De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Revolta grave como o caso Galdino
27/06/2008
Fonte: CB, Cidades, p. 25
Revolta grave como o caso Galdino
Funai pede que a Polícia Federal assuma as investigações da morte de Jaiya Xavante. Para o diretor de Assistência da fundação, a violência se equipara ao assassinato do índio queimado vivo 11 anos atrás
Leonel Rocha
Da equipe do Correio
A cruel morte da índia Jaiya Xavante, de 16 anos, estuprada anteontem à noite na Casa de Apoio à Saúde Indígena do Distrito Federal, foi comparada pelo diretor de Assistência da Fundação Nacional do Índio (Funai), Aloysio Guapindaia, ao assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos. Ele foi queimado vivo por um grupo de jovens em 20 de abril de 1997 quando dormia em uma parada de ônibus da W3 Sul, 24 horas depois de ter participado das comemorações do Dia do Índio. "Foi uma violência terrível e chocante, tão grave quanto a morte do índio Galdino", disse ontem o diretor. Guapindaia só soube do caso no final da tarde, quando saía de uma audiência pública no Senado. O presidente da fundação, Márcio Meira, não se pronunciou sobre o crime.
A Funai solicitou à Polícia Federal que substitua a Polícia Civil de Brasília na investigação do crime por se tratar de uma indígena tutelada pelo governo federal. Além disso, a adolescente, que teve meningite, não falava e andava de cadeira de rodas, estava em tratamento médico no hospital Sarah Kubitschek, sob responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), autarquia do Ministério da Saúde responsável pela assistência médica aos indígenas do país. Quase um dia após o crime, a direção da Funai não tinha informações detalhadas sobre o estupro e a morte em decorrência da perfuração de órgãos internos. A assessoria de imprensa da instituição chegou a informar que o caso era de responsabilidade exclusiva da Funasa e não haveria qualquer pronunciamento sobre o crime.
Dores no abdome
Na tarde de ontem, a direção da Funasa distribuiu nota informando que a equipe de enfermagem que teoricamente permanece 24 horas na casa do índio foi responsável pelo primeiro atendimento à índia, na madrugada de anteontem, depois que a adolescente se queixou de dores no abdome. Medicada superficialmente, Jaiya dormiu. Pela manhã, voltou a se queixar de dores. A nota da Funasa afirma que a índia foi removida da casa do índio, que fica a pouco mais de 40 km de Brasília, para o Hospital Universitário de Brasília (HUB) às 8h. Mas o atendimento à adolescente só foi feito duas horas depois, na emergência pediátrica. Por volta do meio-dia e após duas paradas cardíacas, morreu de infecção generalizada.
O procurador-chefe da Funai, Antônio Salmeirão, foi designado ontem pela direção da instituição para acompanhar as investigações que devem ser assumidas hoje pela PF. Ele também não conhecia as circunstâncias do crime, um dia depois do fato. Até ontem à noite a superintendência da Polícia Federal em Brasília não tinha sido solicitada formalmente para assumir as investigações. Segundo a nota da Funasa, a casa do índio, uma espécie de albergue que hospeda quem vem das aldeias para tratamento médico em Brasília, tem serviço de vigilância 24 horas por dia. Na noite do crime, ainda de acordo com o texto, havia 56 hóspedes no local, entre pacientes e acompanhantes. Lá, os índios recebem do governo medicamentos, atendimento da equipe de enfermagem, transporte e alimentação.
A nota da instituição não explicou, no entanto, como um prédio público com serviço ininterrupto de enfermagem, vigilância e a presença dos parentes dos doentes se transformou em palco de um crime bárbaro. Tampouco esclareceu por que, dois dias depois, ninguém do governo sabia ao certo o que havia ocorrido com uma indígena que estava sob a guarda do Estado. A Funasa foi informada pela direção do HUB da suspeita de que a indígena teria sofrido violência sexual. Até o começo da noite de ontem, a Funasa não sabia a causa da morte da índia.
O ministro Paulo Vanucci, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, escalou o ouvidor Fermino Fechio para acompanhar o caso. Os advogados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) preferiram aguardar mais detalhes sobre a morte da índia Jaiya para se manifestar.
Memória
20 de abril de 1997
O índio Pataxó Galdino José dos Santos é queimado vivo durante a madrugada, no ponto de ônibus da 703/4 Sul. Antônio Novely Cardoso de Vilanova, Eron Chaves de Oliveira, Max Rogério Alves, Tomás de Oliveira e um menor de idade jogaram álcool sobre o corpo da vítima, que estava dormindo, e usaram fósforos para atear fogo. Eles foram detidos no mesmo dia.
21 de abril de 1997
Com 95% do corpo queimado, Galdino morre. Os autores do crime alegam que a intenção era fazer "uma brincadeira".
22 de abril de 1997
Sob protestos do povo Pataxó, o indígena é enterrado em Pau Brasil (BA), sua terra natal.
28 de abril de 1997
A juíza Leila Coury pede a prisão preventiva dos jovens.
12 de setembro de 1997
O menor de idade, irmão de Tomás, é libertado.
11 de novembro de 2001
Os quatro acusados maiores de idade são condenados a 14 anos de prisão . O crime foi tipificado como homicídio doloso. A defesa tentara emplacar a tese de lesão corporal seguida de morte.
23 de novembro de 2004
Sete anos depois do assassinato, Tomás e Eron conquistam liberdade condicional.
21 de dezembro de 2004
Max e Antônio recebem o mesmo benefício e também deixam a prisão.
CB, 27/06/2008, Cidades, p. 25
Funai pede que a Polícia Federal assuma as investigações da morte de Jaiya Xavante. Para o diretor de Assistência da fundação, a violência se equipara ao assassinato do índio queimado vivo 11 anos atrás
Leonel Rocha
Da equipe do Correio
A cruel morte da índia Jaiya Xavante, de 16 anos, estuprada anteontem à noite na Casa de Apoio à Saúde Indígena do Distrito Federal, foi comparada pelo diretor de Assistência da Fundação Nacional do Índio (Funai), Aloysio Guapindaia, ao assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos. Ele foi queimado vivo por um grupo de jovens em 20 de abril de 1997 quando dormia em uma parada de ônibus da W3 Sul, 24 horas depois de ter participado das comemorações do Dia do Índio. "Foi uma violência terrível e chocante, tão grave quanto a morte do índio Galdino", disse ontem o diretor. Guapindaia só soube do caso no final da tarde, quando saía de uma audiência pública no Senado. O presidente da fundação, Márcio Meira, não se pronunciou sobre o crime.
A Funai solicitou à Polícia Federal que substitua a Polícia Civil de Brasília na investigação do crime por se tratar de uma indígena tutelada pelo governo federal. Além disso, a adolescente, que teve meningite, não falava e andava de cadeira de rodas, estava em tratamento médico no hospital Sarah Kubitschek, sob responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), autarquia do Ministério da Saúde responsável pela assistência médica aos indígenas do país. Quase um dia após o crime, a direção da Funai não tinha informações detalhadas sobre o estupro e a morte em decorrência da perfuração de órgãos internos. A assessoria de imprensa da instituição chegou a informar que o caso era de responsabilidade exclusiva da Funasa e não haveria qualquer pronunciamento sobre o crime.
Dores no abdome
Na tarde de ontem, a direção da Funasa distribuiu nota informando que a equipe de enfermagem que teoricamente permanece 24 horas na casa do índio foi responsável pelo primeiro atendimento à índia, na madrugada de anteontem, depois que a adolescente se queixou de dores no abdome. Medicada superficialmente, Jaiya dormiu. Pela manhã, voltou a se queixar de dores. A nota da Funasa afirma que a índia foi removida da casa do índio, que fica a pouco mais de 40 km de Brasília, para o Hospital Universitário de Brasília (HUB) às 8h. Mas o atendimento à adolescente só foi feito duas horas depois, na emergência pediátrica. Por volta do meio-dia e após duas paradas cardíacas, morreu de infecção generalizada.
O procurador-chefe da Funai, Antônio Salmeirão, foi designado ontem pela direção da instituição para acompanhar as investigações que devem ser assumidas hoje pela PF. Ele também não conhecia as circunstâncias do crime, um dia depois do fato. Até ontem à noite a superintendência da Polícia Federal em Brasília não tinha sido solicitada formalmente para assumir as investigações. Segundo a nota da Funasa, a casa do índio, uma espécie de albergue que hospeda quem vem das aldeias para tratamento médico em Brasília, tem serviço de vigilância 24 horas por dia. Na noite do crime, ainda de acordo com o texto, havia 56 hóspedes no local, entre pacientes e acompanhantes. Lá, os índios recebem do governo medicamentos, atendimento da equipe de enfermagem, transporte e alimentação.
A nota da instituição não explicou, no entanto, como um prédio público com serviço ininterrupto de enfermagem, vigilância e a presença dos parentes dos doentes se transformou em palco de um crime bárbaro. Tampouco esclareceu por que, dois dias depois, ninguém do governo sabia ao certo o que havia ocorrido com uma indígena que estava sob a guarda do Estado. A Funasa foi informada pela direção do HUB da suspeita de que a indígena teria sofrido violência sexual. Até o começo da noite de ontem, a Funasa não sabia a causa da morte da índia.
O ministro Paulo Vanucci, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, escalou o ouvidor Fermino Fechio para acompanhar o caso. Os advogados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) preferiram aguardar mais detalhes sobre a morte da índia Jaiya para se manifestar.
Memória
20 de abril de 1997
O índio Pataxó Galdino José dos Santos é queimado vivo durante a madrugada, no ponto de ônibus da 703/4 Sul. Antônio Novely Cardoso de Vilanova, Eron Chaves de Oliveira, Max Rogério Alves, Tomás de Oliveira e um menor de idade jogaram álcool sobre o corpo da vítima, que estava dormindo, e usaram fósforos para atear fogo. Eles foram detidos no mesmo dia.
21 de abril de 1997
Com 95% do corpo queimado, Galdino morre. Os autores do crime alegam que a intenção era fazer "uma brincadeira".
22 de abril de 1997
Sob protestos do povo Pataxó, o indígena é enterrado em Pau Brasil (BA), sua terra natal.
28 de abril de 1997
A juíza Leila Coury pede a prisão preventiva dos jovens.
12 de setembro de 1997
O menor de idade, irmão de Tomás, é libertado.
11 de novembro de 2001
Os quatro acusados maiores de idade são condenados a 14 anos de prisão . O crime foi tipificado como homicídio doloso. A defesa tentara emplacar a tese de lesão corporal seguida de morte.
23 de novembro de 2004
Sete anos depois do assassinato, Tomás e Eron conquistam liberdade condicional.
21 de dezembro de 2004
Max e Antônio recebem o mesmo benefício e também deixam a prisão.
CB, 27/06/2008, Cidades, p. 25
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