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Índios X Garimpeiros: Clima de guerra

03/11/2003

Fonte: Diário da Amazônia-Porto Velho-RO



Com a retirada dos corpos de cinco garimpeiros de dentro da reserva indígena Roosevelt, na última sexta-feira, um verdadeiro clima de guerra toma conta de Espigão do Oeste e região. Os garimpeiros prometem represálias contra os índios, que são acusados por eles de terem matado os cinco mineradores. O delegado da Polícia Civil de Espigão, Raimundo Mendes de Souza Filho informou que os cinco corpos encontrados são dos garimpeiros conhecidos pelos apelidos de "Fininho", "Paraná", "Neguinho", "Farias" e "Macarrão".

Os cadáveres foram levados na manhã de ontem para o necrotério do município e uma multidão de garimpeiros e curiosos se aglomerou do lado de fora do prédio, querendo saber mais detalhes sobre os assassinatos. Aos gritos, os garimpeiros prometiam vingança e garantem que vão expulsar todos os índios que estiverem no município e incendiar as pontes e pontilhões que ligam as aldeias à cidade. "A guerra está declarada, o conflito agora está mais explosivo ainda. Muita gente pode morrer, pois os garimpeiros asseguram que se não puderem entrar na reserva para retirar os diamantes, expulsarão os índios e queimarão as pontes", disse uma fonte da Civil, que preferiu não identificar. Junto aos corpos, foram encontrados 12 cartuchos deflagrados de espingarda calibre 12, várias cápsulas de revólveres disparadas e os cadáveres apresentavam perfurações de faca e flechas. "As cinco pessoas foram mortas com requintes de crueldade. Foi como um aviso para que ninguém mais se aproxime da reserva", completou a fonte.

Apenas funcionários da Funai continuam dentro da reserva Roosevelt. As polícias foram retiradas do local por ordem da Fundação. "A Funai não quer ninguém na área da reserva, nem a Polícia Federal, nem Ambiental ou Militar, apesar do clima crescente de tensão". De acordo com fontes ligadas ao governo do Estado, a recusa da Funai em aceitar a presença da Polícia é mais uma comprovação do descaso e da incapacidade do órgão de administrar o problema. "A Funai se omite em relação ao problema. Enquanto isso os traficantes de diamantes se utilizam das pistas existentes nas aldeias, com a permissão de indígenas e de funcionários do órgão".

Por telefone, o governador Ivo Cassol manifestou a sua preocupação com o problema e disse que tem se empenhado em mobilizar o governo Federal para dar a atenção necessária à questão. "Já me reuni com o ministro da Justiça, encaminhei a proposta ao governo Federal e estamos aguardando um posicionamento de Brasília, que até agora não aconteceu", afirmou Cassol.

Ainda de acordo com fontes do governo estadual, o Ministério da Justiça ficou de mandar uma equipe à Rondônia há quinze dias e até agora nada fez. Dentro da reserva Roosevelt existem quatro pistas de pouso. Uma na aldeia Tenente Marques, uma na aldeia do cacique João Bravo, outra comandada por Nakossa Pio Cinta-Larga (que é funcionário da Funai) e uma ao lado do garimpo laje. "Próximo ao laje, existe um local, conhecido pelos índios como Salto da Onça, onde são jogados os corpos de garimpeiros mortos", informou uma fonte em Espigão.
 

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