De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Noticias

Terra Indígena em Roraima é a campeã da soberania (Parte II)

23/05/2008

Autor: Ciro Campos *

Fonte: Folha de boa Vista



Em resposta às denúncias, IBAMA e Agência Nacional de Águas estão investigando o descumprimento de leis ambientais básicas, como o desmatamento em Áreas de Preservação Permanente e o uso indevido das águas no processo de irrigação. Em sua defesa o líder dos produtores acusa IBAMA, ANA e governo federal de conspiração.

Mais que elevar o tom do discurso, alguns produtores estão indo às vias de fato, promovendo a resistência com explosivos, coquetéis molotov, sabotagens e táticas de guerrilha, promovendo incêndios, destruindo pontes e estradas, afrontando a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança, tudo com a conivência das autoridades locais. Um carro bomba foi desarmado em frente à sede da PF, e o acusado, preso em flagrante quando tentava detonar os artefatos, disse que ia praticar o ato em troca de emprego numa fazenda de arroz. Outro homem, preso sabotando uma ponte, é empregado dos arrozeiros. Até homem bomba apareceu na TV, com máscara de guerra e cinturão de explosivos. Recentemente dez índios foram atacados por empregados de um arrozeiro, com armas de fogo e bombas de fabricação caseira. Imediatamente, o governador Anchieta Júnior acusou os índios feridos de terrorismo e tentou interceder pelo produtor que foi preso pela PF, enquanto o senador Mozarildo responsabilizava o governo federal pelo atentado.

Isso mostra que é na guerra de informação que os produtores e seus aliados estão realmente investindo pesado. A propaganda é tão eficiente que sua causa desenvolvimentista foi transformada em questão de segurança nacional e seus atos terroristas são vistos como heroísmo patriótico. Em vinte e cinco anos de Roraima já ouvi muitas teorias conspiratórias, principalmente durante a homologação da terra Yanomami, em 92, mas nada se compara ao que está acontecendo agora. Desta vez, com a ajuda do general Augusto Heleno, o medo da internacionalização foi disseminado com tanta força no país inteiro, que ninguém mais pergunta, nem explica, por que a Raposa Serra do Sol, especificamente ela, representaria uma ameaça à soberania.

Um bom exemplo de desinformação é a notícia de que o estado de Roraima vai ficar inviabilizado para o desenvolvimento por ter metade do seu território em Áreas Protegidas, sem mencionar que essa é uma situação comum aos outros estados da Amazônia. Embora seja o campeão em terras indígenas, com 46%, o estado é um dos últimos colocados em Unidades de Conservação, com apenas 6%, ficando em situação semelhante aos estados do Pará, Amazonas, Acre e Rondônia, que tem quase metade de seus territórios em Áreas Protegidas, sem falar no Amapá, com cerca de 70%. Ainda cabe ao estado de Roraima administrar onze milhões de hectares para 300 mil pessoas, situação fundiária que permanece perfeitamente compatível com o desenvolvimento.

Pensando na Raposa Serra do Sol, o impacto dos produtores de arroz não pode ser negligenciado. Mesmo ocupando menos de 2 por cento da área, o impacto dos seis produtores de arroz sobre os recursos aquáticos acaba sendo exportado pra uma área bem maior, e os índios há muito reclamam que a aplicação de veneno por aviões prejudica a pesca, reduz a caça e causa a morte de pássaros.

Se os índios e os ambientalistas não atrapalharem, Roraima pode ter em dez anos o mesmo nível de produção agrícola e degradação ambiental do cerrado de Mato Grosso, onde o que restou das nascentes do Xingu está dentro das terras indígenas. Cabe à sociedade decidir se é bom negócio fazer o mesmo nas savanas de Roraima, uma região que ainda se encontra em bom estado de conservação, abrigando áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade e uma extensa rede de rios e lagos.

A permanência dos militares nas terras indígenas é indispensável e já está garantida, seja qual for a decisão do STF. Quando o Brasil assinou a Carta dos Povos Indígenas, o fez com declaração de voto, deixando claro que não apóia os itens em desacordo com a nossa constituição, como a restrição à presença militar nas terras indígenas. Ou seja, o lema "braço forte, mão amiga" vai continuar valendo. Entretanto, para cumprir o seu papel constitucional, os militares poderiam exigir o aumento da presença do Estado e o fortalecimento das forças armadas nas terras indígenas da fronteira, para o braço ficar mais forte, e a mão, ainda mais amiga. A preocupação do general Heleno nos remete à mensagem fixada na entrada dos quartéis, lembrando que árdua foi a missão de nossos antepassados para conquistar e manter a Amazônia. Mas é bom lembrar que essa missão foi cumprida com a participação dos povos indígenas. Por isso mesmo, em defesa do interesse nacional, os militares precisam rever sua estratégia. Militares e indígena
s estiveram juntos na árdua missão de conquistar a Amazônia, e agora, mais do que nunca, precisam continuar juntos na difícil missão de protegê-la.

* Mestre em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA - (95) 3623-9433, 9902-9067 - ciro.roraima@yahoo.com.br
 

Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.