De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Nove índios são feridos em conflito em reserva de RR
06/05/2008
Autor: Andrezza Trajano e José Eduardo Rondon
Fonte: FSP, Brasil, p. A7
Nove índios são feridos em conflito em reserva de RR
Confronto foi contra seguranças de fazenda de arrozeiro na Raposa/Serra do Sol
Três indígenas em estado mais grave foram levados para Boa Vista; os dois lados têm versões distintas para o início da briga em Roraima
Andrezza Trajano
Colaboração para a agência Folha, em Pacaraima (RR)
José Eduardo Rondon
Da agência Folha
Oito índios foram feridos a tiros por seguranças de uma fazenda do arrozeiro e prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero (DEM), no interior da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima. Além deles, outro indígena ficou ferido com coronhadas de revólver.
Segundo o delegado da Polícia Federal Everaldo Eguchi, o conflito ocorreu na região do Surumu, em Pacaraima, após a chegada de cerca de cem índios ligados ao CIR (Conselho Indígena de Roraima) à fazenda Depósito, de Quartiero. Pela manhã, o delegado recebeu a informação sobre a movimentação dos índios. Foi informado também que "pistoleiros" contratados pelo arrozeiro estariam chegando à área. Decidiu, então, enviar uma equipe ao local. Com a chegada dos índios pela manhã, o arrozeiro mandou que funcionários da fazenda os expulsassem.
Segundo Quartiero, eles foram recebidos a flechadas pelos indígenas e reagiram com tiros e bombas. Já o CIR disse que os homens chegaram atirando, munidos, entre outras armas, de espingardas calibre 12 e de bombas de fabricação caseira.
O delegado da PF informou que, dos 9 índios feridos, seis -5 deles com ferimentos provocados por tiros- foram socorridos em um carro da Funai e levados ao hospital de Pacaraima. Outros três índios que receberam tiros, em estado mais grave, foram de avião para Boa Vista. Um deles teria levado um tiro no rosto. Segundo o CIR, eram dez os feridos.
Ontem, o ministro Tarso Genro (Justiça) disse em Manaus que vai se deslocar hoje para Roraima para acompanhar os desdobramentos do conflito. "Orientamos que a PF aja com a mesma cautela que agiu quando ocorreu a resistência paramilitar dos fazendeiros. São resistências inaceitáveis."
"Entrevero"
"Eles [os seguranças] foram lá exigir a retirada [dos índios]. Era uma ordem. Foram recebidos a flechadas. Deu um entrevero e aí teve como resultado vários feridos. A ordem que dei [aos seguranças] é defender as fazendas. Eles atiraram porque foram flechados. Do meu pessoal [os seguranças] não sei se tem feridos", disse Quartiero.
Jacir José de Souza, da coordenação do CIR (Conselho Indígena de Roraima), disse que funcionários de Quartiero chegaram atirando bombas e disparando tiros contra o grupo. "Os índios resolveram agora partir para ocupar sua terra. E vamos ocupar. A terra é nossa.
Desde a homologação [feita em 2005], a terra é nossa. Os jagunços chegaram, todos armados, atirando bombas e disparando contra o grupo." Para Souza, os não-índios que continuam na reserva "têm de ser punidos".
Até o início da noite não houve prisões relacionadas ao caso. Os funcionários de Quartiero fugiram. Quatro índios que estavam na fazenda foram ouvidos pela PF. Um inquérito foi instaurado. Segundo o delegado da PF, o conflito no interior da fazenda do arrozeiro foi registrado por uma filmadora que estava com um dos indígenas.
Para a PF há risco de novos confrontos na região com a chegada de mais índios à fazenda. No local do conflito, indígenas armados com foices diziam que ficariam no local até a saída de Quartiero da terra indígena.
No final da tarde, cerca de 20 homens, entre agentes federais e soldados da Força Nacional de Segurança, reforçavam o policiamento. Mais índios chegaram à fazenda em caminhões.
Em abril de 2005, o presidente Lula assinou o decreto homologando a reserva. Em abril deste ano, a PF chegou à região para a operação de retirada dos arrozeiros, quando teve início uma série de protestos. Roraima pediu e, em caráter liminar, o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a ação. O Supremo julgará o mérito da ação neste semestre.
Colaborou Kátia Brasil , da Agência Folha, em Manaus
Caso se arrasta desde 2005, com a homologação
Da agência Folha
O imbróglio em que se transformou a homologação da Raposa/Serra do Sol, que tem 1,7 milhão de hectares, aguarda uma decisão do STF que pode rever a demarcação da área. Caso opte pela criação de "ilhas", excluindo as propriedades dos arrozeiros, o STF desagradará a entidades como o CIR (Conselho Indígena de Roraima) e a Funai, que defendem a demarcação contínua, como foi homologada em 2005.
Em abril, quando o governo federal estava prestes a finalizar o processo de homologação, retirando os não-índios que ainda estão na reserva, o STF concedeu liminar ao governo de Roraima que suspendeu ação da PF.
Logo depois, o CIR divulgou um documento no qual insinuou que poderia fazer à força a retirada dos não-índios. Ao ser questionado ontem se o Supremo contribuiu para o acirramento dos ânimos, Jacir José de Souza, do CIR, disse que as comunidades não aceitarão pacificamente caso o STF decida diminuir a área. "Podem diminuir só se matar nós todos."
FSP, 06/05/2008, Brasil, p. A7
Confronto foi contra seguranças de fazenda de arrozeiro na Raposa/Serra do Sol
Três indígenas em estado mais grave foram levados para Boa Vista; os dois lados têm versões distintas para o início da briga em Roraima
Andrezza Trajano
Colaboração para a agência Folha, em Pacaraima (RR)
José Eduardo Rondon
Da agência Folha
Oito índios foram feridos a tiros por seguranças de uma fazenda do arrozeiro e prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero (DEM), no interior da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima. Além deles, outro indígena ficou ferido com coronhadas de revólver.
Segundo o delegado da Polícia Federal Everaldo Eguchi, o conflito ocorreu na região do Surumu, em Pacaraima, após a chegada de cerca de cem índios ligados ao CIR (Conselho Indígena de Roraima) à fazenda Depósito, de Quartiero. Pela manhã, o delegado recebeu a informação sobre a movimentação dos índios. Foi informado também que "pistoleiros" contratados pelo arrozeiro estariam chegando à área. Decidiu, então, enviar uma equipe ao local. Com a chegada dos índios pela manhã, o arrozeiro mandou que funcionários da fazenda os expulsassem.
Segundo Quartiero, eles foram recebidos a flechadas pelos indígenas e reagiram com tiros e bombas. Já o CIR disse que os homens chegaram atirando, munidos, entre outras armas, de espingardas calibre 12 e de bombas de fabricação caseira.
O delegado da PF informou que, dos 9 índios feridos, seis -5 deles com ferimentos provocados por tiros- foram socorridos em um carro da Funai e levados ao hospital de Pacaraima. Outros três índios que receberam tiros, em estado mais grave, foram de avião para Boa Vista. Um deles teria levado um tiro no rosto. Segundo o CIR, eram dez os feridos.
Ontem, o ministro Tarso Genro (Justiça) disse em Manaus que vai se deslocar hoje para Roraima para acompanhar os desdobramentos do conflito. "Orientamos que a PF aja com a mesma cautela que agiu quando ocorreu a resistência paramilitar dos fazendeiros. São resistências inaceitáveis."
"Entrevero"
"Eles [os seguranças] foram lá exigir a retirada [dos índios]. Era uma ordem. Foram recebidos a flechadas. Deu um entrevero e aí teve como resultado vários feridos. A ordem que dei [aos seguranças] é defender as fazendas. Eles atiraram porque foram flechados. Do meu pessoal [os seguranças] não sei se tem feridos", disse Quartiero.
Jacir José de Souza, da coordenação do CIR (Conselho Indígena de Roraima), disse que funcionários de Quartiero chegaram atirando bombas e disparando tiros contra o grupo. "Os índios resolveram agora partir para ocupar sua terra. E vamos ocupar. A terra é nossa.
Desde a homologação [feita em 2005], a terra é nossa. Os jagunços chegaram, todos armados, atirando bombas e disparando contra o grupo." Para Souza, os não-índios que continuam na reserva "têm de ser punidos".
Até o início da noite não houve prisões relacionadas ao caso. Os funcionários de Quartiero fugiram. Quatro índios que estavam na fazenda foram ouvidos pela PF. Um inquérito foi instaurado. Segundo o delegado da PF, o conflito no interior da fazenda do arrozeiro foi registrado por uma filmadora que estava com um dos indígenas.
Para a PF há risco de novos confrontos na região com a chegada de mais índios à fazenda. No local do conflito, indígenas armados com foices diziam que ficariam no local até a saída de Quartiero da terra indígena.
No final da tarde, cerca de 20 homens, entre agentes federais e soldados da Força Nacional de Segurança, reforçavam o policiamento. Mais índios chegaram à fazenda em caminhões.
Em abril de 2005, o presidente Lula assinou o decreto homologando a reserva. Em abril deste ano, a PF chegou à região para a operação de retirada dos arrozeiros, quando teve início uma série de protestos. Roraima pediu e, em caráter liminar, o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a ação. O Supremo julgará o mérito da ação neste semestre.
Colaborou Kátia Brasil , da Agência Folha, em Manaus
Caso se arrasta desde 2005, com a homologação
Da agência Folha
O imbróglio em que se transformou a homologação da Raposa/Serra do Sol, que tem 1,7 milhão de hectares, aguarda uma decisão do STF que pode rever a demarcação da área. Caso opte pela criação de "ilhas", excluindo as propriedades dos arrozeiros, o STF desagradará a entidades como o CIR (Conselho Indígena de Roraima) e a Funai, que defendem a demarcação contínua, como foi homologada em 2005.
Em abril, quando o governo federal estava prestes a finalizar o processo de homologação, retirando os não-índios que ainda estão na reserva, o STF concedeu liminar ao governo de Roraima que suspendeu ação da PF.
Logo depois, o CIR divulgou um documento no qual insinuou que poderia fazer à força a retirada dos não-índios. Ao ser questionado ontem se o Supremo contribuiu para o acirramento dos ânimos, Jacir José de Souza, do CIR, disse que as comunidades não aceitarão pacificamente caso o STF decida diminuir a área. "Podem diminuir só se matar nós todos."
FSP, 06/05/2008, Brasil, p. A7
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