De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

Em dois meses, 17 mortes

28/03/2009

Fonte: CB, Brasil, p. 16



Em dois meses, 17 mortes
Conselho Indigenista Missionário denuncia que falta de atendimento digno tem contribuído para o aumento dos óbitos entre os xavantes do Mato Grosso. Um único carro precisa atender 30 aldeias

Rodrigo Couto
Da equipe do Correio

As falhas no atendimento à saúde provocaram, somente entre janeiro e fevereiro deste ano, a morte de 17 índios xavante na terra indígena Parabubure, localizada próxima ao município de Campinápolis (MT). Segundo integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em três das microáreas do polo, administrado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), as equipes estão incompletas e faltam materiais e medicamentos básicos, como dipirona e soro oral. Além disso, há somente uma Mitsubishi L200 para levar os índios até as cidades mais próximas. Nesta época do ano, quando as chuvas caem com frequência, o único veículo fica dias parado em manutenção.
O Cimi já formalizou uma denúncia sobre a situação dos xavantes no Ministério Público Federal (MPF). De acordo com Gilberto Vieira, coordenador do conselho em Mato Grosso, além da falta de transporte e remédios, não existem equipes de atendimento multidisciplinar e o número de profissionais de saúde não é suficiente para atender toda a população indígena da região, estimada em 5.453 índios, divididos em 96 aldeias. "É impossível um único carro realizar atendimento adequado em 30 aldeias. Mesmo que o veículo seja novo, não tem como viabilizar todos os chamados. Recentemente, uma índia da etnia Nambikwara, entrou em trabalho de parto e não foi socorrida a tempo de salvar sua vida. A viatura solicitada só chegou quatro horas depois de ser chamada. Por sorte, o bebê sobreviveu", conta.
Coordenador da Funasa no Mato Grosso, Marco Antônio Stangherlin confirma o número de óbitos na etnia, mas diz que não são 14 crianças - como o Cimi informa - que morreram, mas sim quatro. "O grande problema na região é a dificuldade de acesso. E isso piora bastante no período das chuvas, quando os veículos da nossa frota quebram constantemente. Não é de responsabilidade da Funasa cuidar das estradas", rebate. Sobre a falta de remédios, Stangherlin admite o problema e informa que foi assinado um convênio emergencial com a organização não-governamental Ideti, que fornece medicamentos aos índios desde 2 de fevereiro. "Já lançamos um edital de licitação e, em 20 dias, no máximo, haverá o suprimento dos remédios em falta".
Para amenizar a falta de transporte de emergência na região, Stangherlin anuncia que comprou mais 5 L200 4x4 para a frota da Funasa. "Ainda não sei, mas um ou dois carros serão enviados à região onde vivem os xavantes. Também já encomendamos duas ambulâncias e mais nove veículos leves."
Transferência
Em entrevista ao Correio, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que pretende concluir a transferência da saúde indígena da Funasa para a sua pasta até o fim de abril deste ano.
"As etnias, o ministério, a Fiocruz , a Funai e a Funasa estão ultimando uma série de propostas e medidas. Estamos todos juntos discutindo". Uma das medidas, de acordo com ele, vai dar autonomia administrativa aos Diseis (distrito sanitário especial indígena). "A ideia é que lá na ponta haja mais autonomia e capacidade de gerenciar o atendimento às populações indígenas."


Mortes por desassistência
Números parciais de um relatório que deve ser concluído pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) até maio mostram que as falhas no atendimento à saúde foram responsáveis pela morte de 40 indígenas em 2008.Veja abaixo o número de óbitos em alguns estados:

Estado Mortes
Mato Grosso 18
Amazonas 14
Rondônia 5
Tocantins 3
Total parcial 40
Fonte: Cimi



Memória
Rotina de vítimas

Entre janeiro e fevereiro de 2007, seis crianças das etnias Guarani e Caiuás com até 2 anos, em Mato Grosso do Sul, morreram de desnutrição. À época, os dados foram confirmados por um relatório da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).No ano anterior, a falta de alimentação adequada também foi apontada entre as causas da morte de 14 crianças de até 4 anos das mesmas etnias. Em 2005, foram registrados 27 casos nos dois grupos indígenas.
Somente em Dourados (MS), três crianças morreram de desnutrição em 2007. Uma das vítimas foi Raimas Garça Cepre,9 meses, que chegou ao hospital local com 6,5 kg, após perder 400g. Com sintomas de diarréia e vômito, o menino morreu em 24 de janeiro daquele ano. Outros casos chamaram atenção, como o de Nandinho Fernandes, 2 anos e 1 mês, e o de Cleison Benites Lopes, 10 meses. Com febre e tosse, o menino morreu em 25 de fevereiro de 2007, 11 dias depois de receber atendimento em um posto de saúde na cidade mais próxima à sua aldeia.

CB, 28/03/2009, Brasil, p. 16
 

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