De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Questões indígenas: índios cansados (1)
16/10/2003
Autor: Onofre Ribeiro
Fonte: Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
Na quarta-feira da semana passada acompanhei uma comitiva de três deputados federais e dois estaduais à reserva indígena de Sangradouro, às margens da rodovia BR-070, que demanda a Barra do Garças. Todos os deputados são membros das comissões de direitos humanos na Câmara dos Deputados e na Assembléia Legislativa. Foi uma visita muito proveitosa, que pretendo alongar em artigos seguintes.
À noite acompanhei a audiência pública realizada no plenarinho da Assembléia Legislativa de Mato Grosso, conduzida pelos deputados estaduais Mauro Savi e Ságuas Moraes. Também pretendo alongar o tema nos artigos seguintes.
Anotei exatamente 21 páginas de caderno de conversas e de entrevistas. Daria um tratado sobre as pendências que hoje incomodam os índios e os produtores rurais que cercam as duas aldeias xavantes de Sangradouro e de Volta Grande, vizinhas de Primavera do Leste.
Mas como não farei um tratado, tentarei neste e nos próximos artigos retratar pontos de vista de uma situação geral, ampla, abrangente e sofrida. Conheci caciques xavantes rigorosamente lúcidos, mas cansados. Duros, mas políticos. E, principalmente, dispostos a tomarem rumos próprios diante do quadro de desilusão que toma conta dos seus ânimos.
No correr da audiência pública fui anotando trechos dos pronunciamentos, e nas páginas ao lado anotando conclusões. Tentarei ficar por ora nessas conclusões. Porém, elas revelam só cansaços, tanto dos índios quanto dos produtores e de prefeitos de municípios de áreas vizinhas a reservas indígenas.
1 -- Os conflitos fundiários decorrem da não-demarcação da maioria das reservas indígenas em Mato Grosso. Logo, não há limites claros, o que gera atritos mútuos;
2 -- as organizações não-governamentais que se inserem no contexto indígena, de modo geral, são causadoras dos conflitos na medida em que atiçam os índios contra supostos interesses, ou potencializando as arestas existentes;
3 -- o Ministério Público Federal também é um causador de atritos na visão acadêmica de que o emaranhado de leis resolve as questões. Mas a sua postura é distante e teórica, pouco prática para todas as partes envolvidas;
4 -- os conflitos de interesses entre os índios, os produtores, as ONGs, o Ministério Público Federal, a Funai, os missionários, o governo estadual, prefeituras e vereadores geram uma confusão muito grande, na medida em que falta uma mediação séria e competente;
5 -- a opinião pública se perde na confusão, bombardeada com informações desencontradas. Por isso, não se posiciona e, se se posicionar, certamente o fará errado;
6 -- polarizam-se grupos dentro das aldeias, nas ONGs, na Funai, nos produtores. Parece claro que quanto mais confuso, mais alguém se beneficia. Certamente não serão os índios;
7 -- a prepotência da Funai é uma queixa generalizada. Os caciques estão amargurados com ela, com técnicos e com a corrupção, apesar de ressalvas. Poucas, porém;
8 -- os conceitos de vida dos índios chocam-se profundamente com os conceitos urbanos, com o modo de ver e de viver dos brancos, com a cultura, com o modo de lidar com a sua sociedade, com a terra, e a maneira como vêem a natureza da vida.
O assunto continua amanhã.
À noite acompanhei a audiência pública realizada no plenarinho da Assembléia Legislativa de Mato Grosso, conduzida pelos deputados estaduais Mauro Savi e Ságuas Moraes. Também pretendo alongar o tema nos artigos seguintes.
Anotei exatamente 21 páginas de caderno de conversas e de entrevistas. Daria um tratado sobre as pendências que hoje incomodam os índios e os produtores rurais que cercam as duas aldeias xavantes de Sangradouro e de Volta Grande, vizinhas de Primavera do Leste.
Mas como não farei um tratado, tentarei neste e nos próximos artigos retratar pontos de vista de uma situação geral, ampla, abrangente e sofrida. Conheci caciques xavantes rigorosamente lúcidos, mas cansados. Duros, mas políticos. E, principalmente, dispostos a tomarem rumos próprios diante do quadro de desilusão que toma conta dos seus ânimos.
No correr da audiência pública fui anotando trechos dos pronunciamentos, e nas páginas ao lado anotando conclusões. Tentarei ficar por ora nessas conclusões. Porém, elas revelam só cansaços, tanto dos índios quanto dos produtores e de prefeitos de municípios de áreas vizinhas a reservas indígenas.
1 -- Os conflitos fundiários decorrem da não-demarcação da maioria das reservas indígenas em Mato Grosso. Logo, não há limites claros, o que gera atritos mútuos;
2 -- as organizações não-governamentais que se inserem no contexto indígena, de modo geral, são causadoras dos conflitos na medida em que atiçam os índios contra supostos interesses, ou potencializando as arestas existentes;
3 -- o Ministério Público Federal também é um causador de atritos na visão acadêmica de que o emaranhado de leis resolve as questões. Mas a sua postura é distante e teórica, pouco prática para todas as partes envolvidas;
4 -- os conflitos de interesses entre os índios, os produtores, as ONGs, o Ministério Público Federal, a Funai, os missionários, o governo estadual, prefeituras e vereadores geram uma confusão muito grande, na medida em que falta uma mediação séria e competente;
5 -- a opinião pública se perde na confusão, bombardeada com informações desencontradas. Por isso, não se posiciona e, se se posicionar, certamente o fará errado;
6 -- polarizam-se grupos dentro das aldeias, nas ONGs, na Funai, nos produtores. Parece claro que quanto mais confuso, mais alguém se beneficia. Certamente não serão os índios;
7 -- a prepotência da Funai é uma queixa generalizada. Os caciques estão amargurados com ela, com técnicos e com a corrupção, apesar de ressalvas. Poucas, porém;
8 -- os conceitos de vida dos índios chocam-se profundamente com os conceitos urbanos, com o modo de ver e de viver dos brancos, com a cultura, com o modo de lidar com a sua sociedade, com a terra, e a maneira como vêem a natureza da vida.
O assunto continua amanhã.
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