De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

É só o que faltava

25/05/2009

Autor: Egon Dionísio Heck

Fonte: Adital - http://www.adital.com.br/



Semana agitada para o agronegócio e os povos indígenas no cone sul do Mato Grosso do Sul. Na abertura de mais uma feira Agropecuária em Dourados, coube à atriz Global Regina Duarte, encerrar o ato manifestando sua solidariedade aos donos do agronegócio, tão ameaçados em suas propriedades privadas, pelo reconhecimento e demarcação das Terras tradicionais Kaiowá Guarani. Manchetes destacaram que a atriz "tem medo de índio", referindo-se aos temores por ela expressas com relação ao processo de identificação das terras indígenas.

A imprensa local também teve seu álibi ao "descobrir" que "os índios se matam por amor e paixão". A manchete que proliferou na mídia local se referia a uma entrevista do antropólogo Fabio Mura, estudioso do povo Guarani Kaiowá, na qual ele procurou analisar a infame situação de violência e mortes entre e contra esse povo indígena com destaque para a questão dos suicídios. Foi o suficiente para a imprensa esquecer ou propagandear sua versão para o fato cruel divulgado pelo relatório de Violência em 2008 elaborado pelo Cimi. Os números são estarrecedores e revoltantes. Quase 70% dos assassinatos e 100% dos suicídios foram no Mato Grosso do Sul e quase todos eles entre os Kaiowá Guarani. O antropólogo Fabio Mura em sua entrevista procurou elencar os diversos fatores que concorrem para essa trágica realidade. Evidencia que os suicídios são fruto de convergência de inúmeros fatores, que produzem o atual quadro complexo e desafiador. Vão desde o roubo das terras e confinamento até a reelaboração e agravamento de elementos culturais e de visão do mundo desse povo. "O espaço territorial é fundamental para manter o equilíbrio entre as famílias, para que não aumentem as tensões", afirma o antropólogo.

A identificação das Terras Kaiowá Guarani

Falta apenas um mês para expirar o prazo para conclusão das identificações conforme o Termo de Ajustamento de Conduta. Porém os membros dos seis Grupos de Trabalhos, reunidos em Brasília, durante uma semana, analisaram e debateram as formas de concluírem os trabalhos de identificação. Até o momento houve uma resistência feroz, em todos os níveis contra esse trabalho, que é o cumprimento do artigo 231 da Constituição Federal de 1988. Esse clima de guerra dificultou e impossibilitou a normalidade do desenvolvimento dos trabalhos. Esperam que, finalmente, possam efetuar a parte final de seus trabalhos com maior compreensão e tranqüilidade.

Dentro do seminário dos Grupos de Trabalho teve um importante momento de debate com a presença de representantes do Ministério da Justiça, do Ministério Público de Dourados, Ponta Porã e Campo Grande, além de representantes de entidades que tem atuação junto aos povos indígenas da região.

Laranjeira Nhanderu- mais um despejo anunciado

Enquanto o processo de identificação vai para sua etapa final, a ira do agronegócio se faz sentir em mais uma expulsão de uma comunidade Kaiowá para a beira da estrada. Em nota à opinião publica, os movimentos sociais e movimento indígena manifestam seu repudio a mais esse ato de injustiça e violência contra uma comunidade indígena e conclamam para uma solidariedade ampla contra esse tipo de ações, que tem total apoio do Governador do Estado. "Os movimentos sociais e entidades na luta pelos direitos humanos e garantia dos direitos dos povos indígenas neste estado, vem se unir ao Movimento Indígena, no repúdio a mais esse ato de violência e exigir a continuidade dos trabalhos de identificação e demarcação de todas as terras Kaiowá Guarani, conforme o TAC firmado pelo Ministério Público Federal e FUNAI, e também os demais povos indígenas no estado, para que não se continue a perpetrar a negação de direito, e que geram o sofrimento e injustiça contra esse povo. Queremos também denunciar a ameaça do Governador do estado, André Puccineli, que, ao invés de se empenhar na efetiva solução do problema visando preservar os direitos da população indígena e a sua integridade física, colocou a Polícia Militar de prontidão para perpetrar a violência contra a comunidade Kaiowá Guarani."

O documento termina denunciando a criminalização e repressão à luta pela terra "Queremos também repudiar a discriminação e criminalização das lideranças e dos Movimentos Sociais que lutam pela vida na terra, pelo reconhecimento de um pedaço de chão para plantar e viver ou terem seus territórios reconhecidos conforme determina a Constituição Federal e a farta legislação internacional da qual o Brasil é signatário. Só haverá justiça, democracia e paz, se forem reconhecidos os direitos básicos dos povos indígenas às suas terras tradicionais. Viva Laranjeira Nhanderú!".

Uma comissão dos movimentos sociais do Mato Grosso do Sul estará fazendo uma vigília no local do despejo e estarão levando a solidariedade, em nome de todos aqueles que se indignam diante de mais uma arbitrariedade num mundo de tantas injustiças, desigualdades e exclusão. Um companheiro do MST regional fez um poema lembrando a resistência dos povos indígenas no Brasil e em especial dos Kaiowá Guarani:


Quando entra um presidente
Que quer ajudar a gente
Demarcando nossas terras
Nossa pintura de festa
Por culpa de quem não presta
Mudou-se para a da guerra
Hoje nossa existência
É marcada de violência
Suicídio e assassinato

Prisões e atropelamento
São marcas do sofrimento
Lamentos de cada fato.
Que NHANDERU nos proteja
E que a sociedade veja
Queremos nosso TEKOHÁ
No Brasil dos brasileiros
Existe muito estrangeiro
Tomando nosso lugar

(Tadeu de Moraes Delgado - MST-MS)

CimiMs
Campo Grande, 24 de maio de 2009
 

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