleito do STF, Gilmar Mendes, cogita a revisão do processo de demarcação da reserva. A idéia é discutir uma alternativa ao modelo que garante aos índios os 1,7 mil hectares contínuos.

"A posição do STF nos preocupa porque pode criar um precedente para todas as terras indígenas. É muito perigoso", alerta a professora uapixana Pierlângela Nascimento da Cunha, coordenadora da Organização dos Professores Indígenas de Roraima. Ela conta que o clima na Raposa Serra do Sol é de medo e tensão. Na última segunda-feira, um grupo de homens armados teria invadido a Escola Estadual Padre José Anchieta, freqüentada por 260 alunos da educação infantil ao ensino médio, e espancado um professor, que impediu a entrada do bando. A Polícia Federal investiga a denúncia.

Pierlângela e outros 12 líderes indígenas da região querem ser ouvidos pelos ministros do Supremo. "As pessoas não sabem como é nossa situação. No julgamento, o (ministro Carlos) Ayres Britto leu o relatório e, em cinco minutos, todos os outros acompanharam o voto", sustenta, referindo-se à decisão de retirar a Polícia Federal da reserva. Na ação cautelar, cujo mérito ainda não foi julgado, o governo de Roraima alegou que a operação poderia gerar "uma verdadeira guerra civil".

O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou que o Supremo tornou-se co-reponsável por tudo que vier a acontecer na Raposa Serra do Sol. "Nossa visão é que a terra foi bem demarcada, em um trabalho sério, e que a União tem soberania sobre as terras indígenas", disse, ao comentar a decisão.

"O (Paulo) Quartieiro está aprontando todas. Ele e o grupo dele estão soltando bombas de fabricação caseira, queimando pontes, deixando todo mundo assustado. O Supremo só favoreceu os criminosos", afirma o cacique macuxi Jaci José de Sousa. Ontem, Quartieiro, presidente da Associação dos Rizicultores de Roraima, acusou os índios, em entrevista à rádio CBN, de defenderem interesses estrangeiros. "Aqui, em todas as reuniões que fazemos, aparece 'ongueiro' holandês, espanhol, italiano, inglês, neo-zelandês. Tem todo o tipo de gente. Menos brasileiro. Eles querem, na realidade, a formação de um novo país aqui", disse.

CB, 16/04/2008, Brasil, p. 11
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.