De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Questões indígenas na audiência pública (5)
22/10/2003
Autor: Onofre Ribeiro
Fonte: Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
Depois da visita à aldeia xavante de Sangradouro no dia 8, realizou-se, à noite, uma audiência pública, no plenarinho da Assembléia Legislativa. A platéia foi grande e interessada na questão indígena: Federação da Agricultura, produtores rurais e associações de produtores rurais do leste do Estado, de Primavera do Leste e região, organizações não-governamentais ligadas a questões indígenas, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Igreja, além de professores acadêmicos. A audiência foi assistida pelo cacique xavante Alexandre e presidida pelos deputados estaduais Mauro Savi, Ságuas Moraes e assistida pelos três deputados federais membros da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Mais do que as discussões fortes havidas na audiência, o mais marcante foi o fato de, pela primeira vez, se reunirem num mesmo ambiente todos os atores da questão indígena: índios, produtores, ONGs, Cimi, igreja e professores acadêmicos. E, também, pela primeira vez, se expuseram publicamente. O debate sobre as questões indígenas saiu da obscuridade dos bastidores, quebrou o tabu do silêncio intramuros e ficou público.
Vou citar algumas frases que considero marcantes na audiência e dimensionam o nível de tensão nas relações dos índios com a sociedade não-índia: "Com o litígio em Sangradouro, descobriu-se que o índio não precisa de mais terras. Precisa de apoio contra pobreza", Sérgio Machnic, produtor rural. "Sou descendente de italiano, mas não posso voltar para a Europa porque não sou mais europeu. Não posso ficar em Mato Grosso, porque não sou índio. Pra onde eu vou?", Roberto Zanoni, produtor rural. "Se alguém tem que pagar a dívida histórica com os índios é toda sociedade e o governo, e não só os produtores", Luiz Anildo da Costa, de Água Boa. "Índios não querem aumento da terra. Querem produzir", João Santini, produtor rural em Água Boa. "Estou na coordenação regional da Funai no Estado e em 30 dias só administrei crises, liberei reféns. Há muito se perdeu a prática de se discutir nas aldeias. A Funai e a Funasa estão sucateadas", Idevar Sardinha, 30 anos na causa indigenista.
"É muito mais do que descaso do governo federal, desvios de recursos públicos, calamidade nos hospitais das regiões indígenas. Vi nas aldeias ONGs de primeiro mundo e ocas caindo aos pedaços", deputado federal Pastor Reinaldo. "Vimos clamores de índios confinados em áreas demarcadas passando por situação difícil criada pela sociedade no processo de desenvolvimento", deputado federal César Medeiros. "Índios e brancos são vítimas do modelo de produção voltado para pagar dívidas internacionais", deputado federal Orlando Fantazini. Sua frase final é um paradigma profético: "O momento é para a construção de uma dialética nova na questão indígena versus sociedade não-índia".
Houve debates, perguntas, as costumeiras vaias das ONGs e a indignação dos produtores. A fala do cacique Alexandre expõe o drama que é indígena e branco ao mesmo tempo. "Pessoas da Funai, ONG contra, quer dinheiro e não gosta dos índios", acentua calmo e firme. "Comunidade quer barriga cheia, fartura e não doença. Vamos trabalhar, queremos máquina. Sem fartura tem doenças e índios morrem. Queremos boa vizinhança com fazendeiros. Nós queremos paz. É isso que nós queremos".
O assunto prossegue em mais dois artigos: o projeto de produção agrícola nas reservas Sangradouro/Volta Grande e uma nova forma de gestão indígena puxada pelos xavantes. O último, com as conclusões finais.
Mais do que as discussões fortes havidas na audiência, o mais marcante foi o fato de, pela primeira vez, se reunirem num mesmo ambiente todos os atores da questão indígena: índios, produtores, ONGs, Cimi, igreja e professores acadêmicos. E, também, pela primeira vez, se expuseram publicamente. O debate sobre as questões indígenas saiu da obscuridade dos bastidores, quebrou o tabu do silêncio intramuros e ficou público.
Vou citar algumas frases que considero marcantes na audiência e dimensionam o nível de tensão nas relações dos índios com a sociedade não-índia: "Com o litígio em Sangradouro, descobriu-se que o índio não precisa de mais terras. Precisa de apoio contra pobreza", Sérgio Machnic, produtor rural. "Sou descendente de italiano, mas não posso voltar para a Europa porque não sou mais europeu. Não posso ficar em Mato Grosso, porque não sou índio. Pra onde eu vou?", Roberto Zanoni, produtor rural. "Se alguém tem que pagar a dívida histórica com os índios é toda sociedade e o governo, e não só os produtores", Luiz Anildo da Costa, de Água Boa. "Índios não querem aumento da terra. Querem produzir", João Santini, produtor rural em Água Boa. "Estou na coordenação regional da Funai no Estado e em 30 dias só administrei crises, liberei reféns. Há muito se perdeu a prática de se discutir nas aldeias. A Funai e a Funasa estão sucateadas", Idevar Sardinha, 30 anos na causa indigenista.
"É muito mais do que descaso do governo federal, desvios de recursos públicos, calamidade nos hospitais das regiões indígenas. Vi nas aldeias ONGs de primeiro mundo e ocas caindo aos pedaços", deputado federal Pastor Reinaldo. "Vimos clamores de índios confinados em áreas demarcadas passando por situação difícil criada pela sociedade no processo de desenvolvimento", deputado federal César Medeiros. "Índios e brancos são vítimas do modelo de produção voltado para pagar dívidas internacionais", deputado federal Orlando Fantazini. Sua frase final é um paradigma profético: "O momento é para a construção de uma dialética nova na questão indígena versus sociedade não-índia".
Houve debates, perguntas, as costumeiras vaias das ONGs e a indignação dos produtores. A fala do cacique Alexandre expõe o drama que é indígena e branco ao mesmo tempo. "Pessoas da Funai, ONG contra, quer dinheiro e não gosta dos índios", acentua calmo e firme. "Comunidade quer barriga cheia, fartura e não doença. Vamos trabalhar, queremos máquina. Sem fartura tem doenças e índios morrem. Queremos boa vizinhança com fazendeiros. Nós queremos paz. É isso que nós queremos".
O assunto prossegue em mais dois artigos: o projeto de produção agrícola nas reservas Sangradouro/Volta Grande e uma nova forma de gestão indígena puxada pelos xavantes. O último, com as conclusões finais.
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