De Povos Indígenas no Brasil

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A tragédia do desmatamento atinge a terra e o céu

08/08/2013

Fonte: O Globo - http://moglobo.globo.com



Sempre ouvi falar que é terra indígena, mas não sei para onde vou, diz posseiro


Povoado do Caju, Povoado Cabeça Fria, Terra Awá, Maranhão -
O Maranhão é grande, mas tudinho tem dono, diz José Ribamar de Araújo que mora num dos vários povoados dentro da Terra Indígena, justificando porque morava em área contestada num estado tão grande. Ele admitiu que desde 1983 soube que era terra indígena. Estava na casa de amigos. Casa de reboco onde há quatro anos mora Jardel dos Santos com sua mulher e enteado.

Eu estou com a idade de 36 anos e nunca fui numa escola. Eu vou lhe falar, estou dependendo do que ganho aqui. Eu trabalho na roça, trabalho para qualquer um. Sempre ouvi falar que é terra indígena, mas não sei para onde vou disse Jardel.

Ele almoçava em pé, me ofereceu cadeira e quis dividir o almoço. Sua mulher, Edilene Alves, acompanhava a conversa em silêncio, enquanto lavava a louça. Quem domina a conversa é mesmo José Ribamar, 56 anos, inteligente, bem humorado e também analfabeto. Conta uma história que parece realismo fantástico de antigo grileiro, já morto, Gilberto Andrade, que teria pegado muita terra e um dia morreu debaixo de sua própria carreta. Estava parado num carro, quando sua carreta de madeira bateu no carro.

Morreu, mas era devedor. Era matador, tirou muita madeira. O homem era cru mesmo. Comeu muito filho alheio disse ele, querendo dizer com isso que o tal senhor era um assassino.


A conversa flui fácil naqueles povoados.

Rapaz, se todo mundo sair daqui, eu saio, porque a área falada todo mundo quer ser dono. Eu sei que é terra indígena. Índio caça e nós, quando dá, às vezes mata um bichinho pra comer, mas hoje tem que andar demais para achar caça porque o madeireiro é demais e emocionou a mata disse José Ribamar de Araújo.


Jardel, o mais jovem, é mais triste.

Aqui é difícil, não tem luz, a água tem que buscar lá embaixo, sofrimento aqui é grande demais. Eu não tenho emprego fixo, não tenho letra, tenho que derramar o suor, se todo mundo sair eu saio, mas não é de boa vontade diz Jardel.

Já Ribamar lamenta a falta de escola em sua vida.

Eu vejo a senhora, que tem alta mentalidade e muita matemática. Eu queria isso.

Os dois contam que têm estradas ali feitas por madeireiros ou por prefeitos que são madeireiros. Eu saía da casa, quando ouvi a voz de Edilene.

Se dessem uma casa pra gente a gente sai, sem ter para onde ir fica ruim.

Mais adiante no povoado Cabeça Fria abordei moradores sentados debaixo de uma grande árvore. Uma mulher de 40 anos que teve derrame no último filho e vive de bolsa família e cujos pais ainda trabalham na roça, das fazendas que ocuparam a terra indígena. Um casal de trabalhadores rurais que trabalha como meeiro participa da conversa. A mulher, Maria Antonia Pinheiro, explica a dificuldade maior do trabalho.

É muito difícil porque a gente planta arroz e colhe, depois vem o fazendeiro e joga capim braquiária e não dá outra roça de arroz porque o capim cresce. Eles roçam meio mundo de mata e planta capim. O que acaba com o pobre é isso.

Os dois também contaram nunca terem estudado. Perguntei se eles reagiriam caso a Justiça mandasse sair, eles disseram que não.

São essas pessoas que estão sendo chamadas para participar da resistência pelos maiores fazendeiros. Eles foram para lá já sabendo que era área de conservação, mas se dizem sem opções.



http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/pais/a-tragedia-do-desmatamento-atinge-terra-o-ceu-9350346
 

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