De Povos Indígenas no Brasil
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News

Xavantes estão abandonados

10/10/2003

Fonte: A Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT



Os xavantes da aldeia Sangradouro, no município de General Carneiro, 428 quilômetros de Cuiabá, não pouparam críticas à ausência de políticas públicas de incentivo ao plantio mecanizado para os povos indígenas e a todas as estruturas de organização branca, montada para apoiá-los. As reclamações e o pedido para que deixem de ser 'exército de proteção' de reservas, para futura exploração dos brancos, foram feitos aos membros da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, de Brasília, que visitaram o local na quarta-feira [8], com deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Mato Grosso.
Os líderes indígenas se consideram 'traídos' por instituições como a Funai e Conselho Indigenista Missionário [Cimi]. Os primeiros teriam se 'acovardado' na hora de defender seus territórios e os segundos estariam mais preocupados com a vinda de recursos internacionais, que nunca apareceriam nas aldeias.
As críticas foram feitas pelo ex-cacique da Sangradouro, Alexandre Tsereptse, irmão de Joaquim Marãdzuhö, que desapareceu em abril deste ano, quando foi pescar numa fazenda vizinha. Segundo os índios, Joaquim foi morto a mando de fazendeiros da Rica I e Rica II, Ernesto e Luiz Carlos Ruaro. O inquérito aberto pela Polícia Federal, no entanto, não aponta culpados. O delegado que o preside Luciano Raizer, diz que, enquanto o corpo de Joaquim não aparecer, trabalha-se com a tese de que o índio está desaparecido.
O sumiço de Joaquim foi contado aos deputados federais, Pastor Reinaldo [PTB/RS], Orlando Fantazini [PT/SP] e César Medeiros [PT/MG], como o acirramento da violência dos brancos contra os índios, que tentavam redemarcar a área da Sangradouro há 10 anos. 'Meu irmão saiu no dia 2 de abril de 2003 para pescar e os peões pegaram ele, mataram e não entregaram o corpo, não deram os ossos dele. Isso que nossos vizinhos fizeram. Depois disso fomos brigar porque eles querem tomar tudo. Fui a Brasília resolver a questão e disseram que estava tudo certo. Passaram 90, dias, voltei lá e não tinha mais presidente da Funai. Então, ficaram de mandar um GT [Grupo de Trabalho] e quando eles chegaram, os fazendeiros daqui expulsaram todo mundo. Então renunciei. Não queria mais briga e que as crianças de nosso povo sofressem. Ninguém colabora com índio, tudo da boca pra fora', desabafou Alexandre. As reclamações constarão em relatório que será apresentado na Câmara Federal, assim que o grupo concluir a Caravana, com visita a aldeias de oito Estados.
Índios acusam fazendeiros de invadirem a reserva
Desde o desaparecimento de Joaquim Marãdzohö, os xavantes de Sangradouro reúnem-se todas as noites para discutir o que devem fazer para conduzir a aldeia e como devem lidar com a situação internamente. Para dirimir o conflito, a comunidade teria optado por negociar com os fazendeiros e aceitar a parceria do governo do Estado para dar início ao plantio este ano. A área da reserva Sangradouro, composta por 19 aldeias, está demarcada desde 1975, porém, há 10 anos os xavantes afirmam que as fazendas Rica I e Rica II também estão em terras indígenas e pedem uma redemarcação. No total, a reserva tem 110 mil hectares e uma população de 2 mil índios.
Segundo a procuradora da República, Agueda Silva, a redemarcação corre na Justiça, depois que o Ministério Público entrou com uma Ação Civil Pública, com pedido de liminar, para que a Funai se posicionasse. 'Depois disso eles mandaram um grupo de trabalho para começar o levantamento na área, mas os fazendeiros os expulsaram daqui. O conflito pode estar suspenso temporariamente, mas permanece latente', avalia.
O membro do Cimi em General Carneiro, Tarley Nunes da Mata, diz entender as críticas xavantes feitas à entidade como um traço cultural e afirma que os índios respeitam o processo legal, já os fazendeiros manteriam postura de pressão. 'Enquanto tem discussão na Justiça os índios não usam a área e quando o fazem é sempre motivo de briga. Já os fazendeiros, plantam no lugar', protesta da Mata.
Fazendeiros produzem pânico
O vereador xavante de General Carneiro, Bartolomeu Pronhõpa, afirma que os índios da região vivem discriminados e sofrem forte pressão contrária da opinião pública da cidade, para ter os limites de suas terras reduzidos. 'Primavera é uma cidade que está crescendo muito, mas discrimina os índios. Nós somos consumidores lá e dizem que não gostamos de trabalhar. Porém, não temos subsídios do governo, máquinas e não demarcamos limites com cercas como o branco. O branco é inteligente, criou a propriedade e demarcou terra para a gente viver, mas sem poder produzir nela. Então ficamos lá, como exército de proteção para evitar que os recursos naturais se percam, até o dia que eles nos pressionam para sair', avaliou.
O integrante do Cimi, Tarley Nunes, afirma que há um movimento ruralista de colocar comunidades inteiras de pequenas cidades contra os índios, que se repete em vários pontos do Estado. 'Eles se utilizam de dados falsos sobre o tamanho das reservas e trazem argumentos que de fato assustam a população. Dizem que os municípios vão sumir, ser engolidos, que perderão todas as suas terras e com isso implantam o pavor. A comunidade cria horror aos índios e o ambiente para o conflito fica armado', afirma. O chefe de gabinete da Prefeitura de Tangará da Serra, Volneni Lorenzzon, contesta as informações. 'Isso não é verdade, a cidade sempre teve bom relacionamento com eles. O que houve foi um conflito, quando eles invadiram uma propriedade rural, aí sim teve gente que ficou com medo', disse.
Savi diz que pedido é 'humilde'
O deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, Mauro Savi [PPS], foi até a aldeia Sangradouro como representante do governo, com a incumbência de levar um projeto de plantio, de três culturas, para que os índios avaliem. Depois de ouvi-los, o deputado disse que o pedido dos índios é humilde. 'O que eles pedem é pouco e também não disseram nenhuma mentira. Como eles mesmo disseram, querem dar trégua ao conflito e vão fazer parceria com o Estado, que se comprometeu a ajudar no custeio agrícola', disse o deputado.
No projeto, foi feita a programação de plantio de arroz, milho e mandioca em 150 hectares. A previsão de gastos é de R$ 255 mil. Porém, apesar do plantio ter que começar em outubro, nem todos os detalhes foram definidos. O projeto será avaliado na Assembléia Legislativa, onde deve ser aprovado para sair do papel.
Além da avaliação parlamentar, o Ministério Público Federal também deve estudará a proposta. 'A princípio não temos nada contra. É um projeto que dá para realizar, não é nem um pouco ambicioso, mas temos que estudar', disse a procuradora da República, Agueda Silva.
Os fazendeiros da Rica I e II foram procurados pela reportagem na Associação dos Produtores Rurais de Primavera do Leste, no celular e em suas casas, mas não foram encontrados para falar sobre o conflito com os índios. A reportagem deixou contato e pediu retorno, mas eles não retornaram até o fechamento da edição.
 

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