De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

Tuxaua Yekuana é morto por garimpeiros

23/01/2009

Autor: ANDREZZA TRAJANO

Fonte: http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=54689



Um grupo de garimpeiros matou a tiros o tuxaua da comunidade de São Luiz do Arame, em Alto Alegre, o índio Yekuana Luiz Vicente Carton e feriu também a bala o filho dele, Ronildo Luiz Carton. Assim que tomou conhecimento dos fatos, a Polícia Federal enviou agentes à região em busca dos garimpeiros.

Segundo depoimento do filho e irmão das vítimas na PF, o índio Yekuana Ronaldo Luiz Carton, os garimpeiros identificados por Daniel, "Acelerado" e outros três desconhecidos cometeram os crimes na quarta-feira passada, após os indígenas se negarem a levá-los de canoa pelo rio Uraricoera até a comunidade Uaicás, no coração da terra indígena Yanomami.

Ronaldo contou que o tuxaua de Uaicás, identificado apenas por Eduardo, teria informado ao pai dele que não queria a presença de garimpeiros em sua comunidade. Por esse motivo, Vicente teria se negado a fazer a travessia e foi morto com um tiro de espingarda calibre 20, na cabeça.

Em seguida, Ronildo foi acertado com um tiro também de calibre 20, só que no ombro. Os tiros foram disparados por "Acelerado" a mando de Daniel. Daniel ainda atirou em Ronildo com um rifle calibre 22, mas errou o tiro.

Depois do tiroteio, o corpo do líder indígena foi colocado em uma canoa e os garimpeiros obrigaram Ronildo, ferido, a pilotar a embarcação até acima da Cachoeira do Tucano, pelo rio Uraricoera.

"Como ele [Ronildo] já estava ferido e sabia que ia morrer, se jogou dentro do rio com um galão vazio. Ele se escondeu na mata após sair do rio e viu que os garimpeiros fizeram meia volta e começaram a descer o rio", disse Ronaldo no depoimento, explicando como o irmão dele se salvou. Ronildo foi andando até a sua comunidade onde foi socorrido e encaminhado ao Hospital-Geral de Roraima, em Boa Vista.

Ronaldo ainda acrescentou nas declarações que seu irmão ouviu Daniel comentar que voltaria a Arame para buscar um trator e outros materiais de garimpo. "O rio Uraricoera é muito perigoso e apenas os Yekuana sabem navegar naquela região, por isso os garimpeiros queriam forçá-los a pilotar o barco para eles. Os garimpeiros são perigosos e estão armados com espingardas e rifles", frisou Ronaldo no depoimento.

SÃO LUIZ DO ARAME - A comunidade São Luiz do Arame está localizada no final da Vicinal 6, no projeto de Assentamento Paredão, próxima da Ilha de Maracá, no limite da terra indígena Yanomami com as comunidades do Paredão. Lá vivem aproximadamente 30 índios Yekuana.

UAICÁS - Já na comunidade Uaicás, inserida na reserva, onde os garimpeiros pretendiam ir, o acesso é bastante difícil. Para chegar lá só é possível de barco subindo o rio Uraricoera ou de avião. No local, vivem 136 índios Yekuana.
Dependendo do nível do rio e do peso da embarcação, a viagem pode durar até cinco dias e é considerada perigosa. É preciso atravessar a cachoeira do Tucano, o posto do Uraricoera - onde trabalham servidores da Funai e Funasa - além de outras dezenas de cachoeiras e quedas d'água.

A Folha apurou que em alguns trechos o rio se transforma em pequenas ilhas, o que facilita o acesso dos garimpeiros a região, pois conseguem passar despercebidos.

PF sai em busca de garimpeiros
A Polícia Federal tomou conhecimento do fato ontem pela manhã. De imediato, o delegado Alan Gonçalves, da Delegacia de Meio Ambiente (Delemaph), se deslocou à região com uma equipe de agentes em uma aeronave do Governo do Estado. A previsão era de que ainda ontem os garimpeiros fossem capturados.

Gonçalves explicou à Folha que, além dos crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio e possíveis crimes de mineração em terra indígena, ainda há uma investigação entre a conexão desses bandidos com outros crimes de homicídio e formação de quadrilha que já eram objetos de investigação da PF. Segundo ele, o grupo também pretendia matar o tuxaua de Uaicás, Eduardo.

O delegado apurou que os garimpeiros queriam entrar na região com todo o equipamento para mineração e concluiu previamente que eles queriam entrar em uma área onde provavelmente ainda não há garimpos.

Questionado se esse fato vem a confirmar a presença dos garimpeiros em terras indígenas e o envolvimento dos índios na prática ilegal de mineração, - já que os índios conheciam os garimpeiros, inclusive por nome - o delegado concordou, mas pontuou que os indígenas são vítimas dos garimpeiros.

"Vamos intensificar as ações de combate a crimes de garimpo em terra indígena e investigar as organizações criminosas que estão financiando o garimpo", afirmou o delegado Alan Gonçalves.

FUNAI - A administração local da Funai foi contatada pela Folha, mas disse que não foi informada sobre os crimes oficialmente e só vai se pronunciar oficialmente sobre o assunto quando o órgão for notificado.
 

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