De Povos Indígenas no Brasil
News
RELATO DE UM NOVO MUNDO
22/05/2005
Fonte: Folha de S. Paulo-São Paulo-SP
QUASE 70 ANOS DEPOIS DO CONTATO COM LÉVI-STRAUSS, EM MATO GROSSO, OS NAMBIQUARAS CONTINUAM MARCADOS PELA ESCASSEZ MATERIAL, CONSOMEM AÇÚCAR EM GRANDE QUANTIDADE E DEPENDEM DE APOSENTADORIAS RURAIS, MAS DIZEM SE ORGULHAR DA "MAIORIA" DE SUA CULTURA, QUE PERMANECE
Sinceramente, penso que a expedição marcará época." Em carta de 1938 a Mário de Andrade, Claude Lévi-Strauss antecipava, a quente, o impacto que a estada de quatro anos no Brasil, entre 35 e 39, e as temporadas com grupos indígenas teriam sobre sua formação, o futuro de seu pensamento e o da antropologia.
O relato do período -mistura de etnografia, ensaio, por vezes delírio, texto científico e autobiografia- aparece em 1955. "Tristes Trópicos" faz 50 anos unindo as pontas do registro de uma antropologia pré-estruturalista com a fonte de inspiração, hoje, para antropólogos -digamos- pós-estruturalistas.
É também surpreendente a atualidade de comentários mais prosaicos. No Rio, "a rua não é mais apenas um lugar por onde se passa; é um local onde se fica". Em São Paulo, ele encontra na praça da Sé uma espécie de síntese da cidade e do país, "a meio caminho entre o canteiro de obras e a ruína".
A Folha refez parte do trajeto do antropólogo, indo ao encontro de índios nambiquaras no oeste de Mato Grosso. É neles que o francês acha finalmente a "sociedade reduzida à sua expressão mais simples" que desde o princípio procurava. Limite mínimo da estrutura social e política, nus e praticamente desprovidos de bens materiais, os nambiquaras eram o máximo de alteridade a que o antropólogo poderia almejar -ao ponto de crer que poderiam ser vistos, por um observador inadvertido, como a "infância da humanidade".
O relato do encontro -que Lévi-Strauss considera ao mesmo tempo "decepcionante" e "lucrativo" [leia entrevista na pág. 6]- alimenta ainda hoje estudos de ponta na disciplina em todo o mundo. Sua liderança política frágil, descrita por Lévi-Strauss, influenciou trabalhos de antropologia política. As relações de parentesco entre os nambiquaras inspirariam a teoria estruturalista do francês -e sua crítica posterior.
"Ameaçados" pela penúria na obra de Lévi-Strauss, os nambiquaras ainda vivem sob escassez material, mas parecem, com orgulho, querer desmentir o antropólogo.
Sinceramente, penso que a expedição marcará época." Em carta de 1938 a Mário de Andrade, Claude Lévi-Strauss antecipava, a quente, o impacto que a estada de quatro anos no Brasil, entre 35 e 39, e as temporadas com grupos indígenas teriam sobre sua formação, o futuro de seu pensamento e o da antropologia.
O relato do período -mistura de etnografia, ensaio, por vezes delírio, texto científico e autobiografia- aparece em 1955. "Tristes Trópicos" faz 50 anos unindo as pontas do registro de uma antropologia pré-estruturalista com a fonte de inspiração, hoje, para antropólogos -digamos- pós-estruturalistas.
É também surpreendente a atualidade de comentários mais prosaicos. No Rio, "a rua não é mais apenas um lugar por onde se passa; é um local onde se fica". Em São Paulo, ele encontra na praça da Sé uma espécie de síntese da cidade e do país, "a meio caminho entre o canteiro de obras e a ruína".
A Folha refez parte do trajeto do antropólogo, indo ao encontro de índios nambiquaras no oeste de Mato Grosso. É neles que o francês acha finalmente a "sociedade reduzida à sua expressão mais simples" que desde o princípio procurava. Limite mínimo da estrutura social e política, nus e praticamente desprovidos de bens materiais, os nambiquaras eram o máximo de alteridade a que o antropólogo poderia almejar -ao ponto de crer que poderiam ser vistos, por um observador inadvertido, como a "infância da humanidade".
O relato do encontro -que Lévi-Strauss considera ao mesmo tempo "decepcionante" e "lucrativo" [leia entrevista na pág. 6]- alimenta ainda hoje estudos de ponta na disciplina em todo o mundo. Sua liderança política frágil, descrita por Lévi-Strauss, influenciou trabalhos de antropologia política. As relações de parentesco entre os nambiquaras inspirariam a teoria estruturalista do francês -e sua crítica posterior.
"Ameaçados" pela penúria na obra de Lévi-Strauss, os nambiquaras ainda vivem sob escassez material, mas parecem, com orgulho, querer desmentir o antropólogo.
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